quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pingo d'água








Um pingo d’água é apenas um pingo d’água
Assim como uma pessoa é apenas uma pessoa

Hoje enquanto almoçava, reparava os diversos pingos d’água que caíam
Eles simplesmente caíam, não tinham nenhuma intenção em si mesmos
não cumpriam nenhum propósito pra ninguém.

Assim como subiram algum dia, caíram no dia de hoje.

No entanto, havia alguns pingos que caíam de árvores,
E enquanto caíam, traziam consigo várias substancias acumuladas das árvores
algo da folha, algo do caule, algo dos galhos,
Caíam em uma poça d’água.

Quando caíam provocavam ondulações na poça,
A água que estava ali na poça se agitava com a novidade,
mas depois, tudo voltava ao normal
o estranho foi absolvido pelas demais gotas que lá estavam e formavam a poça

Tudo voltava ao normal, até que outro pingo d’água encontrasse novamente a poça
trazendo novamente a novidade e logo depois virava poça também.

Poça que se formou a partir de vários pingos que perderam também sua identidade
se uniram e se perderam.
Por que? Ninguém sabe.


Pensei em nós,
Seres humanos que como aquele mesmo pingo, sempre traz consigo alguma coisa
ao adentrar em um ambiente.
Sempre chegamos com novidades, movimentando o novo ambiente,
até que por algum motivo, não se sabendo o porque,
viramos poça.
Não mais influenciamos ninguém, não mais agitamos ninguém, não mais fazemos diferença alguma.
Somos simplesmente poça.
Todas as experiencias trazidas por nós enquanto caíamos, são esquecidas
não fazem mais diferença. Afinal, viramos poças.

A alegria da vida, a beleza das coisas simples, o que aprendemos enquanto caíamos,
tudo se foi, esquecido em algum lugar dentro de nós.

Triste vida de poça, será pisada por vários pés que reclamarão porque ela estará ali
Incomodará várias pessoas, e nisto, o pingo antes cheio de novidades não mais existirá.
Como gota que cai no oceano e vira oceano, o pingo cai na poça e vira poça.
O homem cai no meio e vira meio.
Falta de autenticidade, nem ao mesmo tenta não ser poça,
Aceita-se isto como algo que não pode ser mudado,
e nisto se vai a humanidade, a beleza do humano, a singularidade de ser pingo d’água.

Excesso de metafísica sempre atrapalha.

Mero pensamento da hora do almoço.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um homem que sofre







Em um mundo não tão distante, mas paradoxalmente tão perto habita um homem que sofre.
Mas que importa se este homem sofre, de quem é o problema senão dele mesmo?
Que tenho eu a ver com isso? Que tem qualquer pessoa a ver com isso que não o próprio homem que sofre?
E por que sofre?
Não sabe.

Apenas sabe que sofre a solidão de ser apenas mais um em meio a tanta gente
Sofre por se ver como alguém que facilmente pode ser deixado de lado em detrimento de outros, talvez mais interessantes que ele.
Sofre por não ser compreendido embora tudo o que faça seja tentar ser compreendido pelos outros.
Nem toda a sua ciência e seu conhecimento foi capaz de fazer com que ele deixasse de sofrer
Neste caso já dizia o Eclesiastes que o muito estudar é enfado da carne. Ele deveria saber disso.

Não sou eu o homem que sofre, mas talvez o conheça de algum lugar
Talvez ele me seja familiar no meio das inúmeras pessoas com quem convivo todo dia
Talvez homem seria um termo genérico, e representasse qualquer pessoa que sofra.

Mas de quem é o problema?
Hoje em dia, o problema é sempre individual, e se é assim, pra que vou querer gastar tempo me preocupando com problemas alheios?
Já tenho meus próprios problemas pra me preocupar. Não preciso de outros.
Curiosamente, nosso discurso sempre se vê permeado pela figura do outro.
Nas reuniões que participo sempre falam que devo amar o próximo, ajudar na caminhada daquele que está junto comigo, e até concordo com tais premissas, mas quão distante a coisa se torna quando requer a prática.

Na prática a teoria é outra.
Esta relação eu-outro acaba sempre por ficar no nível da superficialidade
Pra que almejar algo além da superficialidade? As coisas caminham melhor na superficialidade
No entanto, a relação da superficialidade não se constitui enquanto eu-outro, mas sempre eu-enquanto-eu-no-outro, e nisto reside um grande problema da sociedade atual.

Inúmeros “eus”, inúmeros “outros” sempre faltando o hífen que os uniria.
Mas pra que o hífen?
Talvez o hífen eliminaria o sofrimento do homem que sofre,
mas até lá,
Continuo conhecendo um homem que sofre sem saber porque.