Às vezes penso que não faria diferença nenhuma se fôssemos robôs. Afinal, nos dias de hoje o que mais fazemos é agir como se já o fôssemos.
É muito interessante. Parece que todos saem para o trabalho na mesma hora, daí os ônibus todos lotados. Todos conectados com seus fones de ouvido para que ninguém os incomodem. Saímos para almoçar todos no mesmo horário, daí os restaurantes todos cheios. Voltamos para a casa no mesmo horário, compramos pão sempre no mesmo horário, com todas as pessoas fazendo sempre a mesma coisa.
Acredito que se alguém tivesse nos programado para fazermos todas estas coisas não faríamos tão bem como fazemos sem termos sido programados.
Sem contar o fato de que também não nos preocupamos com os outros. Tanto faz como tanto fez se o meu colega de serviço faltou ou não, se está doente ou não, se sua família está bem, se está triste, ou desanimado. Isso simplesmente não importa. Agimos como se ninguém faltasse ali. Agimos com total indiferença.
Vivemos cada dia mais nossas vidas sem nos preocupar com ninguém, e estranhamos muito quando aparece alguém que se preocupa com o outro. Acabamos por achá-lo muito estranho e não raramente o chamamos de curioso.
Nem nas leis de Asimov sobre robótica encontramos algo parecido com nossas ações hoje.
Para quem não sabe, as leis de Asimov (ou leis da robótica) foram criadas pelo russo Isaac Asimov como condição de coexistência dos robôs com os seres humanos, sem que os robôs fizessem mal aos seres humanos. São 3 leis:
- 1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
- 2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
- 3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.
Curioso paradoxo. Somos humanos que vivemos como se fôssemos robôs em nosso jeito de agir e interagir com os outros, mas não obedecemos as leis da robótica que nos faria agir de forma a manter uma relação pacífica com os possíveis humanos.
Se quiser uma atestação do que falo, basta olharmos em nosso ambiente de trabalho.
No local onde trabalho são 10 guichês de atendimento. Todos os dias as pessoas chegam, sentam em seus guichês, vão olhar seus emails, fazer seus atendimentos, sem se preocupar se a pessoa ao seu lado precisa de algo, se ela está bem, se está precisando de alguma coisa. Simplesmente não faz diferença a vida do outro. Nunca foi importante, provavelmente nunca será. Os cumprimentos são meros atos de "pseudo-educação".
O "bom dia" não é um desejo, mas uma frase que aprendemos que deve ser dita para todos na parte da manhã. A mesma coisa com o "boa tarde" e o "boa noite". Não se está desejando nada, não faria diferença alguma para a grande maioria se o dia do outro for péssimo.
Simplesmente não interessa.
São como se fossem robôs. Sem interação, sem emoção, nada além do meu computador e meus atendimentos. Nada além do "protocolo" da "boa pseudo-educação".
Mas porque isso acontece hoje ? Talvez nunca saberemos.
Podemos talvez tentar alguma explicação do tipo "somos criados em uma sociedade que visa sempre a utilidade e nunca o outro como algo em si", ou "o sistema faz com que a gente aja de forma a manter o sistema, e para isso, as relações pessoais devem ser separadas das relações de serviço", ou algo do tipo "agimos assim porque a sociedade exige de nós tal comportamento".
Explicações estas que poderiam ser dadas por qualquer marxista de buteco, ou algum sociólogo um pouco mais exaltado. Não sei se elas respondem a pergunta, mas não deixam de ser tentativas.
Não sei se Jesus pensaria em robôs, mas quando ele disse que o amor de muitos esfriaria, talvez estaria dizendo algo muito próximo do que vemos hoje.
O que acontece é que as coisas caminham dessa forma, e acredito que seria interessante se fizéssemos algo que nos tornaria mais humanos novamente.
Está aí um bom alvo para 2010. Tentar ser mais humano e menos robô.
Caro Fabiano, refletindo sobre o foi escrito, penso que o fato das pessoas agirem como autômatos poderá ser reflexo da predisposição ao seguimento do que está preestabelecido. É muito mais cômodo você seguir o preestabelecido do que procurar a individualidade do livre arbítrio. A sociedade de consumo nos impõe a competição e o individualismo, ao mesmo tempo em que prega a padronização do comportamento. Temos que ser fortes o tempo todo, os mais belos e perfeitos, os mais eficientes em todas as áreas. Desta forma porque me preocupar com o fraco que está choramingando ao meu lado? Sou o mais forte! Porque partilhar minha dor com o colega? Não problemas em minha vida! Quando há esta partilha costuma ser por parte de pessoas que maximizam sua dor por simples carência. Talvez Jesus compreendesse os robôs e, com o seu supremo amor, lhes conferisse a tarefa digna de serem suportes do crescimento humano. Crescimento este que ele preconizou em toda sua passagem pela terra.
ResponderExcluir