terça-feira, 20 de julho de 2010

Um texto confuso







As pessoas não gostam que você fale de si de forma sincera e aberta. E claro, na maioria das vezes, não gostam que você fale delas de forma sincera e aberta.

Pelo menos não as pessoas que me rodeiam. Talvez isso seja uma tendencia atual, talvez seja apenas eu que caí em um grupo onde essas coisas aconteceriam mesmo. Vai saber...

Eu sei que tal fato me incomoda bastante.

Tive várias experiências desse tipo nos últimos meses, e isso me deixou bastante intrigado.

Em alguns casos fica a impressão de que se algo acontecer à você, as pessoas não se importarão nem um pouco, não fará a menor diferença se um dia você aparecer ou não no trabalho, ligar ou não, mandar um email ou não. Sua existência é absolutamente indiferente, tanto faz se for você ou outro. Isso na minha opinião é interessante e sintomático. Claro que em uma sociedade onde o "eu" tem extrema primazia sobre as demais coisas, por que eu deveria me preocupar com esse outro? Preocupar com o outro é me tirar do centro das coisas e, na sociedade em que vivemos, qualquer tentativa de destronar esse eu é tido como ameaça, é tido como "tentativa para algo mais", enfim, nada pode ser gratuito. Qualquer gesto acaba sendo uma tentativa de destronamento do eu.

Penso que se as pessoas procurassem se preocupar mais umas com as outras, talvez o mundo seria melhor. Só que não sei porque, a maioria das pessoas entendem esse preocupar com as outras sempre nas grandes coisas, tipo, eu vou contribuir com o orfanato tal, eu vou ajudar os animais indefesos em tal lugar, mas esquecem que é muito mais fácil preocupar nas pequenas coisas.

Talvez uma pergunta "oi, tudo bem com vc?" talvez um elogio, talvez apenas um sorriso seguido de um comentário. coisas simples que alegraria a vida de muitas pessoas, com certeza. Claro que não desprezo as ajudas grandes, ou a grandes causas, acho-as também necessárias e até recomendo que se façam. Mas não nos esqueçamos das ajudas simples, que até mesmo pelo seu caráter tão simples, nem parece ajuda.

Alguém poderia pensar, e acho que alguns realmente pensam assim. "Se a sociedade em que vivemos baseia tudo na constante afirmação do eu sobre o social, porque esse indivíduo procura inteirações? provavelmente ele deve estar querendo alguma coisa". Mas veja a que ponto chegamos. Qualquer atitude diferente é visto como tentativa de destrono de mim, uma tentativa de invasão para que depois ele queira se aproveitar de algo.

Não pessoas, não é nada disso. Existem gestos gratuitos, existem perguntas que não visam nada além de inteiração, existe isso ainda, acreditem em mim. Se os seus olhos estão cegos a ponto de não perceber isso, pare um pouco e tente abri-los sob uma outra perspectiva e verá que nem tudo precisa seguir a lógica da primazia do eu sobre as coisas.

Está aí uma coisa que me incomoda.

PS: O texto ficou ao mesmo tempo parecendo um clamor por atenção por parte de alguém mal resolvido, mas também um pequeno diagnóstico de uma dinâmica típica do capitalismo, ao mesmo tempo uma fala sincera sobre algo que incomoda quem escreve, e ainda com uma leve impressão de que faltou uma conclusão no que foi dito. Enfim, um texto confuso.

2 comentários:

  1. Acho que um dos textos que vc escreveu que eu mais gostei, Biano.
    Me faz pensar tb nas esferas de poder nietzscheanas... se o outro considerar vc, ele acha que pode estar perdendo algo de si. Realmente lamentável. Pensar que a maioria quer viver na lógica do "ninguém é insubstituível" e "eu tenho com certeza a razão". Pois eu acho que as pessoas são sim, insubstituíveis, e que se houvesse alguém todo certo, ele necessariamente não estaria aqui neste mundo, neste momento.

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  2. Nossa lulu, valeu pelo comentario. fico muito feliz que tenha gostado do texto. Achei muito legal sua colocação. Concordo com o que vc falou. E interessantíssimo a parada nietzscheana..

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