terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Dialética do Enganador-Enganado - Paráfrase hegeliana

Se eu te amo enquanto vc me engana, como vc sabe que este amor que lhe devoto é verdadeiro, se amo apenas a fachada que me mostra? Não seria melhor se mostrar realmente, de forma que se te amar será porque te amo pelo que você é? 
Quem sabe eu não te amaria por você mesmo? Quem sabe a máscara caindo eu não goste mais do seu rosto que da máscara que sempre traz consigo? 
Na estranha dialética do enganador-enganado é como se o enganador precisasse do enganado para se sentir enganador. A estrutura que mantém a dialética exige que o engano não se desfaça. Ao invés disso o enganador propõe medidas compensatórias que na realidade apenas faz aumentar o engano e torna o enganador menos enganador para o enganado.  Mas o enganador não percebe que ele mesmo se engana ao pensar que o enganado o ama de forma verídica, pois na realidade, o enganado não o ama, mas ama apenas o engano criado pelo enganador.  O enganador engana tanto que engana a si mesmo na relação. 
Da mesma forma o enganado precisa do enganador, pois ama o enganador na forma como este se constrói para o enganado. O enganado ama uma imagem, um vazio de sentido que só vigora enquanto persiste o engano, mas este vazio lhe dá a impressão de que todo o engano sofrido anteriormente seriam águas passadas. Se ele percebesse que se fia sobre mais um engano, talvez assumiria o risco da verdade pelo menos uma vez na vida. 
 E nessa dinâmica todos perdem.
Dentro desta estranha dialética tudo o que se tem é algo ilusório e sem sentido. A verdade, o respeito, o amor próprio que seriam as bases de qualquer relacionamento se constituem sobre um vazio, uma ilusão e por isso não tem como subsistir. Se o faz, o faz com enormes penas sofridas tanto para o enganador quanto para o enganado. 
Se engana o enganador ao pensar que realmente ama o enganado. Ele não o ama, mas ama apenas a comodidade, o "bom porto" encontrado nos braços do enganado. E amar o outro pelo que ele me oferece e não por ele mesmo é amor? Se o amo, por que não me revelo? Por que me escondo? Por que me engano? 
As perguntas de quem está de fora desta dialética são sempre as mesmas:
O que acontecerá quando o edifício desmoronar?
Quando a verdade se revelar?
Quando a dor chegar?

Afinal, não é possível esconder tudo de todos o tempo todo
Não é possível tampar o sol com a peneira. Uma hora ou outra a verdade chegará. 
E quando ela chegar, o que será de vós?