domingo, 5 de agosto de 2012
Enquanto leio Levinas penso algumas coisas esparsas
Ame o próximo como a ti mesmo é a palavra do evangelho, no entanto não ame o próximo como se ele fosse você mesmo. O outro é um diferente em relação a ti. Ele está completamente distante de você para que você o ame como você ama você mesmo. Ele não pode ser compreendido por você, entendido por você, acessado por você em sua totalidade. Ele pode ser amado por você, mas sempre enquanto um outro a quem nós nunca temos acesso a não ser por uma ação ética. A ação ética por excelencia se vinculará no amor com o qual eu o amarei como amo a mim mesmo, mas sempre entendendo que ele é diferente de mim.
Amar o próximo com a mim mesmo é compreender que da mesma forma que estou disposto a fazer tudo para que a minha vida seja bela, estou disposto a fazer isso pelo outro. Eu o amo como um diferente, mas que por ser diferente se mostra como alguém que merece uma relação não utilitária, uma entrega total diante da aleridade. Essa alteridade que é completamente diferente de mim será o paradigma de toda a minha relação com o mundo, afinal todo o mundo é um outro em relação a mim. Não posso tentar fazer os diversos outros serem "meus", como algo a ser compreendido, como se todo o mundo fosse um grande objeto diante de um sujeito.
A distancia infinita entre eu e o outro só pode ser desfeita a partir de uma ação ética, i.e, a partir do amor que me move em direção ao outro tentando vê-lo como a um "igual", mas nunca como um "mesmo". Apenas a partir da assimilação desta alteridade radical que sou capaz de entrar em relação com este outro e só assim sou capaz de sair da condição egoísta de tentar fazer tudo em relação apenas a mim mesmo. O outro se mostra como convite a sair de mim, como convite a hospitalidade, i.e, o acolher o outro em sua diferença tendo-o sempre como alguém a quem este acolhimento é devido.
Só a partir desta assimilação da alteridade radical que serei capaz de amar o próximo com a mim mesmo sem me amar no outro. A ética então não se baseia em um "imperativo da razão", nem mesmo se volta apenas para o indivíduo como alguém que busca o "meio-termo" diante das situações que o cercam, mas se baseia na figura do outro que enquanto outro sempre clama pela hospitalidade. Este clamor, se entendido por mim, me leva a acolher o outro e assim entrar em uma relação com ele apesar da distancia infinita que nos separa...
Tal proposta soa muito estranha na pós-modernidade onde há um culto à individualidade e o incentivo às relações apenas utilitárias, mas acredito que tal proposta seja digna de ser pensada por nós e se constitui como um grande desafio em nosso tempo.
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