A dinâmica evidenciada no parágrafo acima se mostra tão perversa a ponto de transformar toda a comemoração em algo meramente comercial, e se o princípio regulador será o comércio, nada melhor que transformar o "objeto homenageado" como mercadoria, que é geralmente o que é feito. Percebe-se dessa forma a completa degradação tanto do valor da comemoração quanto do próprio mecanismo social.
Neste sentido, tudo pode ser transformado em mera mercadoria de consumo. Esta apropriação tanto social quando midiática foi muito bem ilustrada por Marx e vários outros depois dele, é algo que até hoje merece nosso questionamento.
A dinamica relacional também se mostra deturpada nesta relacão criada pelos meios de comunicação. Em uma sociedade em grande medida narcísica, o outro enquanto alguém diferente de mim tende a ser visto como mera projeção minha. A dinamica do Eu-Tu tão bem ilustrada por Feuerbach perde lugar para a relação Eu-Isso tão bem ilustrada por Martin Buber. Neste dia 08 de março todas estas relações aparecem de forma muito escancarada e apenas quem não tem olhos para ver que não veem.
Feuerbach muito bem nos mostrou e nesta linha também seguiu Buber que o Tu sempre se coloca ao Eu como limite. Na presença do Tu eu me vejo como ser finito, como ser incompleto e ao mesmo tempo como um ser-diferente-do-outro. O Tu portanto se mostra como necessário para me ver como indivíduo. Se não houvesse o Tu, todas os outros seriam como que "iguais" a mim e eu mesmo não me diferenciaria de ninguém. Por isso que a relação Eu-Tu se mostra como paradigma da relação do indivíduo com o mundo.
A relação Eu-Isso evidenciada por Martin Bubber evidencia que ao estabelecer a relação com o Isso não há um envolvimento de caráter pessoal. O "Isso" é apenas um objeto para mim e dessa forma toda relação se pauta apenas na necessidade imediata com determinado objeto. Ele é algo a ser apenas "estudado", com o qual eu não me relaciono humanamente, mas apenas como objeto de conhecimento, uma relação onde o caráter humano, o caráter de encontro se perdeu.
A Mulher, homenageada hoje, tida como o Tu essencial, da qual todos os outros homens dependem é vista no resto do ano como um "Isso", como mero troféu por parte da mídia, como enfeites nos programas de auditórios. Há algo que se perde nessa dinamica, e é exatamente o caráter personalíssimo do indivíduo, e neste caso específico, da mulher.
Diante dessa degradação, o Tu sendo transformado em um Isso não há como esperar uma relação diferente da comercial em dias de comemoração como pretendem fazer hoje. E esta dinamica voltará a acontecer no dia das mães, dos pais, natal, etc..
Muito poderia ser dito, mostrar como que esta crise da identidade carente de um Tu influencia em nossos relacionamentos líquidos de hoje, para usar a expressão do Zygmunt Baumann, mas por hora fiquemos por aqui...
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