sábado, 22 de setembro de 2012

Trocas...




As vezes o amor é demais
O cuidado é demais
A imporancia é demais..
Os outros nos amam tanto
Se importam tanto que até nos constrange
Pessoas nos querem tão bem
Nos querem tão felizes
Seus parentes nos amam tanto
Os amigos dos amigos nos admiram tanto,
Tudo tem tudo para estar perfeito
Os bons momentos são maioria
Temos algo bom, significativo, saudável, diferente do comum
Amamos e somos amados

Mas por algum motivo

Queremos pessoas que não nos amem tanto
Queremos pessoas que querem apenas nos usar como objetos
Queremos estar juntos de pessoas que não se importam
Queremos relações fúteis com pessoas que achamos próximas
Queremos relações utilitárias ao invés de significativas
Queremos os "iguais" a nós, mesmo sabendo que crescemos mais com os diferentes
Mesmo sabendo que não há ninguém igual a nós mesmos
Queremos o sujo, o podre, o vil,
Preferimos o descaso, o abandono, a marginalização em nome de "autenticidade"
Preferimos o caos, a desordem, o vazio

Por que ?  Talvez nunca saberemos o que desencadeia esta troca a não ser olhando caso por caso e dificilmente encontraremos um padrão ao fazer esta análise. Enquanto isso vamos torcendo para que nestas trocas ainda assim consigamos nos manter inteiros para lidar com as adversidades advindas delas...



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Desabafo sincero a um não-eu




Se eu eu fosse você não iria por este caminho,
Não trocaria o certo pelo duvidoso por mais atrativo que ele parecesse
Não enveredaria por sendas tão obscuras apenas pelas promessas radiantes
Não tentaria resolver um problema criando vários outros. 

Se eu fosse você procuraria encontrar a paz no silencio e não no agito
Olharia para dentro de mim com sinceridade procurando minhas motivações mais secretas
Deixaria que a dor me apunhalasse de uma vez só, mas pelas minhas próprias mãos 
Viveria uma vida serena, mas plenamente feliz.

Talvez por tanto te amar escrevo este pequeno desabafo
Sabendo que talvez nunca será lido por você que não sou eu
Queria poder resolver todos os seus problemas para que você ficasse em paz
Mas infelizmente alguns problemas só quem os sofre pode resolver

Mas você não sou eu
E por não ser eu, devo te respeitar como outro
Um outro que decide, que arrisca, que tenta viver de forma diferente
Um outro que eu nunca conhecerei totalmente, mas amarei incondicionalmente

Dessa forma, 

O que posso oferecer é um ouvido atento
Um olhar atencioso
Uma boca com palavras suaves
Mãos que abraçam e confortam
E um ombro para se apoiar...

Pois quem encontra um amigo encontra um tesouro,
E onde está o nosso tesouro aí está o nosso coração
Dessa forma, eu estarei contigo por onde quer que fores !







domingo, 5 de agosto de 2012

Enquanto leio Levinas penso algumas coisas esparsas





Ame o próximo como a ti mesmo é a palavra do evangelho, no entanto não ame o próximo como se ele fosse você mesmo. O outro é um diferente em relação a ti. Ele está completamente distante de você para que você o ame como você ama você mesmo. Ele não pode ser compreendido por você, entendido por você, acessado por você em sua totalidade. Ele pode ser amado por você, mas sempre enquanto um outro a quem nós nunca temos acesso a não ser por uma ação ética. A ação ética por excelencia se vinculará no amor com o qual eu o amarei como amo a mim mesmo, mas sempre entendendo que ele é diferente de mim.

Amar o próximo com a mim mesmo é compreender que da mesma forma que estou disposto a fazer tudo para que a minha vida seja bela, estou disposto a fazer isso pelo outro. Eu o amo como um diferente, mas que por ser diferente se mostra como alguém que merece uma relação não utilitária, uma entrega total diante da aleridade. Essa alteridade que é completamente diferente de mim será o paradigma de toda a minha relação com o mundo, afinal todo o mundo é um outro em relação a mim. Não posso tentar fazer os diversos outros serem "meus", como algo a ser compreendido, como se todo o mundo fosse um grande objeto diante de um sujeito.

A distancia infinita entre eu e o outro só pode ser desfeita a partir de uma ação ética, i.e, a partir do amor que me move em direção ao outro tentando vê-lo como a um "igual", mas nunca como um "mesmo". Apenas a partir da assimilação desta alteridade radical que sou capaz de entrar em relação com este outro e só assim sou capaz de sair da condição egoísta de tentar fazer tudo em relação apenas a mim mesmo. O outro se mostra como convite a sair de mim, como convite a hospitalidade, i.e, o acolher o outro em sua diferença tendo-o sempre como alguém a quem este acolhimento é devido.

Só a partir desta assimilação da alteridade radical que serei capaz de amar o próximo com a mim mesmo sem me amar no outro. A ética então não se baseia em um "imperativo da razão", nem mesmo se volta apenas para o indivíduo como alguém que busca o "meio-termo" diante das situações que o cercam, mas se baseia na figura do outro que enquanto outro sempre clama pela hospitalidade. Este clamor, se entendido por mim, me leva a acolher o outro e assim entrar em uma relação com ele apesar da distancia infinita que nos separa...

Tal proposta soa muito estranha na pós-modernidade onde há um culto à individualidade e o incentivo às relações apenas utilitárias, mas acredito que tal proposta seja digna de ser pensada por nós e se constitui como um grande desafio em nosso tempo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Da exclusão à estrutura - Olhar crítico







E então, finalizando um processo que perdura por mais ou menos 4 anos, finalmente a igreja Betania de Venda Nova me excluiu do rol de membros daquela instituição. O Motivo alegado foi o pior possível, ou seja, infrequencia. Como se realmente expulsassem todos os infrequentes daquela institiuição, como se realmente a infrequencia fosse um motivo para tirar qualquer pessoa de uma instituição que se diz igreja. Claro que ao colocar o motivo da exclusão como "infrequencia" a instituição se livra da responsabilidade de ser "aquela que exclui" e joga toda a responsabilidade para o membro (afinal, ele que deixou de frequentar os cultos) evidenciando assim toda uma dinamica reperssora por parte da instituição.

Não estou chateado, não estou surpreso, nem muito menos espantado com a notícia, só achei que os motivos seriam explicitados corretamente. Qualquer pessoa que me conhece sabe que há muito tempo várias restrições à minha pessoa foram sendo impostas pela instituição Betania; desde de proibições de lecionar na escola dominical (na época me acharam como que "defensor" do hinduísmo), reuniões do conselho da igreja onde propuseram explicitamente minha exclusão alegando dentre outras coisas que eu estava sendo mau exemplo para os outros jovens da igreja, ou nas palavras de um dos membros presentes, que eu "havia sido uma benção, mas agora não era mais", reuniões com o atual pastor presidente que tacidamente disse que não queria ver-me lá a não ser como visitante, e se caso eu quisesse participar de qualquer atividade da instituição eu estava proibido de antemão, dentre outras coisas.

Seria muito mais honesto por parte da instituição Betania de Venda Nova se expusessem como o motivo da exclusão um destes episódios, sei lá, daria mais credibilidade ao conselho em questão pois daria um ar de conselho que "enfrenta os problemas de frente".

Isso se olharmos a coisa na esfera do micro, agora se olharmos o quadro grande, o que perceberemos é nada mais nada menos que uma dinamica empresarial, onde o membro (entenda-se funcionário) deve prestar serviços (geralmente voluntários) de forma a poder se manter dentro do quadro institucional, do contrário, ele será demitido (entenda-se excluído) do quadro da empresa.

A dinamica é bem simples se olhada do ponto de vista empresarial, mas como sabemos, a instituição igreja não aceita ser chamada de empresa, ela advoga pra si o status de "casa de Deus", ou "templo do Senhor" ou qualquer coisa que possa ser transposta para uma dinamica metafísica onde os líderes possam ter suas ações legitimadas por meio de orientações divinas, ou momentos de oração, revelações, ou qualquer tipo de "ajuda externa". Tal legitimação requerida pela instituição igreja se torna paradoxal, uma vez que o suposto legitimador da decisão (no caso, o Deus cristão que se revela para nós na pessoa do Cristo) deixou de antemão uma proposta que desaconselha tal prática, e para isso não faltam textos bíblicos que propõem o amor ao próximo, o cuidado para com os membros, a idéia de corpo, culminando na definição de Deus como um Deus de amor e não "Deus de milagres" como alguns insistem em afirmar por aquelas bandas de lá.

Se a exclusão de um membro se torna uma prática legitimada pelo Deus que "proibe" tal prática, tem-se um grande problema da legitimidade da ação, o que a meu ver leva a instituição a decidir-se por outro legitimador, que nesse caso deveria ser o próprio conselho da igreja, ou seus líderes e nesse caso cai-se de novo na dinamica empresarial evidenciada mais acima, onde o membro é apenas um funcionário (voluntário, friso novamente) que está passível de ser demitido caso cause muitos problemas à diretoria, ou caso seja "infrequente" ao "serviço". É interessante notar que em várias igrejas o membro é entendido como "obreiro" (claro que "a obra" nunca será a instituição, mas é vendida a idéia de "obra enquanto reino" e o obreiro não é obreiro da instituição, mas sim do reino, reino este entendido como "metas da instituição" legitimadas sob a égide divina).

Geralmente a diretoria da igreja prefere não ser a legitimadora de suas próprias decisões, afinal desde Adão a transferência de responsabilidade é uma prática comum àqueles que "vivem perto de Deus e com Ele conversam no Jardim" (traduzida hoje como instituição igreja) que dessa forma atribuem ao jejum e oração a causa do modus operandi da ação, que sempre é feita como sendo orientada por Deus e quanto a isso os exemplos em diversas instituições se repetem ad nauseaum...

Curiosamente, a prática da exclusão de membros que nem deveria fazer parte do repertório da igreja cristã é uma prática mais que comum e disso não faltam exemplos desde os nossos irmãos católicos até nossos irmãos protestantes que em vários setores deixaram de ser protestantes há algum tempo e passaram a ser apenas "evangélicos", ou seja, anunciam a boa nova (não tão boa assim hoje em dia) entendida atualmente como prosperidade financeira, "agir do espírito", etc. É óbvio que aqui não pretendo colocar todos os setores evangélicos no mesmo bojo e falar que são todos iguais, isso seria um contrassenso terrível, mas é algo visível que os grupos que se mostram mais preocupados com o ensino do texto bíblico, uma reflexão crítica da sociedade contemporanea se tornaram "outsiders" e estão longe de ser maioria. O senso do IBGE mostrou (embora um pouco questionável o método de pesquisa) que as igrejas neo-pentecostais são as que mais crescem hoje no Brasil, enquanto as igrejas ditas históricas mesmo tendo um pequeno crescimento no último ano, ainda estão bem atrás das "irmãs" neo-pentecostais.

Claro que o crescimento das igrejas históricas nos revelam talvez uma espécie de "saturação" do evangelho vendido atualmente associada a isso toda a dinamica do consumismo fruto da dinamica do capital onde tudo é adquirido de forma quase que instantanea, bastando para isso "ter fé". Desta forma, fé e capital se unem tendo Deus como legitimador do status quo e o fiel como aquele que deve consumir o melhor desta terra. (este tópico é interessante e talvez seja objeto de outro texto aqui no blog)

A meu ver, se uma igreja considera a proposta de excluir um membro, por qualquer motivo que seja, já evidencia o quão distante ela está da proposta cristã de "amai-vos uns aos outros", "suportai uns aos outros" e muito mais próximas da dinamica do "tirai dentre vós, o iníquo" (ou no caso, o infrequente, o problemático, o polemico, etc.) ICor: 5,13 que só faz sentido se dermos primazia à instituição e não ao membro. Prefere-se "passar de largo" como o judeu e o levita na parábola do bom samaritano do que parar e perguntar o que se passa com o membro, o porque ele está infrequente, o que o assola, etc. Enfim, ser igreja para o membro.

Mas o que torna tal dinamica possível e até mesmo necessária para a manutenção da instituição? A meu ver tal possibilidade só é viável quando a instituição é pensada como empresa e neste caso a ela se aplicará toda a dinâmica do capital que rege as empresas, isto é, o mais importante é o "bom funcionamento" da instituição, é saber se ela está dando lucro ou não, se os "clientes" estão satisfeitos ou não, tanto que não é raro vermos os líderes sendo "cobrados" por resultados, números de membros, receita que entra, que sai da instituição, enfim, o domínio implacável da dinamica capitalista, onde o trabalhador (neste caso o membro) é um mero meio para os objetivos da instituição. A desumanização passa a fazer parte desta dinamica e se torna o motor do status quo institucional que não medirá esforços para cumprir as "metas" propostas. Aliada a isso surge a legitimação metafísica que tenta fazer com que tudo o que acontece visando a dinamica do capital seja colocada sob a fórmula "é a vontade de Deus" tornando Deus o Grande Capitalista detentor de todo ouro e toda a prata e com isso o medidor de quão "abençoada" é a igreja será sempre o quantitativo quer monetário, quer de "sócios" filiados à determinada instituição.

E o que acontece quando de dentro da instituição surgem os que não se conformam com tal dinamica? Que questionam a teologia adotada? Que propõem mudanças estruturais ao invés de meros reparos estéticos? Que evidenciam a filiação da instituição com a dinamica do capital? Que propõem reflexões críticas visando mudar o status quo? O que deve ser feito com eles?

A meu ver a instituição deveria apoiar estes questionamentos, incentivar uma reflexão crítica, incentivar o repensar da fé que tem a característica de ser sempre viva e nunca estanque, que é fruto do espírito (que sopra como vento, isto é, sem forma, livre) e nunca petrificada, mas não é isto o que acontece, ao invés disso prefere-se condenar ao ostracismo quem se coloca como protestante tentando com isso limitar o campo da crítica para que ela não alcance outros e venham com isso a se levantar contra o status quo. Daí talvez vermos hoje uma igreja que na maioria das vezes não consegue traduzir as boas novas para o mundo contemporâneo e se vê fechada dentro de formulações que não dizem nada para um sociedade em constante mudança. E como não ver nesta rigidez institucional e na falta de credibilidade assumida pela instituição o grande número de "sem-igreja" que vemos hoje.


Diante disso vejo que a minha exclusão era apenas uma questão de tempo e a meu ver ela já deveria ter sido tomada há mais tempo, mas excluir um membro por contestações teológicas, institucionais, etc. soa muito mal para uma igreja evangélica, então é melhor que ele seja expulso por infrequência, assim a instituição se mantém "imaculada" e o membro como aquele que se desviou do caminho.

Eu, no entanto, sigo caminhando, e enquanto caminho penso e repenso o próprio caminho para que possa  andar por ele em paz.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Teologia da prosperidade e Espiritismo - Tentativa de uma sociologia da religião





 "Acho bastante estranho o interesse midiático atual pela doutrina espírita...Gostaria de saber quais as razões desse fenômeno novo." (pergunta me feita via facebook)

"Conforme novo censo do IBGE, o Brasil com 3,8 milhões de espíritas é o país mais espírita do mundo" (retirado do site da IHU )



Religião e mídia sempre caminharam juntas desde que a mídia é mídia. Qualquer evento religioso que é coberto pela mídia é motivo de comentários de todos os lados, uns para criticar e exigir (mesmo que colocando de forma estranha a questão) o estado laico, outros vendo como "mover de Deus" o fato da religião (e neste caso, a evangélica) estar ganhando espaço em um terreno que antes não tinha tanto espaço assim. 

Curiosamente, o meio evangelico tem ganhado espaço midiático principalmente na rede globo que tem todo um histórico de ser "contra" os evangélicos e fazia questão de ridiculariza-los em várias novelas, mas atualmente promove shows com cantores evangélicos e os patrocina em vários casos, nao me estranharia se dentro em breve a globo tivesse um programa evangelico nas madrugadas como a band, record, etc. Acredito que no caso especifico da mídia a questão seja meramente economica. Obviamente se perdia uma enorme fatia do mercado fonográfico e audiovisual ao deixar de lado a "religião que mais cresce no Brasil". Tal fatia do mercado tem que ser contemplada para que gere mais capital. E aqui vemos como que a questão religiosa é usada pelos interesses do capital.

Em relação ao espiritisimo, a globo sempre enfatizou a doutrina espirita em várias novelas, tipo "a viagem", "renascer", e tantas outras.. corria-se o boato de que tal enfoque espírita seria porque a família Marinho era espírita e por isso via nas novelas uma forma de propagar a doutrina espírita, o que no caso da globo, fazia isso ridicularizando as outras religiões em várias ocasiões. 

O fenomeno desse novo "boom espiritualista" (e aqui estaria no mesmo bojo o espiritismo e o meio evangélico)  pode ser remetido, a meu ver, ao período pós-guerra e o nascer do existencialismo. Como a ciencia com seus ideias positivista não foi capaz de "resolver" os problemas mais urgentes do ser humano, o vazio que a ciencia preencheria voltou a clamar por preenchimento, nessa esteira vemos o "renascer" de uma espiritualidade um tanto fragilizada (pois surge de uma tentativa de resposta imediata a um problema que não aceita tal tipo de resposta"), tanto que é nesta precisa época que surge o movimento neo-pentecostal em meados dos anos 70 como tentativa de lidar com essa "carencia" gerada por esse não-lugar. 

Claro que a forma como isto foi feito não foi a melhor e isso vemos até hoje. A forma "imediatista" de lidar com o problema gera uma teologia também imediatista que em nada resolve a questão, e aqui falo da teologia da prosperidade com toda a sua "gangue" de defensores. Vemos um "perpetuar" de uma espiritualidade vazia, um sincretismo que procura "aganrinhar" todo tipo de pessoa a partir da assimilação das várias religiões brasileiras, afros e etc. Talvez daí podemos perceber também um ressurgimento da busca pelas culturas afrodescendentes tais como o candomblé, umbanda, etc. Afinal, venhamos e convenhamos que se for pra tomar um banho de arruda é melhor que se tome no centro de umbanda que dentro de uma campanha da IURD. Pra que procuraremos na cópia o que se pode ter acesso no original? 

Claro que esta questão tem vários outros panoramas possíveis, mas acredito que no caso específico do meio protestante a coisa tenha caminhado por aí, e no caso do espiritismo a coisa teria a sua raiz também nesse espaço vazio deixado pela ciencia, só que no caso específico do espiritismo (onde a ciencia tem um papel maior) houve uma tentativa de se ligar a uma espiritualidade, mas sem se desvencilhar dos ideias positivistas da época de Augusto Comte e Alan Kardec, este a meu ver aliou um platonismo/órfismo a um positivismo e com isso surgiu o espiritismo que tem a grande vantagem de oferecer ao "homo cientificus" um contato com a espiritualidade sem abrir mão da "empiricidade".

Claro que o ideal espírita desta "empiricidade" é fonte de vários questionamentos e isso desde o início do século XX quando se tentava "provar" a existencia o Ectoplasma. Após a análise de Wittgenstein que propõe uma "separação" entre o discurso científico e do religioso tal foco espírita do início do século XX soa um pouco estranho a nós, embora a doutrina espírita no campo da práxis se mostra muito atuante ainda hoje em dia. Claro que há uma preocupação legítima por parte do espiritismo em continuar "dando razões da fé" que professam e isso a meu ver é muito vantajoso, agora no caso de uma "religião cientfíca" como pretendia Kardec, isso eu acho um pouco complicado de acontecer, afinal, como já nos mostrou Wittgenstein os campos e os discursos falam de coisas diferentes, e a experiencia religiosa não seria capaz de ser colocada em palavras e "sobre o que não se pode falar, sobre isso, deve-se calar" como diria o filósofo no final do Tractatus. 


Vemos que a teologia da prosperidade e em parte o espiritismo visam preencher a lacuna deixada pelo discurso científico em um mundo pós-guerra. Pelo lado evangélico vemos este lidar de uma forma muito estranha e pouco profícua que acaba culminando em uma teologia da prosperidade com suas "respostas imediatas", mas que não respondem à pergunta geradora da atual crise da espiritualidade. Do lado do espiritismo vemos a mesma tentativa evangélica, no entanto focando em um "conciliar" entre religião e ciencia na sede de encontrar uma "religião-científica" que responda às necessidades do "homo científicus", no entanto sem dar conta de tal empreitada. 


A pergunta pelo sentido da vida, do mundo, continua e cada dia mais a religião precisa ser repensada para que possa continuar tendo significado no mundo pós-moderno.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Experiências celestiais



"A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça e a sua direita me abrace." Cantares 8,6

Um abraço pode ser muito mais que um simples gesto entre duas pessoas.
Ele diz muitas coisas sobre ambos.

A entrega dos abraços é algo tão bonito que chega ser necessário não pensar sobre ela.
Tem pessoas que dão abraços tão carinhosos, tão sublimes que o outro se sente ao mesmo tempo protegido e protetor.

Hoje recebi um abraço desse tipo. Era um abraço ao mesmo tempo tão simples, imprevisto, não planejado, que simplesmente aconteceu onde geralmente não ocorrem abraços.

Era um abraço tão carinhoso, tão honesto, tão bonito, que de tamanha beleza me fez querer continuar naquele momento eterno onde nada além do gesto importava.

Era um abraço de quem se entregava, mas ao mesmo tempo de alguém que me dizia ter um pedaço de mim, e que por isso eu poderia sempre contar com ele não importasse a situação.

Era um abraço firme, mas tenro. Forte, mas leve. Simples, mas carregado de sentido. Era um abraço como poucos.

Até eu que não sei abraçar tão belamente fui embriagado com o gesto tão puro expressado ali, antes da hora de ir embora pra casa. Abracei da mesma forma; como quem se entregava também, como alguém que confiava também, como alguém que precisava de apoio também, e lá ficamos por poucos segundos, sem palavras, sem sorrisos, olhos fechados, mas sentindo confortados por braços pequenos, mas que traziam uma mensagem muito grande.

O abraço durou poucos segundos, mas o gesto se constituiu como símbolo de algo que tende a durar pra sempre.

Experiencia celestial por excelencia por trazer a eternidade ao tempo presente.

E com esse abraço fiquei até agora.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Processo descritivo - 29 anos





Fabiano Veliq
1,70 m
                                   29 anos
67 kg
                                                    homem
casado
                                          dois irmaos
                           graduado em filosofia


mestre em filosofia da religiao

especialista em teologia sistematica

filósofo
                                                                                  
                                                                                      protestante
                 atleticano
                                                                                                                       vários contatos
                                         

                                              poucos amigos
                                         branco
                                                                                                             olhos claros
                             cabelos lisos
                                                                                  

                                                                    gosto musical variado
apreciador de diálogos

sarcástico
                                                                                                              estudioso
                         ironico
                                                                                                                                    pouco comunicativo
                                             crítico

               
                                    leitor de filosofia/teologia/psicanalise/fisica/poesia



admirador de estrelas, buracos negros, galáxias

                                simpatizante das coisas simples, mas nao das simplórias

questionador 
                                                                                     polemico
                apreciador do silencio
                                                                                                         indiferente com várias coisas
leitor da bíblia

                               admirador da religiao independente da forma como se manifesta

feliz na maior parte do tempo
                                                                                       chato em várias ocasioes

trabalhador
                                                  
                                            

um homem comum