tag:blogger.com,1999:blog-56229419884102042642024-03-13T08:49:39.966-07:00Veliq FilUm site para refletirmos sobre as coisas...fabiano veliqhttp://www.blogger.com/profile/04767667512344049302noreply@blogger.comBlogger369125tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-3772002150339421932021-06-25T07:13:00.002-07:002021-06-25T08:11:37.640-07:00Uma pequena sistematização das vertentes do protestantismo<p align="justify">
</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPXZ1t9hYZE0WBguCe1XDrIScWgMz0vuYWSfnfhbSuFuyDihVjxvA-6ZobrNdVLtSfGHG0djfIK2my5yANWZjbjPygNkaiBv31UU_-woI2exxT9nNAcVnEj67OIyiJgAjyy-FEFbraOZk/s2048/IMG_4032.HEIC" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPXZ1t9hYZE0WBguCe1XDrIScWgMz0vuYWSfnfhbSuFuyDihVjxvA-6ZobrNdVLtSfGHG0djfIK2my5yANWZjbjPygNkaiBv31UU_-woI2exxT9nNAcVnEj67OIyiJgAjyy-FEFbraOZk/s320/IMG_4032.HEIC" /></a></div><p></p><p align="justify"> </p><p style="text-align: center;">Igreja Anglicana da Dinamarca</p>
<p align="justify"> </p>
<p align="justify"><a name="docs-internal-guid-7971951e-7fff-1867-86ac-7ab15aad0b0c"></a>
Esse texto surge como resposta a um pedido de uma querida aluna
depois de algumas aulas sobre o tema do protestantismo. Desta forma,
me propus a fazer uma pequena sistematização sobre as vertentes do
protestantismo que essa querida aluna me solicitou.
</p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">O protestantismo começa com Lutero no século XVI
(1517) com as suas 95 teses contra a igreja católica que desembocou
no movimento de ruptura de Lutero com a Igreja. Sabemos que Lutero
nunca quis sair da igreja católica, mas propunha uma reforma, pois
via que a Igreja tinha se afastado dos princípios básicos do
cristianismo. </p>
<p align="justify">Lutero era agostiniano, então a sua visão sobre
o homem, sobre o pecado, sobre o livre-arbítrio eram basicamente
agostinianas, ou seja, na visão luterana, o homem nasce com o pecado
original que é fruto do pecado de Adão, o livre-arbítrio depois da
queda não pode ser entendido de maneira ampla, e o homem é um
pecador já quando nasce devido ao pecado de Adão que todos teriam
herdado. A salvação é fruto exclusivo da graça de Deus e o homem
está de alguma forma já predestinado à salvação ou à perdição.
Hoje temos em BH a igreja Luterana do bairro Serra que é liderada
por uma pastora lésbica. </p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">Calvino é um dos reformadores que leva o
protestantismo para a França e lá se torna a grande figura
propagadora da reforma luterana. Os pontos defendidos por Calvino são
basicamente os mesmos de Lutero, no entanto Calvino é um pouco mais
hard em relação à condição de pecado do homem, o que o
calvinismo chama de “depravação total”, ou seja, o homem é
impossibilitado de fazer o bem por si só, mas apenas pela graça de
Deus ele é capaz de fazê-lo. Do ponto de vista da relação com a
Igreja Católica, enquanto Lutero propunha uma reforma da Igreja,
Calvino se mostrava bastante cético se isso seria possível, e não
queria uma reforma, mas sim uma nova Igreja dos moldes da Igreja
Primitiva. Os grandes representantes do Calvinismo hoje no Brasil são
os presbiterianos. O presbiterianos são de origem calvinista e
mantém basicamente as doutrinas de Calvino para os dias atuais, ou
seja, a noção de predestinação, depravação total do homem, etc.
Não preciso dizer, obviamente, que esses grupos não são
homogêneos, ou seja, dentro dos presbiterianos há diversas
vertentes, assim como dentro do metodismo, do anglicanismo, etc. (Só
pra vc ter ideia, a primeira igreja presbiteriana de BH, ali na Rua
Ceará é extremamente fundamentalista, ao passo que a segunda igreja
presbiteriana, ali no Barro Preto é mais liberal, e a oitava igreja
presbiteriana ali perto do Minas Shopping já caminha de braços
dados com o neopentecostalismo)</p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">Jacó Armínio, de onde deriva o termo
“Arminianos” era um teólogo holandês que se colocou contra a
doutrina calvinista de depravação total e predestinação da
salvação. Para Armínio, o livre-arbítrio do homem poderia sim
fazê-lo “optar” pela salvação, ou rejeitá-la, i.e., a
presciência de Deus não era predestinatória. Na visão arminiana,
o homem não nasce predestinado à salvação, mas ela é fruto do
livre-arbítrio do homem, embora também fruto apenas da graça
divina. Armínio não defendia o pelagianismo, mas mantinha a noção
de graça salvífica de Deus, mas sem manter a noção de
predestinação a la Lutero e Calvino. </p>
<p align="justify"> </p>
<p align="justify">Os pontos principais da disputa entre Calvino e
Armínio podem ser vistos <a href="https://www.blogger.com/#">aqui</a>
(que está excelente nesse tópico)
</p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">Esses debates todos datam do século 16 e início
do século 17 entre Alemanha, França e Holanda. Duraram bastante
tempo e por questões históricas/políticas/sociais geraram várias
outras questões. </p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">O Anglicanismo é uma vertente que mescla a Igreja
Católica com a Igreja reformada, e é fruto do casamento do Rei
Henrique VII com Catarina de Aragão. Essa história é bem
conhecida por vc com certeza. Via de regra, do ponto de vista
teológico a igreja Anglicana se mostra um pouco mais “aberta”
que o Calvinismo e se coloca como um meio-termo entre o
protestantismo e o catolicismo. Do ponto de vista teológico ainda os
anglicanos são bastante liberais e isso tem feito com que geralmente
eles estejam na vanguarda de diversos temas contemporâneos como
casamentos homoafetivos, ordenação de mulheres aos cargos de
liderança, etc.</p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">O metodismo foi fundado por John Wesley que era
membro da Igreja Anglicana. Wesley não queria sair da igreja
anglicana, da mesma forma que Lutero não queria sair da Igreja
Católica, mas por diversos motivos acabou sendo desligado do
anglicanismo. A proposta metodista é diretamente ligada à reforma
protestante e por ser derivado do anglicanismo também se mostra uma
igreja um pouco mais aberta do ponto de vista teológico. O metodismo
surge no século 18 e já é fruto de um desenvolvimento do
protestantismo. Entre Calvino e Armínio, a doutrina metodista se
apóia nas ideias de Armínio, ou seja, defende que a salvação é,
conforme o ensino bíblico, baseada na Graça de Deus, que atua em
três dimensões: Graça Preveniente (preparando para a salvação),
Graça Justificadora (concedendo o perdão) e Graça Santificadora
(renovando a natureza humana corrompida); o alvo é a plena
santificação e a perfeição cristã (amor perfeito a Deus e ao
próximo). Ser santificado não é ser como Deus, e sim tornar-se
mais humano, ou seja, obedecer ao plano original que Deus tinha para
o Ser Humano.</p>
<p align="justify"><br />
<br />
</p>
<p align="justify">Igrejas Batistas são diversas <a href="https://www.blogger.com/#">denominações</a>
<a href="https://www.blogger.com/#">cristãs</a>, com forma de
governo <a href="https://www.blogger.com/#">congregacional</a>, cuja
<a href="https://www.blogger.com/#">doutrina</a> básica se dá na
<a href="https://www.blogger.com/#">salvação</a> mediante a <a href="https://www.blogger.com/#">fé
somente</a>, tendo como <a href="https://www.blogger.com/#">regra de
fé e prática</a> a <a href="https://www.blogger.com/#">Bíblia
Sagrada</a>,. As igrejas batistas não possui hierarquia, tampouco
<a href="https://www.blogger.com/#">governo</a> único, visto que é
princípio da maior parte das Igrejas Batistas o <a href="https://www.blogger.com/#">governo
local</a> da Igreja. Os batistas entendem haver duas <a href="https://www.blogger.com/#">ordenanças</a>
de Jesus Cristo: a <a href="https://www.blogger.com/#">Ceia do Senhor</a>
e o <a href="https://www.blogger.com/#">Batismo</a>, sendo que este
último só é realizado mediante a <a href="https://www.blogger.com/#">imersão</a>
do indivíduo na água, já em idade suficiente para ter <a href="https://www.blogger.com/#">consciência</a>
do ato e desejá-lo por iniciativa própria.A Igreja Batista é uma
<a href="https://www.blogger.com/#">denominação</a> histórica,
cujas origens remontam à <a href="https://www.blogger.com/#">Inglaterra</a>
no início do <a href="https://www.blogger.com/#">século XVII</a>.
Tornou-se, com o tempo, uma das mais importantes denominações
<a href="https://www.blogger.com/#">protestantes</a>, com muitas
igrejas na própria Inglaterra e também nos <a href="https://www.blogger.com/#">Estados
Unidos</a>, de onde <a href="https://www.blogger.com/#">missionários</a>
foram enviados a todas as partes do planeta. No <a href="https://www.blogger.com/#">Brasil</a>,
os primeiros missionários chegaram cerca de 150 anos atrás, tendo
fundado, desde então, igrejas de Norte a Sul no país.</p>
<p align="justify"> </p>
<p align="justify">É sem dúvida o ramo protestante mais famoso no
Brasil e o mais difundido. E talvez por isso seja o que tem mais
tipos diferentes dentro de si. Há igrejas batistas que adotaram o
neopentecostalismo (aqui em BH, por exemplo, a Batista da Lagoinha,
Getsêmani, Batista Central, etc.), há batistas tradicionais como a
primeira igreja batista do Barro Preto na praça Raul Soares, etc.
Pelo fato de não ser centralizada, nem ter nenhum tipo de liderança
(há pequenas convenções, mas com alcance muito limitado) as
igrejas batistas são extremamente múltiplas e de visões teológicas
extremamente diferentes. </p>
<p align="justify"> </p>
<p align="justify">Bem, aí está de maneira bem sistemática as
denominações chamadas de “protestantes” na contemporaneidade.
Percebe-se que nas denominações históricas, o debate entre Calvino
e Armínio é determinante para a teologia de cada denominação, mas
à medida que o tempo vai passando esse debate vai ficando um pouco
mais esquecido e as teologias das igrejas vão se atualizando. Do
ponto de vista teológico esse debate é importantíssimo e determina
muitas posições sobre diversas questões, mas diversos pontos
contemporâneos não são contemplados por esse debate (obviamente,
pois no século 16,17,18, o debate é outro). </p>
<p align="justify"> </p>
<p align="justify">O que a teologia sempre deve estar atenta é ao
dançar dos tempos para que possa dar respostas novas a debates
atuais.
</p>
<p align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-78857909002531879742020-07-07T13:10:00.002-07:002020-07-07T13:10:20.620-07:00Não roubarás - Elementos para pensar um critério ético<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj0l6T0dsXh3trp9OFxZPopqF7mR-RP3fkxiZ7IEfGSSWPa-sBIhg3SYBgFW1hXU06tr0DbALt8DKg_TYoGQDrKCRtS20uCWCmhLamI6wWqW8wTUEt_9i8zPZp7lnqMv3rolNkS94v_T0/s1600/fractais.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="900" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj0l6T0dsXh3trp9OFxZPopqF7mR-RP3fkxiZ7IEfGSSWPa-sBIhg3SYBgFW1hXU06tr0DbALt8DKg_TYoGQDrKCRtS20uCWCmhLamI6wWqW8wTUEt_9i8zPZp7lnqMv3rolNkS94v_T0/s320/fractais.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que acho extremamente estranho dentro de uma ética consequencialista é o fato de que na maioria das vezes não se percebe que o critério utilizado por essa lógica não se sustenta para uma vida em comunidade. Para além disso o problema de uma ética consequencialista é o fato de eliminar questões qualitativas do debate ético. Questões estas que sabemos serem na maior parte das vezes cruciais para um debate ético. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Li o artigo do Schwartzman que se baseia plenamente em uma visão bastante simples de uma ética utilitarista (que envergonharia talvez o próprio Bentham), mas que mantém a noção básica de como se deveria julgar uma ação ética. Ou seja, o princípio adotado pelo Schwartzman (que acredito estava pensando em Bentham ou Mill) é de que "uma ação é boa se promove um maior bem para o maior número de pessoas, ou um menor mal para um menor número de pessoas." Dessa forma, o critério defendido pelo Schwartzman pode-se dizer que é apenas quantitativo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Algo que já é apontado por diversos críticos de uma ética utilitarista é o fato de que o critério quantitativo é extremamente frouxo para tratar de questões éticas. Ninguém preferiria que sua mãe morresse (a não ser que se tenham seríssimos problemas edípicos envolvidos) para servir como exemplo para ninguém; da mesma forma que ninguém acharia válido que devêssemos matar um número considerado pequeno de pessoas em nome de um bem maior. Mesmo porque, não precisamos ser muito perspicazes para lembrar que o próprio nazismo via o sacrifício de judeus, homoafetivos, etc, como uma parcela que deveria ser morta em nome de um mundo melhor (que seria necessariamente um "bem maior"). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da mesma forma o critério utilizado por Schwartzman é extremamente difícil de ser universalizado, pois será que estaríamos dispostos a encarar os problemas éticos sempre dentro de uma ótica utilitarista? Não podemos (sob pena de sermos desonestos) mudar os nossos critérios éticos de acordo com a situação, ou seja, não podemos defender critérios utilitaristas em algumas questões, critérios deontológicos em outros, uma ética das virtudes (a la Mcintyre relendo Aristóteles) em outros. A própria noção de "critério ético" elimina esses saltos entre as teorias. Essa talvez seja uma das grandes dificuldades das questões éticas hoje, a perda do pensar os fundamentos de uma ação ética, onde eles estariam embasados, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Recentemente me vi nessa questão diante de saber se devo ou não cancelar minha matrícula da Smart Fit uma vez que se descobriu que o dono da rede apoia Bolsonaro e está envolvido nas redes de fake news. Em uma análise extremamente rápida a resposta se torna bastante óbvia, ou seja, algo como, "é claro que se deve cancelar, pois você estará financiando fake news, e você não pode fazer isso", de forma que um problema que deve ser pensado de maneira um pouco mais detida se torna apenas mais uma "ação a ser tomada." A questão que me coloquei foi "qual será o critério que usaria para cancelar a minha assinatura da Smart Fit?" Será que estaria disposto a fazer isso com todas as outras coisas pelas quais pago? E se eu descobrir que o Mc Donalds financia fake news na Tailândia, eu vou deixar de comprar Mc Donalds em nome desse critério? Vou passar agora a investigar tudo que consumo para saber qual critério utilizarei? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Voltando para o caso do presidente estar com COVID-19 e eu acreditar em um critério utilitarista. Será que eu estaria disposto a aplicar esse critério para todas as situações em que a doença de alguém está envolvida? Com certeza um parente doente terminal amado pelos seus dá muito mais despesa, gera muito mais angústia, dor, aflição para as pessoas ao seu redor de forma que seria o mais certo simplesmente solicitar a morte do parente enfermo a gastar uma montanha de recursos para manter alguém vivo. Mas é assim que se mede uma questão ética? São os valores financeiros, quantitativos que serão usados nesse processo? Não estaria aqui a mesma dinâmica de uma ética extremamente alinhada com o capitalismo contemporâneo de que nada do que não gere "lucro", nada que não gere "bem-estar" deve ser evitado? Não estaria no critério de uma ética utilitarista a recusa de pensar um pouco mais detidamente a questão colocada?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não é exatamente uma ética utilitarista proposta por Schwartzman que é a responsável pelo despejo de inúmeras famílias em nome da construção de rodovias? Afinal, a rodovia promoverá um bem muito maior para mais pessoas, e se para isso for necessário deixar sem abrigo 200 famílias, ainda assim é o mais correto a se fazer em nome do bem maior. Será que estamos dispostos a defender a desapropriação de famílias e nome de rodovias que beneficiarão mais gente? É neste sentido que acho que a questão de Schwartzman é bastante mal colocada, pois ao invés de investigar "por que colocamos o problema dessa forma" simplesmente trata o problema como sendo algo já dado. E aqui que penso entrar uma tarefa crucial da filosofia; muito além de simplesmente fazer as perguntas, penso que a filosofia deve se colocar algo anterior que seria algo mais ou menos como "por que estou colocando a pergunta dessa forma? A minha pergunta já não é ela mesma parte do problema?" Aqui que penso estar a pergunta mais central a ser feita. E a meu ver o Schwartzman erra drasticamente a pergunta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dessa forma acredito que pode-se defender ou não a morte de Bolsonaro por COVID-19, no entanto, se formos usar um critério ético, que mantenhamos ele diante das situações que se colocam para nós. Uma frase que comentei muito entre meus alunos de ética nesse semestre na faculdade em que ficamos um semestre inteiro debatendo apenas uma questão é a de que "não podemos roubar nos critérios éticos", ou seja, ou adotamos um critério, ou adotamos outro critério, de forma que mudar de critério de acordo com a situação é o que chamávamos de "roubar", e tivemos boas oportunidades de ver como que é fácil roubar nestas questões. O meu convite é para que não se roube nessas questões. Quando começamos a pensar de fato no problema ético percebemos que é muito mais complicado do que a proposta que Schwartzman tenta defender. </div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-28151432575136639572020-04-09T13:56:00.000-07:002020-04-09T13:56:04.432-07:002 Coríntios 5,21 - Um texto para a Páscoa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhroBAZMw-KxtQ0BH1cM6oTEPu3Dzr9cdK9F6cRb4O-XC-IXNXfdZ9J7pN3uE97Vr4T3FoZJQs5LldHjnpQvQx0VHFnoO8U1upG2oh4sWMmhI6mHf4oPiraiHeW1GWq90x4blo35Q0Ge6g/s1600/IMG_2893.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhroBAZMw-KxtQ0BH1cM6oTEPu3Dzr9cdK9F6cRb4O-XC-IXNXfdZ9J7pN3uE97Vr4T3FoZJQs5LldHjnpQvQx0VHFnoO8U1upG2oh4sWMmhI6mHf4oPiraiHeW1GWq90x4blo35Q0Ge6g/s320/IMG_2893.JPG" width="320" /></a></div>
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<br />
<br />
"Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus." (2 Cor 5,21)<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Esse texto é extremamente interessante a meu ver e coloca aspectos muito bons da teologia paulina . A perícope que se inicia no versículo 11, se estendendo até o primeiro versículo do capítulo 6 é um belíssimo texto que tem como ênfase a proposta do amor de Cristo que nos constrange, pois a princípio isso seria completamente "injusto". Um que morre por todos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No versículo específico que abre esse texto se evidencia um tema que é caro a Paulo que é a questão da especificidade e não-especificidade de Jesus. Especificidade na medida em que é em Jesus que os homens são reconciliados com Deus, não especificidade na medida em que se aplica a todos os homens. Algo interessante a se ressaltar é que não há nesse momento do cristianismo a noção de "pecado original" (conceito esse formulado só posteriormente por Agostinho). Jesus como "aquele que não conheceu o pecado" neste momento não tem em mente a noção do pecado original, como alguém que "nasceu puro" diferente dos outros homens e por isso teria feito tudo o que fez, pelo contrário, a ideia de que Jesus não conheceu o pecado tem a ver com o fato de que Jesus sempre teria feito o que é correto ao ponto de poder ele mesmo servido como redenção dos filhos de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para além de uma "ontologia cristológica", o que o autor tem em mente aqui é muito mais atentar para o caráter do modo de vida de Jesus, que como alguém próximo a Deus foi capaz de viver sem pecado, de forma que o próprio Deus o exaltou, o ressuscitando dentre os mortos. Aqui talvez ainda esteja em jogo uma cristologia bastante "humana", por assim dizer. Jesus é um rabi de Israel que viveu de acordo com a vontade divina e por isso Deus o ressuscitou como testemunho da salvação vindoura. Na medida em que Jesus é aquele que assume a morte de cruz mesmo sem ter cometido nenhum pecado, ele o faz pecado por nós; ou seja, Jesus como aquele que aparece como mediador entre os homens pecadores e o próprio Deus. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que está em jogo nesse momento é afirmar que a ressurreição de Jesus coloca a sua morte sobre outra perspectiva. Na teologia paulina é a ressurreição a chave de leitura para a vida de Jesus e não o contrário. Por isso que a Páscoa é o cerne do cristianismo. É porque Jesus ressuscitou que é preciso que entendamos em que medida a sua vida fez a diferença para aqueles que o rodeiam. Por isso que Paulo pode dizer que "se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé." (I Cor 15,14). Para Paulo é a ressurreição que coloca um novo olhar sobre Jesus, o Rabi que andou pela Palestina no século I. É porque ele ressuscitou que uma nova pregação é possível, um novo olhar sobre o Antigo Testamento é possível. E é exatamente esse o movimento paulino que funda o cristianismo. O fenômeno da ressurreição nesse momento é crucial para que o cristianismo surja, e o próprio judaísmo surja enquanto proposta diferente do cristianismo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Durante muito tempo a ideia de que "Jesus se fez pecado por nós" foi entendida como Jesus como aquele que "expia" o pecado. Aquele que "oferece-se como sacrifício" dentro de uma lógica retributiva. Essa leitura é clássica em Santo Anselmo e a sua teoria da satisfação no qual um pecado da magnitude do pecado de Adão necessitaria de um sacrifício de igual magnitude, ou seja, um cordeiro santo que não pecou seria aquele que seria capaz de satisfazer o próprio Deus e para isso a justiça seria feita. No entanto, não parece ser esse o intento do autor da carta de 2 Coríntios, uma vez que a doutrina da Graça paulina vai exatamente contra uma doutrina retributiva do AT. Dentro da doutrina da Graça em que medida Jesus se torna "justiça de Deus"? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A resposta para essa questão é dada no início da perícope em que Paulo afirma que o amor de Cristo nos constrange (2Cor 5,14), ou seja, a justiça não tem a ver com uma punição que Jesus estaria encarnando, mas um ato de amor, no qual ninguém além de Deus é o responsável. Por isso que para Paulo na morte de Jesus, Deus está reconciliando consigo mesmo os homens não levando em conta os pecados dos homens. Esse ponto é crucial. A morte de Jesus e a sua ressurreição não está envolta em uma dinâmica sacrificial em que algo é imolado para que o preço seja pago, mas está fundada simplesmente no amor de Deus que em Cristo nos reconciliou. A lógica sacrificial não opera aqui. Jesus não é alguém que está pagando um preço por nós, mas está agindo com o maior amor possível que reflete o próprio Deus, e que por isso nos constrange, por isso faz tudo novo. Por isso que para Paulo não podemos olhar mais para Jesus "segundo a carne" (v 15), mas Nele todas as coisas são "nova criação" (v.17). Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado (v.21) para que nós fôssemos justiça de Deus em amor. E tal justiça é executada por nós enquanto cooperadores de Deus. Cooperar com Deus, atuar junto para que todos os homens sejam capazes de perceber o amor de Cristo que nos constrange. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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O que Paulo entende aqui é que em Jesus todas as coisas se fazem novas não por um ato retributivo, mas pelo próprio amor que reconfigura todas as coisas. A justiça de Deus não é punitivista, mas sim amorosa. O próprio evento Cristo atesta isso. Se olharmos "segundo a carne" pensaremos segundo a lógica retributiva do AT, mas se olharmos pelo olhar da reconciliação que Deus está promovendo todas as coisas se fazem novas e podemos exercer a justiça de Deus reconciliando juntamente com ele todos os homens. Isso para Paulo é crucial, uma vez que sabemos que para Paulo a vinda de Jesus era iminente. Tanto que o apelo de Paulo na perícope faz um apelo "reconciliem-se com Deus". (v. 20), e logo em seguida outro apelo "insistimos com vocês para não receberem em vão a graça de Deus" (2Cor 6,1). Dessa forma é chegado o tempo favorável da salvação. (alusão aqui ao texto de Isaías 49,8)</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-68252055128008946142019-08-29T10:02:00.001-07:002019-08-29T10:02:04.449-07:00Publicação do livro "Escritos sobre Religião. Entre a Teologia e a Filosofia"<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUACv2nFi4l3XMIBIHo_0vsjJA_625dcxtisKAWN4Dndg1h78MOCIzek57rGzgpxledqOi_DIvhWx7AQP8R_X3VY4DG6Kj-GDgSkeBR07Tl7Z_Z7w156Z5zD87555bw8IQuc519ENDWsg/s1600/escritores-sobre-religiao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="619" data-original-width="412" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUACv2nFi4l3XMIBIHo_0vsjJA_625dcxtisKAWN4Dndg1h78MOCIzek57rGzgpxledqOi_DIvhWx7AQP8R_X3VY4DG6Kj-GDgSkeBR07Tl7Z_Z7w156Z5zD87555bw8IQuc519ENDWsg/s320/escritores-sobre-religiao.jpg" width="212" /></a></div>
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Com muita alegria que divulgo a publicação do meu livro em que se encontram uma seleção de 100 textos publicados ao longo de 10 anos nesse blog. Os textos lá publicados versam sobre a temática da Filosofia, Teologia e Psicanálise e o diálogo dessas áreas com a sociedade contemporânea.<br />
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Caso tenham interesse em adquirir o livro, segue o link abaixo para o site da Editora.<br />
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<a href="https://aeditora.com.br/produto/escritos-sobre-religiao-entre-a-teologia-e-filosofia/">https://aeditora.com.br/produto/escritos-sobre-religiao-entre-a-teologia-e-filosofia/</a><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-36020558151324682792019-07-14T05:46:00.000-07:002019-07-14T05:46:25.696-07:00Venezuela - Estivemos lá<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdTChk3ZOlgA14plQI4L_O0Dm9QmwXG44RaVE4gQ3g3ur5Bks7TIEeXuuwA6kCDKf0tPpsKuI8pyUCxIoZleXgBY9OojXBNXn-YC_KT70EYggWciv1vdKNWYybep3ZuTcPOd6CWuSKZY/s1600/venezuela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="550" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCdTChk3ZOlgA14plQI4L_O0Dm9QmwXG44RaVE4gQ3g3ur5Bks7TIEeXuuwA6kCDKf0tPpsKuI8pyUCxIoZleXgBY9OojXBNXn-YC_KT70EYggWciv1vdKNWYybep3ZuTcPOd6CWuSKZY/s320/venezuela.jpg" width="320" /></a></div>
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Recentemente eu e Priscila estivemos visitando o norte do país, a cidade de Boa Vista em Roraima e aproveitamos para conhecer dois novos países da América Latina. Guiana e Venezuela.</div>
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A experiência foi belíssima e realmente o Brasil possui muitos lugares impressionantes. Sem dúvida a parte mais interessante da viagem foi a nossa presença na Venezuela.<br />
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Qualquer pessoa minimamente informada sabe que a situação venezuelana não está muito boa, a crise se aferra por lá há algum tempo e tem havido um êxodo muito grande de venezuelanos por meio das fronteiras com a Colômbia e com o Brasil. Essa situação tem trazido muito sofrimento para diversos venezuelanos e isso gera um monte de informações desconexas que são passadas pela mídia (que todo mundo sabe possui interesses específicos, visam gerar lucro para grupos específicos, etc.).<br />
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Uma preocupação que tive quando estava na Venezuela foi conversar com os diversos trabalhadores com quem encontrava durante a estadia. Conversamos com os garçons, atendentes do hotel, motoristas, e qualquer pessoa que estivesse disposta a dialogar sobre a situação do país para tentarmos entender como que, in loco, as pessoas que estavam submetidas à situação viam o problema de seu país. Acreditamos que isso possui uma dimensão muito mais ampla que qualquer "notícia" dada na grande mídia.</div>
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A primeira noção que ficou muito clara para nós e foi dito pelo garçom Ariel do hotel em que trabalhávamos é que até mesmo a classe trabalhadora sabe que o que há na Venezuela não tem absolutamente nada a ver com socialismo ou comunismo. Nas palavras do próprio Ariel:</div>
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"- Ueh, mas o socialismo não seria dividir as riquezas com todos? Aqui não há socialismo!" </div>
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O que Ariel na sua simplicidade é capaz de colocar evidencia o núcleo duro da proposta comunista que é a igualdade entre todos e o direito a todos a todas as coisas. Para além da visão tacanha das épocas das redes sociais, o socialismo não existe na Venezuela, isso o próprio Ariel nos disse, demonstrando uma leitura muito atenta da situação.<br />
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Da mesma forma o motorista da Van que nos levou pelo passeio à Gran Sabana demonstrou um excelente conhecimento da situação do seu país e me deu uma aula sobre o período de Hugo Chávez e o movimento de transição para Maduro. O motorista sabia exatamente onde se encontrava o problema, reconhecia o avanço que Chávez trouxe à Venezuela, mas já era capaz de dizer que o grande problema do Chavismo foi o problema de qualquer governo dentro do capitalismo, ou seja, a corrupção.<br />
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Não era um problema do "sistema de governo", mas sim da própria dinâmica de qualquer governo que não consegue levar à cabo sua proposta que o levou ao poder, mas sucumbe facilmente às dinâmicas do capital. A corrupção faz parte do sistema capitalista de maneira estrutural. Não existe capitalismo sem corrupção, de forma que a agenda neoliberal com seu discurso moralizante toda hora se mostra permeada e sustentada pela corrupção.<br />
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Infelizmente em nossa época de pós-verdade pouquíssimas pessoas tem uma preocupação séria em debater os conceitos e preferem ficar presos à definições rasas, propostas de redes sociais que demonizam facilmente qualquer coisa ao invés de procurar uma literatura especializada para tratar das questões mais sérias. Às vezes são pessoas muito bem intencionadas, mas que por conta de diversos fatores (que não podemos excluir a má-fé deles) preferem utilizar de definições rasas e com isso corroboram a demonização de questões estruturais da república como "justiça social", "distribuição de renda", etc. Quando se demonizam questões que deveriam ser defendidas por todos o que se percebe é a perda da noção de sociedade e o avanço do individualismo como tônica para pensar as relações contemporâneas.<br />
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O capitalismo contemporâneo é individualista; por isso que todo tipo de pensamento que tem como foco o social é logo acusado de "socialismo", "comunismo" como forma de demonizar um pensamento social e com isso manter a estrutura segregacionista do próprio capital. O mais curioso é quando esse discurso vem dos setores cristãos, pois o cerne da própria Bíblia sempre foi social, sempre foi pensando na noção de povo, quer se leia o Antigo Testamento, quer se leia o Novo Testamento. São inúmeras as referências bíblicas possíveis para mostrar que a Bíblia é um livro que preza pela justiça social, condena o acúmulo de riqueza, preza pela solidariedade, etc. Esse tipo de "esquecimento" do texto é muito sintomático de uma época em que o individualismo se torna a tônica. Esquecer o caráter social do texto bíblico é não ter entendido uma linha do que o texto se propõe.<br />
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<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-42159694267561609672019-07-04T05:01:00.000-07:002019-07-04T05:01:00.471-07:00Resposta teológica à uma questão difícil<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDva1UOqUYPbeZx4lrZU9paQKO_UsiS-QAbBUPrmEn29GuD7ZcVGKXDxFUVSr4iJjN5KQWiQp0ssGItFnO0rk-ff9ssEd7MY6UJISFRkzQXk1dxhX2Pc_-Y5n84VY12xJhFiB8BhxzOQQ/s1600/Color_icon_black.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDva1UOqUYPbeZx4lrZU9paQKO_UsiS-QAbBUPrmEn29GuD7ZcVGKXDxFUVSr4iJjN5KQWiQp0ssGItFnO0rk-ff9ssEd7MY6UJISFRkzQXk1dxhX2Pc_-Y5n84VY12xJhFiB8BhxzOQQ/s1600/Color_icon_black.png" /></a></div>
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"Uma pergunta ao teólogo: qual a sua visão teológica sobre o suicídio?"</div>
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Esta é uma pergunta extremamente sutil e dentro do meio cristão fonte de inúmeras controversas e várias vezes fonte de inúmeras culpas por parte daqueles que ficam. Não sem motivo Camus afirmava que a questão do suicídio era o maior enigma da filosofia, que essa questão deveria ser a questão fundamental da filosofia, pois ali estaria toda a questão de saber se a vida tem ou não sentido. </div>
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Durante muito tempo (e até hoje em grande parte da população cristã) a questão do suicídio sempre foi encarada como sendo uma espécie de "pecado capital", ou seja, um "pecado sem perdão" em que aquele que comete tal ato, por não ter como pedir perdão por ele, estaria de forma quase que automática, condenado à perdição eterna. No meio católico muito se pensa na ideia de um purgatório que seria um pouco mais "difícil" para pessoas que teriam cometido tal ato. Embora essas visões façam parte do senso comum e sejam bastante divulgadas, a meu ver elas fazem muito pouco sentido se considerarmos a questão do ponto de vista teológico. </div>
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Sabemos que a visão que temos de Deus, a forma como o compreendemos altera drasticamente a forma como lidamos com as questões do mundo à nossa volta. Se compreendemos Deus como uma espécie de "dono do armazém" que contabiliza nossos erros e acertos para nos dar uma recompensa posterior acabamos entrando em uma espécie de dinâmica contabilizadora quantitativa e qualitativamente sobre os nossos atos, e isso sem sombra de dúvida nos leva à uma espécie de "escalonamento teológico dos pecados", de forma que pensaríamos em "pecados maiores" e "pecados menores", de forma que evitaríamos os pecados maiores e veríamos os pecados menores como "inevitáveis". A meu ver é esse escalonamentos de pecados baseados nessa visão de Deus que gera a grande hipocrisia cristã de condenar de maneira veemente alguns <a href="http://veliqs.blogspot.com/2014/10/um-pouco-sobre-pecado-partir-de-i-jo-34.html" target="_blank">pecados</a> e simplesmente não se importar com outros. </div>
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Para mim a questão do suicídio se liga diretamente à questão do livre-arbítrio, ou seja, ela no final das contas acaba sendo um ato livre de um sujeito que por algum motivo acredita que aquela é a melhor saída para a situação vivenciada. Nunca teremos como saber se seria um ato de coragem ou um ato de covardia do sujeito, pois apenas o sujeito ali, no momento da decisão, é capaz de dizer do que se trata. Dessa forma é impossível generalizar (como geralmente se faz) sobre a questão. Cada caso é um caso, cada situação uma situação.<br />
Sendo fruto do livre-arbítrio do sujeito se liga diretamente à liberdade concedida por Deus e por isso tal ato deve ser entendido como um ato de escolha do sujeito em determinada situação. Dar cabo da sua vida em determinado momento é sempre uma atitude última, uma tentativa de resposta última à questão do sentido da vida para si.<br />
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Dentro do cenário cristão a pergunta sobre a salvação do sujeito sempre aparece. Para mim a graça de Deus é radical e a salvação independe das nossas ações, das nossas atitudes, das nossas intenções, pois a salvação é fruto da graça que é fruto do amor de Deus que a todos alcança. A pessoa que comete suicídio também é alcançada pela graça radical de Deus e dessa forma é salva por Ele, pois Deus não deseja que nenhum de seus filhos se perca.<br />
Pelo que pontuei acima já deve ter ficado claro que para mim o suicídio não é um pecado, não é um "ato contra Deus", não é algo que Deus não perdoa "porque o sujeito não tem como pedir perdão"; muito pelo contrário, para mim, o Deus em que acredito é um Deus que sempre é amor, e por isso sempre quer que seus filhos estejam juntos de si. Se entendemos a questão da salvação como fruto da graça de Deus, e exclusivamente da graça de Deus que é amor, penso que isso pode nos servir de consolo no <a href="http://veliqs.blogspot.com/2015/06/o-momento-da-precariedade.html" target="_blank">momento da precariedade </a>que a morte revela.<br />
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O momento é de extrema dor, o consolo parece impossível, mas aquilo que cremos, o "como" cremos pode nos ajudar a passar pela fase difícil de maneira um pouco mais inteiros.<br />
<span style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;">Triste momento esse que vivemos nesses dias em que um querido amigo se foi. Compartilhamos a dor daqueles que são mais próximos e sofremos muito com eles. Nessas horas não tem muito o que podemos dizer para consolar os que ficam. Apenas podemos oferecer o nosso carinho, o nosso cuidado, as nossas lágrimas, compartilhar a dor, se fazer presente para o que for necessário, mas nunca haverá palavras no mundo capaz de dizer o que sentimos nessas horas. </span><br />
<div style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;">
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<div style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;">
Para os que são mais próximos a dor dilacerante é muito maior, a ausência de norte é muito maior, a busca pelo sentido de tudo se mostra muito mais veemente e a dor se mostra várias vezes insuportável. Nessas horas não há manuais a seguir, não há regras a serem cumpridas, há apenas indívíduos que precisam lidar com a perda e reorganizar a vida sabendo que a partir de agora as configurações serão outras, os desafios serão outros. Acredito que se compartilharmos a dor o fardo será mais fácil de ser carregado e a nós enquanto amigos não há outro lugar que queremos estar senão ao lado de vocês. </div>
<div style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;">
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<div style="background-color: white; color: #111111; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; font-weight: 700;">
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<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-88368083644543051842019-05-16T05:35:00.002-07:002019-05-16T05:35:53.165-07:00Ética contemporânea - Um relato de aula <div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYT9ofAdVW44SuXt6DO7C_XgnD7KfzHvaYhS9sKgIgPAWGF0YMFsNFObH1PsW162GD9DatBwWK7hObny5u6_OXnE50CIz812NEYO5Sk5MzGnGQsi_ycnVqan8PyVaL_k8ngknr0VpLMMs/s1600/imagem.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="275" data-original-width="980" height="89" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYT9ofAdVW44SuXt6DO7C_XgnD7KfzHvaYhS9sKgIgPAWGF0YMFsNFObH1PsW162GD9DatBwWK7hObny5u6_OXnE50CIz812NEYO5Sk5MzGnGQsi_ycnVqan8PyVaL_k8ngknr0VpLMMs/s320/imagem.png" width="320" /></a></div>
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Recentemente, em uma das minhas aulas estávamos falando sobre ética contemporânea. A princípio propus um recorte mais histórico para entendermos uma espécie de "quando" poderíamos propor uma espécie de "virada ética" no ocidente e resolvemos tomar como marco o pós-guerra e o declínio dos discursos iluministas/positivistas e os discursos religiosos institucionais, o que daria origem, em grande medida, à ascensão de um existencialismo de cunho mais ateu. (Lembrando que o existencialismo já existia desde o século 19 com Kierkegaard, mas ainda muito vinculado à religião cristã). A partir desse marco precisávamos também analisar as mudanças sociais advindas do mundo pós-guerra e o impacto do início da globalização na vida desse sujeito ao mesmo tempo que precisávamos entender o avanço do capitalismo no pós-guerra, o que com certeza geraria impactos cruciais na vida dos sujeitos. </div>
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No meio desse debate um aluno faz uma pergunta que a princípio não tem muita coisa a ver com a discussão, mas ele pergunta: "professor, qual a diferença entre "esquerda" e "direita"?" A pergunta que aparentemente soava sem sentido foi um excelente complemento para o nosso debate. Na hora me lembrei do texto de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" em que ela faz uma excelente análise de como que um movimento totalitário pode ser apropriado tanto por governos ditos de esquerda e governos ditos de direita. A partir desse texto comecei respondendo que a noção de "direita" e "esquerda" tem origem na França em que as alas mais conservadores ficavam à direita, enquanto a ala mais progressista ficava à esquerda, o que deu origem ao termo, mas que no entanto, hoje ninguém se referia mais a essa diferenciação quando usavam o termo.</div>
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Em seguida, seguir de perto a proposta de Deleuze que sempre afirmou que não há governo de esquerda, pois o máximo que pode haver são governos favoráveis a pautas da esquerda, mas nunca um governo de esquerda, pois para isso seria preciso que toda uma estrutura de poder fosse desfeita, o que até hoje não aconteceu. A partir disso propus uma categorização primeira de afirmar que a proposta da direita envolveria um aspecto mais conservador enquanto a esquerda propunha um aspecto mais progressista. O aluno então propõe uma pergunta pertinentíssima que coloca em xeque essa primeira categorização que é o fato de alas ditas de direita são extremamente a favor de um liberalismo econômico, liberdade do indivíduo, etc., enquanto alas mais à esquerda não raras vezes se mostravam mais a favor de um Estado mais forte, etc. Esse novo questionamento nos levou a uma segunda categorização, que talvez seja até mais interessante para pensar tal dinâmica dentro do capitalismo tardio.</div>
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Propus que para termos uma definição mais interessante poderíamos falar que dado o avanço do capitalismo no pós-guerra ter sido de maneira global, o mercado se transformou em grande medida em um grande déspota que sobrepõe às categorizações antes vigentes entre "esquerda" e "direita", e por isso seria interessante pensar uma outra forma de pensar essa diferenciação e até mesmo checar se tal diferenciação não teria se tornado anacrônica do ponto de vista da categorização. Propus então a diferenciação de que enquanto a direita propõe uma ênfase sobre o indivíduo, o elegendo como critério máximo na escala de valores de forma que tudo que contrarie o indivíduo deve ser visto como forma de limitação da sua liberdade (um neoliberalismo na sua forma mais hard), a esquerda propõe que o indivíduo não é esse critério máximo, mas sim a sociedade em seu conjunto que deve ser eleita como tal critério, de forma que é por isso que enquanto a direita defende um estado mínimo (pois o Estado nessa visão seria um limitador da liberdade do sujeito), a esquerda propõe um Estado mais amplo de forma a garantir um acesso a um número maior de pessoas à coisas que o indivíduo não consegue por si só dada a uma série de fatores. </div>
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Como esses fatores são dados pelo sistema econômico, uma vez que eles determinam em grande medida a forma como o sujeito vai se relacionar no mundo, é interessante percebermos que acima dessa divisão entre esquerda e direita há um mercado global que transcende em grande medida tais divisões. Neste sentido, em época de capitalismo global podemos pensar em outra forma de categorização de direita e esquerda, de forma que talvez aqui aponte para algum anacronismo nessa categorização. Direita e esquerda teriam a ver com o quanto essas visões estariam dispostas a ceder ao mercado. A direita disposta a ceder muito (daí a proposta de um estado mínimo e o indivíduo eleito a critério último de valores), enquanto a esquerda disposta a ceder menos (daí a noção de um Estado mais forte capaz de garantir à sociedade, e não apenas ao indivíduo possibilidades, em suma, a sociedade eleita como critério último).</div>
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No entanto, algo que percebemos aqui é que nem a direita (por motivos óbvios) e nem a esquerda (por motivos não tão óbvios) estão dispostos a romper com a lógica do mercado, mas no máximo proporem uma espécie de "capitalismo humanizado" (outro anacronismo) capaz de atender as demandas sociais em segundo plano enquanto primam pelo lucro de um número cada vez menor de pessoas. A meu ver uma proposta de uma esquerda "true" deveria ser a proposta de um novo sistema econômico capaz de dar contas dos disparates criados pelo capitalismo. A primeira aposta da esquerda em um socialismo/comunismo de Estado não deu certo, pois muito rapidamente a ideia se perdeu em nome de uma maximização estatal que acabou funcionando como "novo detentor dos meios de produção" mantendo as mazelas que visava combater. No entanto, não é pelo fato da primeira tentativa ter dado errado que isso signifique a esquerda deva abrir mão de propor novos modelos de funcionamento da economia em que a sociedade e a humanização do sujeito sejam as prioridades. </div>
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Um aluno então comenta algo que encerrou a aula com chave de ouro, pois tínhamos estudado antes o texto "homo sacer" do Giorgio Agamben em que o filósofo define o homo sacer e explora o conceito para o nosso tempo. A fala do aluno foi: "então, professor, vc está dizendo que no atual cenário mundial, ou você está no mercado, ou você é um homo sacer?" Eu respondo: "É exatamente isso. Você entendeu exatamente o ponto, e a meu ver, um sistema econômico que condena mais da metade da população mundial à condição de homo sacer não pode ser algo que podemos ver como algo que "funciona". É preciso de alguma forma pensar e repensar modelos econômicos capazes de re-humanizar o sujeito e ter neste e na sua vida em conjunto o critério último para uma ética e não o mercado. É a partir desse contexto que podemos pensar uma ética contemporânea que tentaremos iniciar na próxima aula. </div>
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<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-60245586843556897922019-04-17T09:42:00.001-07:002019-04-17T09:45:27.777-07:00Resposta à uma questão sobre o movimento e o repouso em Aristóteles<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.7999999999999998; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
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<div dir="ltr" style="line-height: 1.7999999999999998; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.7999999999999998; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.7999999999999998; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Como
Aristóteles resolve o problema entre movimento e o repouso no ser? </span></span></span>
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">A
questão que Aristóteles se propõe a resolver é antiga e remonta
desde Heráclito com o problema do movimento e repouso. </span></span></span>
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Aristóteles
migra esse problema para tentar explicar o ser. “O ser está em
constante mudança,” era o que afirmava Heráclito. Mas para que
algo mude é preciso que haja alguma coisa no ser que permaneça
imóvel.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Aristóteles
para resolver o problema distingue no ser o que é ato, e o que
é potência. Por ato, Aristóteles entende como aquilo que já
existe no ser desde o princípio, e por potência, ele entende como
aquilo que o ser tem possibilidade de ser.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Seguindo
essa linha, Aristóteles afirma que o primeiro motor que move todas
as coisas é um ser incorruptível e o é assim em essência. Pois é
o primeiro que move os outros e se quisermos um movimento perfeito é
necessário que o primeiro motor seja perfeito pois dele partirá os
outros movimentos.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">O
problema de como princípios iguais geram seres corruptíveis e
incorruptíveis é respondido a partir das idéias de substância e
acidente. Por substancia, Aristóteles entende aquilo que é
essencial do ser, e por acidente aquilo que é atributo
circunstancial e não-essencial do ser.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Juntamente
com a ideia de ato e potência Aristóteles afirma que o ser se diz
de várias formas, e portanto , o fato de ter os seres os mesmos
princípios não garante que o ser possuirá as mesmas
características; isso porque no percurso podem haver “acidentes”
que conduzirá o ser por outro caminho. A noção de potência
também é levado em conta pelo fato do ser ter a capacidade de
vir-a-ser várias coisas no decorrer do tempo.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">A
causa disso, segundo Aristóteles está no fato do ser poder ser dito
de várias formas. Essa foi a forma que Aristóteles encontrou para
resolver o problema do movimento e do repouso.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Existe
algo no ser que é imóvel, e outras coisas neste mesmo ser que são
móveis, o que dá ao ser essa dualidade e resolve em si o problema
do movimento e do repouso.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">O
fato de haver pessoas corruptíveis e incorruptíveis não está
portanto ligado à parte imóvel do ser, ou àquilo que ele é em
essência, mas sim ligado à sua potência, e aos acidentes que
determinam como esse ser agirá. Assim o papel do primeiro motor é
simplesmente mover o ser, mas não em determinar se ele será
corruptível ou incorruptível.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Os
acidentes pertencem ao ser, mas não são necessários para a
natureza dele. Os acidentes ajudam a determinar como que o ser irá
agir em determinada situação, definindo-o assim como corruptível
ou incorruptível.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "arial";"><span style="font-size: 12pt;">Esse
texto foi escrito em 2005 enquanto cursava o segundo período de
Filosofia na UFMG.</span></span></span></div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="color: black; font-family: "arial"; font-size: 12pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre;">
</span></div>
<span id="docs-internal-guid-039b1750-7fff-56de-6b20-25bfe13ea722"><br /></span><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-67794323876843966832019-03-25T13:15:00.003-07:002019-03-25T13:15:31.324-07:00Paradoxos contemporâneos <br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBp3wP3m-3vnsWrukT3dDl3J-qBwXSR_rnqqHXAoa5vA4sfUgj8I2clSqt_3E0La54-gxc3b-GKKIwjMfX6CeK2inMF3grxHNOasRgZFa9FJVKczhmiEzIgJRwDSkToiiVXa_1lRKwn3k/s1600/Boyle%2527sSelfFlowingFlask.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="194" data-original-width="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBp3wP3m-3vnsWrukT3dDl3J-qBwXSR_rnqqHXAoa5vA4sfUgj8I2clSqt_3E0La54-gxc3b-GKKIwjMfX6CeK2inMF3grxHNOasRgZFa9FJVKczhmiEzIgJRwDSkToiiVXa_1lRKwn3k/s1600/Boyle%2527sSelfFlowingFlask.png" /></a></div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="background-color: #f8f9fa; color: #222222; font-family: sans-serif; font-size: 12.3704px; text-align: left;">O copo com autofluxo de Robert Boyle </span><span style="background-color: #f8f9fa; color: #222222; font-family: sans-serif; font-size: 12.3704px; text-align: left;">preenche a si próprio neste diagrama</span></div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Qualquer
um minimamente inteirado do modo de funcionamento do capitalismo
tardio sabe que enquanto a democracia favorecia os interesses do
capital ela precisava ser mantida, pois o próprio capitalismo
acabava por perceber que a suposta responsabilidade do sujeito pela
vida política o torna também consumidor de uma forma de vida um
pouco mais complexa. Por complexidade aqui queremos dizer tanto do
ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista prático.
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
No
entanto, assim que a democracia deixou de ser hegemônica (ou seja,
dominada por uma elite extremamente seleta) dada as diversas vozes
encontrando eco na democracia, por exemplo, o alcance do negros no
mercado de trabalho, a questão feminina se colocando contra o
domínio do patriarcado, uma classe mais pobre começando a conhecer
e reivindicar seus direitos, a democracia precisou ser reconfigurada para que os interesses do capital continuassem sendo alcançados.
Essa chave de leitura nos permite entender em grande medida o colapso
democrático no mundo do século 21.</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
A
tônica da reconfiguração da democracia se vê exatamente no momento em que
a possibilidade de representatividade aumenta como fruto dos embates
pós 1970. Para que o capitalismo se mantenha não é mais necessário
que os sem voz permaneçam sem voz, mas é preciso que a sua própria
voz seja transformada em produto pelo próprio modo de produção
capitalista. Enquanto não se tem voz, não é possível consumir de
maneira adequada, pois falta dignidade a esse comprador no mercado
global, de forma que é necessário que essa voz seja ouvida, pois
cada pessoa é sempre um consumidor em potencial. Se os sem voz
continuam sem voz, se a democracia caminha na direção oposta, ela
precisa ser reconfigurada, ou seja, ser realinhada aos interesses do capital. </div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Aqui
há um curioso paradoxo envolvido. As democracias sempre foram
exaltadas como um modo de governo em que as minorias podiam se
expressar de maneira um pouco mais enfática e ter um mínimo de
representatividade nas esferas do poder. No entanto, o processo
democrático moderno sempre esteve sob a tutela do modo de produção
capitalista (assim como qualquer regime de governo no capitalismo)
que já se mostrou funcionar sob a dinâmica do acúmulo de riqueza
por uma parte cada vez menor da população. (Atualmente cerca de 2%
da população domina cerca de 98% das riquezas produzidas) Dessa
forma quanto mais representatividade se adquire, mais o capitalismo
tardio transforma tal luta pela representatividade em objeto a ser
consumido. Em última instância podemos dizer que o fortalecimento das democracias funcionam como suporte para o capitalismo enquanto os agentes envolvidos na democracia permaneçam consumidores. Claro
que aqui não estamos dizendo que as lutas por representatividade não
sejam importantes, muito pelo contrário. Temos a plena consciência
que tais lutas são de um ganho enorme para diversas parcelas da
sociedade; o que ressaltamos aqui é que no modo de produção do
capitalismo tardio até mesmo as reivindicações são transformadas
em produto.</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
É
aqui que percebemos em que medida as diversas lutas das minorias se
tornam abocanhadas pelo capitalismo de maneira nada velada. As pautas
feministas, negras, homoafetivas se tornam produtos a serem
consumidos exatamente por essas minorias e também pelos próprios
apoiadores das causas em questão, de forma que a crítica se torna um
meio para ascender aos valores ditados pelo próprio capitalismo que faz com que a própria luta pela representatividade reforce os ideais advindos do capitalismo. Quando alguma minoria tem como maior
interesse se adequar aos valores do capitalismo percebemos que a
ideologia capitalista já está sedimentada de forma quase que
acabada.
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Tais
valores penetram na vida do sujeito de maneira tão sutil que
simplesmente o sujeito se sente empoderado pela noção de poder dada
pelo próprio sistema econômico que o colocou como minoria. Isso é
um paradoxo que faz com que as lutas, por mais importantes que sejam,
se tornem inócuas do ponto de vista sistêmico. É preciso sim a
luta das minorias, no entanto penso que elas não devam ser um fim em
si mesmo, mas ser um degrau para que os valores do capitalismo sejam
substituídos por outros valores em que o humano seja o mais
importante e não o capital.
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
Dessa
forma conseguimos traçar uma dinâmica extremamente sutil do
capitalismo tardio. As lutas pelas representatividades típicas do
nosso tempo, por mais importantes que sejam são transformadas como
fim em sim mesmo e dessa forma perpetuam o sistema que permitem que
elas ocorram, uma vez que as lutas são pautadas pelos valores dados
pelo próprio sistema que visa combater. Para além das lutas pelas
representatividades diversas, penso ser necessário que tais pautas
não sejam um fim em si mesmas, mas levem o sujeito a ascender aos
lugares de poder ditados pelo capitalismo como forma de minar por
dentro o próprio sistema. A luta das minorias é uma luta hercúlea
que facilmente acaba sendo desviada em nome dos valores do sistema
econômico. É preciso, no entanto, não perder o foco da luta para que ao invés de meras performances inócuas tenhamos de fato uma mudança no status quo. </div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br /><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-9666309577035144192019-02-21T13:42:00.000-08:002019-02-21T13:42:09.546-08:00O frágil sujeito contemporâneo e sua atividade passiva.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJfXBKeuysztZq8wwnvVPkudWaqld6hXJyxNjQfkknvncufoFXJz8T6XhKHrSQ0T74UMuzrRdEQSsF9qPXG3H66uo7mi4AH5GWUrFPEtOwrdceuHIWN6cZtPMZoT-pervgcUaYk2h0mJQ/s1600/Paulo+brabo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="843" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJfXBKeuysztZq8wwnvVPkudWaqld6hXJyxNjQfkknvncufoFXJz8T6XhKHrSQ0T74UMuzrRdEQSsF9qPXG3H66uo7mi4AH5GWUrFPEtOwrdceuHIWN6cZtPMZoT-pervgcUaYk2h0mJQ/s320/Paulo+brabo.jpg" width="263" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
Imagem de Paulo Brabo disponível em: <a href="https://c2.staticflickr.com/8/7309/27314585531_ee0cf69de4_b.jpg" target="_blank">https://c2.staticflickr.com/8/7309/27314585531_ee0cf69de4_b.jpg </a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não há nada mais frágil que o sujeito contemporâneo. Tudo o fragiliza, tudo é motivo para que ele se sinta ofendido, magoado, rejeitado, etc. É como se de alguma forma esse sujeito não se sentisse fixado a nada, como se ele estivesse sempre pairando sobre um vazio sem nenhum tipo de apoio a não ser os micro-apoios que cria para si através de pautas cada vez mais genéricas, ("Vamos acabar com a fome no mundo". "Quero um mundo sem guerras") ou pautas ultra-específicas. ("Sou contra usar coleira em cachorro", "não podemos comer verduras porque elas pensam", etc.)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curiosamente esse sujeito contemporâneo é o que mais assume para si "causas". Todo dia aparece alguém lutando por algum novo motivo urgente que PRECISA ser debatido, que precisa ser dialogado, que precisa ser "coletivizado". No entanto, uma dinâmica muito interessante é que na maioria das vezes não há nenhum tipo de ação efetiva no mundo para a mudança de absolutamente nada. Com o avanço das redes sociais, o que mais se vê é o já famoso "ativismo online" em que o sujeito se mostra super engajado (mas apenas nas redes sociais), super crítico (mas apenas nas redes sociais), disposto a refletir (mas apenas nas redes sociais) e tudo isso permeado de discursos, compartilhamentos de entrevistas, compartilhamento de outros compartilhamentos ad nauseam sem que isso altere em absolutamente nada a vida nem mesmo a vida do seu vizinho, quem dirá do mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por incrível que pareça, o sujeito contemporâneo totalmente aberto a tudo e a todos padece de um mal diagnosticado por Marx lá no século XIX ao criticar a esquerda hegeliana. Marx afirmava que a esquerda hegeliana tinha a ideia (ainda iluminista) de que à medida que as pessoas fossem esclarecidas dos seus problemas, esclarecidas do que estava acontecendo, elas mudariam a sua forma de viver, elas agiriam diferente, e só não agem porque desconhecem as coisas. E aí entraria o papel do filósofo, pois ele seria aquele que esclareceria o sujeito ignorante para que ele pudesse agir corretamente. Marx compara esse tipo de ideia a um homem que está se afogando e tenta se salvar se puxando pelos próprios cabelos. Ou seja, totalmente inútil essa atitude "esclarecedora" da esquerda hegeliana, e é nesse contexto que Marx diz a famosa frase "não é a consciência que determina o modo de existência, mas as condições materiais de existência que determinam a consciência." Se algo precisa ser mudado não é a forma de pensar das pessoas, mas sim as condições que fazem as pessoas pensarem como elas pensam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa crítica de Marx lá no século XIX pode ser transposta para os dias de hoje de maneira quase que direta, só que com um pequeno agravante; hoje não são os filósofos que pensam assim, mas basicamente todo mundo na era das redes sociais pensa assim, de forma que a única atitude vislumbrada por esse sujeito é o que? "Esclarecer os outros". A aposta ainda é algo como "fulano age assim porque não sabe isso ou aquilo, então, o meu papel como alguém que supostamente sabe algo é, na medida do possível, ajudá-lo para que ele saia da ignorância e aí ele vai agir diferente." Obviamente que em algumas situações esse "Approach" pode até ser interessante e profícuo, no entanto o que vemos é que via de regra o sujeito contemporâneo só está disposto a fazer isso mesmo. Tudo aquilo que extrapole o seu papel de "esclarecedor" está fora de cogitação, afinal, "o mundo é assim né? Fazer o quê?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste sentido percebemos que o ativismo online funciona como um suporte ideológico muito grande para que no excesso de agito tudo continue exatamente do mesmo jeito. Na época dos "stories críticos", "stories elucidativos", "stories educativos", "stories reflexivos", o sujeito de fato acredita piamente que está mudando de alguma forma a vida de alguém, ou de fato lutando por alguma causa que considera justa, digna, etc. sendo que na realidade o que está sendo feito é apenas uma performance para que o outro o veja como alguém "elucidativo", "reflexivo", "educador", "crítico", etc. Claro que pode haver algum tipo de benefício nisso, e com certeza algumas pessoas podem de fato refletirem, se esclarecerem a partir dessa dinâmica, mas do ponto de vista da realidade nua e crua como ela é, esse tipo de dinâmica se mostra uma espécie de placebo para que nesse torpor o sujeito se sinta realizado sem fazer absolutamente nada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa nova relação com a "atividade" está no cerne da dinâmica do capitalismo tardio que pode continuar funcionando perfeitamente enquanto o agito online apenas faz barulho, mas impacta muito pouco na efetividade da vida das pessoas. É este o ponto que a meu ver acaba por fragilizar ainda mais o sujeito contemporâneo, pois na realidade esse sujeito não passa de uma grande performance, não disposto a se entregar por nada que não seja ele próprio. Até mesmo as grandes causas que sempre são debatidas como "racismos", "feminismos", "movimentos homoafetivos" entram nessa mesma dinâmica. Dificilmente a luta se dá de maneira efetiva, mas é diariamente performada nas redes sociais, mas sem que isso encontre raiz suficiente para que o sujeito se ancore em tais causas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta atividade passiva o sujeito se angustia cada vez mais, pois o que ela performa online cria para ele ao mesmo tempo a demanda por ação maior, (o pensamento de que "eu devia estar fazendo mais", "olha como sou uma farsa", etc.) mas também o apazigua no mesmo instante (o pensamento de que "poxa, já estou fazendo o que posso", "eu tenho contas a pagar, não posso largar tudo e me dedicar a uma causa", "poxa, mas se cada um fizer um pouquinho a coisa melhora", etc.) e neste movimento pendular, como não se ancora em absolutamente nada, o sujeito vai se tornando cada vez mais perdido e oscilante em suas ponderações, criando cada vez mais para si pequenas micro-regras para o orientar, mas sem saber que com isso se perde cada vez mais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Triste a situação do sujeito contemporâneo oscilando de um lado para outro, de um extremo a outro, sem norte, desbussolado, tentando a todo custo encontrar algo pelo qual anima viver, mas ao mesmo tempo com medo de parecer "intransigente" se escolher um valor para si pelo qual a sua vida valha a pena. </div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-25584484168079992452019-01-31T01:35:00.001-08:002019-01-31T01:37:46.376-08:00Meus primeiros passos com Freud <br />
<br />
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkmzsMWnn_AmA06JFFkUWfU3sUWrz936BqbZ79DDwmfY2nPJMKDs7TlnZV0IgtiKaX3M8W2ze6u8evcD3s5nwuMV_EljY4SofnE0TfXnwnqt5KCUJYiEWr5yzkc8ueo67VCTNH2GOlR8A/s1600/freud.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="914" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkmzsMWnn_AmA06JFFkUWfU3sUWrz936BqbZ79DDwmfY2nPJMKDs7TlnZV0IgtiKaX3M8W2ze6u8evcD3s5nwuMV_EljY4SofnE0TfXnwnqt5KCUJYiEWr5yzkc8ueo67VCTNH2GOlR8A/s320/freud.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
Esse texto foi a primeira coisa que escrevi sobre Freud em 2006 quando fazia a matéria de estética na UFMG. Encontrei esse texto (que era a resposta a uma questão de prova da disciplina) e compartilho com vocês. </div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
A pergunta era: "<b> Explique como Freud articula os conceitos de inconsciente,
resistência e recalque</b>."</div>
<br />
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; text-indent: 1.25cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit;">Segundo Freud, o recalcamento ocorre quando as aspirações morais do
ego entram em conflito com a maneira de satisfação da libido.
Devido a isso, ocorre a separação entre a representação e o
afeto.
</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit;">A representação sofre o recalque e é enviada para o inconsciente
onde é esquecida. Isso não acontece com o afeto que fica livre na
consciência.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">Já a resistência para Freud
surge após o recalcamento e é uma força que se opõe a volta do
conteúdo recalcado à consciência. </span>
</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Para ele, a sua manifestação
se dá de várias formas, dentre elas pode-se citar a resistência
intelectual, e a resistência onírica que pode ser encarada como
“censura” que são temas trabalhados por Freud em outras
conferencias também.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Para Freud a resistência e
recalcamento estão sempre ligados.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Só se tem a resistência
porque houve um recalque em alguma hora. A experiência do recalque
quer se tornar consciente e não consegue por causa da resistência
que a impede.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">O conceito de Inconsciente é
fundamental dentro da Teoria Freudiana. </span>
</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Não tem como conceber a
teoria freudiana sem entender o inconsciente. Esse é um termo chave
da teoria e representa a parte do aparelho psíquico que o eu não
tem acesso. Os conteúdos presentes no inconsciente não podem ser
representados de forma direta e só se mostram após terem passado
por um trabalho de deformação.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: small;">O
inconsciente é também uma instância psíquica que pode ser
determinada através de três pólos: um econômico, um dinâmico e
outro topográfico. </span>
</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Freud
articula esses conceitos afirmando que o inconsciente armazena o
objeto recalcado e cria ele mesmo a resistência para que este não
volte à consciência.</span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: small;">Depois desse texto muita coisa já escrevi sobre Freud que todos sabem é um autor por quem tenho um interesse especial. Caso queiram ler outros textos meus sobre Freud aqui abaixo segue alguns links de artigos já publicados. </span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<a href="http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/analytica/article/view/2507/1706">http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/analytica/article/view/2507/1706</a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<a href="https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/dissertatio/article/view/10450/7906">https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/dissertatio/article/view/10450/7906</a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<a href="https://www.metodista.br/revistas/revistas-izabela/index.php/tec/article/view/1315/852">https://www.metodista.br/revistas/revistas-izabela/index.php/tec/article/view/1315/852</a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<a href="https://www.academia.edu/34930353/Religiao_e_Proje%C3%A7%C3%A3o_em_Freud">https://www.academia.edu/34930353/Religiao_e_Proje%C3%A7%C3%A3o_em_Freud</a></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<br /><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-63045623847881573392018-12-28T04:32:00.001-08:002018-12-28T04:32:35.526-08:00O hábito da Filosofia: ou Sobre a arte de lidar com minhocas. <div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJAPLdPhBD7A5GRGEIwFFOotZmvND325z3JCiVKnrXyHNVej7Jbo0-Xrz8G5x4BvpSyIcKJ2nc20cgURKQLn3DYs430P2xftGFho2lSRmhXMzcWRBLtQsUKQ7momB6OoKspCPra5Nu_G8/s1600/glowworm-caves-waitom-cavernas-das-minhocas-brilhantes4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="1200" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJAPLdPhBD7A5GRGEIwFFOotZmvND325z3JCiVKnrXyHNVej7Jbo0-Xrz8G5x4BvpSyIcKJ2nc20cgURKQLn3DYs430P2xftGFho2lSRmhXMzcWRBLtQsUKQ7momB6OoKspCPra5Nu_G8/s320/glowworm-caves-waitom-cavernas-das-minhocas-brilhantes4.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Foto da Glowworm caves na Nova Zelândia. As luzes são emitidas pelas minhocas que habitam a caverna. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Disponível em https://paraondefor.com.br/glowworm-caves-caverna-das-minhocas-brilhantes/</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nós, os filósofos, temos uma certa "tara" por minhocas. Cultivamos diversos tipos delas nos mais diversos solos e nas mais diversas condições climáticas. Para mim, uma condição necessária para se ser um bom filósofo é meio que gostar de cultivar minhocas. </div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, nossas minhocas são um pouco diferentes daquelas do pescador, daquelas das pessoas que aram a terra, adubam, etc. As nossas minhocas passam por questões que várias vezes nem sequer existem, mas passam a se colocar como problemas porque nós as elegemos como tais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Obviamente que todos nós, não somente os filósofos, cultivamos minhocas de vez em quando. Aquela sensação de algo vai dar errado, aquela sensação de que alguma coisa não está certa quando tudo está normal, aquela sensação de que somos feios, gordos, desinteressantes, que ninguém nos amará, que somos barrigudos, que somos uma farsa ambulante, que somos o pior dos seres humanos sobre a face da Terra, que não somos bons em nada, que nossa profissão não é o que gostaria de fazer, que minha vida não tem sentido, etc. tudo isso é o que aqui chamo de minhocas e que tenho certeza que qualquer leitor desse texto já cultivou alguma em algum período da vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Claro que algumas dessas minhocas são mais frequentes em épocas pontuais da nossa vida. A questão da aparência é típica da adolescência e todos os traumas advindos dessa fase nebulosa; as questões referentes aos laços mais sólidos é típica da fase infantil, em que as relações basilares da vida do sujeito estão sendo construídas, etc. A questão do se sentir uma farsa tem muito a ver com a idade adulta e o discurso do capitalismo tardio em que nunca se está com conhecimento suficiente, nunca se é bom o bastante, etc. Não preciso dizer, entretanto, que isso não é "rígido"; ou seja, dependendo da vivência de cada pessoa, algo que seria comum acontecer durante a infância passa a acontecer na adolescência, na fase adulta, etc. Cada caso é um caso quando se trata de criação de minhocas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No caso específico de nós filósofos, as minhocas desempenham um papel crucial para o exercício da nossa função, afinal, é com elas que trabalhamos. Não nos aventuramos a mexer com quase nada que não sejam minhocas. No entanto, nossas minhocas são várias vezes criadas e cultivadas por nós mesmos e debatidas e compartilhadas entre nós mesmos. Quem mais sofre quando se convive com um cultivador profissional de minhocas são os mais próximos. Afinal, são eles que tem que nos lembrar diversas vezes que nossas minhocas nem sequer existem na realidade, e que se caso fôssemos cultivar minhocas seria muito mais proveitoso cultivar minhocas reais do que minhocas imaginárias. Não é raro vermos os próximos de nós propor uma espécie de "giro wittgensteiniano" para nos dizer que na realidade o que estamos tratando são falsos problemas e trazer a questão para o plano da "realidade". Nem sempre esse giro resolve o problema, mas tem sido uma prática bastante utilizada por pessoas próximas a cultivadores de minhocas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, nem tudo são ônus para os que convivem com cultivadores de minhocas. Como cultivamos vários tipos de minhocas e como as cultivamos por muito tempo e em diferentes solos, somos experts em identificar as minhocas quando elas aparecem naqueles que nos são próximos. Neste sentido, os amigos dos cultivadores de minhocas se beneficiam bastante dos nossos saberes, pois as identificamos muito facilmente e somos capazes de arrancar as minhocas dos solos alheios com certa destreza. Eu na minha experiência de vida já transitei por diversas terras cheias de minhocas e fui capaz de arrancá-las de maneira bastante hábil. Ainda hoje retiro minhocas de terrenos quase que semanalmente e de diversas pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas como diz aquele velho ditado (talvez o meu segundo ditado preferido, pois o primeiro é "enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé") "em casa de ferreiro, o espeto é de pau", ou seja, nós, tão hábeis em arrancar minhocas alheias, encontramos uma dificuldade assombrosa em arrancar as minhocas em nossa própria propriedade; pelo contrário, ao invés de arrancá-las, nós as cultivamos, alimentamos, as transformamos em verdadeiros monstros que quase nos dominam de forma assombrosa. O grande desafio para nós, os cultivadores de minhocas profissionais, é de fato não deixar que as minhocas dominem o nosso terreno, mas que nós as dominemos. Obviamente que nem sempre somos capazes de fazer isso sozinho, e é exatamente nessas horas que os amigos aparecem, pois eles são capazes de (talvez por já nos ter visto atuando em algum momento) retirar habilmente as minhocas de nossas terras. Os métodos variam de amigo para amigo. Alguns são mais incisivos e as retiram a machadadas no melhor estilo nietzscheano e sua filosofia do martelo, outros procuram um viés um pouco mais sutil, cercando o terreno, vislumbrando o deslocamento delas para depois as retirarem de forma bastante delicada; os estilos são tão variados quanto são os amigos que lidam com isso conosco. Nesse contexto também temos outros profissionais que lidam especificamente com minhocas alheias (embora acredite que eles também possuem certas dificuldades em lidar com suas próprias minhocas) que são os psicólogos, psicanalistas, professores, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como já deve ter ficado claro, lidar com minhocas é algo que todos nós fazemos e podemos dar nomes clínicos para diversos dessas minhocas com as quais lidamos. Algumas são reais e demandam remédios, outras são imaginárias, outras são meio que reais, meio que imaginárias, mas em todo caso sabemos que nem toda minhoca é "em si" um problema, mas o problemático é a forma como resolvemos lidar com elas, o espaço que deixamos elas ocuparem em nosso terreno, o que as deixamos fazer em nossa terra. Saber cultivar e arrancar minhocas é uma tarefa árdua até para os profissionais, quem dirá para o leigo. De toda forma, caso necessite de alguém que trabalhe com minhocas, lembre-se que nós, os filósofos, somos experts nesse tipo de problema e somos capazes de resolver uma boa parte dos problemas com minhocas em terras outras, mas temos muitas dificuldades para resolver em nossas próprias terras. Para resolver em nossas próprias terras sempre precisamos de amigos, psicólogos, psicanalistas, professores, etc. etc. etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Caso você esteja enfrentando sérios problemas com minhocas procure ajuda. Um psicólogo, um psicanalista, um psiquiatra, um filósofo, cada um com seu método de tratamento. No caso do filósofo será muito mais um auxílio por meio de uma boa conversa do que propriamente um "tratamento". No caso de tratamento recomendo mais um psicólogo, um psicanalista, talvez um psiquiatra, tudo dependendo sempre do tipo de minhoca que anda transitando em suas terras. E claro, às vezes um amigo da Letras, um amigo da Música, um amigo das Artes também podem ser de grande valia, pois te ajudará a perceber facetas que nem sempre você foi capaz de perceber enquanto cultivador de minhocas profissional.</div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-71224696494017803462018-12-17T01:51:00.002-08:002018-12-17T01:51:46.912-08:00A doçura de caráter - O ceticismo de Pirro<br />
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmwlAgfRULUxWZGbrCjcKi_GqaxbTFMvVjFW-nLcwROOhECMuYqoryiyc5WQeMEhAbEGUg7Z1D8cHduKwTFV1bHDUhyphenhyphenVjw1i_POb0ZtUonuSwkybQm-9vAS9hLiw7j8qNN12OHMRUkCmQ/s1600/Pirro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmwlAgfRULUxWZGbrCjcKi_GqaxbTFMvVjFW-nLcwROOhECMuYqoryiyc5WQeMEhAbEGUg7Z1D8cHduKwTFV1bHDUhyphenhyphenVjw1i_POb0ZtUonuSwkybQm-9vAS9hLiw7j8qNN12OHMRUkCmQ/s320/Pirro.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="western" style="line-height: 200%; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: xx-small;"><u>Fonte da imagem: https://veja.abril.com.br/revista-veja/a-licao-de-pirro-para-2018/</u></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Pirro
de Élida, foi um dos grandes filósofos da antiguidade, que trouxe
uma novidade no pensamento grego antigo. Mesmo sendo considerado um
cético pelos escritores posteriores à sua época como exemplo de
Cícero, Sexto Empírico, dentre outros , a sua filosofia pode ser
considerada como cética no sentido em que aquilo que Pirro defendia
era a suspensão do juízo e a busca da ataraxia através da
adiaforia. Pirro por si só não escreveu nada, a não ser uma
poesia dedicada a Alexandre . O que nos chegou de Pirro foi escrito
por seu discípulo mais próximo Timão, que fez um relato das idéias
e dos ensinamentos de seu mestre.</span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"> Pirro,
viajou com Alexandre pelo Oriente, e isso fez uma grande diferença
em seu pensamento, uma vez que entrou em contato com o pensamento do
Oriente, especialmente com os gnosofistas, (ordem de provável origem indiana que se dedicavam ao estudo da ética e da física como prática da virtude) e segundo se falam, Pirro
presenciou a morte de Cálamo, que mesmo enquanto estava sendo
queimado, mostrava-se tranqüilo em relação a situação que estava
vivendo. Claro que não podemos esquecer da influencia de Demócrito
de Abdera e de Anaxarco que o ensinaram muitas coisas e influenciou
bastante seu pensamento como também Brison, do qual Pirro foi
discípulo.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"> A
principal característica de Pirro, era duvidar de tudo e ser
indiferente a tudo, (adiaforia) esse era o ceticismo de Pirro. Para Pirro a epoché ( suspensão do juízo) é caminho
que o sábio deve fazer para alcançar a paz de espírito ou ataraxia. A dúvida
cética não se referiria às aparências ou
fenômenos que são evidentes, mas em relação às coisas que nos
são ocultas. A Pirro é também atribuída os dez tropos, ou razões
da dúvida, dos quais neles se inserem as contradições do sentido.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"> A
vida de Pirro se caracterizou pela sua total indiferença em relação
às coisas, o seu principal propósito era a ataraxia e a busca de
uma boa regra de conduta. Segundo Pirro, para que essa ataraxia fosse
alcançada, o sábio deveria suspender seu juízo sobre as coisas. A
epoché e adiaforia são as principais características de Pirro e
que ele tentou passar a seus discípulos. Pirro se negava a discutir
com os filósofos de sua época; a sua única resposta é que ele não
sabia nada, e assim o fazia para viver uma vida isenta de
preocupações, e viver tranqüilo e feliz. Pirro fez da dúvida, um
instrumento de sabedoria, moderação e firmeza. </span></span>
</div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"> Os
relatos sobre a vida de Pirro, mostram que ele vivia com seu espírito
inabalável, mesmo quando as situações adversas lhe aconteciam. Sua uniformidade de alma era inalterada e praticava com serenidade
a indiferença que ensinava. Era venerado por seus discípulos por
viver de acordo com aquilo que pregava, e era isso que dava
autoridade a seu discurso. </span></span>
</div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"> Concluindo,
ao contrário das religiões em sua forma mais comum, nos quais se abandonam as coisas da vida
na espera de uma recompensa, (quer tal recompensa seja pensada como reencarnação, lei de causa e efeito, vida eterna, etc.) a vida de Pirro era de indiferença,
não por causa dessa espera, mas porque via nisso uma forma de viver
feliz, era como se fosse algo de sua própria natureza essa
indiferença. Algo que fica bem notado é a influência que o
pensamento oriental e gnosofista teve na vida de Pirro juntamente com
os pensamentos de Buda. A vida de Pirro foi portanto um exemplo para
os seus seguidores, podemos afirmar que em Pirro se manifesta a ideia de que a
doçura de caráter é a última palavra do ceticismo. </span></span></div>
<br /><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-80750143358826303302018-11-27T08:28:00.000-08:002018-11-27T08:28:01.722-08:00José e Maria indo para Belém. <br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyRc3TMFabLRgwCeObn2zvgGKG74bbTLqjhgNBy6pskSxZdY_bMPRmtoRg-qHVzrsaHB2WQzBIGTBUSS27HoIUagXk17Y7qnELJarudCgr-z0eIxAuLe-39uY2MqLSBI-9Tsz-7anYPwk/s1600/Jos%25C3%25A9+e+Maria+em+Bel%25C3%25A9m.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="602" data-original-width="750" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyRc3TMFabLRgwCeObn2zvgGKG74bbTLqjhgNBy6pskSxZdY_bMPRmtoRg-qHVzrsaHB2WQzBIGTBUSS27HoIUagXk17Y7qnELJarudCgr-z0eIxAuLe-39uY2MqLSBI-9Tsz-7anYPwk/s320/Jos%25C3%25A9+e+Maria+em+Bel%25C3%25A9m.JPG" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">O individualismo político como grande paradoxo do mundo globalizado nos mostra que a proposta de uma aumento da liberdade no domínio do capitalismo não passa de uma ideia abstrata e falaciosa. Quanto mais se advoga liberdade, mais se vê o recuo do sujeito contemporâneo alheio a qualquer forma de empatia para com o próximo. Este cenário se tipifica de maneira visível no excesso de protecionismo econômico e no excesso de muros que cada vez mais cercam os territórios como forma de proteção contra o próximo visto como ameaça. É neste contexto que se coloca a questão dos imigrantes na Europa, a questão mexicana nos Estados Unidos, os Venezuelanos no Brasil e vários outros exemplos mundo afora. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: justify;">
Talvez aqui esteja o cerne da proposta de Jesus tipificada nos evangelhos, uma liberdade que não passa pelo individualismo contemporâneo, mas uma liberdade que tem na comunidade a sua única condição de possibilidade. É talvez por isso que podemos dizer sem sombra de dúvida que a proposta comunitária de Jesus e dos discípulos no início do cristianismo vai na contramão da proposta do capitalismo tardio do individualismo exacerbado. Trava-se uma luta entre uma visão comunitária do humano e uma visão individualista em que nada além do sujeito importa. O que fica claro para nós é que esta dinâmica são totalmente relacionadas. De um lado a aposta em uma possibilidade da vida comunitária para além da lógica do capital, do outro lado o individualismo como resposta última que esvazia o sujeito de todo vínculo para além de si. Claramente uma se coloca como grande antítese da outra, em que a primeira é esvaziada em seu núcleo mais íntimo e o que sobra seria apenas a sua face performática tipificada nas novas agremiações, pseudo-pautas, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste contexto podemos perceber porque hoje os novos espiritualismos chegam com força no nosso meio, pois eles apenas reforçam o individualismo numa busca incessante de reforçamento do eu e um esquecimento do outro. Da mesma forma percebemos porque o discurso neopentecostal encontra grande repercussão social, pois ele apenas reflete de maneira material aquilo que os espiritualismos contemporâneos manifestam do ponto de vista majoritariamente performático. A lógica da performance é a lógica do capitalismo tardio, e por isso que é fácil de perceber como que as duas facetas que mais crescem na religião contemporânea são facetas também performáticas, afinal essa é a lógica defendida pelo capitalismo tardio da produção incessante. O que se produz incessantemente neste contexto é a busca de si, a visão econômica, quantitativa, performática do sujeito em que ele é avaliado pela própria dinâmica da produção incessante de si, da busca incessante do "mistério", do "novo", etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não dizemos mais que a religião é o "ópio do povo" ou "o suspiro da criatura oprimida" como Marx gostava de falar, mas dizemos que hoje a religião (pelo menos a institucionalizada)<a href="https://veliqs.blogspot.com/2015/04/a-falacia-do-cristianismo-autentico-e-o.html" target="_blank"> <b>[sobre esta diferenciação crucial, leia aqui]</b></a> é o sintoma do sujeito desbussolado dominado pelo capitalismo tardio. Restaurar o núcleo duro da religião talvez seja a tarefa mais árdua para os dias atuais, pois uma religião que se alia ao poder advindo do modo de produção já perdeu em grande medida a sua condição de possibilidade de alterar o status quo. O que resta para ela é apenas a reprodução cega da desigualdade, ou medidas paliativas que em nada atingem a estrutura social. E aqui percebemos de forma fundamental a falácia do discurso da liberdade. De certa forma se é livre para se adequar ao modo de produção, mas nunca para o subverter. A partir do momento que a própria religião institucionalizada funciona como modo de perpetuação dessa dinâmica, percebemos claramente como que uma coisa se une a outra na contemporaneidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se observarmos os evangelhos percebemos que Jesus nos ensina a <a href="https://veliqs.blogspot.com/2014/04/a-proposta-de-jesus-para-construcao-de.html" target="_blank">construir casas</a>, nos ensina a plantar, nos ensina a dividir, mas em hora nenhuma ele propõe a construção de muros, pois a proposta cristã em seu núcleo mais íntimo nunca foi a proposta da segregação, da separação, do "nós contra eles", mas sempre foi a do acolhimento, da hospitalidade e do amor para com o próximo. Este é talvez o núcleo esquecido do cristianismo que, quando relembrado, poderá restaurar a sua importância em um mundo secularizado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-32338027314845427332018-11-12T07:36:00.002-08:002018-11-12T07:40:29.694-08:00Camarotização, Individualismo. De Lipovetsky de volta para Marx.<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: large; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5Aca9u5IMVEGHTKSCZjrK68ljFUS0uzQVoqZy2snxIG1TWO62YOlosLfzG_zuRJ90QOq-3rvkkpC6SP16Lk20xUcLxLZP1wZrrfUi1C2YoHtgV5u4MrXP9XDKzS50U6u2PuDdTbhiCL0/s1600/ricospobres.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: large;"><img border="0" data-original-height="406" data-original-width="640" height="203" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5Aca9u5IMVEGHTKSCZjrK68ljFUS0uzQVoqZy2snxIG1TWO62YOlosLfzG_zuRJ90QOq-3rvkkpC6SP16Lk20xUcLxLZP1wZrrfUi1C2YoHtgV5u4MrXP9XDKzS50U6u2PuDdTbhiCL0/s320/ricospobres.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: large; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: large; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Para
entendermos o tema da camarotização acho que seria muito legal
pegar a ideia do Gilles Lipovetsky que ele trabalha no livro
Felicidade paradoxal (2007) no qual ele define as três grandes fases
do consumismo no ocidente. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">A
primeira fase seria aquela do início da revolução industrial em
que apenas uma pequena parcela tinha acesso aos bens de consumo
porque todos eram muito caros. É a época que segundo ele iria de
1870 a 1930, e se caracterizava pelo pequeno acesso da população
aos bens do consumo. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">A
partir da década de 1930, Lipovetsky aponta que houve uma melhora na
economia e pelo menos nos EUA o surgimento de um revitalizar
econômico (que no brasil é o período de Getúlio e o ganho de
renda e questões trabalhistas, se quiser contextualizar) que
permitiu que mais pessoas pudessem consumir. Esse período iria dos
anos 1930 a 1960 e caracterizaria a segunda fase do consumismo na
visão de Lipovetsky. Nesse período há uma maior possibilidade de
consumo por parte de uma camada maior da sociedade. Dessa época é
que surgem os Wallmarts da vida e as grandes lojas de departamento
para tentar dar conta das novas demandas das camadas mais baixas da
população. O corolário desse processo é o conhecido “American
way of life” típico das décadas de 1950 e 1960. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Após
da década de 1970 com os movimentos contestatórios e a queda dos
chamados metarrelatos (LYOTARD, 1984), o que se começa a perceber é
que o consumismo começa a ganhar novas formas e novos produtos. Essa
seria a terceira fase para Lipovetsky que culminaria naquilo que
vivenciamos hoje de forma extremamente visível. Nesta fase, segundo
ele, o que se consome é extremamente “tudo”, ou seja, o
consumismo passou a dominar todas as esferas da vida, e isso se dá a
partir do momento em que o que se almeja consumir não é mais apenas
um produto, mas sim uma “experiência”. O que importa mais não é
tanto a aquisição de uma mercadoria, mas muito mais a “experiência
diferenciada” ao lidar com aquela mercadoria. E neste sentido, para
além de querer uma mercadoria, o que se quer é em última instância
a experiencia. Daí que hoje em dia estar em voga a aquisição de
viagens, noites em spas, suítes personalizadas, voos em cabines
executivas, etc. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">É
neste contexto que acho interessante colocar a camarotização. Ela
só é possível com o avanço do capitalismo de forma que tudo vira
objeto de consumo. Ao mesmo tempo em que se perde a noção de
“comum”, uma vez que tudo passa a adquirir um preço em que
apenas uma pequena parcela da população seria capaz de ter acesso.
Na promessa da camarotização o que está em jogo é que se é
possível comprar uma experiência diferenciada. Esta proposta só é
possível dentro de um individualismo ferrenho em que vivemos na
contemporaneidade. Neste sentido, uma das formas de sair disso é
reinventar o conceito de algo “comum” (e aí a proposta do Pierre
Dardot e do Christian Laval em seu livro com o título “Comum.
Ensaio sobre a revolução no século XXI se torna extremamente
interessante). Para esses autores é reinserindo no ocidente a noção
de comunidade (quer seja de interesses, quer seja de afeições
físicas, etc) que será possível sair da noção de que tudo pode
ser objeto de consumo, sair da dinâmica individualista mortificadora
do sujeito e restaurar a dimensão do “Bem público” como algo ao
qual devemos zelar por ele. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">O
efeito da camarotização representa esse cenário de um
individualismo crescente aliado à diferença estrutural que sempre
houve no Brasil entre ricos e pobres. No entanto, percebemos a partir
dos textos motivadores que isso não é uma questão meramente
brasileira, mas mundial. À medida que o capitalismo avança (E isso
é interessante uma vez que o capitalismo hoje não seria tanto de
consumo, mas muito mais de especulação) a ideia de que será
possível consumir de forma diferente atrai a elite na tentativa de
se diferenciar das classes mais pobres. Neste sentido podemos
encontrar vários fatores psicológicos envolvidos nessa tentativa de
diferenciação por parte da elite. Se por um lado a camarotização
aponta para uma questão social/estrutural no contexto brasileiro,
ela também aponta para ausência de referências sólidas para o
sujeito contemporâneo que acaba se definindo por sua posição
social, ou acesso às coisas. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Aqui
comprovamos o que Marx já colocava lá no seu “O capital” de que
o fetichismo da mercadoria sempre traz consigo “artimanhas
teológicas” de forma que se é enfeitiçado por elas
constantemente, a sacralizando. Neste sentido evidenciamos que a era
do capitalismo tardio (especulativo, do consumo desenfreado) é a
época do fetichismo da mercadoria de forma extremamente sutil, mas
poderosa.</span></span></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Referencias:</span></span></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Gilles
lipovetsky - Felicidade paradoxal (2007)</span></span></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Jean-Luc
Lyotard - A condição pós-moderna (1984)</span></span></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Pierre
Dardot e Christian Laval - Comum. Ensaio sobre a revolução no
século XXI (2017)</span></span></span></div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="docs-internal-guid-4542de9d-7fff-e74b-0d3e-407c3f4ddcea"></a>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt;">Slavoj
Zizek - Em defesa das causas perdidas (2011) </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-10817677368173826272018-11-01T05:46:00.001-07:002018-11-01T05:46:42.122-07:00[...] mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede." Lucas 5:5<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhekBromM7LyqCgeLHa7PjuOePAV1nuC4pSY7mBRZF9Zg1SpW5DnZNqMUsIsXVVqsPEHCnE7CSzbaYJWqPrTWFWv_9kuDPH74s5lQwAQJJ8fFnseI4Vc8-4fxiEUIbaRKjHKXRTEGWPotM/s1600/2303_pescadores_peixe2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="600" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhekBromM7LyqCgeLHa7PjuOePAV1nuC4pSY7mBRZF9Zg1SpW5DnZNqMUsIsXVVqsPEHCnE7CSzbaYJWqPrTWFWv_9kuDPH74s5lQwAQJJ8fFnseI4Vc8-4fxiEUIbaRKjHKXRTEGWPotM/s320/2303_pescadores_peixe2.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
"<span style="background-color: white;">Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede." </span><a href="https://www.bibliaonline.com.br/acf/lc/5/5+" style="box-sizing: inherit;">Lucas 5:5</a><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das passagens bíblicas que gosto muito é esta passagem de Lucas em que depois de pescarem à noite toda sem conseguirem nada, os pescadores vêem entrar no barco um rabi que estava ensinando próximo ao mar. Jesus então pede para que os pescadores afastem os barcos para o mar para que as pessoas ouçam a palavra que ele proferirá. As pessoas ficaram na praia e Jesus ensinava a elas do barco.</div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de ensinar, Jesus vira para Simão e diz para ele ir para o alto mar e lançar novamente as redes, e é nesse contexto que aparece o versículo que inicia esse texto. Simão um pouco já desanimado depois de trabalhar a noite toda sem pescar nada expressa a sua confiança na palavra do rabi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse versículo sempre me faz pensar o quanto é necessário ter em nossas vidas pessoas que se apresentam para nós e nos dizem uma palavra capaz de modificar toda uma prática que construímos ao longo da vida. Estarmos prontos para ouvir essa palavra pode trazer surpresas grandes para nós, como por exemplo trouxe para aqueles pescadores que, depois de lançarem as redes seguindo a instrução do rabi que entrou no barco, tiveram uma grande surpresa com a pescaria. Um dado que sempre me chama a atenção nesse episódio é que Jesus era apenas mais um rabi de Israel, ali nem mesmo Simão era um dos discípulos de Jesus, mas se tornará "pescador de homens" após esse episódio narrado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Sobre a tua palavra lançarei a rede" aponta para mim a confiança demonstrada no outro que se mostra como alguém digno de tal confiança. Não lançamos as redes sobre "qualquer palavra", mas apenas sobre as palavras de alguns que julgamos querer o melhor para nós, sobre as palavras daqueles que nos conhecem, etc. Estar pronto para "lançar as redes" mesmo quando toda a situação parece desanimadora é um desafio diário para nós. Tem pessoas que possuem grande dificuldade em se abrir para o novo, se abrir para outras perspectivas, e isso se dá por diversos motivos, no entanto, apesar de difícil, tal mudança pode ser extremamente recompensadora, assim como foi para aqueles pescadores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De alguma forma a proposta de Jesus sugere uma repetição, uma espécie de "mais do mesmo", mas se pensarmos bem, a proposta de Jesus aqui se mostra extremamente subversiva do ponto de vista da prática dos pescadores. Uma espécie de corte na circularidade da situação. Se tinha alguém que poderia dizer qual o melhor horário para pescar, qual a tática correta, onde pescar, etc. não seria Jesus, mas sim os próprios pescadores. Simão, nesse sentido, abre mão do seu "suposto saber" em nome dessa nova palavra que surge para ele; evidenciando que nem sempre o nosso saber sobre as coisas nos fará ter sucesso repetindo aquilo que sabemos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um grande ensinamento que acredito podermos tirar desse texto é que devemos estar sempre dispostos a lançar as nossas redes sobre as palavras daqueles em quem confiamos, daqueles que nos conhecem, daqueles que querem o melhor para nós, mesmo que isso signifique se colocar para além do cansaço da noite toda de trabalho, mesmo que isso signifique nos colocar como "não sabendo tudo" sobre a nossa área de atuação. No fundo a proposta subversiva de Jesus aponta para a humildade que devemos ter diante do que fazemos, reconhecendo que às vezes o outro pode trazer uma nova palavra. Palavra essa que realizará um milagre em nós e nos fará reencontrar a alegria de uma boa pescaria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-35224860621632875792018-10-08T09:35:00.002-07:002018-10-08T09:35:48.818-07:00O Brasil é um oximoro <div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="4d07i-0-0" style="background-color: white;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjotKJ1TLMLqJc9_kZzYScjpzcFWTjm6CGcdikYGsqyksYI84LQqpv6SGtJxTUECqjhD9UqgpDMei4E-6nkU-M0mk0bDuhyD0tc5hoShVLf3pugjDA8Pv8AQZhlKC5wbDZVDuRUFPu3514/s1600/oximoro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjotKJ1TLMLqJc9_kZzYScjpzcFWTjm6CGcdikYGsqyksYI84LQqpv6SGtJxTUECqjhD9UqgpDMei4E-6nkU-M0mk0bDuhyD0tc5hoShVLf3pugjDA8Pv8AQZhlKC5wbDZVDuRUFPu3514/s1600/oximoro.jpg" /></a></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="white-space: pre-wrap;"><span style="color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: xx-small;">https://olhares.sapo.pt/oximoro</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">Há no Brasil coisas que desafiam nossa compreensão</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4d07i-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="4d07i-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #351c75; font-size: large;">O traficante evangélico!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="snrb-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="snrb-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="snrb-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: red; font-size: large;">O Liberal que vota em Estadista!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="2lvj5-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2lvj5-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="2lvj5-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #38761d; font-size: large;">O Patriota entreguista!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="1ngv7-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="1ngv7-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="1ngv7-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: blue; font-size: large;">O Batista que guarda sábado!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="7n0uj-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7n0uj-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="7n0uj-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #cc0000; font-size: large;">O evangélico que defende tortura!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="4jr4v-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4jr4v-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="4jr4v-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #4c1130; font-size: large;">O pobre de direita!</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="c47sg" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="5hrhg-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: blue; font-size: large;">O negro neonazista!</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="5hrhg-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #4c1130; font-size: large;">O pobre liberal!</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="5hrhg-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #990000; font-size: large;">O funcionário público que defende estado mínimo!</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="5hrhg-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: red; font-size: large;">O imigrante ilegal contra a corrupção!</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span data-offset-key="5hrhg-0-0" style="font-family: inherit;"><span style="color: #444444; font-size: large;">O infiel a favor da família!</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: blue; font-size: large;">O psicanalista lacaniano pedindo retorno do pai da horda primeva!</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: #351c75; font-size: large;">O candidato democrático que defende o fim da democracia</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: #741b47; font-size: large;">A Igreja evangélica que apóia fascista</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: #0c343d; font-size: large;">O morador no exterior que defende saída autoritária para o Brasil</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: red; font-size: large;">O protesto a favor do retorno de um governo militar</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="color: #38761d; font-size: large;">A mídia comprada pela esquerda</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">O Brasil é um oximoro !</span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; font-size: 14px; position: relative;">
<br /></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5hrhg-0-0" style="color: #1d2129; direction: ltr; font-family: inherit; font-size: 14px; position: relative;">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-790380668938139922018-10-03T15:10:00.000-07:002018-10-04T11:24:26.615-07:00Nós, a esquerda ...<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7ftk3" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9ESqwNVp6TrU5Bx2bDlvFSsBIp97Yys2xU979kaNvMrfLaYLtrWhp6mKIPnnnmkd_ol4IloY6bofVkAhpI5FO6CR6qLwAho-7h4BitKCNt2Kid5dykVcR-G1ojwwfzDZoKIL-dIltf8Y/s1600/20170508-dez-conselhos-para-os-militantes-da-esquerda.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="725" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9ESqwNVp6TrU5Bx2bDlvFSsBIp97Yys2xU979kaNvMrfLaYLtrWhp6mKIPnnnmkd_ol4IloY6bofVkAhpI5FO6CR6qLwAho-7h4BitKCNt2Kid5dykVcR-G1ojwwfzDZoKIL-dIltf8Y/s320/20170508-dez-conselhos-para-os-militantes-da-esquerda.gif" width="320" /></a></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="2s6m4-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="2s6m4-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="2s6m4-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="2s6m4-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2s6m4-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="2s6m4-0-0" style="font-family: inherit;"> Como recentemente pontuou o Safatle, nós da esquerda ainda temos uma espécie de complacência com o outro na medida em que ainda acreditamos que o outro apenas "não entendeu" o nosso ponto, de que a questão é apenas de falta de elucidação. Pensamos que se explicarmos melhor, talvez seremos capazes de convencê-lo por meio da argumentação. No entanto, não é isso que acontece. O debate político nunca foi o lugar da argumentação, mas sempre dos jogos de poder. Lembremos de Sócrates com sua brilhante defesa na ágora que não adiantou de nada, pois a elite grega estava contra ele. Um dado curiosíssimo a ser ressaltado é que as duas acusações que fizeram a Sócrates foram exatamente sobre Deus (blasfemar contra os deuses da cidade) e sobre a família (perverter a juventude ateniense). Sócrates poderia argumentar ad infinitum que todos já tinham decidido sua sentença, pois o jogo de poder ali já estava mais que acertado entre as elites da época. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7ftk3" data-offset-key="4obeh-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4obeh-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A política sempre se fez com luta permeado pelas condições materiais de existência dos sujeitos que são sobre-determinados por estruturas muito maiores que eles. Com advento da psicanálise ficamos conhecendo que vários desses processos se dão de maneira inconsciente, o que coloca a questão em um lugar ainda mais árido. Já não bastasse a estrutura cerceante, agora ainda se tem dinâmicas sobre as quais não há domínio, mas se é dominado por elas. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7ftk3" data-offset-key="dqinv-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="dqinv-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Dessa forma que hoje em dia, no cenário atual, não adianta tentar elucidar o sujeito, não é uma questão de elucidação. É questão de luta efetiva, luta política na mais autêntica acepção do termo, pois por meio de uma pretensa "comunicação universal", a la Habermas, nunca se mudou absolutamente nada. A questão é saber se a esquerda estará preparada para tal luta ou se continuará com o seu viés de "esquerda festiva" promotora de "diálogos" e "rodas de conversas" que resolvem muito pouco a vida prática das pessoas. A identificação com o discurso de ódio do sujeito é um processo inconsciente, não é um processo que se resolverá por uma elucidação. Não é um processo que uma espécie de "iluminismo ingênuo" resolverá.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="7ftk3" data-offset-key="81t0t-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="81t0t-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="81t0t-0-0" style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="81t0t-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify;">
<span data-offset-key="81t0t-0-0" style="font-family: inherit;">O momento é delicado. É preciso pensar, mas é preciso agir !</span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-60520759543042221192018-09-17T08:13:00.002-07:002018-09-17T08:13:50.345-07:00Os evangélicos neopentecostais e a política, ou como Cabo Daciolo não passa da face performática do discurso de ódio de Bolsonaro<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoSx0nVLcr_dchDv3VvoUb14FNG7Dps7hJjCVas2yrfKvmD8Wjhddpi1ZVluwHwwe6n7tS7-mHa_Pj6Id2kL5iyCWWEcc-JLetzwoPS2NyHRV9Pyj67dt2lxfEyiJwLNbEAjPKAP-POZ8/s1600/wp-image-1241074690.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="770" data-original-width="1439" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoSx0nVLcr_dchDv3VvoUb14FNG7Dps7hJjCVas2yrfKvmD8Wjhddpi1ZVluwHwwe6n7tS7-mHa_Pj6Id2kL5iyCWWEcc-JLetzwoPS2NyHRV9Pyj67dt2lxfEyiJwLNbEAjPKAP-POZ8/s320/wp-image-1241074690.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma coisa interessante sobre as eleições de 2018 tem a ver com a população evangélica e principalmente a população evangélica neopentecostal. (Caso queira ver a divisão entre os diversos evangélicos, <a href="http://veliqs.blogspot.com/2012/03/alguns-apontamentos-sobre-protestantes.html" target="_blank">clique aqui</a>) O povo neopentecostal (e aqui uso o termo como "qualquer denominação que aceita a teologia da prosperidade, quer seja de maneira soft, ou mais hard, ou seja, desde uma Batista Getsêmani, Batista da Lagoinha até uma Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, etc.) conta com um candidato que exemplifica de maneira extremamente crua a sua forma de se relacionar com o mundo e com a política que é o Cabo Daciolo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cabo Daciolo não faz questão nenhuma de esconder a sua filiação neopentecostal, usa os mesmos discursos que seriam feitos em qualquer culto neopentecostal, fala em línguas, canta mantras evangélicos "ad infinitum" durante vídeos, acredita piamente que o solução para o Brasil é a evangelização de todos, para que todos aceitem a palavra de Deus como única palavra de salvação, etc. Cabo Daciolo também acusa o diabo por diversos males que acometem o Brasil e acredita que por meio da oração e por meio de um jejum no monte ele fortalecerá a sua campanha e fará com que Deus o ajude para se tornar o presidente do Brasil e limpar o Brasil de todo o pecado por meio da disseminação da palavra de Deus. Cabo Daciolo tem visões, é profeta, pastor, preside uma igreja, enfim, faz tudo o que uma pessoa neopentecostal em posição de liderança é chamado para fazer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Qualquer pessoa minimamente familiarizado e frequentador de uma igreja com o discurso neopentecostal deveria encontrar no cabo Daciolo a sua legitimação mais óbvia, ou seja, deveria ver nele uma espécie de "enviado de Deus", um "profeta levantado pelo Senhor" para fazer a obra de salvação do país. No entanto, assim como o grande problema da classe média brasileira é não se reconhecer como pobre e explorada, assim também um grande problema para o povo neopentecostal é não se reconhecer como neopentecostal. Talvez para muitos que leem esse texto agora não há simplesmente nenhuma aproximação entre a sua crença e as do neopentecostais. Muitos nem mesmo se consideram neopentecostais, pois pensam que neopentecostais são apenas as igrejas mais eufóricas, no entanto mantém a mesma prática, e em grande medida as mesmas crenças, tais quais as descritas acima. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que salta aos olhos, no entanto, é que vários evangélicos neopentecostais (e alguns não tão neopentecostais também) tem se manifestado de forma veemente a favor da candidatura de Bolsonaro, um candidato que, dentre outras coisas, defende tudo o que um cristão não deveria defender, como por exemplo, "tortura", "homofobia", "violência", "ditadura", "torturadores", etc. (O fato de ainda ter que explicar isso para alguns evangélicos se torna algo extremamente surreal na época em que temos inúmeras informações e vídeos disponíveis, acesso ao texto bíblico, dentre outras coisas) Para além desse caráter extremamente óbvio do porquê alguém que se diz cristão não deveria apoiar um sujeito com um proposta tão violenta e cega como a do Bolsonaro, chega a ser extremamente curiosa a preferência dos evangélicos neopentecostais pelo discurso violento do Bolsonaro, ao invés do discurso mais "profético" do Cabo Daciolo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cabo Daciolo é visto como motivo de chacota para vários evangélicos (que acreditam basicamente nas mesmas coisas que Cabo Daciolo) de forma que apoiar tal candidato seria demonstração da mais pura loucura. Ou seja, do ponto de vista prático os próprios neopentecostais vêem que esse discurso que eles mesmos propagam se tornam extremamente bizarro, no entanto, ao apoiar um discurso como de Bolsonaro, os mesmos evangélicos não percebem que o que defendem é o mesmo discurso extremista de Cabo Daciolo, só que de maneira muito mais violenta e menos velada. Esse tipo de adesão só é possível porque a grosso modo a população evangélica neopentecostal se identifica em sua instância mais íntima com o discurso violento de Bolsonaro do que o discurso espiritual de Cabo Daciolo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De uma certa forma podemos entender que essa preferência dos evangélicos pelo discurso de Bolsonaro evidencia a face oculta daquilo que cabo Daciolo mostra, ou de maneira mais clara, aquilo que a prática evangélica neopentecostal mostra. Fica bastante claro para qualquer observador que essa performance evidenciada nos cultos neopentecostais e que cabo Daciolo expõe de forma nua e crua não passa exatamente disso, uma performance que esconde o discurso violento que Bolsonaro traz a tona. O "deus vivo" pregado pelos cultos neopentecostais não passa do "Deus violento", do "Deus que quer extirpar da face da Terra todos os que são contra as suas ideias", é aquele "Deus juiz severo" que para além de amor também é justiça. (Justiça essa que não passa de outro nome para ódio divino dentro do discurso neopentecostal). Essa performance neopentecostal, no entanto, só pode ser levada a sério, aparentemente, nos cultos, naquelas 2 horas em que o fiel se encontra no templo. Apenas naquele momento "somos todos irmãos", apenas naquelas horas do louvor que "somos corpo bem ajustados, totalmente ligados unidos em amor", mas no momento em que o culto acaba, no momento em que o êxtase travestido de "presença do espírito" passa, lá está novamente o evangélico padrão apoiando a tortura, defendendo "bandido bom é bandido morto", defendendo "violência se combate com violência", etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O mesmo pastor que é capaz de gritar "santo, santo, santo" por 20 minutos durante uma música, que faz campanha de "não cortar a barba", que "prega o avivamento", que é líder de uma igreja que não vai cessar as 24 horas de oração por dia enquanto "Belo Horizonte não for do Senhor Jesus" é o mesmo que defende a candidatura de um candidato como Bolsonaro. Isso evidencia o que citamos mais acima, isto é, que cabo Daciolo é a face performática da violência que Bolsonaro evidencia, e Bolsonaro é a face oculta do que está por trás da performance do crente neopentecostal. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando, por exemplo, André Valadão (pastor da igreja Batista da Lagoinha) vai de púlpito convidar a todos para ouvir uma palestra de Dallagnol e diz publicamente que apóia um candidato como Bolsonaro; quando Jorge Linhares (pastor da igreja Batista Getsêmani) apóia Bolsonaro e diz que "o conselho de pastores de Minas te abençoa", fica bastante claro que o que está em jogo é algo muito além do mero apoio político, mas o que está em jogo é como que a representatividade do ódio encontra morada dentro do próprio discurso neopentecostal. A performance neopentecostal oculta a sua própria face violenta daqueles que se sentem "mais próximos de Deus do que qualquer outra religião", daqueles que se sentem no direito de dizer "quem é, e quem não é de Deus", etc. Essa violência nem aparece de forma tão velada assim, basta observarmos os famosos cânticos que essas igrejas entoam durante os cultos em que a face violenta do "senhor dos exércitos" se mostra nitidamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do ponto de vista do discurso performático seria muito mais óbvio que a população evangélica neopentecostal (que é a maior no Brasil segundo censo do IBGE) apoiasse em massa a candidatura de Cabo Daciolo, afinal, ele se mostra um legítimo representante de toda uma categoria da sociedade, no entanto, a partir do momento que percebemos que Cabo Daciolo evidencia apenas uma performance e que a identificação do evangélico neopentecostal é com o discurso de ódio e violento de Bolsonaro, percebemos que o que está em jogo no discurso neopentecostal é apenas mais do mesmo, ou seja, um discurso violento, excludente, que simplesmente não percebeu a proposta dos evangelhos, mas se perde em êxtases narcísicos travestidas de "espiritualidade". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-822703847832813552018-09-05T04:03:00.001-07:002018-09-05T04:05:04.134-07:00O perigo de se flertar com o mal<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ER3PhOEkgvnHuqMxEiVJ2qnSriM6WSY3R7fDUycT8TcCtLz1vuOHhFWXYMv-YKyaW0Z6VIw-INFMgbQlkdXom0RuthwY9cqRbeV7fPFhWTyPzavTCZLAYKOr7v7viFcmKX0btujVVLE/s1600/trevas.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="227" data-original-width="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ER3PhOEkgvnHuqMxEiVJ2qnSriM6WSY3R7fDUycT8TcCtLz1vuOHhFWXYMv-YKyaW0Z6VIw-INFMgbQlkdXom0RuthwY9cqRbeV7fPFhWTyPzavTCZLAYKOr7v7viFcmKX0btujVVLE/s1600/trevas.jpeg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Se pensarmos bem, o conceito de tolerância é um conceito extremamente vago e geralmente utilizado com um viés ideológico extremamente problemático. Se observarmos, por exemplo, o discurso de Martin Luther King, (quem quiser pode baixar o discurso e ler online) em hora nenhuma ele menciona que deveria haver tolerância quanto ao racismo. Em hora nenhuma ele propõe um "diálogo" para resolver os problemas, pois ele sabia que em determinadas situações o diálogo não é mais possível</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">. Ele sabia que o discurso da "tolerância" conduz não raras vezes exatamente ao oposto do que ele se propõe. É por isso que precisamos sempre deixar claro a nossa posição, é preciso ser firme contra os discursos de ódio, contra os discursos que ferem a dignidade do sujeito, quer ele seja um discurso religioso, moral, institucional, etc. Não podemos jamais permitir que esses discursos encontrem eco entre nós. Para isso não há diálogo, pois a mínima abertura para isso pode abrir as portas para o que há de pior entre nós.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">É exatamente neste sentido que qualquer discurso de ódio que vem seguido da fala "foi brincadeira", ou "não quis dizer isso" deve ser imediatamente interditado. Não deve haver espaço entre nós para que tais discursos de ódio sejam minimizados, pois sob a fala do "humor" da "brincadeira" se revela uma face cruel do sujeito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px;">É sabido de todos nós que ninguém nasce odiando ninguém, ninguém nasce com preconceito com ninguém, mas isso é sempre ensinado por uma cultura que tem determinados valores. Valores estes que nunca são "eternos", mas sempre criados socialmente para cumprir demandas específicas no desenvolvimento de cada comunidade humana. É neste sentido que qualquer discurso em nome de "valores eternos" não raramente costuma cair em discursos de ódio contra os semelhantes, ou contra aqueles que não compartilham de tais valores. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;"><span style="background-color: white; font-size: 14px;">É interessante notar que o discurso de ódio também é construído socialmente e vai encontrando eco à medida que é propagado, de tal forma que entre nós, em pleno mundo contemporâneo, eles se tornaram a tônica até mesmo entre os cristãos que supostamente deveriam ser os primeiros a irem contra tais discursos. </span></span><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Um movimento interessante que se percebe é que começa-se apenas flertando com o ódio; isto é, começa-se com a pura negligência das questões estruturais que envolvem a situação do sujeito que acaba sendo responsabilizado sem levar em consideração toda a estrutura que o assola; obviamente que a estrutura que envolve o sujeito de forma alguma o determinará de maneira última, mas qualquer análise do comportamento do sujeito que não leve em conta o seu meio não passa de pura análise ideológica. </span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Em um segundo momento, quando o sujeito assusta, já está tomado pelo ódio de uma forma tal que surgem os discursos de "penas mais duras para bandidos", "bandido bom é bandido morto", "tem que matar esses judeus todos". Assim como esse discurso não nasceu do nada, ele também não cresce do nada. De alguma forma esse discurso alimenta em grande medida um desejo do próprio sujeito, há uma espécie de identificação violenta nesse indivíduo que vê que bandido bom é bandido morto, há uma identificação violenta desse sujeito com o discurso de ódio que ele propaga. Se quisermos podemos até mesmo utilizar as palavras bíblicas de que "a boca fala do que tá cheio o coração". </span><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Quando alguém corrobora um discurso violento, um discurso em que despreza o outro, um discurso em que torna a causa alheia uma causa não digna o que se percebe é que esse sujeito de fato pensa assim, no entanto ele não se vê pensando assim; ele pensa que de fato está corroborando uma causa justa. Como aquela criança que realmente acredita que há soluções simples para causas complexas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Quando esse sujeito defende a castração química para acabar com os estupros, o que ela não percebe é que essa solução pueril em nada resolve o problema, mas apenas desumaniza ainda mais um sujeito já desumanizado. Quando o indivíduo de fato pensa que "bandido bom é bandido morto" o que ele não percebe é que o conceito de "bandido" esconde para tal sujeito um enorme preconceito, pois ele tem em mente apenas um tipo de "bandido" sem em hora nenhuma levar em conta que o termo "bandido" é extremamente amplo, de tal forma, que ele mesmo poderia ser incluído como tal bandido uma vez que o discurso fosse alargado. O "bandido" para tal sujeito é apenas o negro pobre, o morador de rua, o presidiário, mas nunca o que falsifica uma carteira de estudante para entrar num show pagando meia, o que aflige a lei para propagar discursos de ódio, etc. Esse sujeito tomado pelo ódio só vê a partir do seu próprio preconceito. Se bandido é aquele que está agindo contra a lei e deve ser morto, qualquer um que desrespeita a lei deveria ser morto seguindo essa lógica, até mesmo quem propaga tal discurso, pois incitar o ódio é em si um crime. Mas por que não se pede a morte desse bandido e apenas do outro? Na realidade o que se pede é a morte do diferente, a morte daquele por quem se tem preconceito, por quem o sujeito julga ser menos humano que a si próprio de forma que pode ser tratado apenas como um animal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Flertar com o mal é sempre perigoso, ainda mais porque (como já dizia o mito bíblico) ele nunca chega para o sujeito com sua face má, mas travestido de promessas de segurança." Essa é a mesma tentação do jardim do Éden. A tentação de que por meio de uma ação simples, por meio de uma ação infantilizada, por meio de uma escolha do mais fácil será possível ter um poder maior, uma visão melhor das coisas, um mundo melhor, etc. É por isso que se flerta com o mal. A promessa de segurança que o discurso violento traz se mostra para o sujeito uma solução última devido ao "caos do jardim". "É certo que não morrereis" é ao mesmo tempo a promessa e a crença desse sujeito propagador do discurso de ódio. Ele acredita que ele estará isento do ódio propagado socialmente, ele acredita infantilmente que os odiadores saberão diferenciar o "cidadão de bem" do "bandido"; eles acreditam infantilmente que há uma linha divisória nítida entre eles, quando na realidade não há linha nenhuma que os separa. É neste sentido que nunca se deve aceitar os discursos de ódio sob pena de que a banalização do mal seja a tônica. Tal banalização do mal nunca deve ser a tônica de nenhuma sociedade, pois a partir do momento que ela se torna a tônica estamos à beira do colapso civilizacional. </span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma tática conhecida do nazismo foi transformar todos os judeus em bandidos, em animais, para que a partir da desumanização deles a população não visse que estavam atacando aos seus semelhantes, mas sim a uma espécie menor, a um "não-humano", que por isso "merecia" ser tratado de forma desumanizada. E na maioria das vezes não eram pessoas "ignorantes", não eram pessoas "iletradas", "alienadas", etc. Vários oficiais da SS possuíam diplomas de curso superior, possuíam doutorados em suas áreas, mas mesmo assim aderiram ao discurso propagado de Hitler na desumanização dos judeus, dos gays, etc. O discurso de ódio é construído socialmente assim como qualquer outro discurso, e se aproveita dos momentos de agitação política para se propagar. Este é o mesmo movimento que culminou no holocausto, mas que alguns entre nós insistem em não enxergar a semelhança. É exatamente neste sentido que temos que admitir que não é uma questão de ignorância do sujeito, mas sim de uma identificação do sujeito com tal discurso, de forma que ele "de fato" pensa assim. E isso talvez seja o que mais assusta, ainda mais quando vindo de pessoas que supostamente deveriam propagar o amor ensinado por Jesus, aquele bandido segundo Roma; aquele presidiário, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É por isso que nunca devemos aceitar e nem tolerar os discursos de ódio. Devemos sim lutar contra eles e impedirem, no que depender de nós, que eles se propaguem. </div>
</span><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-9530861673867482152018-08-27T08:40:00.002-07:002018-08-27T08:40:33.080-07:00Sobre o que Jesus não disse<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpYQhoyy9l95UhzaK3NDF2MDTyhmKA9f6_BlYdjEo95UVfhiqGN_9zdyn5aHqdQKSHJcoa64IRVXpnOIhJG9-1oQLKwK30e62BsS_OdpNANtrBAirgIWTs3B-QIOif8SQC0hw_dp9t6GA/s1600/curvas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="403" data-original-width="650" height="198" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpYQhoyy9l95UhzaK3NDF2MDTyhmKA9f6_BlYdjEo95UVfhiqGN_9zdyn5aHqdQKSHJcoa64IRVXpnOIhJG9-1oQLKwK30e62BsS_OdpNANtrBAirgIWTs3B-QIOif8SQC0hw_dp9t6GA/s320/curvas.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
Jesus nunca disse nada sobre a questão de gênero.<br />
Jesus nunca disse nada sobre casamento gay<br />
Jesus não disse nada sobre o uso de contraceptivo<br />
Jesus não disse nada sobre o aborto<br />
Jesus não disse nada sobre regime político<br />
Jesus não disse nada contra os imigrantes<br />
Jesus não disse nada sobre sistema econômico<br />
Jesus não disse nada sobre sexo antes do casamento<br />
Jesus não disse nada sobre sexo de maneira geral<br />
Jesus não disse nada sobre comer ou não comer algo<br />
Jesus não disse nada sobre cigarro<br />
Jesus não disse nada sobre maconha<br />
Jesus não disse nada sobre drogas de maneira em geral<br />
Jesus não disse nada sobre futebol<br />
Jesus não disse nada sobre uso de roupas<br />
Jesus não disse nada sobre formas de se relacionar com seu corpo<br />
Jesus não disse nada sobre televisão<br />
Jesus não disse nada sobre religiões de matrizes africanas<br />
Jesus não disse nada sobre os negros<br />
Jesus não disse nada sobre os imigrantes<br />
Jesus não disse nada sobre socialismo<br />
Jesus não disse nada sobre fetos<br />
Jesus não disse nada sobre bons costumes<br />
Jesus não disse nada sobre internet<br />
Jesus não disse nada sobre ideologia<br />
Jesus não disse nada sobre direita<br />
Jesus não disse nada sobre esquerda<br />
Jesus não disse nada sobre centro<br />
Jesus não disse nada sobre intervenção do Estado na economia<br />
Jesus não disse nada sobre a proposta liberal<br />
Jesus não disse nada sobre comunismo<br />
Jesus não disse nada sobre ideologia<br />
Jeus não disse nada sobre tatuagem<br />
Jesus não disse nada sobre bebida alcoólica<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="text-align: justify;">Esse é o Jesus dos evangelhos. Se para você isso soa por demais estranho sugiro que releia os evangelhos e tente encontrar alguma fala de Jesus sobre estas coisas apontadas aí acima. Como você não vai encontrar absolutamente nada sobre esses temas, pare de forçar textos bíblicos como pretexto para preconceitos institucionais, culturais, sociais, etc. </span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, os evangelhos nos mostram um Jesus super preocupado com a justiça social, com a vida em comum de todos os que o seguem, com o não acúmulo de riqueza. Jesus se mostrou muito preocupado quanto à hipocrisia daqueles que guardavam a lei, mas se esqueceram do espírito dela, ou seja, se preocupavam com a letra da lei, enquanto maltratavam o próximo, expulsavam os imigrantes, roubavam dos pobres, maltratavam as mulheres, não cuidavam dos órfãos, ignoravam as viúvas, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus se mostrava extremamente preocupado em acolher as prostitutas, os ladrões, os considerados impuros, os leprosos, os convalescidos, em lhes dar uma dignidade que o status quo não lhes permitia ter. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus se preocupava constantemente com a humanidade dos que com ele conviviam, com o questionamento que os seus próximos levantavam, com as questões que eles lhe faziam. O Jesus dos evangelhos nunca incitou o ódio, nunca incitou o discurso xenofóbico, excludente, machista, misógino, desumanizador, colonialista; pelo contrário, Jesus esteve sempre ao lados dos mais pobres, dos que não tinham parte na terra. Esse é o Jesus descrito nos evangelhos; um Jesus que foi considerado um criminoso por Roma por ir contra a casta sacerdotal de sua época, um Jesus que morreu como ladrão, como presidiário, como quem sofredor da injustiça de um regime opressor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus é um exemplo de que nem sempre a lei é justa, que nem sempre a legalidade anda de mãos dadas com a justiça. Já em Jesus percebemos claramente que a justiça em sua forma institucional está sempre ao lado dos poderosos, está sempre do lado de quem tem poder e raramente em favor do pobre. Por isso talvez que a proposta de Jesus se torna extremamente subversiva, pois propõe um novo olhar sobre a justiça, não a legalidade da lei escrita, mas a avaliação da humanidade da pessoa em primeiro lugar; não a condenação indiscriminada, mas o avaliar atento das demandas que coloca o sujeito sempre como centro da lei e não a letra morta que não vivifica absolutamente nada. Jesus denuncia constantemente que uma lei que abre mão da humanidade do sujeito não deve ser cumprida; se isso soa muito estranho, apenas relembre o caso da mulher adúltera em que a fala de Jesus foi simplesmente <a href="http://veliqs.blogspot.com/2017/08/e-tornando-inclinar-se-escrevia-na.html?m=0" target="_blank">"nem eu tão pouco te condeno". </a> , relembre o caso de Jesus sobre curar no sábado, sobre os sacrifícios no templo, sobre as regras de pureza e impureza, sobre a cura dos leprosos, etc. etc. etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em todos esses casos a prioridade de Jesus nunca foi a letra da lei, mas sim o espírito da lei que tem no homem a sua prioridade. A partir do momento que a lei é utilizada para desumanizar o homem, para o humilhar, para lhe roubar a dignidade essa lei não é para ser cumprida. Isso pode soar extremamente estranho para os nossos ouvidos tão acostumados a vincular a execução da lei com "ordem de Deus", mas para Jesus o homem está acima da lei e é esse o ponto esquecido constantemente na subversiva proposta de Jesus. Uma lei só é boa se humaniza o homem, e é má quando desumaniza o homem. Esse é o Jesus dos evangelhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O nazismo era legal</div>
<div style="text-align: justify;">
A ditadura era legal</div>
<div style="text-align: justify;">
O apartheid era legal</div>
<div style="text-align: justify;">
A escravidão era legal</div>
<div style="text-align: justify;">
O Klux Klux Klan era legal</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se você pensa que Jesus teria apoiado qualquer um desses movimentos, então sugiro veementemente que releia os evangelhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-21550071554662434512018-08-22T03:52:00.001-07:002018-08-22T03:52:25.570-07:00Édipo sem complexo. <br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhceRwKECRnNR8O4PFC1eJcIUzhsCWmpvtnxzMFM3RKBLYt8K-aZC5jJfJpLtcs3HxsFLVrzQNVNX7v5T_yMIt7BlCK5lI4qT5JrN-Zfo6ifrrNgVQodziC1btsGXh6jNMhBE53HW8MJTM/s1600/edipo%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="600" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhceRwKECRnNR8O4PFC1eJcIUzhsCWmpvtnxzMFM3RKBLYt8K-aZC5jJfJpLtcs3HxsFLVrzQNVNX7v5T_yMIt7BlCK5lI4qT5JrN-Zfo6ifrrNgVQodziC1btsGXh6jNMhBE53HW8MJTM/s320/edipo%255B1%255D.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Édipo
Rei</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">A
história do Édipo Rei de Sófocles é um clássico da tragédia
grega e foi muito utilizado por Freud para expor sua teoria, embora
muito contestada a forma como ele utiliza este mito.</span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">O
mito do Édipo Rei de Sófocles, se insere dentro do cenário da
tragédia grega antiga e reflete exatamente como que ela era vista
pelos gregos dessa época.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">A
tragédia grega se destaca por colocar o herói em uma situação que
lhe é contrária àquilo que se espera, deslocando portanto o foco
da trama. Segundo aponta Jean Pierre Vernant em seu livro o herói
na tragédia grega é tipo como pego pela palavra, assim como
acontece na história do Édipo Rei. </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">A
história de Édipo Rei nos traz uma riqueza de detalhes sobre como
era o poder e o regime jurídico das cidades gregas daquela época.</span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Algo
que é identificado no estudo do Vernant, é a questão da
ambigüidade e da reviravolta, que segundo ele é algo que todos os
trágicos gregos recorriam como meio de expressão e modo de
pensamento. Essa ambigüidade reflete-se segundo uma tensão de
valores que se tornam inconciliáveis a despeito de sua igualdade.
Segundo Vernant a ambigüidade se refletia em cada herói em seu
universo próprio, e ele era como que pego na palavra que proferiu, e
isso era algo recorrente e ele o chama de ironia trágica. Essa
ironia, consistia no fato de que àquilo que era dito pelo herói
acabava retornando para ele mesmo, como uma forma de punição dos
deuses, pela falta de conhecimento por parte do herói sobre o que
era a verdade dos fatos. Isso é muito bem visto na história do
Édipo, quando àquilo que ele deseja que aconteça ao personagem
central da trama volta-se a ele mesmo no decorrer da peça. A
mensagem trágica torna-se-lhe inteligível na medida em que
arrancado de suas incertezas e de suas limitações antigas percebe a
ambigüidade das palavras, dos valores, da condição humana.</span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Vernant
trata também dos subentendidos utilizados de forma consciente, e
isso depende de um certo conhecimento anterior por parte dos
espectadores da peça, que já iam para o teatro com todo um conjunto
de informações que seriam necessários para a compreensão da
tragédia.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">A
verdade na tragédia grega, está sempre presente, só que na maior
parte dela de forma oculta, de forma que, só os espectadores que no
caso de estar assistindo os dois lados da história se assemelham aos
deuses, que conseguem conhecer todos os discursos e prevê o que vem
à frente. A diferença é que ao contrário dos deuses, os
espectadores não interferem no desenrolar da peça, já os deuses,
sempre são recorrentes nas tragédias gregas. Édipo mesmo atribui
aos deuses o seu afortunado destino. Quando Édipo fala o que será
feito ao assassino de Laio, ele se coloca como juiz de si mesmo, pois
o que ele deseja ao malfeitor, irá acontecer a ele também. Essa é
a forma como a tragédia se desenvolve normalmente, mas no Édipo-
Rei ela não acontece como uma oposição dos valores nem em uma
duplicidade de personagens , mas diverte-se com a vítima. No caso de
Édipo, é ele quem é o joguete em toda a trama. É a sua vontade de
descobrir o assassino e desmascarar o culpado, mesmo tentando ser
impedido por Jocasta, Tirésias e o pastor , achando com isso que
está cumprindo seu papel diante da cidade é o que o leva de herói
para vilão, pois ao descobrir o assassino de Laio, Édipo se
descobre na trama. </span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Essa atitude Édipo faz parte de sua
personalidade. Ele não é homem de desistir das coisas, gosta de ir
até o final mesmo que com isso possa descobrir algo que não lhe
agrada que é o fato de saber que é ele mesmo o joguete do início
ao fim. Édipo é portanto duplo, quando ele fala, acontece-lhe dizer
outra coisa contrária ao que ele está dizendo. Ele é portanto um
enigma que só se resolve quando ele mesmo descobre que o que ele
tinha por verdade não o é mais. Édipo portanto não escuta o
discurso que ele mesmo diz sem saber, e é exatamente essa a verdade
que está oculta; a única coisa autêntica.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Essa
verdade oculta só é compreendida por quem tem o dom da dupla escuta
ou da dupla visão como é o caso do adivinho Tiréisias. O discurso
de Édipo se distingue entre o humano e o divino que irão se
encontrar no final da peça, quando o problema estará resolvido e o
enigma desfeito. É nessa hora que se dá a “reviravolta” da ação
em seu contrário.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Quando
Édipo soluciona o enigma, ele encontra ele mesmo, e esta
identificação do herói provoca uma reviravolta completa da ação.
A atitude de Édipo inverte as posições dentro da tragédia
formulada por Sófocles.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Ao
final da pesquisa feita por Édipo o justiceiro se identifica com o
assassino e portanto descobrir quem matou Laio, é também descobrir
quem é Édipo. A pesquisa por justiça por parte do rei de Tebas,
torna-se uma pesquisa sobre quem realmente é o rei de Tebas. Essa
reviravolta e ambigüidade é bem destacada por Vernant quando cita
que o estrangeiro de Coríntio é, na realidade nativo de Tebas; o
decifrador de enigmas, um enigma a ser descoberto, o justiceiro, um
criminoso; o clarividente um cego; o salvador da cidade, sua
perdição. Édipo que para todos era o maior dos homens, e o melhor
dos mortais, se torna o mais infeliz e pior dos homens, um criminoso,
e objeto de horror aos seus semelhantes, odiados pelos deuses
reduzidos à mendicância e ao exílio.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">A
tragédia grega usava palavras gregas semelhantes para dizer coisas
que no contexto da peça eram contrárias. A situação de Édipo
depois de sua descoberta se torna a de um miserável que não merece
o convívio com a cidade. A sua descoberta o expulsa do mundo visível
e o coloca no mundo de Tirésias o vidente que pagou com seus olhos o
dom da dupla visão.</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Considerando
o ponto de vista humano Édipo é o chefe clarividente, igual aos
deuses, mas considerando do ponto de vista dos deuses ele aparece
cego e igual ao nada. A reviravolta da ação, como a ambigüidade da
língua, marca a duplicidade de uma condição humana, que, à
maneira do enigma, se presta a duas interpretações opostas. A
linguagem humana se inverte quando os deuses falam através dela.</span></span></div>
<br /><div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-3097292572075581512018-07-09T13:04:00.003-07:002018-07-09T13:04:41.974-07:00Da Doxa à Episteme na época da pós-verdade. A tarefa da Filosofia<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitEmU2sx4VApkL6RIvT1oIB5Qc7IgNHAD-aVVklx6ColOnNi-gDuryVgb3nLfi-XHDIRpiFnScDg5asE_6uKl6msTPIKuHgIJYwCfuZQiXUS8GVSAv3oilp4QrOY8eaIJhRHUmIxY1feI/s1600/maxresdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitEmU2sx4VApkL6RIvT1oIB5Qc7IgNHAD-aVVklx6ColOnNi-gDuryVgb3nLfi-XHDIRpiFnScDg5asE_6uKl6msTPIKuHgIJYwCfuZQiXUS8GVSAv3oilp4QrOY8eaIJhRHUmIxY1feI/s320/maxresdefault.jpg" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A tarefa da Filosofia, desde Platão, tem sido a de fazer o homem sair do campo da Doxa em direção a Episteme. Tal caminho, no entanto, se torna extremamente árduo, cansativo, demanda um esforço hercúleo por parte da pessoa que almeja de fato sair do reino da opinião em direção ao conhecimento. Não é atoa que entre os gregos era muito conhecida a noção de "Filoponia", ou seja, o "amor pela dor" como forma de se alcançar a "Filosofia", o "amor pela sabedoria". Sem esse caminho árduo do abandono das opiniões é impossível alcançar o conhecimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por mais que o esquema platônico pressuponha uma certa divisão entre mundo sensível e inteligível que hoje em dia basicamente não se aceita mais, a noção platônica de que o caminho para o conhecimento se dá pela constante eliminação da "opinião" para irmos alcançando o conhecimento ainda se faz extremamente pertinente para pensar a nossa época. Nossa época que curiosamente cada vez mais faz o caminho contrário ao proposto por Platão. A nossa época hipermoderna se caracteriza por aquilo que Lyotard chamou de época da queda dos metarrelatos, ou seja, uma época em que as instituições, ou os discursos que organizavam a vida do sujeito passaram a não mais fazer sentido, perderam o seu caráter explicativo, etc. Se antes o acesso do sujeito à realidade se daria permeado por esses metarrelatos, hoje com a queda deles, a relação do sujeito com a realidade se dá de forma não-mediada por esses discursos. Basicamente a segurança oferecida por tais discursos é refutada em nome da liberdade de poder cada sujeito criar o seu próprio discurso. Esse é o famoso drama apontado por Bauman de que a grande questão contemporânea seria de fato encontrar uma forma de fechar a equação entre "segurança" e "liberdade", pois quanto mais se tem segurança, menos se tem liberdade, e quanto mais se tem liberdade, menos se tem segurança. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se por um lado os metarrelatos ofereciam a segurança para o sujeito lidar com o mundo, entrando nele por meio de discursos já pré-estabelecidos, ao mesmo tempo eles cerceavam o sujeito de várias coisas. O sujeito pagava a segurança que os metarrelatos garantiam com uma diminuição da liberdade. Os movimentos contestatórios da década de 60 contestam exatamente esses discursos "aprisionadores" tais como a "religião", "família", "estado", "política", etc. como instituições que limitam a liberdade do sujeito e por isso devem ser eliminadas para que o sujeito possa de fato ser livre. Dessa forma abrem mão da segurança que os discursos proporcionavam em nome da liberdade de ser quem quiser, fazer o que quiser, etc. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Concomitante a isso vemos o crescimento e o aprofundamento do capitalismo e o surgimento daquilo que ficou conhecido como "capitalismo tardio", ou seja, o capitalismo pós década de 70 em que as relações de consumo já estão extremamente consolidadas, e o capitalista se torna muito mais um capitalista especulativo do que propriamente um capitalista que simplesmente "detém os meios de produção". Esse refinamento da posição do capitalista contemporâneo, aliado à disseminação massiva da ideologia consumista em todas as esferas da sociedade coloca esse sujeito sem metarrelatos em uma situação extremamente conflituosa e angustiante. Diante das diversas opções de consumo e sem nada para regular o seu gozo, o que resta para tal sujeito é apenas a sua opinião, os seus gostos pessoais como forma de lidar com as diversas demandas da vida cotidiana. Na queda dos metarrelatos a própria noção de "verdade" se perde e o sujeito da nossa época é aquele que toma como verdade basicamente a sua opinião sobre um determinado fato. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir do momento que a própria noção de verdade se torna obsoleta o que vemos acontecer é a propagação daquilo que o dicionário Oxford definiu como palavra do ano de 2016 que é o conceito de "pós-verdade", ou seja, a predominância da opinião do sujeito sobre os fatos. Não importam os fatos, o que importa é apenas a opinião do sujeito, o que ele resolve acreditar e cada vez mais o diálogo se torna extremamente impossível, pois o que se percebe a cada dia é uma resistência muito grande para o debate, para a argumentação e isso se evidencia em todas as esferas da vida cotidiana. Desde assuntos menos sérios até assuntos mais complexos a preguiça para o diálogo, a apropriação de frases prontas sem reflexão, a tentativa de "igualação de discursos" como forma de evitar o debate são práticas extremamente comuns a quem tenta qualquer tipo de debate. Na religião e na política esse tipo de argumento se sobressai na maioria das vezes. Sob a assertiva "todos os políticos são farinha do mesmo saco", ou, "todas as religiões estão buscando ao mesmo Deus apenas de maneira diferente", o que está envolvido senão a recusa de toda forma sistemática de diferenciação de discursos? O que está em jogo senão o abrir mão do caráter dialogal em nome de uma "saída fácil" para questões complexas? Não seria esse o grande sintoma contemporâneo da eliminação do diferente em nome de uma pseudo-aceitação de todos em um processo de igualação que longe de "aceitar o diferente" o elimina no seu núcleo mais profundo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nessa recusa do diálogo vemos acontecer o inverso daquilo que Platão propunha que deveria ser o caminho para o conhecimento. Na épóca da hiperespecialização em que o conhecimento se torna extremamente ramificado, hiperespecializado, é impossível para qualquer indivíduo manter-se atualizado de todas as áreas, mas paradoxalmente, dele é exigido respostas para todas as questões do seu tempo, desde questões éticas como aborto, eutanásia, a questões políticas, religiosas, familiares, etc. O sentimento de preguiça (ou má-fé) toma conta do indivíduo de forma que ele se recusa a pensar de fato as coisas e passa a assumir apenas a sua opinião como balizas para todas as questões se fechando para o diálogo que o levaria a sair da sua opinião em direção ao conhecimento. Curiosamente a proposta platônica de saída da doxa rumo a episteme envolve exatamente esse caráter dialogal e era de se esperar que em uma era "pós-iluminista", "esclarecida" o diálogo fosse de fato algo que a maioria das pessoas estivesse disposta a realizar. No entanto, cada dia o que se vê é o oposto. O sujeito contemporâneo caminha a passos largos para o interior da caverna onde reina a opinião e se afastando do diálogo se recusa a conhecer as coisas na suas nuances mais profundas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste sentido a filosofia se torna cada vez mais desprezada, mas cada vez mais necessária. Em uma época em que a noção de verdade se perdeu e se transformou em uma questão de opinião, resgatar a noção de verdade, não como verdade absoluta (a la Platão e alas mais conservadoras do cristianismo e outras religiões), mas como noção orientadora do diálogo se torna novamente uma tarefa árdua para a filosofia. Penso que sem se resgatar esta noção a tendência são discursos cada vez mais polarizados, cada vez mais conservadores, mais rígidos em que a vida vai se perdendo e discursos cada vez mais "totalitários" vão aparecendo. Árdua a tarefa da Filosofia em nosso tempo, mas seguimos propondo o diálogo, seguimos tentando o diálogo por mais difícil que ele seja, pois no meu caso, acredito que a verdade liberta, embora cada dia seja mais difícil encontrar e definir o que seja essa verdade. Uma coisa eu sei, verdade não é opinião, e essa defesa precisa ser feita cada vez mais enfaticamente em nossos dias de pós-verdade. "E conhecereis a verdade e ela vos libertará" já dizia o autor do evangelho de João, mas quando perguntado por Pilatos "o que é a verdade?" o próprio Jesus não deu resposta, ficou mudo, ou seja, a verdade liberta, mas defini-la, às vezes exigirá de nós um silêncio para a reflexão que se torna ouro em tempos hipermodernos. </div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-83278815013576454252018-06-28T14:22:00.001-07:002018-06-28T14:22:11.075-07:00LGBTQIAAP+, Igrejas evangélicas e contemporaneidade. Desafios para o pensamento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh90FCc6F3WTaxakdyQzgBhm3NlSAPga8nq3yGFIkIFz53h7ddKhTo7EJAXm3RZNS5QoSVZ4hfH0OtF4VO2Mq69PpjPjfka7RN-_9Siz7bmlRgVdy6pJCrLIxUv49l2V19OCVedGYGq-n8/s1600/Frame-Orgulho-LGBT.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="800" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh90FCc6F3WTaxakdyQzgBhm3NlSAPga8nq3yGFIkIFz53h7ddKhTo7EJAXm3RZNS5QoSVZ4hfH0OtF4VO2Mq69PpjPjfka7RN-_9Siz7bmlRgVdy6pJCrLIxUv49l2V19OCVedGYGq-n8/s320/Frame-Orgulho-LGBT.jpg" width="320" /></a></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Hoje se celebra o dia do orgulho gay, o que para mim é motivo de extrema alegria, pois acredito que mesmo que parcamente as coisas estão mudando para a comunidade LGBTQIAAP+. (Para quem não sabe a nova sigla representa os Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Queers, Interesexuais, Assexuais, "Alies" (do inglês), e Pansexuais). Há tempos atrás o próprio fato de se assumir Gay, Lésbica, etc. já era motivo para exclusão de círculos mais próximos, familiares, etc. coisa que hoje em dia vai aos poucos sendo aceito de forma mais "light". Obviamente que esse olhar "otimista" não é ingênuo; se por um lado vemos diversos avanços no quesito aceitação, ainda não podemos dizer que chegamos nem sequer próximo de um nível de aceitação "aceitável". O Brasil continua sendo o país que mais mata transexuais no mundo, ainda é o país onde a média da população trans é de apenas 35 anos, etc. Esses dados em si já deveriam nos alarmar diante da crueza que os dados evidenciam. Fechar os olhos para esses dados também é simplesmente ignorar um problema social importantíssimo. Outro dado alarmante é que apenas no início deste ano é que a questão trans deixou de ser considerada "doença" pela DSM, o que evidencia que aquilo que chamei de "parco" no início do texto é de fato extremamente "parco" mesmo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Como provavelmente o leitor desse blog já sabe, sou protestante e a questão sobre a sexualidade é um tema considerado tabu dentro da maioria das igrejas protestantes e evangélicas. Chego a dizer que no meio evangélico neopentecostal o tabu em relação a sexualidade beira à insanidade. Se de uma forma geral a questão sexual é raramente comentada dentro da igreja evangélica, ela se mostra presente em basicamente todos os aspectos da vida da igreja evangélica. Para isso basta observarmos o silêncio como grande sintoma da questão que não pode ser enunciada, debatida, mas cabe apenas o lugar de "proibida" de formas cada vez mais velada. É bastante interessante o discurso evangélico sobre a questão da sexualidade, pois ela mescla discursos extremamente paradoxais para defender pontos de vista muito discrepantes. Já escrevi aqui no blog sobre a questão do <a href="http://veliqs.blogspot.com/2013/07/a-igreja-evangelica-e-o-tabu-do-sexo.html" target="_blank">"sexo antes do casamento"</a> que é sem dúvida algo muito pregado dentro das igrejas evangélicas, mas hoje queria aproveitar a data do orgulho gay e comentar sobre a relação com a questão da sexualidade de maneira mais ampla. Já há aqui no blog também um texto sobre <a href="http://veliqs.blogspot.com/2016/05/a-identidade-de-genero-e-igreja.html" target="_blank">a questão de gênero e a igreja evangélica</a> , então acredito que já possa ir direto ao assunto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foucault já nos mostra na sua história da sexualidade, e Freud também antes de Foucault que a questão sexual é uma questão fundamental na vida do sujeito humano, de forma que o controle sobre essa esfera da vida do sujeito dá à instituição um poder extremamente grande sobre a vida do sujeito. Não é por coincidência que a igreja evangélica se preocupa de forma doentia com a questão sexual. Para além de uma leitura fundamentalista do texto bíblico (que retira todo o texto do seu contexto e quer ler a Bíblia <i>sub especie aeternitatis </i>) a igreja evangélica em sua maioria tem sempre em mente exercer um domínio sobre a forma que o membro deve ou não deve viver a sua vida sexual. Daí vem muitos problemas entre casais heteronormativos, mas com certeza os que mais sofrem com isso são os casais homoafetivos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Via de regra a solução proposta para os homossexuais dentro da igreja evangélica é a abstenção do sexo com seu parceiro, pois segundo a ideologia extremamente perversa propagada, <a href="http://veliqs.blogspot.com/2014/10/um-pouco-sobre-pecado-partir-de-i-jo-34.html" target="_blank">"Deus ama o pecador, mas não ama o pecado" </a>(curiosamente a mesma exigência não é nem cogitada para o casal heteronormativo), de forma que o pecado está no ato da cópula, está no sexo em si. Esta visão além de retomar uma dinâmica extremamente medieval em relação à relação entre corpo e alma, aquele sendo taxado como impuro enquanto a alma seria pura, traz consigo uma noção de controle sobre os corpos que beira a insanidade. Uma das maiores bandeiras levantadas por Lutero durante a reforma protestante foi exatamente a liberdade do cristão diante de Deus, de forma que Deus e homem se comunicam diretamente sem a mediação institucional. <a href="http://veliqs.blogspot.com/2017/10/os-500-anos-da-reforma-protestante.html" target="_blank">(O que obviamente trouxe sérios problemas que é o que vemos hoje com diversas igrejas neopentecostais e suas leituras absurdas do texto bíblico)</a> No entanto, dentro da maioria das igrejas evangélicas, a liberdade do sujeito só se faz presente na hora de assumir a culpa pelos seus atos e nunca na hora de se tornar de fato agente de si mesmo. Esta noção vai se tornando cada vez mais perversa e cada vez mais velada no discurso, tornada "soft" como forma de penetrar cada vez mais sutilmente como mecanismo de controle. Um exemplo bem vivo disso são os diversos cultos atualmente em diversas igrejas evangélicas voltadas para a comunidade LGBTQIAAP+ em que sob o nome de "inclusão" o que se vê na maioria das vezes é apenas o mesmo discurso fundamentalista, culpabilizador com uma roupagem diferente. Ao invés de ser um lugar em que a aceitação se dará, o que se vê é apenas uma culpabilização velada, uma ideologia extremamente perversa em que a igreja evangélica mostra sua face totalmente alinhada com a dinâmica exclusivista da heteronormatividade. </div>
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<br /></div>
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Recentemente uma aluna minha me relatou uma experiência vivida no culto "Cores" da Batista da Lagoinha em que a líder do culto já iniciava a sua fala afirmando saber que estava em pecado mantendo a sua opção sexual, mas estava ali para honrar em engrandecer o nome de Deus. Supostamente esse culto é um culto voltado para a comunidade LGBTQIAAP+, mas o que traz consigo é apenas uma noção arcaica de que cabe à igreja dizer o que pode ou não pode ser feito com o corpo do sujeito. Extremamente interessante é o fato de que a igreja não assume que isso é uma postura/leitura própria dela, mas atribui a Deus uma discriminação que é estrutural, socialmente construída e que não tem absolutamente nada a ver com a proposta cristã em sua forma mais crua.</div>
<div style="text-align: justify;">
É fato conhecido que Jesus andava com prostitutas, ladrões, mendigos, pobres, excluídos, etc. e também é fato conhecido que o ensinamento de Jesus se volta sempre para a aceitação dos diversos modos de vida das pessoas que são baseados no amor, mas se volta contra os atos que não são baseados nesse mesmo amor. Não é sem motivo que a vez que os evangelhos mostra um Jesus extremamente violento é apenas com os comerciantes no templo. Em hora nenhuma essa violência de Jesus se mostra em relação a outras questão da vida das pessoas. Jesus não fala absolutamente nada sobre sexo, os evangelhos não falam basicamente nada sobre a questão, mas por diversos motivos (incluindo a questão platônica no início da patrística) a questão sexual se tornou o tema central da igreja cristã desde o seu surgimento. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Iniciei o texto afirmando que tem havido uma parca aceitação das questões homoafetivas na sociedade de forma que esses grupos tem ganhado cada vez mais espaço e suas pautas estão sendo cada vez mais debatidas. Até mesmo no meio evangélico somos capazes de encontrar grupos que debatem seriamente a questão e igrejas de fato inclusivas no sentido da aceitação plena da forma única que cada um tem de viver a sua sexualidade, entendendo que não cabe à instituição dizer o que pode ou não pode ser feito pelo sujeito no uso da sua livre vontade sobre o seu próprio corpo. Essa ausência do poder institucional, no entanto, evidencia a crise representacional vivenciada hoje em todas as instâncias da vida dos sujeitos contemporâneos. É impossível voltar para uma época onde essas instituições terão novamente o poder que tinham (embora esse seja o desejo de vários setores atuais que vêem no fortalecimento dos aparatos de controle uma saída para a crise contemporânea culminando não raras vezes em posturas extremamente fundamentalistas), essa fantasia de uma unidade primordial se perdeu definitivamente. A única possibilidade parece ser aquilo que diversos psicanalistas chamam de "pai enfraquecido", ou seja, uma referência mínima que apenas a partir do testemunho próprio seria capaz de orientar o sujeito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, a nossa crise representacional também se evidencia dentro do próprio movimento LGBTQIAAP+. Recentemente estava discutindo em uma das minhas aulas que o simples fato da sigla que começou com GLS, passou para LGBT, depois LGBTQI+ e agora LGBTQIAAP+ apontaria para a mesma crise representacional que o aumento das letras visa resolver. Na intenção de aceitar todas as minorias, o que aparentemente acontece é a criação de cada vez mais "microgrupos" em que a representação precisa ser cada vez mais específica para encontrar voz. É sabido que dentro do próprio movimento há diversas discussões sobre a questão de gênero e a questão racial, a questão de gênero e a questão econômica, de forma que há cada vez mais uma pulverização das letras na sigla de forma a representar cada vez grupos menores sob o nome da "aceitação das diferenças". A meu ver o aumento da sigla aponta exatamente para essa fissura contemporânea da ausência da representação; de alguma forma acaba-se caindo em uma espécie de narcisismo de grupos extremamente pequenos que no fim das contas não representam ninguém. O excesso de letras na sigla aponta para a mesma dificuldade de lidar com a questão da sexualidade que apontei acima no texto, ou seja, essa não é uma querela meramente da igreja evangélica, mas se mostra uma dificuldade contemporânea, hipermoderna. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao tentar "definir" os microgrupos com letras cada vez mais específicas não estaria presente uma tentativa meio que desesperada de enquadrar a sexualidade dentro de padrões cada vez mais distintos? Essa fantasia da normatização não evidenciaria exatamente aquilo pelo qual as pautas identitárias de hoje visam eliminar? Paradoxalmente, quanto mais se prega a liberdade para a vivência da sexualidade, mais letras vão surgindo para "delimitar" quem é quem nessa relação. O caminho das siglas não deveria caminhar no sentido de redução das letras ao invés do seu aumento? E o que diríamos se outros grupos cada vez mais específicos quiserem ser representados? Todos os grupos devem ser aceitos e ter a sua própria letra na sigla? Isso não permitiria adesão de grupos que atualmente soam extremamente estranhos para nós? O que pensar sobre "sexo com robôs"? "Sexo com animais"? Coisas que hoje nos soam extremamente estranhas e perversas não estariam talvez próximas de acontecerem? Se a ideia soa extremamente estranha basta lembrar que há menos de 100 anos a questão homoafetiva também era considerada "aberração", "doença", "perversão", etc. e hoje não é mais. Qual seria o critério para se acrescentar uma nova letra nessa sigla? Esses grupos não teriam direito também à representação? Haveria um limite para essas representações?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E o que dizer do "+"? Esse "+" aponta sempre para esse excesso indizível na vivência da sexualidade que nunca é eliminado. Os diversos movimentos atuais tem em vista sempre eliminar esse "+" de forma a se ver representado por um signo que contemplaria uma vivência específica, mas o que acontece é algo que Freud e depois Lacan apontaram muito bem que é o fato de que sempre que se tenta abarcar toda sexualidade algo sempre escapa, algo sempre resta. Sendo um bom freudiano diríamos que o que resta é a evidência de que o objeto da pulsão é sempre parcial, ou seja, aquele objeto último capaz de eliminar o "+" nunca será encontrado, sempre restará algo. Em lacanês diríamos que esse é claramente o objeto a. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Percebe-se que a questão da sexualidade é algo extremamente intrigante e um assunto extremamente complexo de forma que nesse dia do orgulho gay, para além da celebração é preciso pensar de forma cada vez mais honesta o nosso desafio contemporâneo para que não caiamos em uma tentativa desesperado de um retorno à estruturas ultrapassadas que não tem nada a dizer (basicamente a posição da maioria da igreja evangélica atual), nem caiamos na falácia da liberdade sem limite que diversos grupos insistem em manter minando com isso toda forma de liberdade tipicamente humana. Se tem algo que a psicanálise nos ensina é que toda liberdade humana só se torna liberdade quando é fundamentada sobre um limite, sobre uma interdição; é só assim que é capaz de nascer o desejo que nos torna humanos. O desafio é grande tanto do ponto de vista teórico quanto prático, mas por isso mesmo instigante para a nossa reflexão, e o dia de hoje é propício para pensarmos sobre isso. </div>
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<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5622941988410204264.post-84250086612875959482018-06-21T03:35:00.002-07:002018-06-21T03:35:44.694-07:00"So love is the minimal form of communism." Alain Badiou sobre o amor<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlJq0jVR8OioCpGHeiEvwB-Xd24uAg7zB3vbleHyP6uMFD8Zm0bxqTtXA_Xmr9r865y_-2n3Rj5UqTnmM1bN6w7BOhYU1xC4nNB8fnjP1MGa9mD63tZ_RDM54OElxliFMRvw7qzUBkOcg/s1600/Badiou.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="198" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlJq0jVR8OioCpGHeiEvwB-Xd24uAg7zB3vbleHyP6uMFD8Zm0bxqTtXA_Xmr9r865y_-2n3Rj5UqTnmM1bN6w7BOhYU1xC4nNB8fnjP1MGa9mD63tZ_RDM54OElxliFMRvw7qzUBkOcg/s1600/Badiou.jpeg" /></a></div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
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<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
Os leitores do blog sabe que a questão do amor é algo recorrente nos <a href="http://veliqs.blogspot.com/search?q=amor" target="_blank">textos por aqui </a> e por isso que este lindo do texto de Alain Badiou faz a sua entrada neste blog. Em grande medida Badiou coloca de forma bastante poética noções que ele desenvolve de forma mais filosófica em outros de seus vários livros. Para quem não conhece, Alain Badiou é um filósofo francês nascido em 1937, autor de vários livros e um dos principais pensadores contemporâneos vivos. Acesse <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Alain_Badiou" target="_blank">aqui</a> para conhecer um pouco mais sobre Alain Badiou. Segue abaixo o extrato do livro "In praise of love" publicado em 2012. </div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
“Love is not a contract between two narcissists. It’s more than that. It’s a construction that compels the participants to go beyond narcissism. In order that love lasts one has to reinvent oneself…Everybody says love is about finding the person who is right for me and then everything will be fine. But it’s not like that. It involves work. An old man tells you this!…I have only once in my life given up on a love. It was my first love, and then gradually I became so aware this step had been a mistake I tried to recover that initial love, late, very late – the death of the loved one was approaching – but with a unique intensity and feeling of necessity…There have been dramas and heart-wrenching and doubts, but I have never again abandoned a love. And I feel really assured by the fact that the women I have loved I have loved for always.</div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
…Solving the existential problems of love is life’s great joy. There is a kind of serenity in love which is almost a paradise…’While desire focuses on the other, always in a somewhat fetishist[ic] manner, on particular objects, like breasts, buttocks and cock, love focuses on the very being of the other, on the other as it has erupted, fully armed with its being, into my life that is consequently disrupted and re-fashioned…’ The absolute contingency of the encounter takes on the appearance of destiny. The declaration of love marks the transition from chance to destiny and that’s why it is so perilous and so burdened with a kind of horrifying stage fright. Love’s work consists in conquering that fright…In love, fidelity signifies this extended victory: the randomness of an encounter defeated day after day through the invention of what will endure.</div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
…In Paris now half of couples don’t stay together more than five years. I think it’s sad because I don’t think many of these people know the joy of love. They know sexual pleasure – but we all know what Lacan said about sexual pleasure…To an extent, I agree with him. If you limit yourself to sexual pleasure it’s narcissistic. You don’t connect with the other, you take what pleasure you want from them…I absolutely agree that sex needs to be freed from morality. I’m not going to speak against the freedom to experiment sexually like some old arse – ‘un vieux connard’ – but when you liberate sexuality, you don’t solve the problems of love. That’s why I propose a new philosophy of love, wherein you can’t avoid problems or working to solve them…But avoiding love’s problems is just what we do in our risk-averse, commitment-phobic society. [I] was struck by publicity slogans for French online dating site Méetic such as ‘Get perfect love without suffering’ or ‘Be in love without falling in love’. For me these posters destroy the poetry of existence. They try to suppress the adventure of love. Their idea is you calculate who has the same tastes, the same fantasies, the same holidays, wants the same number of children. Méetic tries to go back to organised marriages – not by parents but by the lovers themselves. Aren’t they meeting a demand? Sure. Everybody wants a contract that guarantees them against risk.</div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
…Love isn’t like that. You can’t buy a lover. Sex, yes, but not a lover…I think that romanticism is a reaction against classicism. Romanticism exalted love against classical arranged marriages – hence l’amour fou, antisocial love. In that sense I’m neither romantic nor classic. My approach is that love is both an encounter and a construction. You have to resolve the problems in love – live together or not, to have a child or not, what one does in the evening…Simone de Beauvoir wrote that you are not born a woman, you become one. I would say you are not a subject or human being, you become one. You become a subject to the extent to which you can respond to events. For me personally, I responded to the events of ‘68, I accepted my romantic destiny, became interested in mathematics – all these chance events made me what I am…You discover truth in your response to the event. Truth is a construction after the event. The example of love is the clearest. It starts with an encounter that’s not calculable but afterwards you realise what it was. The same with science: you discover something unexpected – mountains on the moon, say – and afterwards there is mathematical work to give it sense. That is a process of truth because in that subjective experience there is a certain universal value. It is a truth procedure because it leads from subjective experience and chance to universal value…Real politics is that which gives enthusiasm. Love and politics are the two great figures of social engagement. Politics is enthusiasm with a collective; with love, two people. So love is the minimal form of communism.’”</div>
<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
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<div style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #555555; font-family: Bitter, arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 1.2em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: top;">
Trecho do livro de Alain Badiou "in praise of love". Trecho originalmente publicado em https://brittlepaper.com/2012/09/love-contract-narcissists-alain-badiou-excerpt-praise-love/ acessado em 21/06/2018</div>
<div class="blogger-post-footer">http://feeds.feedburner.com/VeliqFil</div>Fabiano Veliqhttp://www.blogger.com/profile/12286035615987206214noreply@blogger.com0