quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um cubo de gelo







Queria poder contar a história sobre um cubo de gelo que se contempla diante do espelho.

Fiquei conjecturando, conjecturando, conversei com uma amiga, que me olhou com uma cara do tipo : "Fabiano, o que você está querendo dizer?", mas a história que queria poder contar não me saiu da cabeça.

Como seria se um cubo de gelo se encontrasse diante do espelho e começasse a se olhar?

Ele se olharia e veria o que ali?

Nesse olhar ele veria a si mesmo? para além de si mesmo? pois ele seria transparente;
Penso que talvez haveria um núcleo nele onde a transparência se perderia. Bem no seu centro sempre há uma parte que é mais branca. É como se de lá saísse sua transparência. Talvez essa parte branca seria a única coisa para que ele visse na sua imagem no espelho, algo que fosse propriamente seu.

Se ele fosse completamente transparente, ele não se veria, veria apenas o que o cercava, veria apenas o mundo à sua volta, mas não se contemplaria.

A parte que o faz não-transparente é o que o permite se ver, é o que permite não se misturar com o restante do ambiente; é o que o permite ser ele mesmo diante do espelho que apenas reflete o que aparece à sua frente. É na diferença entre as duas transparências (espelho e cubo de gelo) que reside a imagem do cubo de gelo. É por causa dela que o cubo pode se ver.

O lugar de onde parece emanar a transparência é a única parte no cubo de gelo que o faz ver a si mesmo, suprime a transparência.

Paradoxal.

Enquanto houver a parte branca, ele permanece gelo e pode ser refletido.
Um cubo de gelo se mostra ao espelho. Quando o cubo se derreter, a parte branca sumirá, deixará de ser gelo, não haverá mais reflexo de si, apenas o mundo, apenas um espelho.

Falando sobre o cubo de gelo, acabei falando de mim, talvez, falei de ti, talvez, falei de nós.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre a tolerância


Esse texto é uma parte da palavra que ministrei em um culto de missões sobre a grécia em 2007.



Lucas 9:49,50


O texto de Lucas é bastante rico e de um ensinamento muito grande para nós até o dia de hoje.

O livro de Lucas foi endereçado a Teófilo que significa ( amor a deus); o que sugere interpretações que afirmam que o livro foi escrito para todos aqueles que amam a deus e querem aprender mais Dele e conhecê-lo cada vez mais.


Neste texto específico, João chega a Jesus e lhe diz : “Mestre, vimos um homem expulsando demônios em teu nome , mas nós lho proibimos porque não andava conosco. “ Jesus porém lhe respondeu : “Não o proibais, pois quem não é contra vós, é a favor de vós.”

Pedro, Tiago e João eram os três discípulos mais próximos de Jesus; eram aqueles que onde Jesus ia, lá estavam eles atrás do mestre.


Há um pequeno tempo atrás, Jesus tinha chamado a Pedro, Tiago e João para subirem ao monte com Ele. Eles foram e Jesus foi transfigurado na frente deles.


Eles se sentiram atônitos, ao ponto de Pedro sugerir a construção de uma tenda para que eles pudessem ficar por lá mesmo. Uma vez que a situação deveria ser maravilhosa.


Era uma experiência nunca antes experimentadas por eles, tanto que eles não comentaram nada a ninguém. (primeiramente por uma ordem de Jesus, que segundo algumas traduções afirmam, tinha-lhes pedido para não comentar, como também pelo fato de que uma experiência religiosa autentica, geralmente não pode ser expressas por palavras. Esse é o drama que enfrentou toda a era romântica alemã, do início do século XVIII até a metade do séc. XIX. Temos vários autores filósofos como Schiller, Wittgenstein, que traduzem este drama, assim como poetas como Goethe que marcam bastante esse tipo de movimento alemão.)


Deixando de lado a possibilidade de se falar sobre a experiência religiosa, voltemos ao caso de Pedro, Tiago, João.

Eles ficaram estarrecidos com a experiência; mas tiveram que descer do monte. Quando voltaram, viram Jesus expulsando um demônio de um menino, que nem os outros discípulos conseguiram expulsar.


Deveria estar tudo maravilhosamente bem. Os três estavam provavelmente se sentiam “por cima da carne seca”; tanto que não custou muito, surgiu uma discussão de quem seria o maior no reino dos céus. (Nada me tira da cabeça, que a controversa tenha se iniciado com um dos três) (ressalvo que não estou afirmando que eles que começaram a discussão, nem mesmo que eles estariam realmente se sentindo por cima da carne seca; mesmo porque não temos aparato bíblico para afirmarmos isso.)


De novo Jesus lhes ensina como as coisas funcionam no reino de Deus.

Chega então o fato que quero tratar.

Quando João chega pra Jesus e lhe relata a proibição porque o outro não seguia junto com eles, Jesus lhe adverte para que não façam isso.

Jesus aqui está nos ensinando o princípio da tolerância. Não é só porque as pessoas fazem de forma diferente as coisas que nós fazemos significa que elas não estejam cooperando para que o reino de Deus cresça.


Paulo tem um episódio onde ele afirma. “Mas que importa ? De qualquer maneira, com segundas intenções ou com sinceridade, Cristo está sendo anunciado, e com isso me alegro.” Filipenses 1:18 (tradução CNBB)


Paulo demonstra aqui um exemplo de maturidade em relação a evangelização.

O problema é que temos a tendência de mandarmos todos os diferentes para o inferno, ou então pedir a Deus aquilo que João e Tiago, (os mesmos) pediram pra Jesus um pouco mais pra frente, quando eles estavam passando por Samaria e o povo não recebeu Jesus porque viram que Ele estava decidido em ir para Jerusalém. “Queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua ? Em algumas traduções aparece também entre parênteses (como Elias fez ?) E Jesus novamente ensina a tolerância, e lhes pergunta “ vós não sabeis de que espírito sois ? Pois o filho do homem não veio para destruir a vida dos homens mas para salvá-las.”


Mesmo Tiago e João tendo uma experiência excepcional no monte da transfiguração, isso não fez com que eles se tornassem mais tolerantes com os outros. Pelo contrário, o sentimento deles foi o de completa intolerância para todos aqueles que se recusavam a ver as coisas como eles viam, e a fazer as coisas da forma que eles faziam.


Nietzsche afirma em um de seus livros : “ O pior tipo de educação que se pode dar a um jovem é fazê-lo admirar os que se comportam iguais e menosprezar os que se comportam diferente.


Infelizmente, hoje em dia, o que vemos não é muito diferente.


O que mais se vê no nosso meio são críticas a trabalhos, a instituições, a ONGS, que simplesmente porque “não seguia conosco” são rechaçadas, e “proibidas” de atuarem.

Somos uma geração da intolerância, sobre vários aspectos.


Em outros, somos até tolerantes demais.


Infelizmente não conseguimos fazer ainda uma boa matemática no sentido de não tolerarmos o que não deve ser tolerado, e tolerar quem merece tolerância.


Jesus nos ensinou o caminho da tolerância. Ele não proibiu o homem porque não seguia com eles, nem muito menos mandou descer fogo dos céus sobre os samaritanos.

Jesus afirma : “ Quem não é contra vós, é por vós” – infelizmente o que mais se vê é a criação de um inimigo que simplesmente não existe.


Criticamos o papa, criticamos as ações comunitárias dos espíritas, falamos que o budismo não presta; no entanto não estamos dispostos a tocar nem com um dedo aquilo que eles tocam. Não queremos ações sociais, não queremos evangelizar; mas proibimos a todos porque não seguem conosco.


Pedimos fogo dos céus, porque eles não são israelitas; mas mais uma vez a pergunta de Jesus ressoa forte. “ vós não sabeis de que espírito sois ?”


O que vivemos é uma crise de identidade. Não somos samaritanos, não somos israelitas, não alegramos com a expansão do reino mas também não fazemos nada para que ele aumente.

Somos como os meninos na praça gritando uns aos outros “Tocamos flautas e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes” (Mt. 11:17)


Para se evangelizar nos dias de hoje, teremos que usar da tolerância. Existem várias pessoas que seguem a Cristo de forma pura e com o coração limpo, mas que não seguem conosco. Pertencem a outra religião, pertencem a outros grupos, outras instituições.

Não podemos seguir o exemplo de Tiago e João neste caso. Não podemos chegar lá e proibi-las simplesmente porque eles fazem diferente de nós, nem muito menos pedir fogo dos céus para destruí-los porque não são “evangélicos”.


Os mesmos sentimentos que as vezes nutrimos por eles, eles também nutrem por nós, e eles, várias vezes, com muito mais conhecimento de causa.


Diz-se que certa vez um homem perguntou ao sábio Teófano o recluso se os heterodoxos seriam salvos. Teófano lhe respondeu: Por que você se importa com eles? Eles tem um salvador que deseja a salvação de todo ser-humano. Ele cuidará deles. Você e Eu não devemos ficar preocupados com tal assunto. Estude você e os seus próprios pecados...


O conselho de Teófano é bastante pertinente.


Façamos o que devemos fazer. Sejamos tolerantes. Sejamos maduros.

08/08/2007

Fabiano Veliq

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Diga uma palavra e ficarei curado !




É noite. aguardo algo novo, mas nada acontece.
Talvez uma ligação, talvez uma mensagem de texto, mas nada acontece

Fale comigo ! Mostre-me que se importa ! Não sejas apenas mais uma pessoa na multidão.

Multidão sem rosto, sem identidade, sem individualidade.
Multidão igual àquela entre a qual Jesus andava.
Por favor não seja isso !!!

Seja alguém que me incomode.

Seja como a viúva que importuna o juiz, como a mulher com hemorragia que empurra a multidão para tocar em Jesus, como Bartimeu que grita e faz Jesus mudar sua trajetória, seja o centurião que me interrompa no caminho, pedindo que faça algo que não estava planejado.

Seja alguém que me liberte.

Mas seja também alguém que sorri pra mim, alguém que veja minha angustia, alguém que contemple meu sofrimento diante de meus gestos mudos, diante de minhas poucas palavras.
Seja alguém que compreenda, alguém que me entenda, que me responde, que me pergunte, que questione minhas ações. Que me veja.

Seja essa pessoa.
Seja talvez esse telefonema no meio da noite, seja essa mensagem de texto que alegrará meu coração, seja isso.

Queira ser isso.

Como é difícil se expressar. Como é difícil se mostrar ao outro, como é difícil às vezes ser a palavra que liberta das trevas a alma do próximo. Quer esse próximo seja físico, ou metafórico.

Temos que aprender a usar as palavras. Dizer essas palavras que mudam o dia, a vida de alguém.

Falo talvez como o centurião: - Diga apenas uma palavra e ficarei curado !!!!

Fale comigo ! Diga que se importa !

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Confissões de um domingo...





Como gostaria que estivesses aqui !!!
Ah como gostaria

Procurei em vários lugares, em casa não estavas, saí pra tentar te achar, mas não encontrei.

Meu coração permanece triste, sem consolo, querendo talvez sua palavra amiga my friend.

Por que não estás aqui? Estou rodeado de tantas pessoas, no entanto, sozinho, triste, coração abatido.

Como gostaria que estivesses aqui !!!

Talvez a jornada seria mais fácil, talvez os dias seriam mais alegres, talvez o sorriso voltaria ao meu coração e não ficasse apenas em meus lábios.

Talvez me alegrasse novamente com as músicas alegres, talvez a vida pareceria mais florida,
talvez em meio ao barulho que me rodeia encontraria o silêncio do seu olhar que falaria mais alto que todas as vozes sem sentido que ouço.

Talvez seja isso, preciso de um olhar, preciso saber que olha para o meu coração e transforma o choro em riso.

Ah como gostaria que estivesses aqui !!!!

Olhe pra mim, esteja ao meu lado, seja a palavra amiga que me falta, seja estes olhos que vê meu coração aflito, seja meu conforto durante a dura tempestade que cerca minha alma.

Por favor evangélicos de plantão, não me venham falar que devo procurar esse olhar na vertical.
Preciso de horizontalidade, preciso de humanos.

Sei que encontro Deus no outro.

Ah quantas vezes Ele se fez tão presente pra mim através do outro.

Quantas vezes encontrei esse Deus em ti my friend, quantas vezes você já abriu portas que eu jamais conseguiria abrir por mim mesmo.

Quantas vezes tua palavra foi luz para os meus pés...

As vezes foram palavras simples, as vezes singelas, mas sempre trazendo vida.

Ah como gostaria que estivesses aqui !!!!!!!

sábado, 19 de setembro de 2009

Um encontro de dois mundos







Descrevo talvez um momento mágico.

Algo aconteceu naquele dia, dois mundos distantes se encontraram.

Não sei o que levou aqueles dois mundos se encontrarem, não sei qual foi a palavra mágica que trouxe um para próximo do outro, só sei que algo aconteceu, que eles se encontraram.

Se encontraram em meio a vários mundos, permaneciam anônimos perante todos os outros mundos, porém algo grande estava acontecendo, eles não sabiam, mas quando eles se encontraram se viram muito próximos um do outro, se viram pertencentes a um mesmo universo. Se viram unidos por uma certa cumplicidade, um certo desejo de se encontrar, uma certa evasão de algo que talvez estivesse preso querendo se libertar por meio do diálogo.

Os mundos se confessaram inseguros, adolescentes querendo respostas, procurando afinidades, buscando companhia em um universo várias vezes tão frio. Se mostraram abertos ao outro, se viram "iguais" em várias experiências.

A experiência daquele encontro foi sui generis, um encontro aleatório, não tinha sido planejado, contravensão do tempo, luta contra uma lógica das coisas.

Talvez fosse hora disso acontecer, talvez fosse hora da distancia acabar, talvez a proximidade física deveria ser suplantada pela proximidade dos corações, afinal é essa proximidade que nos faz pertencentes a um mesmo universo.

E assim dois mundos tão próximos fisicamente, se tornam próximos de coração, se tornam companheiros na jornada de repetições em torno de objetivos.

Objetivos esses que podem ser diferentes, mas que se assemelham na forma de alcançá-los.

Momento mágico porque subverte a ordem das coisas, quebra de paradigmas, encontro de risos, alegria, alimento para o corpo e para a alma.

Beleza das coisas simples, beleza dos encontros aleatórios que dão sentido à nossa vida. Beleza da arte do diálogo. Diálogo este tão simples, porém revelador, algo tão singelo, porém, elucidativo. Sem etiquetas, sem "teatros", sem medo, sem pudores, nada a esconder, tudo a revelar.

Não dá pra explicar, simplesmente aconteceu.

Dois mundos se encontraram.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Enquanto tomava um copo de chá




Onde eu trabalho há dois tipos de bebida disponível. O café, bem forte e amargo, e o chá, bem ralo e doce.

Sempre, portanto, há duas opções para quem quer beber alguma coisa. Somos livres para escolher tomar o café ou o chá.

A maioria das pessoas que conheço preferem o café, talvez seja cultural, talvez algo do mero hábito mesmo... não sei. O que sei é que a maioria das pessoas que conheço tomam o café.

O chá já é menos apreciado, as pessoas o acham muito doce, muito sem graça. Dá pra ver o fundo do copo ao tomarmos o chá. Já o café não. Vemos apenas o café, nada além dele, apenas aquilo que aparece na superfície.


Talvez essa seja uma boa aproximação do nosso convívio com os outros. Podemos ser como o chá, ou podemos ser como café.

As pessoas que são como café, são pessoas muito turvas, nunca sabemos o que se passa no interior de si, nunca conseguimos ver além da superfície, nada além daquilo que se mostra a primeira vista. Como o café do meu serviço, várias dessas pessoas se tornam amargas por não conseguirem compartilhar o que há no seu interior. Não conseguem compartilhar suas angústias, seus medos, não conseguem ser transparentes como o chá.


Já o chá é o contrário. Com ele conseguimos ver o fundo do copo. Conseguimos mergulhar no interior e vê-lo como ele realmente é. Vemos aquilo que o sustenta, vemos o copo no fundo. São pessoas que se mostram, que são transparentes, que não se preocupam em parecer fracas demais, doces demais, pessoas que amam sem cerimonia, que se expressam, que falam de seus sentimentos... Enfim, pessoas doces e não amargas. Pessoas transparentes, límpidas.


Infelizmente o que mais vemos são pessoas agindo como café. Elas preferem ser igual o café. Preferem o amargo da aparencia, à beleza do interior, e sob essa "máscara turva" criada, trazem consigo o gosto amargo daquilo que não conseguem digerir em si próprios.


Meu desejo é ser como o chá. Ser transparente, deixar me transparecer aos outros. Não quero ser café. Prefiro a doçura da profundidade, à amargura da superficialidade.
Talvez seja um bom objetivo para todos nós.


terça-feira, 1 de setembro de 2009

desejos a um casal amigo










Espero que nessa nova fase que se inicia na vida de vocês, vocês possam se conhecer melhor, possam aprender a amar um ao outro a cada dia, possam aprender a lidar com os problemas.

Que vocês aprendam o gosto de ouvir uma boa música juntos, compreender a beleza de se passar um dia inteiro com a pessoa que se ama. Que aprendam, que nem sempre é preciso estar com a razão, que nem sempre a sua opinião tem que valer.

Aprendam que amor tem muito pouco a ver com autoritarismo, com cuidado excessivo. Compreendam que amar significa deixar o outro livre, significa cuidar na medida certa, nem excesso de protencionismo, nem desleixo. Virtude.

Espero que agora que vem o início de sua vida a dois que vc possa ter paciencia, pois assim como diria o Riobaldo do Grandes Sertões Veredas, "Deus é paciência, o resto é o diabo", que vc possa ter paz, alegrias, que as palavras que serão ditas possam ser palavras que tragam vida, palavras que ressuscite os mortos, que fortaleça os fracos.

Que vcs possam ser um. Realmente um. Uma mente, um só coração, um só objetivo. Mas ao mesmo tempo que vcs sejam dois. Pessoas singulares, que mantém sua individualidade, que não se anulem em prol do outro. Que não abram mão de seus valores.

E que vcs sejam muitos, que a vida de vcs sejam exemplo e se multiplique para todos aqueles que terão vcs como exemplo.

Esse é o meu desejo pra vcs.