Esse texto é uma parte da palavra que ministrei em um culto de missões sobre a grécia em 2007.
Lucas 9:49,50
O texto de Lucas é bastante rico e de um ensinamento muito grande para nós até o dia de hoje.
O livro de Lucas foi endereçado a Teófilo que significa ( amor a deus); o que sugere interpretações que afirmam que o livro foi escrito para todos aqueles que amam a deus e querem aprender mais Dele e conhecê-lo cada vez mais.
Neste texto específico, João chega a Jesus e lhe diz : “Mestre, vimos um homem expulsando demônios em teu nome , mas nós lho proibimos porque não andava conosco. “ Jesus porém lhe respondeu : “Não o proibais, pois quem não é contra vós, é a favor de vós.”
Pedro, Tiago e João eram os três discípulos mais próximos de Jesus; eram aqueles que onde Jesus ia, lá estavam eles atrás do mestre.
Há um pequeno tempo atrás, Jesus tinha chamado a Pedro, Tiago e João para subirem ao monte com Ele. Eles foram e Jesus foi transfigurado na frente deles.
Eles se sentiram atônitos, ao ponto de Pedro sugerir a construção de uma tenda para que eles pudessem ficar por lá mesmo. Uma vez que a situação deveria ser maravilhosa.
Era uma experiência nunca antes experimentadas por eles, tanto que eles não comentaram nada a ninguém. (primeiramente por uma ordem de Jesus, que segundo algumas traduções afirmam, tinha-lhes pedido para não comentar, como também pelo fato de que uma experiência religiosa autentica, geralmente não pode ser expressas por palavras. Esse é o drama que enfrentou toda a era romântica alemã, do início do século XVIII até a metade do séc. XIX. Temos vários autores filósofos como Schiller, Wittgenstein, que traduzem este drama, assim como poetas como Goethe que marcam bastante esse tipo de movimento alemão.)
Deixando de lado a possibilidade de se falar sobre a experiência religiosa, voltemos ao caso de Pedro, Tiago, João.
Eles ficaram estarrecidos com a experiência; mas tiveram que descer do monte. Quando voltaram, viram Jesus expulsando um demônio de um menino, que nem os outros discípulos conseguiram expulsar.
Deveria estar tudo maravilhosamente bem. Os três estavam provavelmente se sentiam “por cima da carne seca”; tanto que não custou muito, surgiu uma discussão de quem seria o maior no reino dos céus. (Nada me tira da cabeça, que a controversa tenha se iniciado com um dos três) (ressalvo que não estou afirmando que eles que começaram a discussão, nem mesmo que eles estariam realmente se sentindo por cima da carne seca; mesmo porque não temos aparato bíblico para afirmarmos isso.)
De novo Jesus lhes ensina como as coisas funcionam no reino de Deus.
Chega então o fato que quero tratar.
Quando João chega pra Jesus e lhe relata a proibição porque o outro não seguia junto com eles, Jesus lhe adverte para que não façam isso.
Jesus aqui está nos ensinando o princípio da tolerância. Não é só porque as pessoas fazem de forma diferente as coisas que nós fazemos significa que elas não estejam cooperando para que o reino de Deus cresça.
Paulo tem um episódio onde ele afirma. “Mas que importa ? De qualquer maneira, com segundas intenções ou com sinceridade, Cristo está sendo anunciado, e com isso me alegro.” Filipenses 1:18 (tradução CNBB)
Paulo demonstra aqui um exemplo de maturidade em relação a evangelização.
O problema é que temos a tendência de mandarmos todos os diferentes para o inferno, ou então pedir a Deus aquilo que João e Tiago, (os mesmos) pediram pra Jesus um pouco mais pra frente, quando eles estavam passando por Samaria e o povo não recebeu Jesus porque viram que Ele estava decidido em ir para Jerusalém. “Queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua ? Em algumas traduções aparece também entre parênteses (como Elias fez ?) E Jesus novamente ensina a tolerância, e lhes pergunta “ vós não sabeis de que espírito sois ? Pois o filho do homem não veio para destruir a vida dos homens mas para salvá-las.”
Mesmo Tiago e João tendo uma experiência excepcional no monte da transfiguração, isso não fez com que eles se tornassem mais tolerantes com os outros. Pelo contrário, o sentimento deles foi o de completa intolerância para todos aqueles que se recusavam a ver as coisas como eles viam, e a fazer as coisas da forma que eles faziam.
Nietzsche afirma em um de seus livros : “ O pior tipo de educação que se pode dar a um jovem é fazê-lo admirar os que se comportam iguais e menosprezar os que se comportam diferente.
Infelizmente, hoje em dia, o que vemos não é muito diferente.
O que mais se vê no nosso meio são críticas a trabalhos, a instituições, a ONGS, que simplesmente porque “não seguia conosco” são rechaçadas, e “proibidas” de atuarem.
Somos uma geração da intolerância, sobre vários aspectos.
Em outros, somos até tolerantes demais.
Infelizmente não conseguimos fazer ainda uma boa matemática no sentido de não tolerarmos o que não deve ser tolerado, e tolerar quem merece tolerância.
Jesus nos ensinou o caminho da tolerância. Ele não proibiu o homem porque não seguia com eles, nem muito menos mandou descer fogo dos céus sobre os samaritanos.
Jesus afirma : “ Quem não é contra vós, é por vós” – infelizmente o que mais se vê é a criação de um inimigo que simplesmente não existe.
Criticamos o papa, criticamos as ações comunitárias dos espíritas, falamos que o budismo não presta; no entanto não estamos dispostos a tocar nem com um dedo aquilo que eles tocam. Não queremos ações sociais, não queremos evangelizar; mas proibimos a todos porque não seguem conosco.
Pedimos fogo dos céus, porque eles não são israelitas; mas mais uma vez a pergunta de Jesus ressoa forte. “ vós não sabeis de que espírito sois ?”
O que vivemos é uma crise de identidade. Não somos samaritanos, não somos israelitas, não alegramos com a expansão do reino mas também não fazemos nada para que ele aumente.
Somos como os meninos na praça gritando uns aos outros “Tocamos flautas e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes” (Mt. 11:17)
Para se evangelizar nos dias de hoje, teremos que usar da tolerância. Existem várias pessoas que seguem a Cristo de forma pura e com o coração limpo, mas que não seguem conosco. Pertencem a outra religião, pertencem a outros grupos, outras instituições.
Não podemos seguir o exemplo de Tiago e João neste caso. Não podemos chegar lá e proibi-las simplesmente porque eles fazem diferente de nós, nem muito menos pedir fogo dos céus para destruí-los porque não são “evangélicos”.
Os mesmos sentimentos que as vezes nutrimos por eles, eles também nutrem por nós, e eles, várias vezes, com muito mais conhecimento de causa.
Diz-se que certa vez um homem perguntou ao sábio Teófano o recluso se os heterodoxos seriam salvos. Teófano lhe respondeu: Por que você se importa com eles? Eles tem um salvador que deseja a salvação de todo ser-humano. Ele cuidará deles. Você e Eu não devemos ficar preocupados com tal assunto. Estude você e os seus próprios pecados...
O conselho de Teófano é bastante pertinente.
Façamos o que devemos fazer. Sejamos tolerantes. Sejamos maduros.
08/08/2007
Fabiano Veliq
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