A teologia negativa, ou teologia apofática é um campo da teologia iniciado por Dionísio Pseudo-Areopagita que afirmava que sobre Deus não haveria discurso possível, ou seja, sobre Deus não há nada que possa ser dito, e para tentar explicar isso a filosofia medieval cunhou o termo que ficou conhecido como "Via Remotionis".
A
via remotionis é o modo de falar negativamente a respeito de Deus o
que difere do conceito de negação. A função da negação é
excluir determinado objeto de um campo predicativo podendo com isso
definir determinada coisa a partir do que ela não é. A diferença
entre a negação e a via remotionis é ilustrada a partir da figura
do escultor que trabalha com um bloco; o trabalho do escultor é
feito de forma a possibilitar que o material trabalhado crie a forma
desejada, e essa forma é dada a princípio, ou seja, toda escultura
é em si uma imitação de um objeto. O que há ali é a "remoção" daquilo que não é a escultura e ao remover o que sobra da pedra algo ali vai se delimitando.
A música, por exemplo, não pode
ser esculpida por não ter uma forma que se adeqüe a um bloco de
mármore . A função da via remotionis é mostrar que nada pode ser
dito a respeito de Deus. A via remotionis mostra que não existe
campos predicativos aos quais Deus e seus atributos se encaixem. Se
tentamos colocar Deus dentro de campos predicativos através de
negações sucessivas o que se segue é o esgotamento de todos os
campos predicativos inteiros. Falar de um objeto, é colocá-lo
dentro de um campo predicativo. Com Deus isso é impossível. E é
exatamente isso que a via remotionis vem mostrar.
Deus não é um
objeto dizível, e por isso qualquer tentativa de explicação Dele
deve obrigatoriamente levar ao silêncio, pois podemos falar de
objetos que estão no mesmo plano do dizível, e dentro de um campo
de predicação, e Deus não está neste plano e nem em nenhum outro
pois está acima de todas as coisas e por isso o dizível não se
aplica a Ele. Portanto, assim como para esculpir algo, o escultor
precisa de um objeto a ser imitado, para falarmos algo a respeito de
alguma coisa, precisamos ter um campo de predicação desse objeto
que lhe seja pertinente. Deus não está em nenhum campo de
predicação, por isso assim como uma música não pode ser esculpida
em um bloco de mármore, não podemos falar nada a respeito de Deus
pois Deus não é um objeto dizível.
A mesma ideia de uma teologia apofática é evidenciada muitos séculos depois na proposta de Wittgenstein em seu famoso "Tractatus logico-philosophicus" que se encerra com as palavras: "Sobre o que não se pode falar, deve-se calar", ou seja, a via proposta por Wittgenstein acaba por se resumir ao silêncio sobre o místico, incluindo aí a figura de Deus. Na mesma esteira podemos também colocar o pensamento de Mariah Corbi em que o que restaria a respeito de um discurso sobre Deus seria apenas o silêncio. A teologia apofática também é bastante comum nos textos de teólogos ortodoxos advindos do antigo império bizantino tais como Nikolai Berdiaev e mais recentemente Mikhaill Epstein e sua proposta de Religião mínima.
A teologia apofática até hoje continua inspirando diversos autores e a sua fecundidade aponta para os limites da nossa linguagem ao tentar dizer algo sobre Deus. Nessa impossibilidade se evidencia a possibilidade de uma mística e de uma postura diferente em relação a isso que chamamos Deus que estaria para além de toda predicação.
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