quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Lamúrias






Ah, e essa tristeza que invade os nossos corações
Que não sabemos de onde vem nem para onde vai,
Que insiste em permanecer em nós como companheira indesejável
Que insiste em fazer de nós pequenos marionetes ao seu bel prazer.

Ah, essa angústia que não cessa,
Que nos impede de seguir
Que nos paraliza diante do mundo e diante dos nossos afazeres
Que não permite que nem por um segundo deixemos de pensar sobre ela.

Ah, esses momentos de paz que são tão distantes
Que vêm apenas em pequenos momentos e logo se vão
Que nos adianta muito pouco a ponto de duvidarmos da sua existência

Ah, nós que não temos onde esconder
Que estamos sempre diante desse triste espetáculo que nos assola
Que não encontramos saída em nenhuma atividade
Que não podemos usar nenhum escape, pois todos parecem falsos demais

A nós, que só nos resta observar e tentar compreender,
Talvez o caminho seja árduo demais que achamos que será melhor não seguir por ele
Mas no final parece indiferente seguir ou não seguir qualquer caminho
Pois sempre nos encontramos novamente com a mesma tristeza que invade os nossos corações.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Não. Não falo sobre mim !





Às vezes olho para mim e me percebo como longe daquilo que gostaria de já estar sendo no momento. Fica aquela sensação de que já poderia estar tão mais longe, que já poderia ter deixado de lado muitas das coisas com as quais luto até hoje, mas que por causa de inúmeras contingências da vida ainda não alcancei.

Fica a sensação de que talvez aquele ideal com o qual eu constantemente me comparo nunca será alcançado, pois para realizar isso eu teria que ser outra coisa que não eu mesmo.
Aparentemente me sinto incapaz de atingir uma meta que eu mesmo construí, mas claro que não construí sozinho, mas foi construído por outros e assimilado por mim como meu. A fixação nesse ideal quase "etéreo" é o que me faz sofrer todo dia, pois me vejo não suficiente o bastante, não bom o bastante, não inteligente o bastante, não bonito o bastante, enfim, não me vejo o bastante para ser o que gostaria que fosse.
Dessa forma tudo que faço parece pouco. Em tudo que conquisto fico sempre com aquela sensação de que poderia ter feito melhor, poderia ter dedicado mais, poderia ter gasto um pouco mais de tempo e mudado aquele pequeno detalhe que ninguém reparou a não ser eu mesmo. Diante disso novamente sofro por não conseguir novamente alcançar aquele projeto forjado para mim.

Triste vida essa minha correndo atrás do vento. Correndo atrás da perfeição, que por definição, eu nunca poderei alcançar por ser eu mesmo imperfeito. O que escondo talvez seja apenas a minha insegurança, seja apenas essa triste visão que tenho sobre mim mesmo, mas que meus afazeres e meu perfeccionismo insiste em esconder. Tudo se configura, portanto, como um grande semblante diante desse nada que me assola e do qual não tenho para onde fugir. É como se o abismo habitasse no mais íntimo do meu ser e no meu constante olhar para ele, ele insistisse em olhar de volta, como já nos comentava Nietzsche em tempos idos. 

Se tento esconder desse abismo me encontro mais próximo dele do que quando finjo que ele não existe. Inútil às vezes é alçar a voz, pois não há ninguém para ouvir, ninguém disposto a ouvir, ou disposto a parar para que essas coisas em mim cessem. Se elas insistem em persistir quem sou eu para lhes calar dentro de mim? Quem senão um outro para fazer calar isso dentro de mim? Esse outro sempre escondido, sempre distante, sempre envolto em seus afazeres, sempre indiferente para tudo e para todos. Esse outro que aparece também como uma máscara para o vazio que ele também representa, pois não está aí de fato, mas apenas finge estar.

Não seria esse outro almejado uma outra idealização inalcançável? Não seria a tentativa de encontrar um auxílio fadada ao fracasso diante da nossa hipermodernidade onde o que importa é mais que tudo o indivíduo e seu sucesso pessoal? Não seria talvez a hora de abandonar a minha esperança desse consolo e assumir resilientemente esse abismo que em mim habita e que se encontra também fora exemplificado por aquele nada que tudo nadifica?

Se for assim, como é possível suportar tamanho abandono?

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste !" gritou certa vez um homem quando confrontado com tamanho abandono. O que lhe restou depois disso foi apenas o último suspiro e nada mais. Próximo a ele apenas alguns que nada podiam fazer a não ser contemplar o fim daquele que foi abandonado. No último suspiro o homem abandonado "entrega o seu espírito", mostrando com isso que apesar do abandono, apesar da falta de sentido de sua morte, ele ainda acreditava que haveria alguém em quem pudesse se entregar como último ato de fé.

Mas será que eu sou capaz daquele ato de fé daquele homem abandonado? Será que para mim haverá ainda a esperança da última entrega diante do mesmo abandono? Se por definição não há nenhuma garantia de que meu salto encontrará uma mão que me segure no final, resta talvez apenas tentar que o último suspiro valha a pena.

E quem sabe ali, no último suspiro, perceber que todo esse trabalho não foi em vão.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A elitização da universidade pública. Observações iniciais para um diálogo.






Não sou a favor da privatização das universidades. De forma alguma, muito pelo contrário, sou a favor de uma escola pública, de qualidade. No entanto, penso que essa escola pública deva ser para quem precisa da escola pública uma vez que claramente temos um problema de divisão de renda envolvida. A meu ver, a forma como a universidade publica funciona hoje não funciona, pois deixa de fora a maior parte das pessoas que realmente dependem da universidade pública caso queiram ter uma formação superior, ou então reservam para essas pessoas os cursos que farão com que elas permaneçam na condição social a que pertencem.

Basta olhar os cursos "de rico" das federais, tipo medicina, engenharia química, direito, etc, e ver quantas pessoas de classes mais desfavorecidas estão frequentando esses cursos. Sabemos que a maior parte dos que frequentam tais cursos vem de uma elite e que teriam perfeitamente condição de estudar em uma escola particular, mas não querem fazer isso porque o ensino da universidade pública várias vezes é melhor.
A elitização da formação superior se mantém basicamente da mesma forma. É claro que tem havido um aumento de acesso considerável no ensino superior nos últimos anos, mas se olharmos bem, veremos que as classes menos favorecidas ingressam no ensino superior apenas em cursos de licenciaturas, tirando claro as exceções.

Quando olhamos para as faculdades particulares vemos que a maioria das pessoas que as frequentam  são trabalhadores que precisam pagar as mensalidades ou então dependem de financiamento tipo PROUNI (que acho um programa de incentivo fantástico) ou então o FIES (que agora foi aberto para a pós-graduação), tirando obviamente as exceções. Em um mundo ideal, não vinculado à dinâmica do capital, etc, toda a educação do sujeito seria gratuita, desde a escola infantil até o doutorado, e isso seria para todos independente do curso que o sujeito optasse por fazer, no entanto, sabemos que a coisa, pelo menos no Brasil, não funciona assim, e que o sistema educacional é feito para de alguma forma manter quem está no poder, no poder. 

Se a realidade das universidades federais é essa, acho bem defensável que ela seja paga para quem pode pagar e gratuita para quem não pode pagar. Sabemos que proporcionalmente os mais ricos são os que menos contribuem no Brasil. O montante maior de contribuição vem da classe média e da classe mais pobre do país que pagam impostos que chegam a mais de 25% dos rendimentos enquanto as classes mais abastadas pagam bem menos. Basta a gente lembrar do drama que eh a implementação de impostos sobre as grandes fortunas no país. A meu ver a universidade pública tinha que ser para quem não pode pagar. O critério não deveria ser meritocrático, mas a meu ver, deveria ser socioeconômico. Claro que poderia haver cotas para os mais ricos, mas a prioridade deveria ser a população que não pode pagar por seus estudos.
 
Um outro exemplo da elitização das federais é o simples fato de TODAS AS PÓS-GRADUAÇÕES STRICTU SENSU SEREM NA PARTE DA TARDE. Isso em si mesmo já visa excluir a classe trabalhadora (que tirando alguns casos onde a flexibilização é possível, ou o trabalho é de 6 horas) que não pode frequentar esses cursos, os reservando à MESMA ELITE que continua nas universidades federais. Claro que há vários casos de pessoas que estudam e conseguem fazer a pós-graduação, eu mesmo sou um exemplo desse caso, mas a meu ver, a falta de empenho por parte das universidades em se colocar cursos de pós-graduação a tarde é mais um ponto que comprova o quanto a universidade brasileira continua extremamente elitista e excludente. 

Se o sujeito trabalhador quiser fazer o seu mestrado ou doutorado ele precisa se virar e, ou abrir mão do seu emprego e tentar viver com bolsas das agências de fomento, (o que para a maioria dos trabalhadores não é interessante, pois recebem mais do que ganharia com a bolsa, sem contar que a bolsa, por não ter vínculo empregatício, o tira do mercado de trabalho por 2 ou 4 anos sem nenhuma garantia que ele conseguirá se recolocar no mercado de trabalho depois de terminado a sua pós-graduação) ou então trabalhar apenas em meio período ou com jornada reduzida. (o que claramente é um número muito pequeno de trabalhadores, basicamente funcionários públicos). É óbvio que nem todos os trabalhadores têm interesse em fazer mestrados e doutorados, mas os que têm padecem com as condições dadas nas universidades públicas.

A forma como a universidade federal caminha no Brasil, a meu ver faz com que se mantenha a diferença estrutural vinculada à renda no Brasil. A meu ver corre-se o risco de sob o discurso de "universidade pública gratuita" esconder um discurso que visa manter no poder a mesma classe dominante que sempre esteve lá. É óbvio que o assunto é um assunto complicado, com várias atenuantes, mas é algo que mesmo com todos os espinhos precisa ser pensado seriamente no Brasil.