domingo, 20 de junho de 2010

coisas ditas, agora escritas...








"Nisso saberão que sois meus discípulos, se amardes uns aos outros" Jo 13:35

"Aquele que diz que está nele, esse deve andar como Ele andou" I Jo 2:6

"Não há amor maior que este, o dar a vida em favor dos seus amigos" Joao 15:13




É, nem sempre as coisas saem como pensamos...

Me pergunto o que poderia ter faltado.

O que foi que faltou para que a mensagem continuasse a ser dita? O que faltou para que todos ouvissem as palavras que trariam vida?

Penso e vejo que faltou o mais importante. Faltou o amor. Faltou o cerne da proposta.

Faltou o que deveria haver em primeiro lugar, que deveria ser a base de tudo o que seria feito em nome da proposta.

A proposta em si foi feita baseado nele. Afinal, lá está escrito que ele mesmo é o amor. E por que na hora de falar dele falta-nos exatamente o que ele é?

Que tipo de discurso sobre algo pode sair se falta a essencia desse algo sobre que falo?

Talvez seja por isso que a nossa fala está tão desacreditada até por nós mesmos.
Falta o algo sobre o que se fala.

Queremos falar de Deus, mas ele há muito se foi dos nossos discursos. O que restou foi apenas mais uma palavra que, no nosso tempo, significa muito pouco, ou qualquer coisa que eu queira que ela signifique.

Faz-se discursos sobre Deus, em nome dele, dizem que Ele fará isso ou aquilo, que Ele é isso ou aquilo, mas estamos cada vez mais longe Dele.

E isso por que ?

Porque faltou o que ele é em nosso discurso.
Faltou o amor em nossas ações. Sobram palavras e faltam ações. Falta um amor em prática, uma fé legítima, com obras, sem demagogias, sem frases prontas.

Falta essa dimensão da fé tão falada nos textos bíblicos mas esquecidos por nós, esquecidos por vários até hoje.

Enquanto isso a pergunta do jovem rico permanece e as fórmulas para atingir o suposto prêmio continuam a se propagar.

O que fazer para herdar a vida eterna ? pergunta o jovem rico. E até hoje perguntam-se aos pastores, aos líderes despreparados a mesma coisa. Nas discussões entre nós sempre alguém pergunta se fazer isso ou aquilo é pecado, se devemos ou não fazer algo... Essa necessidade normativa tão arraigada em nossa consciencia protestante.

A liberdade que insistimos em não ter.

Queremos sempre as regras, queremos saber o caminho, queremos ter "certeza da salvação", "certeza que estamos no caminho", queremos alguém que nos diga o que fazer, mas nós mesmos o queremos para alcançar a suposta vida eterna.

Não estamos muito diferente do jovem rico.

Não estamos dispostos a "ir, dá tudo aos pobres e segui" em liberdade a proposta .

Proposta esta muito simples, e se resume em "ir, dá tudo aos pobres e segui", não notamos que já nessa atitude já estamos seguindo, já estamos tomados pelo amor exigido para que se siga.

O Deus que exige o amor, ao amarmos já estamos nele. Esquecemos dessa dimensão tão nobre e tão simples que é a do evangelho vivido.

"aquele que ama, o amor do pai está nele" já nos dizia joão. Mas não queremos a simplicidade das coisas. Queremos as formulações, queremos as justificativas mesmo que infundadas.

Ah , isso nos conforta. É melhor habitarmos o discurso do que vivermos no mundo, para o mundo.
Como Nietzsche já nos dizia, é contrasensso abandonar esta vida em prol de uma outra. Esta vida é o que temos. Mas preferimos as leituras apressadas de Paulo, e lemos a vida como "refugo", nada além disso.

O que resta para nós? apenas vasos ocos, querendo converter os povos ao nosso discurso, sem se preocupar, ou se preocuparmos, isso o fazemos de forma opaca, com qualquer um que não habita conosco um mesmo discurso.

Partimos do pressposto que, se ele não diz o mesmo discurso que o nosso, então a primeira coisa que devemos fazer não é amá-lo, mas sim, fazê-lo adotra outro discurso e só então amá-lo.

E se não é desse primeiro jeito, acaba que o amamos apenas para que ele adote o nosso discurso.

Parece que não há mais lugar para o amor gratuito, onde nada mais importe. Onde os mundos habitados não importam.

O que nos une não é o discurso, mas o fato de sermos todos filhos do mesmo pai, apenas o vemos de forma diferente. Mas isso é inconcebível, isso é humanismo, isso é ecumenismo que não deve ter lugar no nosso meio.

Preferimos ao invés disso ficar com nosso discurso, ficar com nossa separação entre impios e não impios, entre santos e pecadores e enquanto isso, o mundo jaz no maligno.

Mas como consequencia e não como causa. O mundo jaz no maligno porque o homem o fez assim e não o contrário, i.e, o homem é assim porque o mundo jaz no maligno.
Inversão por conforto esse adotado por vários evangélicos que acreditam que mudarão o mundo quando ensinar a todos a repetir o que eles falam.

Pensam que somente quando todos repetirem a mesma coisa, todos tomarem a bíblia como palavra de Deus, todos chamarem Deus pelo mesmo nome então o mundo será mudado.

Ilusão daqueles que habitam tal discurso oco. Sem amor gratuito, daqueles que precisam fechar os olhos para encontrar com Deus, daqueles que só conseguem louvar de olhos fechados, daqueles que são cegos para o próximo que várias vezes ao seu lado sofre, ilusão fundada na idéia de que o relacionamento com Deus se dá apenas na vertical, que tudo que não passa pela verticalidade é digno de repulsa, ou digno de menor importância.

Ilusão confortante, afinal, se o que importa é o vertical, me verticalizo, fecho os olhos, levanto as mãos para os céus e nada mais importa...

Ah se eles abrissem os olhos e vissem que nada além é pedido deles , como diria já Miquéias: "que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a e andes humildemente com o teu Deus?" Um

Um evangelho simples, social, que se preocupa com o mundo, que tem preocupação em trazer o reino de Deus à terra, um evangelho que ama o mundo por demais pra deixá-lo a mercê dos vermes.

Ah se eles vissem...
Então veriam que o começo e o fim de tudo é o mesmo, e é ele o amor.

"Nisso saberão que sois meus discípulos, se amardes uns aos outros"
"Aquele que diz que está nele, esse deve andar como Ele andou"
"Não há amor maior que este, o dar a vida em favor dos seus amigos"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Flowers. Little things







Uma flor bela é bela independente do jardim onde ela está plantada.


Digo isso porque geralmente queremos que todas as flores belas estejam apenas em nosso jardim


Ficamos por vezes chateados quando algumas belas flores não estão onde gostaríamos que elas estivessem.


Mas se pensarmos bem, o simples fato da flor existir já é em si um grande milagre,


o fato de ser bela, outro


o fato de ser bela e estar em nosso jardim, por que não considerar um milagre maior?


E o fato de podermos ver tal flor, sentir seu cheiro, ouvir sua melodia que emana de si sem fazer barulho, muito pelo contrário...


Melodia que se faz com silêncio...


Por que não considerar isso um milagre também ?


Excesso de coincidências?


Sorte ?


É bom ver as flores desabrochando, rindo para nós


É bom ter seu perfume enchendo o ambiente, suas pétalas exalando beleza,


Mesmo não estando mais em nosso jardim. Mesmo estando agora em lugar algum.


Utopia por excelência.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Simples e-mail







Oi! como vai ? Tudo bem?


Quanto tempo não conversamos. Quanto tempo não te mando um email.

Quanto tempo você não me manda um email.

Como estão as coisas contigo? Conseguiu resolver os problemas recentes que há algum tempo atrás tinha me comentado?


Queria ter te mandado um email há algum tempo atrás mas sei lá porque esqueci.

Estou com saudade de você. Queria te ver novamente e poder conversar sobre pequenos assuntos que sempre vinham à tona quando estávamos juntos.


Sabe como é né, essa vida corrida, os excessos de afazeres tanto do seu lado quanto do meu que nunca arrumamos tempo para essas pequenas coisas que dão sentido à vida.


Enquanto isso a vida passa, os momentos felizes se tornam mais ausentes que presentes, e quando vemos já se passaram meses, as vezes anos que não nos vemos mais.


E alguns ainda dizem que a felicidade é algo difícil de ser alcançada.


Sempre a achei tão simples, tão presente em coisas aparentemente efêmeras. Mas acho que nós não compreendemos isso, e ficamos procurando por ela na realização de grandes coisas. Coisas do tipo quando fizer tal ou tal coisa, finalmente serei feliz. Ou, quando sair deste emprego, daí todas as coisas serão melhores... sei lá, estas coisas sem sentido que fazemos todos os dias e insistimos em chamar de vida.


A gente poderia marcar algo depois. Sair pra algum lugar, comer alguma coisa bacana, jogar algumas palavras fora, rir um pouco da vida, rir um pouco de nós mesmos, contar as novidades, as desventuras, as aventuras, qualquer coisa.


O que acha? Qualquer coisa me ligue, a gente marca alguma coisa, ou talvez me mande um email, quem sabe algo nesse sentido acontece ?


Seria bom nos encontrarmos em meio a este vasto mundo que nos separou, mas pode nos unir novamente.


Ilusões e mais ilusões...


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Poderia ficar ali a tarde inteira




Poderia ficar ali a tarde inteira. Apenas observando o tempo, sentindo o vento, apreciando a vista.
Poderia ficar ali a tarde inteira. Pensando na vida, pensando nas pessoas, pensando em você, pensando em mim.


Ah tempo que insiste em passar tão rápido, tempo que nos deixa fazer tão pouco.
Saibamos contar os nossos dias para que alcancemos corações sábios já dizia a palavra.

Sobre o que não se pode falar, sobre isso deve-se calar.

Wittgenstein termina seu tractatus dessa forma.
Dizendo tudo e ao mesmo tempo não falando do que mais importa.
Sobre isso é o que não dá pra falar. Resta um silêncio esclarecido, uma sensação de ter contemplado o sentido, ter contemplado a diferença das coisas.
O véu de maia desvelado, o terceiro olho aberto, a voz vinda do alto sendo ouvida.
Pena que sobre estas coisas, nada pode ser dito. Resta apenas o silêncio.

Tudo isso pensava enquanto tomava uma coca-cola.
Apenas ela em cima da mesa, uma árvore que se inclina à minha frente, pessoas conversando sobre assuntos diversos, que eu não escutava.
Ao meu redor, diante de tanto barulho só ouvia o silêncio arrebatador daquela vista.

E o que tinha de especial nela?

Nada. Absolutamente nada. Aquela vista, já a tinha visto várias vezes. Talvez hoje os meus olhos estejam diferentes, e se eles estão diferentes, logo tudo está diferente.

Os olhos são a luz do corpo, se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo será luminoso, mas se forem maus, oh que grandes trevas serão.
Ainda me encontro absorto por aquela vista, talvez fique a tarde inteira assim.
Sentimento de que tudo o que importa estava ali, diante dos meus olhos, mas ao mesmo tempo, oculto aos mesmos.

Poderia ficar ali a tarde inteira. Apenas observando o tempo, sentindo o vento, apreciando a vista.
Poderia ficar ali a tarde inteira. Pensando na vida, pensando nas pessoas, pensando em você, pensando em mim.

Nostalgias








Insisto em fingir que nada aconteceu, que nada ainda acontece. Afinal, para mim, de fato nada aconteceu, para mim nada mudou. Tudo continua a mesma coisa, a mesma simplicidade, a mesma maratona de todo dia, os mesmos casos, os mesmos assuntos. Tudo a mesma coisa.


Mesmo parecendo que tudo mudou, digo que de minha parte, tudo permanece o mesmo. Parece, na maioria das vezes, que para você tudo mudou. Nada mais é o que era, nada mais precisa ser o que era. É como se seu lado esquerdo tivesse desaparecido, como se faltasse um número de 1 a 10. Um silêncio mórbido, uma frieza como há anos não via. Me faz lembrar de mim mesmo, talvez seja isso o que mais incomoda. Novamente o gelo na frente do espelho...


Isso já me incomodou demais, muito mesmo. Passei vários minutos me perguntando onde tive a culpa, onde dei os passos errados, onde a beleza deixou de existir. Passei momentos ponderando e cheguei a algumas conclusões que só parecem fazer sentido para os outros. Afinal, para mim, não o faz, e acho que nunca fará. Mas hoje sei onde parece que errei, onde as visões de mundo interferiram, onde as especulações não foram bem compreendidas.

Hoje já estou mais tranquilo. Tento compreender tudo como uma fase, como órbitas planetárias ao redor de estrelas. Hora longe, hora perto.


Procuro compreender, acho que estou conseguindo. Mas ainda assim confesso que às vezes bate um sentimento de nostalgia, bate uma vontade de gritar, fazer algo para além do muro para que minha voz seja ouvida, para que minha preocupação seja entendida novamente como gesto gratuito.


Não sei porque insisto em escrever sobre esse tipo de coisa. Talvez porque queira que algo subsista, talvez porque queira que algo ainda haja para além do ambiente gélido. Talvez porque tenha esperança que um vento da manhã bata, e da mesma forma que ele trouxe refrigério um dia, ele traga novamente um passado não muito distante.


Creio que o passado voltará, o passado será o futuro, esperança um pouco louca, mas não tão insana. Sem mais gênios da lâmpada, mas apenas companheiros de jornadas, amigos que se calam, amigos que riem...


Esperança pelo passado nos trabalhos futuros...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

poema dos 27 anos...







Vai tempo...

Leva consigo as lembranças e traga novas experiências.

Me conduza para lugares que ainda não frequentei, me leve a casas onde não entrei para ver flores que ainda não vi, pra sentir odores que ainda não senti...

Leve-me para longe, mas mantendo sempre perto o que mais importa.

Vá tempo, siga seu curso...

Nada podemos fazer pra te fazer parar, nada que façamos te fará agir de forma diferente.

Ah como gostaria de não ter que vê-lo passar assim tão rápido, gostaria que caminhasse mais devagar, que não tivesse tanta pressa, que não quisesse sempre está a frente de todos. Mas feliz ou infelizmente você é assim.

Espero sinceramente estar fazendo bom uso de você.

Então vá,

E enquanto vai, vou junto contigo tentando aprender o máximo que puder enquanto passa,

Enquanto passo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sejamos Homo Ludens






Foi-me feita uma pergunta sobre o que eu achava que Jesus quis dizer quando diz que "Se não vos tornardes como crianças, não podereis ver o reino dos céus".


Transcrevo a resposta que acabou virando texto...


Penso que ele quis dizer tanta coisa.
As crianças tem algo muito interessante que é o fato delas brincarem. As crianças brincam.

Elas tem consciência da precariedade da brincadeira. Quando elas vão brincar por exemplo de polícia e ladrão, elas armam o cenário, brincam, morrem, nascem de novo etc.

Quando o jogo perde a graça, o divertimento vai embora, elas simplesmente brincam de outra coisa. Desfazem o mundo criado por elas.

Nos adultos, isso não acontece, nossas brincadeiras se tornam sérias demais, não aceitamos que brincamos de bancário, funcionário público, programador... Não. A realidade é assim, nossa brincadeira se transforma naquilo que somos.


Brincamos e esquecemos que brincamos, e passamos a levar a coisa a sério demais. Nos identificamos com nossas brincadeiras e não vemos mais a precariedade delas.


Aquilo que é precário assume um status ontológico, não é mais um jogo, mas se tornou algo que "tem que ser assim", algo que não pode ser de outra forma. É claro que aí, o prazer já se foi há muito tempo, só restou a "frieza" da "realidade".


Algo muito parecido é o que Freud fala a respeito do princípio de prazer e o princípio de realidade. Esquecemos do prazer, dos desejos que nos movem, e ficamos apenas tentando nos "ajustar" à realidade que nos cerca e acaba por se impor.

E por que então não desfazemos o cenário que criamos? Por que não resolvemos brincar de outra coisa?

Porque achamos que isso não é possível, achamos que a coisa "tem que ser" da forma que é.
Esquecemos que fomos nós que, em algum momento, criamos esse mundo da forma que ele é, nós criamos esse cenário, senão nós, alguém antes de nós. Mas não podemos esquecer que ele foi criado pelo homem, e portanto pode ser desfeito pelo próprio homem. Não há um caráter ontológico na estrutura das coisas, elas são o que são porque o homem fez as coisas dessa forma. Se ele fizer de uma forma diferente, então a estrutura será diferente.

Penso que essa idéia é o que possibilita encararmos a religião como "constructo" e não apenas como "efeito" das coisas. Ela não é uma superestrutura advinda de uma infraestrutura econômica como queria postular Marx, ela é fruto do desejo do homem, e se aceitamos que o homem é um ser de desejo (como queria Freud), vemos que a religião se coloca como expressão do desejo humano, expresão do que há de mais belo nele.


Se entendermos que a realidade, tal como conhecemos, é construída por nós, veremos que o resgate da religião como expressão do humano se mostra como uma possível forma de transformar o mundo em um lugar novamente de prazer, onde o "brincar" novamente se fará notório. Seremos adultos que brincam, homo ludens como queria o Huzinga.


Acho que a frase de Jesus aponta nessa direção. Devemos perceber que, se o mundo é injusto, corrupto, etc, é porque o homem em algum momento o fez dessa forma, e, da mesma forma como ele construiu um mundo "jaz no maligno", cabe a esse homem também abandonar tal "jogo" e começar a construir o reino de deus.
Sejamos homo ludens. Pessoas que brincam.

Penso que esta é uma das coisas que Jesus quis nos ensinar quando disse "Se não vos tornardes como crianças, não podereis entrar no reino dos céus".