Assim que
ouvi de uma grande amiga que o padre Libanio havia falecido me veio à mente um
texto escrito por mim há quase 1 ano atrás onde falava que admirava quando o
excesso de conhecimento de um determinado sujeito se transformava em
simplicidade na exposição de uma determinada ideia. Segue um pedaço do texto.
(O texto completo pode ser lido aqui).
"Acredito que a medida que o tempo vai passando as
elaborações vão ganhando mais densidade, mas o grande ganho é quando elas
ganham em simplicidade. Uma grande virtude a meu ver é quando alguém consegue
expor de forma bastante clara um assunto extremamente complexo. A clareza da
exposição demonstra aos ouvintes que aquele que fala sabe sobre o que fala.
Ele não precisa de palavras suntuosas, não precisa ostentar títulos. O conhecimento deste sujeito sobre determinado assunto está sedimentado, está arraigado sobre boas bases e por isso ele é capaz de expor tudo como quem conta uma pequena história a uma criança."
O padre
Libanio era uma dessas pessoas que sabia conciliar conhecimento e simplicidade.
Até hoje me lembro de estar em uma conversa com um padre Jesuíta la na FAJE
sobre um determinado projeto que pensava em trabalhar em um possível doutorado
em teologia na FAJE sobre Freud e Religião.
Conversamos
por mais de uma hora sobre as minhas inquietações, meus intentos com a pesquisa
dentre outras coisas. No final, quando já nos despedíamos, o Libanio passou
pela porta da sala onde estávamos e o professor com quem dialogava lhe
perguntou se ele conhecia alguma referência para o meu projeto, o qual expôs
rapidamente ao Libanio.
O Libanio
parou um pouco, pontuou uns três autores possíveis para o diálogo, e em poucos
minutos expôs o conceito de "Existencial sobrenatural" de Karl Rahner
de uma maneira que me lembro até hoje. Ali, parado junto à porta da sala. A
simplicidade, a riqueza e a profundidade da explicação ficaram gravadas em minha
memória. Tal conceito realmente seria bem interessante para o diálogo que
propunha na época.
Um tempo
depois ele foi presidente da banca na minha dissertação de mestrado na FAJE .
Nesse tempo, uma semana antes da defesa, ele me mandou perguntas possíveis para
a dissertação, para o caso de eu querer me preparar melhor para a defesa, e no
dia propriamente dito, ele chegou para mim antes do início da defesa e disse:
"Não se preocupe! O seu trabalho está primoroso !" Ouvir aquelas
palavras me acalmou bastante. Para mim, o gesto de enviar as "possíveis
perguntas" antes para mim, mostrou uma preocupação muito grande mais com o
meu conhecimento do que com qualquer outra coisa.
Depois da
minha defesa conversamos várias vezes via email onde ele sempre me respondia
com muita atenção, simplicidade e conhecimento, nunca me julgando ou me fazendo
sentir mal por trazer assuntos às vezes tão pouco ortodoxos, muito pelo
contrário, sempre me estimulando a prosseguir com os questionamentos, sugerindo
leituras possíveis, etc.
Para mim, o
Libanio é um grande exemplo de pensador, um exemplo de cristão que se
preocupava em acolher o próximo, o auxiliando em sua demanda sem nunca perder a
simplicidade que lhe era tão característica. O conheci apenas no ambiente
acadêmico, entre os muros da FAJE, e mesmo no ambiente acadêmico, tão dominado
por egos super inflados, por "doutores" que várias vezes não se dão
ao trabalho de ouvir o outro a não ser que seja do seu interesse, o Libanio
conseguia transmitir amor e serenidade e ser ao mesmo tempo um pesquisador
sério em sua área, e demonstrar uma humanidade que encantava os olhos de quem o
presenciava.
Sua passagem pela minha vida foi uma passagem rápida, mas extremamente marcante. Com absoluta certeza sempre me lembrarei de suas aulas, e de nossas conversas.
Um professor
admirável, um exemplo a ser seguido !
Que ele
descanse em paz, e que Deus o acolha em seu reino !