segunda-feira, 4 de maio de 2015

Um pouco mais sobre a esperança





Não podíamos dizer que os tempos eram fáceis, mas também não eram tão difíceis ao ponto da impossibilidade. Eram dias difíceis onde se exigia deles um pouco mais de atenção e um pouco mais de paciência para enfrentar as desavenças da vida. Muita coisa acontecendo, muitas demandas surgindo, muito trabalho no meio do caminho parecendo que tudo sempre ficava em segundo plano.

Um grande vazio os dominava de forma que tudo era visto como sem sentido. O trabalho, a vida, o relacionamento, os momentos felizes, os momentos tristes, tudo soava extremamente pesado e nada dava sinal de que iria melhorar em breve. 
Parecia que tudo se repetiria ad infinitum; tudo tendendo àquele caos indesejável. Não o caos dos modismos que só fazem sentido para quem mergulha de cabeça em uma nova "bad vibe" como forma de parecer cool, mas muito além disso. Aquele caos tinha tudo para os dominar e ninguém entendia porque tal caos não havia dominado a cena ainda. 

Era como se entre eles houvesse ainda uma pequena esperança pela melhora, esperança esta sempre contrariada pelos fatos do cotidiano. Uma espécie de esperança contra toda esperança como nos diz Paulo na carta aos Romanos que os impelia a prosseguir apesar das dificuldades que iam se amontoando.

Talvez esse olhar um pouco mais otimista para a vida seja uma boa tática diante dos males do cotidiano, pois nos incita a ver um lado cada vez mais esquecido das nossas vidas, um lado onde talvez o sol brilhe mesmo entre nuvens carregadas trazendo luz para caminhos que pareciam tortuosos demais para serem seguidos. Talvez o máximo que eles poderiam fazer naquele momento era apenas esse olhar desinteressado para um outro lugar, que por não esperar nada é capaz de crer para além de todo fato que diz não. 

Como novamente nos diz aquele fariseu tão duramente criticado por Nietzsche, "esperança que se vê não é esperança, porque o que alguém vê como esperará?" Talvez aqui esteja uma pequena possibilidade para eles que por não verem são capazes de manter firme a esperança. Mas da mesma forma que a esperança que não se vê não é esperança, esperança que não age também não pode ser esperança. Ela não apenas espera, mas vai em busca do que se espera para além de todo não. É como se insistisse em afirmar que o que é não pode ser verdade, como se insistisse em afirmar que o futuro será melhor que o passado, como se insistisse em afirmar que o estado das coisas não é definitivo. 
Como nos dizia aquele mineiro tão influenciado por aquele duro crítico do fariseu mencionado acima,

"Esperança é uma teoria da realidade: uma suspeita de que os valores, mesmo na sua não-existência fatual presente, são mais reais que os fatos imediatamente dados. Esperança é a suspeita de que o que é importante agora se revelará como poderoso no futuro. É uma rejeição do positivismo. Por isso o homem é capaz de enfrentar a dor e o sofrimento. Ele os vive como acidentes provisórios, a serem conquistados no futuro. Enquanto permanecer a esperança, a estrutura da personalidade permanecerá também. Quando, entretanto, a esperança entra em colapso, a personalidade se desintegra. Porque o colapso da esperança é o mesmo que reconhecer os valores como ilusões e a brutalidade dos fatos sem sentido como realidade. Só lhe resta então entregar-se às estruturas de poder do seu tempo-presente, que são a negação dela mesma. (ALVES, Rubem. O enigma da religião. 2007 p. 145)

Assim, portanto, se coloca a esperança como aquela que espera, mas que também age; como aquela que confia, mas também que sofre, como aquela que por ser paciente é capaz de suportar muitas coisas. Uma dimensão ativa se coloca para a esperança. Porque ama é capaz de crer e porque crê, age.  Ela é capaz de mudar o mundo não apenas do indivíduo, mas de vários ao seu redor e isso é algo digno de nota. Talvez fosse um pouco isso que Paulo nos propunha em I Cor. 13.

Mas e quando a dor é tamanha, a situação é calamitosa, a tragédia é iminente, as forças não mais existem e tudo que podíamos fazer se mostra como correr atrás do vento? Quando parece que toda esperança se foi, quando as sombras dominam e as trevas parecem a única possibilidade e nada nem ninguém parece nos ouvir, quando o "vale da sombra e da morte" se faz presente? Como dizer a esperança numa hora dessas? 

Talvez em alguns momentos a esperança parecerá não ser possível, se mostrará como apenas uma fagulha que mais parecerá uma ilusão do que uma realidade, mas ainda ali é possível "trazer à memória aquilo que traz esperança", mesmo que novamente seja crer contra toda esperança. Ainda ali haverá a possibilidade da dança e esta pequena atitude pode se apresentar como aquela pequena chama que quando colocada no alqueire iluminará toda a casa e isso é sempre também um motivo para que creiamos.

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