Blaise Pascal nasceu em Clermont-Ferrand em 19 de junho de 1623, e era filho de Étienne Pascal e Antoinett Bégon. Pascal desenvolveu bastante seu lado religioso e escreveu várias coisas que defendiam o cristianismo. Sua obra filosófica mais conhecida são “os pensamentos” onde Pascal faz uma apologia ao cristianismo, e expõe suas idéias sobre vários assuntos que vão desde o homem até Deus. Ele foi bastante influenciado pelo pensamento de Descartes, pensamento esse, que foi um pouco contestado em sua obra. Pascal possuía também um conhecimento extenso da filosofia grega antiga e as de sua época. Sobre a filosofia grega, Pascal cita Epiteto e a filosofia estóica. Sobre a filosofia de sua época, ele cita Montaigne e Descartes como citado acima. Pascal se preocupava muito com o homem e sua relação para com Deus.
A questão da antropologia pascaliana é um tema de muito estudo para aqueles que se dedicam a estudar os pensamentos de Pascal, pois ele trata a questão de uma forma bem particular dentro do contexto de sua obra. O problema da miséria e grandeza do homem é o que será tratado neste trabalho usando como base os próprios pensamentos de Pascal.
Para ele, a questão da miséria e da pobreza está inteiramente ligada com a natureza humana. Segundo Pascal, o homem possui duas naturezas. A primeira natureza seria aquela que o homem teria antes de sua queda no Paraíso. Pascal considera o homem como um ser criado por Deus e que pela cobiça foi condenado a sair do Jardim do Éden e com isso perdeu o convívio direto com Deus. Para Pascal , com essa queda, o homem passou a agir de acordo com sua segunda natureza, que é totalmente corruptível e capaz de fazer tudo aquilo que é mal. A queda do homem gera nele uma insatisfação por ter perdido o seu contato íntimo com Deus. Pascal considera o homem destituído de Deus, e só pode retornar a Ele por meio da graça salvadora de Deus.
Pascal difere de forma bastante clara a primeira e a segunda natureza. Para ele a marca da primeira natureza é o conhecimento do dever e o da segunda natureza é o fato de ele não conseguir realizar isso por ele mesmo, somente pela graça.
A questão da grandeza do homem está em reconhecer sua miséria sem Deus. O homem tenta preencher esse vazio que é sua vida sem Deus através das vaidades, criando com isso uma realidade que não é real. Pascal não chega a negar a vida terrena, mas ele coloca em vários de seus pensamentos que a eternidade, que é uma busca do homem é mais importante do que o curto espaço de tempo a que estamos destinados a viver. Nisso também reconhece-se a nossa miséria, no fato de sermos limitados em nossa justiça e em nossa moral.
Para Pascal, a nossa miséria, nos faz dar mais importância a coisas que não são tão importantes assim, segundo ele, queremos ser justos, mas como seres miseráveis que somos, nossa justiça não passa de trapos de imundícia.
Pascal intercala a miséria com a grandeza. O homem é grande porque pensa, e através deste pensamento ele consegue se compreender e compreender o mundo que o cerca. Conhecer-se miserável, é ser grande. O pensamento torna o homem grande, e por esse pensamento podemos entender conhecimento.
Para Pascal aquilo que é natureza dos animais, no homem é o símbolo de sua miséria, pois o homem decaiu de uma natureza melhor e vive em uma natureza inferior. O homem só se sente infeliz porque um dia já foi feliz. Por isso a insatisfação do homem. O homem está sempre insatisfeito porque busca sua união com Deus que foi perdida com a queda. Essa queda provocada pelo orgulho e desobediência de Adão. Pascal se apropria de muitos textos bíblicos para justificar suas proposições a respeito do ser humano; essa posição mostra sua preocupação em colocar Deus acima do homem e esse homem totalmente dependente de Deus. O homem não possui uma “razão” mas que tudo o que ele possui vem de Deus, e que só ele pode fazer com que o homem possa alguma coisa.
Segundo Pascal, o homem sempre esta em busca de Deus, e é isso que o torna insatisfeito, ele por si só não consegue alcançar a Deus. Mas Deus pela sua graça, se revela ao homem e o faz vê o quanto o homem é miserável. O paradoxo da grandeza se estabelece nesse momento, pois o fato do homem reconhecer que ele por si só não consegue alcançar a Deus, se vendo assim, como um ser miserável, o torna grande; pois os animais não possuem essa consciência. Segundo Pascal, o homem que não conhece sua miséria, em nada difere do animal.
O homem, portanto, para preencher esse vazio deixado da queda no qual ele perdeu o seu contato com Deus, começa a se ater em coisas vãs, as quais Pascal cita como vaidade. A vaidade, é em si algo que não tem nenhum valor, e por isso ela é fácil de ser usada como máscara, o preenchimento se baseia em se encher de algo, que no caso do homem geralmente é preenchido por algo sem valor que não passa simplesmente de uma busca por Deus, no sentido em que , tudo que o homem quer é voltar para Deus. Pascal coloca essa questão de forma bem clara, quando afirma que a segunda natureza do homem é totalmente dependente de Deus, por ser corruptível.
O problema da miséria e da grandeza do homem é uma assunto de várias abordagens de Pascal, e ele coloca isso de várias maneiras. Segundo Pascal, o homem é um meio termo entre o nada e o infinito; pois se comparado ao nada, ele é tudo; se comparado ao grande ser universal, ele é nada, ele é portanto um meio termo nessa relação que ele estabelece com Deus e com a natureza.
Tendo visto essas coisas, podemos definir a grandeza do homem como a consciência de sua miséria, é isso que o faz diferente dos animais. O homem insensato para Pascal é aquele que ainda não teve ainda a consciência de sua miséria, e busca no divertimento, ou na imaginação uma fuga de seus problemas, ficando dessa forma, alheio de sua real condição e tenta viver uma falsa felicidade que no final das contas verá que não passa de mera fascinação com aquilo que não o deveria preocupar tanto, que é essa vida terrena. O homem deve portanto através do pensamento atingir a consciência de sua miséria, e só assim ele poderá ser feliz e viver bem.
Essa vida só tem sentido, quando aquilo que se faz, é feito por amor a Deus e a ninguém mais. Pascal, afirma que o homem precisa de Deus, e só pode fazer as coisas que ele faz se Deus o estiver agraciando. O homem é, portanto, um ser que ao mesmo tempo tem uma diferença singular dos outros animais, pois é o único que pode ter a consciência daquilo que ele realmente é, tornando-se assim grande, e não passa também de um ser que em vários aspectos se assemelha aos animais, pois ele é perecível por causa da sua desobediência. O homem devido a sua antiga natureza torna-se insatisfeito e busca preencher essa falta de várias formas, e geralmente em coisas vãs. A única solução para o ser humano, segundo Pascal é refugiar-se em Deus. Vemos aqui uma forte influência do pensamento agostiniano, que afirma que o homem deve se refugiar em Deus. Fonte de vida e esperança; segundo Pascal, o homem só busca a Deus porque ele ainda não o encontrou, e é isso que dá sentido a vida do homem, essa busca pelo infinito onde realmente somos o que somos.