quinta-feira, 11 de abril de 2013

Um vazio ...







E como representar o vazio? Nele cabe todas as coisas, mas o que nos mostra é tudo o que nele não há. Talvez esta seja uma boa analogia do nosso homem contemporâneo. Sempre impelido a ser alguém de sucesso, a ter as coisas a ser autêntico. Tudo isso para esconder talvez este vazio que o habita e que a cada dia mais vem à tona. Tentativa desesperada de encontrar amparo no trabalho, no lazer, nas tarefas diárias, afinal quanto mais se mantiver ocupado menos tempo sobrará para tentar lidar com a tela em branco. Nesse sentido faz coisas. Coisas sem sentido para ele, coisas que são meramente meio para outro fim uma vez que o fim último se foi. Nenhum télos, nenhuma referência. Nada pelo qual possa lutar a não ser manter a sua própria existência vazia. 

Um homem atormentado por dentro e por fora, mas sem escape definitivo, afinal quando se perde o norte é difícil dizer para onde se segue. É um homem "desbussolado" para usar a expressão do Lipovétsky. Nada o atrai, mas ao mesmo tempo tudo o que é novo é passível de ser exposto na tela em branco. A adesão ao novo aparece como oásis em meio ao deserto de sentido. Sem nada além dos objetivos imediatos para lutar o novo sempre se faz necessário e dessa forma  paradoxalmente tudo o atrai. Daí talvez a adesão maciça diante de qualquer "movimento". Quer seja a favor da maconha, causa LGBT, feminismo, etc tudo servindo a propósitos, sonhos provisórios facilmente realizáveis e da mesma forma facilmente substituídos por outros assim que aqueles se tornarem "velhos". 

Tal vazio se manifesta em praticamente todas as áreas da vida do nosso homem contemporâneo. Os relacionamentos não escapam disso. Diante da constante necessidade do novo para preencher o vazio que o assola e o faz cair em um dinâmica altamente narcísica o encontro com o outro também se torna desnecessário, ou se necessário, apenas como instrumento para se obter algo. Nenhum compromisso mais sólido, nenhuma "aderência" às relações. Todas elas podem ser facilmente descartadas à medida que não suprem mais a demanda. A tensa dinâmica que envolve se relacionar de fato com o outro é facilmente rechaçada pois este outro se torna "algo a mais a se preocupar" e ao mesmo tempo é fator de "privação do gozo". Gozo este buscado avidamente em todas as situações, de forma que se torna praticamente impraticável sofrer por algo. Ao invés do sofrimento busca-se outras formas de gozo, pois sofrer é perder tempo na dinâmica atual.  É facilmente visto como que a lógica do acúmulo se apropria até mesmo dos relacionamentos. Esse outro não-necessário apenas faz com que o sujeito se volte cada vez mais para si tornando a coisa um grande ciclo. Toda dimensão do outro é suprimida, engolida pelo Eu de forma que no final aparece apenas Narciso com todo seu esplendor. 

E assim nosso homem contemporâneo segue, se enchendo de coisas sem se preencher de sentido.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Περὶ Ἑρμηνείας*

Republicado pois o Blogger apagou tal texto.


http://www.gocomics.com/peanuts/2011/10/02/

Aprendamos com Linus, para que quando formos falar de algo bíblico, não usemos textos isolados na tentativa de fundamentar nossas convicções. A idéia de Lutero de "Sola Scriptura" não significa "sola mea scriptura".

* Περὶ Ἑρμηνείας,(Peri hermeneias) significa "da interpretação" título de uma maravilhosa obra de Aristóteles. E ao contrário do que talvez gostaria Ricouer, não pressupõe a existência de um "espírito" a ser encontrado no texto durante o trabalho de interpretação.




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Postado por fabiano veliq no Veliq Fil em 10/02/2011 07:44:00 AM

sábado, 30 de março de 2013

Feliz Páscoa



A páscoa é talvez a data mais importante para o Cristianismo, afinal ela celebra a ressurreição de Cristo que possibilitou a salvação de todo aquele que crê. A páscoa é uma das festas judaicas assimiladas pelo Cristianismo. Em meio a toda a dinâmica atual do consumo que faz da páscoa apenas uma data comercial no intuito de vender ovos de chocolate acho importante relembrar o real sentido e origem desta festa. 

Como a maioria deve saber, a prática de dar ovos de presente é bastante antiga e antigamente as pessoas se presenteavam com ovos pintados, ovos de ouro, etc, até que com os espanhóis na América maia/asteca desenvolveu-se a prática de fazer ovos de chocolate para presentear uns aos outros. No entanto, a páscoa não tem nada a ver com ovos, mas tem a ver com a história, a escravidão, a libertação.

A páscoa judaica celebra a saída do povo do Egito liderados por Moisés descrito no livro do Êxodo. A páscoa celebra esta memória. 

Enquanto o povo estava preso no Egito, Deus enviou as 10 pragas. Moisés havia falado ao povo de Israel para que aos 10 dias daquele mês o povo tomasse um cordeiro e o reservarssem para que no décimo quarto dia eles o  sacrificassem e o comessem.

Depois de comido o cordeiro, o sangue dele deveria ser aspergido na porta. O cordeiro deveria ser comido com ervas amargas e pães ázimos. Naquela noite aconteceria a última praga que seria a morte de todos os primogênitos, cuja casa não estivesse com o sangue de um cordeiro na porta. O povo de Israel fez conforme a ordenação dada por Moisés, e na noite em que o "anjo da morte" passou sobre o Egito, toda casa que tinha o sangue na porta foi poupada, enquanto a casa dos egípcios que não tinham colocado o sangue na porta teve o primogênito morto. Após este ocorrido o Faraó libertou o povo que andou pelo deserto até à terra prometida. Deus ordenou ao povo que isso fosse sempre lembrado, como "estatuto perpétuo" para lembrar ao povo da libertação que Deus lhes proporcionou naquele dia. O pão ázimo lembra o sofrimento enquanto o cordeiro lembra a salvação. 



A páscoa cristã é entendida como sinal da redenção que Deus deu aos cristãos. Na páscoa, celebramos a ressurreição de Jesus que, com isso, redime o homem do pecado, dando a este a possibilidade de se achegar a Deus de forma direta, sem intermédiarios.
Assim como o cordeiro era imolado na páscoa judaica e comido com ervas amargas (como lembrança ao povo de Israel sobre o tempo que passou no Egito como escravo), o cordeiro de Deus foi morto em meio a sofrimento, para libertar os homens do pecado. Cristo, ao se sacrificar por todos, apagou essa exigência da imolação de um animal para que o pecado fosse perdoado. Se antes, para todo pecado cometido era preciso que um animal fosse sacrificado, Cristo substitui a necessidade deste sacrifício se colocando como cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo por meio de seu sacrifício (Jo 1:29). Sacrifício último, vicário, uma vez que é o próprio Deus que morre para que tenhamos vida. Com o sacrifício de Jesus, temos acesso direto ao pai.
Depois de três dias, Cristo ressuscita dentre os mortos, vencendo a morte e possibilitando a todos a esperança da ressurreição no último dia. A ressurreição é celebrada porque é por meio dela que a salvação é possível. Nas palavras de Paulo, "E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé." (1 Coríntios - 15:14). A ressurreição de Cristo nos marca profundamente. Ela então está no centro da pregação cristã e por isso celebramos a páscoa. A liberdade dada ao povo no Egito é levada às últimas conseqüencias pelo Cristo que nos liberta para vivermos uma vida em abundancia.
Celebremos, pois, esta dada, e lembremo-nos de seu real significado: a ressurreição de Cristo e o amor de Deus pelos homens.
Feliz páscoa!

Não se deprima. Não se deprima...







Minha mãe, sempre que conversamos sobre tempos já idos, me diz que eu gostava muito dos "Menudos" quando era pequeno. Que gostava de dançar as músicas, principalmente aquela "Não se reprima". Para os mais saudosos, ela pode ser vista aqui.

Com certeza, no contexto da época, a música dos Menudos fazia todo sentido, afinal, os anos 80 foram marcantes para toda uma geração ávida por mudanças tanto estéticas,  culturais, etc. Nutrindo-se ainda das "revoluções" dos anos 60 e 70, os anos 80 ainda gritava por liberdade de expressão, liberdade corporal, etc. Isto tudo evidenciado de forma bem interessante pelos meninos porto-riquenhos dos Menudos. Essa busca frenética por uma identidade própria é algo que vemos crescendo e ainda hoje não podemos dizer que este fenômeno tenha acabado.

Gilles Lipovetsky, um filósofo francês, traz boas reflexões sobre como o culto ao individualismo promove atualmente várias mudanças de comportamento, dentre outras coisas.
A grosso modo, a proposta de Lipovetsky nos aponta que, o individualismo contemporâneo contribuiu e muito para o enfraquecimento das estruturas que mediavam a relação homem-mundo, tais como a religião, a moral, etc. Este enfraquecimentos faz com que o acesso do homem à "realidade" agora se dê de uma forma "direta", (A relação direta proposta por Lipovetsky é diferente da proposta de Dewey  pra quem o homem nunca teria um acesso direto à realidade, mas sempre mediada por algum tipo de visão de mundo, etc. Não cabe aqui apontar as diferenças entre ambos, mas cabe ressaltar que Lipovetsky pensa esta "relação direta" como acesso-não-mediado-por-estruturas, típicas de uma cultura individualista e não como acesso sujeito-objeto que seria mais próximo a Dewey.)  e isso aliado ao exacerbado individualismo constituído a partir do final do século XIX e todo o século XX, ajudaria o homem a desenvolver várias das chamadas "doenças psi", ou seja, a bulimia, anorexia, os aumentos dos casos de depressão, distúrbios de personalidade, etc.

Na análise dele, o fato deste homem precisar lidar de forma "direta" com esta realidade que o cerca faz com que ele em algum momento não consiga se manter unido em sua estrutura psíquica, e isto seria um dos principais agravantes do aumento das chamadas "doenças psi". É como se o "excesso de liberdade" almejado tivesse um preço muito caro que é pago pelo indivíduo de forma não pouco dolorosa.

Infelizmente não dá para desenvolver aqui a relação que Lipovetsky desenvolve a respeito da cultura do individualismo, e como isso agravaria o advento destas novas doenças, e até que medida as próprias estruturas são "reconfiguradas" para atender à lógica individualista. Para quem tiver interesse no assunto, recomendo a leitura as obras "A era do Vazio", "Hipermodernos" onde Lipovetsky aponta estas relações de forma mais detalhadas.

Obviamente que não há aqui nenhum tipo de saudosismo por parte de Lipovetsky em relação aos tempos idos. O que ele procura ressaltar é como que se pode estabelecer uma relação interessante entre o individualismo contemporâneo e o agravamento das "doenças psi".

O mundo hoje é um pouco diferente do mundo da década de 80 quando os Menudos fizeram sucesso. A repressão hoje ainda existe é claro, mas ela se dá de forma bem mais "sorrateira" que nos anos 60 ou 70. Pelo menos no Brasil, ninguém vai ser preço se criticar os militares, a Dilma, ou qualquer outro governante brasileiro. Em grande parte, a liberdade de expressão hoje é algo bastante difundido, e as redes sociais provam isto de forma bem nítida. As diversas campanhas no Twitter, Facebook contra Renan Calheiros, Marco Feliciano, liberação da maconha, dentre outras inúmeras, mostram que a repressão mudou seu "modus operandi".

Curiosamente a própria configuração atual que gera as novas "doenças psi" oferece os "remédios" para que o indivíduo se cure. Isto pode ser comprovado se observarmos como que hoje em dia é frenética a procura por "se estar bem". Práticas como acunpuntura, Yoga, Shiatsu, comer bem, praticar exercícios, tudo isto é enfatizado para que o indivíduo consiga "resolver" os problemas e não sucumba à depressão, bulimia, etc.

Dada a atual conjuntura brevemente exposta aqui a partir de algumas análises de Lipovetsky, acredito que para que os Menudos conseguissem fazer sucesso hoje, talvez ao invés de "não se repima, eles deveriam cantar "não se deprima".

segunda-feira, 25 de março de 2013

Galo 103 , e 105 anos




(Novamente o Blogger apagou meu post. Este texto escrevi em 25/03/2011 e agora republico)


Puro amor!
Só entende quem já provou,
Só compreensível aos corações apaixonados.
Inexplicável.

Somos chamados de loucos pois nosso amor cresce apesar das circunstâncias desfavoráveis;
Amor desinteressado,
Tudo suporta, tudo espera, tudo acredita...

Sentimento oceânico quando te vemos entrar em campo, sentimento de identificação
Sentimento que transcende as palavras, nos abre para a dimensão do amor.
Amor desinteressado,
Tudo suporta, tudo espera, tudo acredita...

Galo ! Uma vez até morrer.

Até que a minha morte nos separe!
Afinal, Tu não morrerás jamais!

Galo não é time, Galo é religião !!!

Ave Galo!!!!

Respostas?




Quem não procura por elas? Quem não gostaria de saber exatamente cada resposta a cada pergunta? Desde as mais simples às mais complexas. Se não quiser dominar todas elas, pelo menos saber por qual caminho percorrer para encontrá-las, afinal acredito que se já soubéssemos todas as respostas para tudo o tempo todo a vida seria extremamente sem graça e sem sentido. Mas ao mesmo tempo, se soubéssemos onde pudéssemos encontrar cada resposta a cada pergunta, bastando para isso um pouco de esforço de nossa parte, acredito que muita gente ficaria extremamente feliz com a possibilidade e não cessaria a cada vez que um novo problema surgisse.

Talvez esta idéia tenha sido o grande propulsor da ciência no século XVII, XVIII e XIX onde a promessa de que um método seria capaz de resolver todos os problemas encantavam vários estudiosos desta época. A noção de que se usássemos nossa razão da forma correta descobriríamos todos os segredos do universo, de nós mesmos, etc. Uma supervalorização da racionalidade que várias vezes ainda vemos hoje em dia ser ingenuamente usada em vários tipos de discursos. Um iluminismo que levou o homem à escuridão. Uma promessa que não se cumpriu, enfim o desejo das respostas definitivas não foi suprido.

Outras pessoas costumam falar que Deus tem as respostas para os nossos problemas. Se não para todos, pelo menos para a maioria. Este grupo de pessoas afirma que Deus teria um "propósito" em cada coisa que Ele faz, como se tudo estivesse já arquitetado em sua mente e que mesmo se não entendemos, podemos confiar que tudo está no controle Dele. Esse Deus teria as respostas, e quando quiséssemos saber algo sobre nossa vida, sobre o que nos sucede, basta perguntarmos a Ele que Ele nos responderá.

Curiosamente o Deus cristão se afasta um pouco desse Deus "estigmatizado" acima. Se pegarmos vários relatos bíblicos vemos que Deus quase nunca responde às perguntas da forma como se espera que um Deus responda. Se tomarmos o exemplo de Jó que quando pergunta a Deus o motivo de sua miséria recebe como resposta diversas outras perguntas temos uma prova disso que estou falando. O exemplo de Jesus na cruz também ilustra o ponto aqui. Ao clamar "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste", o que ele obtém é nada além de um silêncio que em nada o responde. O mesmo exemplo de Jó se aplicaria ao Eclesiastes que termina o seu livro sem nenhuma resposta, apenas uma constatação de uma esperança a ser buscada nesta vida. Mas claro que vemos algumas passagens onde Deus responde de forma mais "direta", como por exemplo no caso de Gideão e sua prova com o cobertor de lã, ou Abraão conversando com Deus sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. Curiosamente a maioria destas "respostas diretas" de Deus se encontram no Antigo Testamento, muito provavelmente pela visão que se tinha de Deus naquela época. No Novo Testamento não temos relatos destas "respostas diretas", exceto talvez no caso de Paulo no caminho de Damasco.

Curiosamente o Bhagavad Gita mostra um outro tipo de Deus. Arjuna quando se coloca no meio da batalha e fica em dúvida se deve ou não matar seus parentes pede ajuda a Shiva e lhe pergunta sobre o que deveria fazer, e Shiva lhe responde exatamente o que ele gostaria de saber, lhe informando o caminho para a iluminação e dando diretrizes sobre o que deve ser feito em relação a batalha. A resposta de Shiva compreende basicamente todo o Bhagavad Gita. Obviamente as respostas de Shiva se dão várias vezes de forma bastante enigmáticas, mas ainda assim o livro todo se constitui como um diálogo entre Arjuna e Shiva.

Mas o que quero apontar com isso? O simples fato de que as mais diversas formas de construção para dizermos onde encontrar as mais diversas respostas talvez não passem de meras tentativas, algumas frustradas outras nem tanto, dependendo sempre do quão dispostos estamos na procura delas. A tentativa cientificista herdeira do iluminismo ainda está em voga e hoje muito impulsionada pelas pesquisas das neurociências. As respostas de cunho religioso também estão em voga dado uma nova onda espiritualista que se mostra no século XXI com muita força. Será que através de algum destes caminhos encontraremos as tão sonhadas respostas? O homem, definido enquanto "Ser que pergunta", não teria o seu fim se encontrasse todas as respostas?

Como diria o profeta: "O meu justo viverá pela fé", mas o que é a fé senão uma eterna dúvida? E o que é a dúvida senão o formular de mais perguntas?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma reflexão simples para uma noite chuvosa




Acredito que a medida que o tempo vai passando as elaborações vão ganhando mais densidade, mas o grande ganho é quando elas ganham em simplicidade. Uma grande virtude a meu ver é quando alguém consegue expor de forma bastante clara um assunto extremamente complexo. A clareza da exposição demonstra aos ouvintes que aquele que fala sabe sobre o que fala.

Ele não precisa de palavras suntuosas, não precisa ostentar títulos. O conhecimento deste sujeito sobre determinado assunto está sedimentado, está arraigado sobre boas bases e por isso ele é capaz de expor tudo como quem conta uma pequena história a uma criança.

Na minha opinião, o excesso de conhecimento sobre algo sempre deveria levar o sujeito à clareza da exposição. Muito me incomoda pessoas cujo excesso de estudo leva à pedância, ao destrato do outro e demais atitudes tão estranhas. Este tipo de pessoa ganhou em conhecimento, mas ainda não ganhou em sabedoria, e talvez isto seja sempre mais triste.

Um exemplo disto que estou falando pode ser visto na terceira carta de João. Lá ele escreve a Gaio, a quem trata pelo nome de "amado". Escreve uma carta simples, sem formulações teológicas complexas. Pouca coisa na carta nos lembra o João que escreveu os evangelhos, preocupado em demonstrar a unicidade de Jesus para com Deus, preocupado em vincular o Cristo à noção de Logos, etc. A carta é simples, tão simples que João formula um grande princípio de sua primeira carta em poucas linhas. Ele diz a Gaio: "Amado, não sigais o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus." (3João 1:11)

Qualquer pessoa familiarizada com os escritos joaninos percebe nesta formulação simples um grande princípio teológico evidenciado deste o João que andou com Cristo até o João da primeira carta escrita há pouco tempo antes, passando por Tiago, que é o princípio de que o amor sempre se evidencia em uma prática concreta no mundo. (Toda a primeira carta  João enfatiza bastante este ponto, principalmente o capítulo 4)  Ou seja, uma "prova" de que alguém realmente caminharia com o Cristo, ou seguia os passos do Cristo seria a sua atitude para com o mundo. Se ele age bem, ele é de Deus, se faz o mal não tem visto a Deus, mas apenas uma "imagem distorcida" para usar as palavras de Paulo.

A complexidade e a simplicidade todas unidas em uma pequena formulação. Fruto da experiência, da dedicação de João que consegue ver no amor a expressão máxima de todo cristianismo. Que João nos sirva de exemplo, e que possamos ser simples como as pombas.