quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sobre Pinheirinhos



Junto dos rios de babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião.
Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas.
Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião.
Como cantaremos a canção do SENHOR em terra estranha? Salmos 137:1-4

Estranho como vários problemas que acontecem no Brasil e no mundo nao vira alvo da crítica evangélica. O cristianismo que surgiu como forma de protesto, na heranca dos profetas do Antigo Testamento se ve agora do lado dos opressores, se ve do lado de quem detem o poder e por isso, na maioria das vezes se cala ao invés de protestarem. Ao invés de ir a luta tentam entoar canticos enquanto o mundo vai sendo oprimido.

Até no salmista houve mais compaixao quando canta no Salmo 137.

Como entoar canticos em Terra estranha? Como permanecer indiferente diante da opressao que acomete nossos irmãos que sofrem na maos dos opressores? Um protestantismo que não protesta perde a sua função. Se o mundo em que vivemos não aparece a nós como "terra estranha", há algo de errado na forma como nos relacionamos com o mundo.

Os opressores pedem que nos alegremos, os opressores pedem que não alcemos nossas vozes contra o que fazem, e passivamente se aceita isto com muita facilidade dentro da igreja evangélica. Ao invés de encararem os problemas, na maioria das vezes o que se vê é uma afirmação de que "este é o plano de Deus" "Deus tem algo a ensinar", no entanto não é isto que nos demonstra o Salmo citado acima. Os últimos versículos dele afirmam "Ah! filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.
Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras.".


Ao invés de "cobrir as correntes com flores" o salmista faz uma crítica e expressa o desejo de vingança contra os opressores. Um lidar com a ira de forma muito humana (condição esta várias vezes esquecidas pelo meio evangélico), um não negligenciar do desejo de ver o mal sendo vingado. Não há passividade na fala do salmista, aquele que oprime deve ser punido, o opressor não deve viver como se nada acontecesse.


Esta apatia evangélica diante dos problemas do mundo é bastante sintomática, pois demonstra uma visão ainda muito recorrente neste meio da idéia de "peregrino". A noção de que somos "peregrinos em terra estranha" ainda aparece muito forte para vários setores da igreja evangélica. Enquanto peregrino, não se deve preocupar com o que acontece no mundo, afinal, "vós não sois deste mundo". Esta ideologia da indiferença em relação ao mundo está longe de ser a proposta evidenciada pelos profetas do Antigo Testamento, assim como pelo próprio Cristo que sempre se colocou contra toda forma de injustiça social.

O caso de Pinheirinhos deveria mobilizar a igreja evangélica muito mais que os "eventos" promovidos pela rede Globo. Veria-se o "poder de Deus" se o povo que se diz evangélico, agisse como agentes do reino no mundo. O reino de Deus é um reino de paz, justiça e amor, e nós, enquanto humanos aqueles responsáveis por trazer o reino de Deus a terra. Afinal, "vem a nós o vosso reino" evidencia a dinamica do reino que desce e não de um povo que sobe.

Como entoar canticos em uma terra tão estranha? Como falar de "atos profeticos" se negligencia a dinamica dos profetas que tinham como mote de suas falas as críticas à sociedade de sua época, a crítica a opressão, a crítica a supressão dos direitos dos que não tinham parte na terra? Como dizer que se é cristão se o mundo humano não o toca ? Claro que é extremamente mais fácil buscar o sobrenatural a tentar mudar o material. Se a questão é meramente sobrenatural, o principal agente deve ser Deus e a ele cabe a responsabilidade de mudar tudo no tempo dele; agora, se a relação é material, cabe a nós enquanto seres materiais mudarmos o que pudermos mudar; "tirar a pedra" (Jo 11:39) para que algo aconteça.

Pinheirinhos é uma destas pedras que precisam ser removidas, e só será removida se houver o protesto. Protesto este que é o mote do protestantismo. O protestantismo não pode se calar diante do que temos visto e ouvido nestes dias, coisas que não acreditaríamos se nos fossem contadas. A opresão, a injustiça, a sociedade dominada pelas dinamicas do capital, a infração dos direitos humanos, etc, contra tudo isto o protestantismo deveria levantar a sua voz, para que realmente possa ser chamado de protestantismo. Só a partir desta ação efetiva no mundo é que se é capaz de "levar as boas novas".

A ausencia de responsabilidade pelo mundo material acaba por reduzir a nada o campo de atuação do crisianismo no mundo. Enquanto o cristianismo se mantiver apático em relação a questões como Pinheirinhos, os conflitos na áfrica, dentre outros, e ficar pensando apenas na "vida porvir",( incerteza que tenta passar por certeza) muito das críticas de Marx, Nietzsche e Freud se aplicarão a eles.

Só mesmo quando o cristianismo assumir seu papel de agente modificador do mundo, não ideologicamente, mas materialmente será possível ve-lo como um avanço da humanidade e não como ideologia opressora.


domingo, 15 de janeiro de 2012

Quando o amor lhe bater a porta



Quando o amor lhe bater a porta, nao arrume desculpas para nao deixá-lo entrar. Abra as portas, de-lhe lugar, pois verás que a companhia dele fará com que seus dias sejam melhores.

Nao queira que ele vá embora rapidamente, nao o apresse, deixe que fique, que tome residencia, crie morada, seja um hóspede constante. Assim que se tornarem íntimos e olhares para trás, verás que a melhor coisa que fizeste foi te-lo como amigo, foi se fazer íntimo dele, foi ter se aberto a ele.

Quando o amor lhe bater a porta nao se prenda a coisas que passarao rapidamente, tente apreender o que realmente ele lhe traz, as oportnidades que ele lhe apresenta. Perceba que na simplicidade dos gestos muita coisa pode ser dita e um ouvido atento estará pronto para ouvir...

Quando o amor lhe bater a porta, o receba de coracao aberto, sem ressalvas, sem temores, sem expectativas alucinantes, afinal, as vezes ele fará com que todas as expectativas anteriores sejam deixadas de lado em nome da simplicidade que ele lhe apresenta.

"Eis que estou a porta e bato, se ouvires a minha voz, e abrires a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo" Ap. 3:20 - Eis o convite que o amor nos faz. Deixe-o entrar, comam juntos, se tornem amigos, e verás que depois, nunca mais quererá que ele se vá.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz ano novo !



Nietzsche já nos falava há algum tempo atrás do "Eterno retorno do mesmo". Uma idéia bastante interessante muito assimilada desde tempos imemoriais por diversas religiões orientais.

Idéia esta que envolve a existencia de um universo eterno, que não teria um início, nem teria fim, mas seria cíclico. (um retorno aos primeiros pré-socráticos para os quais esta idéia é central)
A idéia de um universo eterno que depois da hipótese do Big Bang ficou tão desacreditada começa a ganhar força novamente dentro do cenário físico com diversos experimentos sendo feitos para tentar mostrar diversas falhas do modelo do Big Bang.
Uma espécie de choque em algumas correntes cristãs que suam até hoje para tentarem conciliar a "existencia do Big Bang com a existencia da criação", afinal, "Deus poderia ter criado tudo a partir do Big Bang" dizem alguns mais liberais.

No entanto, a idéia de um "início" para todas as coisas acaba partindo de um pressuposto de causa não causada, isto é, todas as coisas devem ser causadas por outra, e se assim for, é necessária (e aqui dizemos logicamente) que haja uma causa não causada de todas elas. Uma das 4 causas de Aristóteles que assimilamos tão bem sem nem mesmo saber que a idéia remonta ao estagirita.

Esta idéia de causa não causada foi assimilada pelo cristianismo principalmente por São Tomás de Aquino que definiu tal causa à pessoa de Deus. O primeiro motor aristotélico, se transforma em Deus criador de todas as coisas. A ciclicidade do universo se transforma em linearidade. As coisas antes eternas, precisam de um começo, e assim teorias como o Big Bang tem seu pressuposto fundamentado.

O "eterno retorno" que antes era a "teoria" mais aceita, passa a ser algo completamente marginal para a sociedade ocidental, mas ela permanece sendo defendida por alguns. Com o declínio da religião na época do renascimento, novas formas de ver o mundo vem à tona. A revolução científica do Século XVII dá ao homem novas formas de ver o mundo, para além da física aristotélica e permite a formulação de novas teorias que não mais pautassem na linearidade do estagirita.

Giordano Bruno foi queimado por propor a existencia de mútliplos universos, Galileu teve que se retratar perante a igreja por conta das novas descobertas que iam contra a metafísica aristotélica aceita até o momento... Estas idéias, mesmo que incipientes possibilitam uma espécie de "renascimento" de uma nova forma de ver o mundo.

Após a filosofia de Hegel, sabemos que há um questionamento muito forte sobre Deus. O ateísmo de Feuerbach aparece como explicação "final" para a "crítica da religião" como nos diria Marx. O materialismo ganha força novamente, a explicação das coisas não mais precisam passar por Deus, e ele não precisa existir para que nossas explicações façam sentido. Pode-se (e deve-se) explicar as coisas sem Deus, afinal, a crítica o eliminou das "coisas que podem ser conhecidas". Tendo retornado ao materialismo a idéia de "eterno retorno" aparece de forma muito mais tentadora que a idéia linear baseada em um início inteligente. O materialismo aleatório de Althusser acaba por remeter novamente a Epicuro e a idéia de Clínamem. Um retorno àquilo que era tão caro aos gregos.

Na pós-modernidade, Nietzsche exarceba esta posição tomando a idéia de eterno retorno um ponto alto de sua filosofia. Mesmo que Heidegger tenha visto em Nietzsche um último "defensor" de uma metafísica, podemos ver como que a idéia de eterno retorno do mesmo se vincula a uma visão mais materialista que propriamente "metafísica". (Claro que se fôssemos entrar nesta discussão, o post ficaria enorme).

Mas onde queremos chegar com esta "revisão" na história da filosofia sobre circularidade ou linearidade?

Acredito que para o último dia do ano, a reflexão é bastante importante, afinal, podemos encarar o novo ano como por um viés de "eterno retorno do mesmo" ou em uma espécie de "linearidade".

Para os que veem da primeira forma, o ano novo significa o início de um novo ciclo, uma nova oportunidade para realizar aquilo que ainda não se realizou no ano que passou. Morte e ressurreição. Finda-se o velho, renasce o novo. A esperança que aparece a cada último dia do ano. Sempre há aqueles que veem o eterno retorno como forma de desalento, como mesmice, como indício de que "nada vai mudar", apenas os desespernaçosos são capazes de assimilar a coisa desta forma. O eterno retorno não remete ao tédio, mas sim à esperança.

Para quem ver o ano novo como linearidade, acaba tendo a idéia de que a cada dia que passa estamos mais próximos do fim, mais próximos de "cumprirmos" nosso papel no mundo, e há ainda os que acreditam que o fim terreno levará a uma vida eterna, longe da linearidade, um início sem fim, uma imortalidade.

O ano novo acaba por nos remeter a esta dinamica tão cara a filosofia, tão cara a nós enquanto humanos, mas infelizmente "esquecida" pela dinamica da sociedade atual.

Muitas coisas poderiam ser ditas sobre isto, vários detalhes da história da filosofia caberia aqui, mas se fôssemos fazer isto, teríamos que escrever um livro para mostrar como que a idéia de linearidade e ciclicidade se entrelaçam na história do pensamento ocidental. Talvez este seja um bom projeto para levar a cabo, embora várias coisas já tenham sido escritas sobre o tema, inclusive uma obra muito interessante sobre isto seria o livro do Koyré "Do mundo fechado ao universo infinito". O intuito desta reflexão é apenas nos fazer refletir sobre a forma como vemos o mundo, como vemos a vida para que a partir disso, possamos ser humanos melhores...

Que este texto sirva de reflexão para este novo ano que se inicia...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Pensando em teologia...







"Pelo fato de representar o ente enquanto ente é a metafísica em si a unidade destas duas concepcoes de verdade do ente, no sentido geral e do supremo. De acordo com sua essencia ela é, simultaneamente ontologia no sentido mais restrito e teologia. A essencia ontoteológica da filosofia propriamente dita (prótete philosophia) deve estar, sem dúvida, fundada no modo como lhe chega ao aberto o ón, a saber, enquanto ón. O caráter teológico da ontologia nao reside, assim, no fato de a metafísica grega ter sido assumida mais tarde pela teologia eclesial do cristinaismo e ter sido por ela transformada. O caráter teológico da ontologia se funda, muito antes, na maneira como, desde a antiguidade, o ente chega ao desvelamento enquanto ente. Este desvelamento do ente foi o que propiciou a possiblidade de a teologia cirsta se apoderar da filosofia grega"

Heidegger em seu livro "Que é Metafísica? p. 261


"A metafísica pensa o ente na sua totalidade conforme seu ser, mas pensando este ser, mas pensa este ser platonicamente como idéia, modernamente como representacao de objetos e finalmente como vontade de poder. Assim a metafísica é a doutrina do ser-do-ente (ontologia). Esta ontologia aceita como evidente para o fundamento do ser a presenca constante. O ente pode ser fundado no ser como presenca constante, e por isso, também disponível. mas o ser precisa de fundamento para que possa ser o ser constantmente presente. Assim, a metafísica acaba por procurar aquele ente que de modo especial, preenche a exigencia da presenca constante. Ela encontra esse ente no divino subsistente em si, no denominado “theion”. Com isso, a metafísica nao é só a fundamentacao do ente no ser, mas também fundamentacao do ser no ente supremo, no “theion”, portanto teologia. Justamente porque fundamentada, ela é uma “-logia”.
Assim ela é onto-teo-logia."

Poeggeler sendo citado por Ernildo Stein no livro "O abismo entre Ser e Deus"


sábado, 3 de dezembro de 2011

Sobre Liquidez




Pensando e conversando outro dia sobre as relações afetivas na pós-modernidade, chegamos a afirmar que a própria dinamica afetiva se encontra muito influenciada pelas dinamicas do capital.
Coisas simples que fazemos ou falamos acabam por refletir a "vacuidade" dos nossos relacionamentos que atualmente por qualquer motivo se "desmancham no ar".

Pelo que conversávamos, parece que a própria dinamica do acúmulo é visto nas relações interpessoais.
Várias vezes ouvimos pessoas contando "quantas" ou "quantos" pegaram numa festa ou numa saída. Em uma sociedade regida pelas regras do capitalismo até mesmo os valores e a humanidade do homem são pevertidos pela dinamica do acúmulo. Talvez daí a "descartabilidade" dos nossos relacionamentos tão bem tipificadas na idéia do "pegar alguém". Se a lógica regente é a do acúmulo, quanto mais melhor, logo, quanto mais relacionamentos vazios conseguir durante o ano, melhor, o que não se pode é ficar para trás enquanto todos tem alguém.

A própria idéia do "pegar alguém" já me parece estranha uma vez que a meu ver desumaniza o outro que é transformado apenas em objeto para um prazer imediato, que de vez em quando dura alguns meses, mas não passará disso. A idéia de "pegar alguém" acaba por remeter a ausencia de compromisso, a recusa de laços mais fortes. Prática esta que já deveríamos estar acostumados numa sociedade tão hedonista como a nossa.

Mesmo assim, tal dinamica ainda me parece estranha. Enquanto "se está pegando alguém" a idéia de um compromisso com o outro se insere apenas em um plano estritamente imediato que dura apenas enquanto ambos estão "juntos" (diga-se de passagem, acabo tendendo a acreditar que ambos não estão juntos no sentido strictu da palavra, apenas estão ali no mesmo ambiente, mas falta a cumplicidade, falta o diálogo , falta o acordo que permita que ambos andem e caminhem juntos como bem nos referiu certo boiadeiro nos tempos proféticos). A falta de um interesse em um relacionamento de fato pode ser encarado sob vários aspectos, quer psicológicos, sociais, filosóficos e com certeza este texto não daria conta de transitar por tantas variantes.
Constato um incômodo. Longe de mim querer fazer qualquer apelo a uma sociedade puritana ou retrógrada, não é isto que passa pela cabeça deste que vos fala. Ressalto apenas a vacuidade das relações que várias vezes passa desapercebida pelos participantes.

O "amor sólido" se torna impraticável em uma "sociedade líquida" para usarmos a expressão do Zygmund Bauman que veio a tona enquanto conversávamos. Neste tipo de sociedade não há muito espaço para coisas sólidas, estas são vistas como subversão e não são incentivadas uma vez que acabam se tornando um protesto contra o status quo onde a vacuidade dos relacionamentos prevalece. Nesta sociedade líquida tudo é constantemente reinventado só que sem raízes, sem forma. Nossos quadros de referencia mudam muito rapidamente sem que tenham tempo de solidificar em costumes e hábitos e a mesma dinamica vemos hoje em dia nos relacioamentos que assumem o que o mesmo Bauman chamou de "amor líquido".

Confesso que acho esta vacuidade das relações algo muito estranho, talvez devido a minha criação, talvez ao meu jeito de ver o mundo, não sei, mas acredito que alguma coisa do que disse aqui faz sentido e merece ser pensado com certa urgencia para que não tornemos os humanos tão descartáveis como temos tornado as coisas, e não invertamos a lógica agostiana que já nos dizia que devemos amar as pessoas e usar as coisas e não amar as coisas e usar as pessoas.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre antropologia teológica

O lava-pés de Leszek Forczek





Lauda entregue ao professor da matéria de Antropologia teológica que pediu para que avaliássemos o conteúdo da aula.

Como a proposta é fazer uma reflexão livre sobre a temática abordada, vai como se segue.
A princípio achei bastante interessante a temática da antropologia teológica e os pontos de partida para se pensar o problema.
Diante do exposto em aula, várias coisas podem ser pensadas e refletidas.

O pressuposto que se partiu na aula foi a de que o ser humano seria necessariamente criado por Deus, e qualquer outra visão que saísse deste ponto de vista acabaria sendo pensado como que “fugindo” do escopo da antropologia teológica para se cair em uma espécie de antropologia filosófica.
No entanto, entendo que não necessariamente seja preciso partir deste pressuposto para que a proposta continue sendo teológica.
Claro que para isso teríamos que repensar toda a questão do como entendemos Deus para a partir daí podermos dar um novo lugar para a antropologia teológica.

É um debate recorrente na teologia atual a questão entre Deus enquanto Ser (Ens realissimun) e Deus enquanto um sentido para a existencia, evidenciado principalmente a partir do existencialismo e que não pode ser descartada como forma de pensar o problema.


A partir do debate recorrente da teologia citado, a proposta para se pensar a antropologia teológica se abre a uma nova perspectiva. O pressuposto de um ser criado por Deus talvez não seja tão necessário assim para que se possa ainda assim fazer teologia, e pensar o homem teologicamente. Este é um problema que seria interessante ser pensado na antropologia teológica, e acredito que não seja um “pressuposto inegociável” a alternativa adotada no desenvolver da matéria até o momento, a saber, a existencia do ser criado por Deus.

A princípio penso ser interessante abordar a questão do ponto de vista estritamente cristão a respeito da antropologia. Tal recorte epistemológico pode ser um importante recurso pedagógico, embora espere que tal recorte não seja visto como único possível para se fazer antropologia teológica, uma vez que podemos ter outras teologias que não necessariamente a cristã e outras "antropologias" que não necessariamente as ocidentais.

Sobre os 3 pontos necessários ao homem para desenvolver uma antropologia teológica e para se relacionar com Deus apresentados na aula, ou seja, o relacionamento, a liberdade e a finitude, acredito que apenas o primeiro seria passível de uma demonstração a partir do pressuposto que se partiu.

O ser humano seria aquele que foi criado por Deus e anseia por voltar a Ele, ou nas palavras do bispo de Hipona no primeiro livro das Confissões: “porque tu nos fizeste para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em ti”. Neste sentido, o ser humano é um ser em constante busca de um relacionamento com Deus uma vez que perdeu tal relacionamento na queda. Tal carência de relacionamento com Deus fica evidente e é inerente ao homem caído. Embora seja problemático postular a relação com Deus tomando apenas como "ser transcendente".
No entanto, os outros dois pressupostos, a liberdade e a finitude, fica extremamente difícil de serem justificados.

Sobre a questão da liberdade a primeira dificuldade encontrada seria um outro pressuposto que é o da onisciencia de Deus. Mesmo Agostinho tendo dado passos importantes na resolução do problema a partir da noção do tempo, a liberdade do homem em relação ao seu “destino final” ainda fica em aberto tanto no caso de Agostinho quanto na abordagem dada na aula. A liberdade se torna algo restrito ao campo da atuação “terrena”, mas pouco efetiva do ponto de vista “sobrenatural”, o que torna esta liberdade um problema a ser tratado.
A liberdade vista enquanto “submissão à vontade de Deus” também seria algo complicado uma vez que como Feuerbach bem nos salientou “um ser sem vontade seria um ser sem existencia”, e o homem, ao ter de abrir mão de sua vontade para se submeter à vontade de Deus teria que abrir mão de sua existencia, e da sua humanidade.
Curiosamente tal negação da vontade em nome da vontade de Deus é algo extremamente incentivado em várias igrejas evangélicas nos dias atuais. Um problema da sociologia da religião que carece ser mais discutido.
O problema da finitude a meu ver também se torna bastante complicado adotando-se o pressuposto evidenciado na aula. A questão da finitude é encarada de forma meramente instrumental. Se postulamos que existe uma alma no homem que é eterna, ou uma consciencia que seria para além do homem, a finitude fica extremamente mitigada e não encarada de frente. Se o ser continua após o perecimento do corpo (como desejaria Platão) sob uma forma diferente, então a finitude não se apresentaria como problema uma vez que o homem seria “infinito”.

O problema da finitude fica restrito ao aspecto corporal, e como o corpo não é o mais importante para a visão cristã ortodoxa (novamente sob pressupostos platonicos), a finitude não se coloca como problema uma vez que se tem a noção de vida eterna, da continuação da vida, ou da consciencia.
Feuerbach muito bem enfatizou este problema e mostrou que a doutrina da vida eterna seria uma tentativa do homem lidar com esta finitude, mesmo que dessa forma crie uma fantasia de que continuará vivendo após sua morte. Na mesma esteira Freud mostrou que o desejo de eternidade se vincularia ao desejo infantil de onipotencia e dessa forma é algo a ser superado pelo homem e não deve portanto ser a forma de lidar com o problema.
A nosso ver, ou se aceita a doutrina da vida eterna, ou se aceita a finitude humana. Ambas são inconciliáveis.
Estes são alguns apontamentos que faria sobre a aula sempre no interesse de que isso gere um diálogo interessante do ponto de vista teológico e ciente que várias questões apresentadas aqui merecem diálogos talvez intermináveis.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Email enviado ao sindicato durante negociação salarial




Depois de passeatas e mais passeatas, em 10 de julho o sindicato envia um email falando que seria melhor aceitar a proposta da empresa, em resposta, escrevi este email que segue abaixo



11 de Julho de 2011

No final então, muito barulho por nada.

Deveríamos termos sido mais honestos e aceitado a proposta de uma vez assim que ela foi feita. Tudo acaba por se esvair em mais 2 anos. Se a empresa não incluiria mais nada, e quanto a isso não faríamos nada, pq então nao aceitamos isso na semana passada?

Novamente, o sindicato se mostrou sem força para negociação. O discurso do sindicato não deveria ser o da resignação, afinal, o próprio lema do sindicato é "um sindicato de luta". Percebemos que esta luta não acontece de forma efetiva. E isto apenas corrobora o que a maioria diz do sindicato, que está mais "patronal" que pelo proletariado.

Toda a luta, as paralisações, quer do atendimento da GECOP que parou várias vezes na íntegra, quer do CCO que comprou a briga tb vai por água abaixo sem contar os demais setores da empresa que também se dispuseram a lutar. Aparentemente todos já sabiam que assim que ameaçassem cortar os benefícios o movimento acabaria. Aparentemente sempre foi assim, e não parece que mudará durante muito tempo. Quando finalmente o "arrocho" reincidira sobre a gerencia e a supervisão - uma vez que o corte dos benefícios se aplicam a todos os empregados- o movimento é dissolvido. Se nem nós mesmos nos valorizamos e estamos dispostos a enfrentar as sanções que nos são impostas, quem dirá a prefeitura que em nada é afetada pelo nosso movimento que se mostrou vazio e sem sentido? Por isso que cada ano que passa, o sindicato se torna mais desacreditado por parte dos funcionários.

Aceitemos então a suposta "desumanização" - que foi a palavra muito usada em vários discursos durante as paralisações - que nos é imposta mais uma vez, e aceitemos os benefícios, novamente como moeda de troca.
E tudo continua na mesma. Pra que ir pra porta da Nossa Sra de Fátima se a idéia do movimento já se perdeu? Qual o sentido de ir lá ouvir que em nada progredimos e ouvir o próprio sindicato falar que é melhor se render do que enfrentar sanções??

Este email que vc me mandou é um atestado de óbito do movimento, então neste sentido, não tem porque manter os aparelhos ligados.
Fico triste com a situação, mas tenho que concordar com a maioria ao afirmar que o sindicato não tem força pra lutar. O discurso que "o sindicato somos todos nós" realmente é verídico, mas se votamos por uma representação, ela tem que ser feita com pulso forte, e não se eximir de se posicionar quando chamada. Tal falta de posicionamento é visto no discurso que se esconde por trás da fala "o sindicato somos todos nós", afinal, por trás dele está toda uma dinâmica que não quer ser responsabilizada pela perda. Afinal é muito simples atribuir a culpa da falha do movimento à falta da participação de vários empregados, no entanto, há de ressaltar que se não há a participação dos empregados que se sentem desumanizados é porque eles não veem que aquele que os representaria comprou a briga.

Se a liderança do movimento é fraca, o que vai restar é o proletariado desanimado de reinvidicar seus direitos. Há de se responsabilizar sim o sindicato, e não imputar esta culpa ao proletariado. Claro que se não há a representação de forma efetiva é porque provavelmente o sindicato não vê a causa como sua. Isto é visível. E se o problema não é encarado como sendo meu, não tem porque lutar. É indiferente, e percebe-se claramente que para o sindicato, é indiferente, talvez pra maioria dos empregados também seja indiferente.

Se meu trabalho é algo alheio a mim - dinâmica esta já evidenciada por Marx em seu discurso sobre o trabalho na sociedade capitalista - toda esfera do trabalho aparecerá como algo estranho e por isso a desumanização não será percebida. De que adianta o discurso que afirma a "desumanização" se o próprio trabalhador, o próprio sindicato não se veem desumanizados ? Aceitar os benefícios como moeda de troca é atestar que a desumanização não nos incomoda, e esta talvez seja a maior constatação que chegamos após analisar este movimento infrutífero que fizemos.