quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Trabalho, Internet, Paradoxo...




Sei que já se tornou um grande clichê falar do paradoxo aproximação/afastamento provocado pela internet, mas olhando para trás em minha trajetória em diversos empregos é muito claro para mim o afastamento que a internet provoca criando a ilusão de proximidade. Cito apenas dois exemplos de dois lugares onde trabalhei.

Há cerca de uns 10 anos atrás, eu trabalhava em um lugar onde tinha-se muito pouca coisa para fazer. O trabalho propriamente dito era uma parte esporádica do dia, e na maior parte do tempo ficávamos apenas lá à espera de que alguém procurasse o setor para resolver alguns problemas. Pouquíssimas pessoas chegavam na maior parte das vezes, em uns raros momentos havia "horários de picos" que eram facilmente resolvidos por quem trabalhava lá.

Um dado que acho importante ressaltar é que no setor trabalhavam uma média de 10 pessoas entre chefia, auxiliares administrativos, vigilância, etc. no entanto, havia apenas 1 computador no setor. Este 1 computador ficava na sala do chefe e era usado para os lançamentos de dados nas planilhas e os acessos à internet que alguém quisesse fazer. A meu ver, o fato de haver apenas um computador e este ficar na sala do chefe propiciava para os funcionários um tempo de conversa entre si que não aconteceria se cada um tivesse um computador à sua disposição. Como não havia muito para fazer em questões de trabalho, e não havia um computador para cada pessoa de forma a cada um se distrair com seus afazeres particulares, restava à maioria o convívio pessoal regado a muita conversa e cafés.

Estes momentos de conversa eram muito bons na maior parte do tempo e nos fazia entrar em direto contato com o outro e desenvolver uma verdadeira amizade que cooperava muito para o bom andamento do setor. Nos diversos diálogos que tínhamos éramos capazes de compartilhar dificuldades em casa, estudos, marcarmos de sair, ir na casa um do outro, enfim, desenvolver uma amizade que transcendia a esfera do "mundo do trabalho".

Atualmente trabalho em outro lugar onde também há muito pouca coisa para fazer. O trabalho aparece em pequenos momentos também e raramente temos horários de pico onde uma ação mais efetiva seja necessária. São também uma média de 10 pessoas no setor, mas ao contrário do primeiro exemplo, cada um tem seu próprio computador com conexão a internet e isso a meu ver provoca um grande afastamento nas relações humanas. Já trabalho neste setor há 6 meses e conheço muito pouco a respeito das outras pessoas que trabalham comigo. Não sei direito onde moram, nem se tem irmãos, família, se preferem churrasco ou saladas, se são cruzeirenses, atleticanos ou se nem ligam para futebol, etc. Praticamente não sei nada sobre as pessoas que trabalham comigo. A meu ver isso se deve em grande parte ao fato de na maior parte do tempo cada um estar preocupado com sua conta no facebook, sua série americana preferida, seus livros, e tudo isso facilitado pelo simples fato de ter um computador conectado à internet bem a sua disposição.
Neste caso, a internet promoveu um grande afastamento das relações humanas. É como se elas não precisassem se relacionar no mundo do trabalho. Não é porque elas têm muita coisa para fazer, ou esteja passando mal, ou coisa do tipo, é simplesmente a grande ausência de interesse pelo contato com o outro que acaba sendo substituído pela internet muito facilmente. Como já expus em outro texto, há toda uma concepção de diferenciação entre o "mundo da vida" e o "mundo do trabalho". (Você pode acessar  o outro texto aqui)
Este afastamento acaba propiciando um ambiente de trabalho um tanto quanto "mecanizado" onde se perde um certo "quê" de "humanidade". Entramos e saímos sem trocas simbólicas, apenas "fazendo nosso trabalho". Esta ausência de troca simbólica a meu ver é prejudicial e é algo que precisa ser mudado para um funcionamento mais humanizado do setor.

Como todos sabemos, o grande paradoxo da internet consiste em nos aproximar do mundo e nos afastar das pessoas próximas dificultando as trocas simbólicas que envolvem um outro que não eu mesmo narcisicamente projetado em relacionamentos virtuais. Para mim, este distanciamento se faz notar de forma muito nítida a partir destes dois exemplos tirados da minha experiência. Obviamente que eu mudei, que as pessoas mudaram de um lugar para outro, mas o que se perdeu não tem a ver com as mudanças das pessoas, mas com a mudança das "formas" de relacionamentos criadas hoje, que várias vezes tem muito pouco de "relacionamento" e mais de "ensimesmamento". Este "ensimesmamento" acaba isolando o sujeito do mundo humano, configurando não raras vezes em um grande vício que se atentarmos bem funciona de forma parecida com uma droga na qual o sujeito se isola tentando narcisicamente encarar o mundo sem o outro.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Digressões





Que houvesse flores em todo o canto e nada as impedissem de crescer.
Nada o impedisse de crescer.
Diante da beleza o que resta é apenas o silêncio.
Como bons místicos que finalmente se entregam diante do nada e tudo ao mesmo tempo
onde o que resta é apenas o Eu diante do mistério.

O paradoxo do silêncio que invade a alma e faz vir a paz que excede todo entendimento...
A contemplação da vacuidade, mas ao mesmo tempo, a percepção do propósito...
A entrega.
A aposta.
A fé.