segunda-feira, 23 de junho de 2014

Fragmentação de si via email ...



Por algum motivo que Horácio não compreendia, resolveu mandar um email. Pensou, pensou, rabiscou algumas coisas antes em seu caderno e depois começou a digitar. Não sabia muito bem o que escrever pois a situação lhe parecia um pouco delicada, mas ao mesmo tempo não queria tratar do assunto pessoalmente por talvez achar que seria um tanto quanto invasivo.
De toda forma, achou que o email seria uma boa alternativa e pôs-se a escrever. Achei o email bem escrito, embora meio vago em relação ao assunto. Também não fica muito claro sobre o que se trata, nem para quem é endereçado tal email, e muito menos se foi enviado ou não dada a sua última frase, mas em todo caso Horácio se sentiu aliviado por ter escrito. Honestamente espero que tenha conseguido resolver o que se propôs com o email. Espero até que tenha enviado ao seu destinatário.

Em todo caso, no email,  Horácio escreveu assim:

"Eu sei que não serão palavras que te farão mudar.
Nem sei se isso seria necessário.
Penso talvez que sua situação exija esse tipo de comportamento. Estranho talvez, mas mesmo assim, um comportamento válido. Talvez seja só comigo, embora algumas pessoas tenham comentado que você tem andado estranha.

Claro, claro, ninguém tem nada a ver com sua vida, seus problemas compete a você e a quem você quiser compartilhar. A vida é assim mesmo.

Lembro de ter te dito certa vez que se afastar é bom às vezes, mas para você tomar cuidado para não se afastar demais.

Acredito que a maioria das pessoas não percebe. Acredito que para elas, tudo está normal, como sempre esteve, como sempre estará.

Não temos o hábito de nos preocupar com os outros. Sabe como é. Vai que o outro acha que estamos com segundas intenções? Vou me preocupar pra quê? É estranho quando aparece um que faz isso. Sei lá.

Melhor viver minha vida como se nada estivesse acontecendo. Afinal, o que os outros tem com ela mesmo?

Acho tudo muito curioso. Acho tudo muito intrigante. Sei lá porque.

Tentei com minha mente encontrar talvez algum nexo, encontrar um "fio de Ariadne" que me conduzisse pra fora do labirinto. Confesso que não encontrei.

Não consigo entender onde isso te incomoda, o porque isso incomoda. Já te disse diversas vezes que são apenas gestos gratuitos. Não quero nada em troca, apenas amizade. Saber que se importa. Até onde consigo ler, sei que se importa, talvez demonstre de forma diferente, mas ainda acredito que se importa.

Por que é tão difícil aceitar esses gestos?

Como você mesmo me disse, é uma fase de transição. Ou melhor, recuperação. Sei que precisa de tempo, precisa de espaço talvez.
Desculpe minhas constantes interrupções em seu silêncio com assuntos que não servem pra nada e muito menos são do seu interesse.
Tentarei ficar mais calado ao seu lado. Se não tenho nada pra oferecer que lhe interesse no momento, então é melhor ficar calado.

Nem sei se vou te mandar isso, sinceramente não sei."