Dentro de uma visão realista sobre a ciência, o
homem passa a ser um desbravador rumo a sua origem, rumo aos
princípios básicos que constituem um mundo, uma galáxia, um
universo etc.
O realismo científico nasceu
em resposta a um anti-realismo principalmente depois das proposta de
Carnap que afirmava que existe um excesso na linguagem que não
consegue corresponder diretamente àquilo que é observável. Carnap adotava o modelo da
ampla linguagem na qual dividia a linguagem em teórica e
observacionais. A primeira compreendendo os termos teóricos mais as
regras , e na segunda, contendo aquilo que é observável juntamente
com as regras de linguagem. Entre a linguagem teórica e a
linguagem observacional existe uma regra de correspondência, mas
como é impossível uma interação completa entre a linguagem
teórica e aquilo que é observado, a interpretação dos termos
teóricos é imparcial.
Acontece então o que Carnap
chama de excesso de significado. Isso acontece porque não é
possível uma redução completa da linguagem teórica para uma
linguagem observacional. Carnap adota uma idéia de
negação de uma ontologia mediante uma análise da linguagem. Para
ele, os termos teóricos são instrumentos de linguagem para falar de
algo não observável, e este algo não observável não é uma
entidade existente independente de uma certa teoria. Ele só existe e
tem sentido dentro de uma teoria específica. Ele adota a ideia de um
instrumentalismo semântico. Os conceitos teóricos possuem um
significado mas não correspondem a uma entidade existente por si. O
conceito só é real dentro de um sistema teórico de referência. Carnap tenta resolver a
questão afirmando que o sentido de um termo não está ligado à uma
referência. Ficando muito mais próximo de Russell do que de Frege
na análise da linguagem.
O realismo científico nasce
em resposta a esse movimento de Carnap. A pergunta que o realismo
científico tenta responder é se os conceitos teóricos realmente
existem enquanto uma entidade? É esta a questão que incomoda os
realistas científicos. Segundo eles, as entidades
realmente existem independente das teorias, e as teorias tentam
compreender e explicar essa entidade da melhor forma possível. Para
comprovar a ideia da existência das entidades científicas, os
realistas científicos adotam alguns pontos de vista. Eles explicam o sucesso
científico em detrimento de uma visão realista a respeito das
entidades não observáveis; é preciso um comprometimento ontológico
com as entidades científicas. O realismo científico postula
que para uma teoria científica ideal da realidade é preciso ter
alguns aspectos. Um aspecto interessante é o que diz de um compromisso metafísico que pode ser descrito mais ou menos assim: "os inobserváveis descritos pela teoria científica existem
independente da nossa mente."
Sobre este ponto, gostaria de
tecer alguns comentários sob os quais acho interessante pensar. O realismo científico coloca
a questão da existência independente da nossa mente, e o homem como
um desbravador que procura conhecer aquilo que existe de alguma
forma. Ele não tem conhecimento se
aquilo que ele postula é verdade ou não, mas a única coisa que ele
sabe é que aquele algo que ele postula existe e é passível de uma
teoria. Stephen Hawking em seu livro,
“uma breve história do tempo” afirma que os buracos negros foram
um caso raro na ciência. Foi a primeira vez onde um evento foi
comprovado matematicamente sem nunca ter sido observado.
É curioso porque a ciência é
algo empírico. Ela trata daquilo que é observado e postula a
respeito daquelas coisas (pelo menos a princípio), no caso dos não
observáveis com os termos teóricos, o processo se inverte. A experiência, no caso dos
não observáveis comprova que existe algo lá que não se sabe o que
é. Cria-se então uma teoria para representar e nomear aquilo que
está ali de alguma forma. A partir desta nomeação o objeto
desconhecido passa a ser conhecido sob certo nome. Não quer dizer
que o objeto passou a existir a partir de sua nomeação, mas que a
partir daquele momento, ele será entendido de tal forma. Nada impede que a teoria
formulada para explicar aquele algo esteja errada, mas enquanto não
surge uma teoria melhor, aquela que funciona, não tem porque não
ser aceita. Este argumento remete ao senso comum, e ao funcionamento
da teoria científica.
Se ela funciona , então
temos boas razões para acreditar que ela é verdadeira. A utilidade de uma teoria
científica em determinado tempo, dá a ela credibilidade . Temos na história das
ciências alguns exemplos de postulações que foram consideradas
erradas por muito tempo e que com o passar do tempo, comprovaram que
a tal teoria era verdadeira, e também casos onde a teoria
considerada verdadeira foi comprovadamente considerada falsa. Sobre este tipo de teoria,
temos o exemplo da física de Newton que perdeu muito do seu mérito
com a teoria de Einstein. A grande revolução dos
vários tipos de delimitação do espaço como foi compreendido por
Lobatchevsky, e Rienam marcaram uma grande revolução na compreensão
do espaço. Foi algo usado por Einstein
para a sua formulação de uma teoria da relatividade.
Os realistas científicos
também tem um argumento muito interessante para justificar a
existência dos termos teóricos como entidades. É o que é chamado
de “argumento do não-milagre” onde afirma que : se alguém não
aceita que os termos teóricos existam como entidades, só lhe resta
acreditar em um milagre ou então em algum tipo de coincidência
cósmica. Para o realista científico não tem como o mundo ser
ordenado da forma que é sem que existam entidades reais. Só se alguém acreditar em
um milagre é que pode conceber que o mundo é da forma que é sem
que algo realmente exista de fato. Se tudo fosse criação da
nossa mente, assim como proposto pelos anti-realistas, tenderíamos a
um solipsismo, ou então a uma aproximação muito grande ao
pensamento de Berkeley.
Essa questão com certeza
recai sobre a discussão entre o criacionismo e o evolucionismo, onde
na minha opinião o criacionismo se aproximaria de uma visão
realista das coisas e o evolucionismo em uma visão anti-realista. É preciso ter muito mais fé
para aceitar em uma visão evolucionista onde tudo se constitui pelo
acaso do que crê que existe um ser superior que coordena todo o
mundo para que ele funcione do jeito que ele funciona.
Não há um milagre, ou como
disse Einstein : Deus não joga dados. Se o mundo é como é, é
porque há uma ordem substabelecida e esta não pode ser por acaso. Como podemos ver, o princípio
da realidade dos termos teóricos possui uma relevância enorme nos
dias de hoje, e implica também na aceitação ou pelo menos a
consideração de alguns fatos que norteiam a nossa vida. Embora o princípio seja
científico ele possui várias implicações na vida em sociedade
como também na relação do homem com o mundo. Por exemplo; se adotamos que
os termos teóricos realmente existem e não são meramente criação
do homem, então temos que admitir que estamos em algum caminho rumo
a tentativa de conhecer algo fora de nós. Isso enfraquece bastante a
função da teoria Berkeleyana de que tudo o que existe, existe em
nossa mente. Os termos teóricos assumindo
uma existência, o próprio papel do ser humano dentro do mundo cai
de uma posição central, para uma mera posição dentro de todo o
cosmos.
Estudos recentes em cosmologia
afirmam que o universo está se expandindo cada vez mais e que este
seria sem limites. Se considerarmos esta teoria
como verdade, cada dia que passa nos tornamos mais insignificantes. Independente de considerarmos
esta teoria como verdade ou não, para o realista científico, o que
acontece é que a coisa denominada movimento do espaço existe, e
pode ser teorizada porque existe. Esse movimento não é criado pela
nossa mente e nem passou a existir depois que se teorizou a respeito. Essa é a visão adotada pelo
realista científico. Para ele, as coisas existem independente de se
teorizar a respeito de algo. Concluindo, o realismo
científico é uma visão bastante interessante a respeito da
realidade das coisas e postula que o papel do homem não é o de
criar coisas através da linguagem, mas descobrir as coisas e
nomeá-las. O trabalho do homem é portanto bastante reduzido. De
criador, a conhecedor.