segunda-feira, 11 de maio de 2015

Duas boas conversas (Pequeno relato sem profundidade)




Há um tempo atrás conversando com uma amiga minha comentava com ela que sempre desconfio de vidas perfeitas online. Aquele casal que só posta fotos bonitinhas, que não briga, que estão sempre juntos, com declarações épicas de amor de um para o outro, aquele cara que só fala a favor do politicamente correto, que em outro texto chamei de "homo criticus" , aquela pessoa que só mostra o quanto correu, o quanto viajou, o que comeu, etc. Como se tudo fosse o mais perfeito possível. 

Comentava com ela que sempre fico na torcida para que o relacionamento realmente seja saudável, para que realmente a vida seja pelo menos 60% de tudo aquilo que parece ser, mas que duvidava muito de que realmente fosse aquilo tudo que parecia. Talvez eu seja cético demais em relação às redes sociais, mas várias coisas já vi nessa vida e não é novidade para ninguém que as redes sociais estão longe de dizer a verdade sobre qualquer coisa né? 

A coisa ainda fica muito mais estranha quando você conhece de perto a vida das pessoas supostamente perfeitas. Geralmente o que mais falta à essas pessoas é a perfeição apregoada e compartilhada; muito pelo contrário, resta várias vezes exatamente o oposto do que se apregoa. 

Conversando ainda outro dia, só que agora com outra amiga, comentávamos o quanto às vezes essa imagem que os outros tem de nós não depende tanto de nós mesmos, embora não possamos nos eximir daquilo que queremos que os outros pensem de nós, e o quanto corroborarmos em grande parte para essa pretensa imagem perfeita sobre nós mesmos. 

Comentávamos que em vários momentos até gostaríamos de passar uma imagem de fraqueza, ou de desilusão com determinada situação, mas de alguma forma os outros transformavam tais fatos em uma visão "positiva" a respeito de nós, de forma que parece ser impossível não parecer bem, ou se for o caso de parecer mal, parecer apenas parcamente, mas como aquele que sempre mantém a esperança em algo. 

Diante dessa suposta perfeição (criada por mim ou pelos outros) parece haver pouca solução que não uma angústia terrível de não estar sendo o que o outro é, ou de não estar conseguindo o que outro mais novo que eu já adquiriu de forma que a corrida na busca de um ideal impossível se torna uma obsessão. Coisa do tipo um "nossa, como queria ser como ela que faz tudo isso ou aquilo", "como queria viajar tanto como ela viaja, parece que a vida dela é tão boa", ou "como gostaria que o meu relacionamento fosse tão bom quanto o daquele casal, eles parecem perfeitos em tudo, combinam, riem, pensam até as mesmas coisas" e assim ad nauseam.

Curioso que por mais que saibamos que as redes sociais dizem muito mais da fantasia do que propriamente da realidade insistimos em pautar nossas idealizações nessas fantasias apresentadas a nós como se fossem verdades.  E olha que aqui nem coloquei o caso da idealização em relação a pessoas famosas, artistas, cantores, etc. mas apenas em relação a pessoas tais como nós mesmos; meros trabalhadores que precisam pagar suas contas e etcs. Se considerarmos esse mundo da fama então aí que a coisa tem a tendencia a ficar bizarra, pois além da idealização criada pela própria mídia ainda tem-se uma espécie de idealização da idealização das redes sociais, e aqui a chamada "sociedade do espetáculo" do Debord atinge níveis astronômicos. 

Não sei que tipo de satisfação há nesse martírio que várias vezes impomos a nós mesmos, mas que é um fato corriqueiro entre nós isso é inegável. 

Foram duas boas conversas !

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