terça-feira, 20 de abril de 2010

Tédio








É noite


Tédio.


Talvez um momento próprio para propor uma filosofia do tédio, mas me dou conta que isso já existe em livro e o tédio fica ainda mais latente.


Vejo que meu vizinho chegou. Talvez para ele, o máximo que ele quereria seria o que tenho agora e em entendia. Ele talvez gostaria apenas de ficar atoa igual estou agora, e talvez esse seria o momento de maior alegria do dia pra ele.


As vezes penso que vou caminhando muito rapidamente para uma infelicidade. Talvez seja o mal das planícies escandinavas; pessoas que tem tudo o que precisam, não vêem mais sentido na vida e resolvem colocar um fim nela.


Mas percebo que não é o meu caso. Ainda não conquistei tudo o que quero na vida (embora, tenho que confessar que não quero lá tantas coisas assim), nem mesmo hoje a noite consigo o que quero que é sair desse tédio sufocante em que me encontro. E não é tédio por ócio, afinal, consigo conviver bem com este, mas aquele... Ah aquele... Tédio que se impõe em plena segunda-feira.


Nada pra conversar, nada para ver na TV, sem sono para dormir, afinal, são apenas 20:35 da noite. Resta talvez escrever o que sinto em uma folha de papel, agora manchada com a tinta lilás da minha caneta.


Olho para a janela e novamente a lua e as estrelas me brindam com presenças marcantes, mas elas não me alegram como há poucos dias atrás onde queria ter uma varanda.


O vento que bate apenas refresca, mas não traz o frescor de outros ventos de tempos atrás...




"Se os seus olhos forem bons, então todo seu corpo será luminoso" Já dizia Jesus. Meus olhos hoje só vêem o tédio, talvez por isso esteja permeado por ele. Quem tem olhos para ver que veja, quem tem olfato para sentir, que sinta a fragrancia trazido pelo vento.

Pena não conseguir ver e sentir isso hoje, apenas sinto a caneta tocar o papel.


Mas ainda acredito que o vento sopra onde quer, que ele pode trazer as fragancias que me farão sorrir.

Tento acreditar que esse vento virá, passará sem fazer barulho, mas trará refrigério ao meu coração, trará alegria que parece perdida e dançaremos como as árvores embaladas por esse vento. Sentiremos as fragrancias que alegram trazidas por ele.


Ainda acredito que mesmo esse tédio dilacerante possa ser sentido de outra forma, no entanto, no momento, a única companhia que tenho é ele, essa caneta e esse papel, sendo que o tédio é sentido de forma vêemente e parece que nada, a não ser o sono, o tirará de mim.


Quem tem olfato para sentir, que sinta, infelizmente, hoje não consegui sentir.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

sobre o vento



Jesus disse algo sobre o vento:

Ele disse a Nicodemos que "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito" Jo 3:8.

Fiquei a pensar nisso. Realmente o vento sopra onde quer, não tem como impedi-lo de assoprar, não podemos fazer com que ele cesse, ele sopra onde quer. Os que são nascidos do Espírito são como o vento.

Quem poderá dizer onde estão? Ou onde não estão ? Por isso que as disputas entre religiões tendem a uma enorme falácia em nome da suposta "verdade".

E o que vemos do vento senão seus efeitos? Nunca vemos o vento, mas sentimos seus efeitos, vemos as árvores balancarem, os frutos caindo, e talvez, pelos frutos que caírem quando o vento soprar conheceremos as árvores, e se o fruto for bom, a árvore será boa, e se o fruto for mau, a árvore será má, afinal, não pode uma árvore boa dá fruto mau, nem uma árvore má dar um fruto bom, já nos dizia o nazareno há algum tempo atrás. O mesmo nazareno que nos disse sobre o vento...


O vento sopra onde quer, as vezes por estarmos tão protegidos com os "agasalhos das convicções" não sentimos o frescor do vento que livremente nos atinge, trazendo refrigério para nossas almas...



terça-feira, 13 de abril de 2010

Felicidade simples







Bolo com café numa manhã fria entre montanhas, só falta a sua doce companhia.



Às vezes, para que as manhãs fiquem melhores, pouca coisa é necessária,

Às vezes, quase nada.

Hoje por exemplo, apenas sua doce companhia já seria suficiente.



Felicidade simples.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um poema de Alberto Caeiro





Peguei um livro de poesia do Alberto Caeiro ontem para ler. Foi amor a primeira vista.
Reproduzo uma parte de um poema que achei muito interessante e que li hoje.
Espero que gostem. O poema é de um conjunto de poesias chamado "O guardador de rebanhos".


Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma e sobre a criação do mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o sol e a pensar muitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, e já não pode pensar em nada, porque a luz do sol vale mais que os pensamentos de todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não asbe o que faz e por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de ão saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

(...)

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me Aqui estou !

(...)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro, "O guardador de rebanhos" retirado do livro "Poesias".

Algo sobre o ócio...






Recentemente venho pensando sobre o ócio.

Realmente as pessoas, pelo menos várias delas, sentem um enorme desconforto diante do ócio. Elas simplesmente não conseguem viver com ele. Sentem-se incomodadas com a falta de "algo para fazer"

Os negócios (negação do ócio) tomam conta da vida dessas pessoas. Elas sempre precisam ter algo pra fazer para se sentirem bem.

As horas não passam se falta algo para elas fazerem.


Em nome dos negócios, arrumam várias atividades durante a semana. De domingo a domingo precisam de uma atividade. Talvez haja algo no vazio que as incomodem. Talvez seja o fato de que, no ócio, não resta nada além de si e os pensamentos, e talvez isso seja insuportável para essas pessoas.


Eu tenho que confessar que aprendi a viver com o ócio e, no ócio. Ele não me incomoda. Nos tornamos bons amigos. Quando estou com ele consigo prestar atenção em coisas que, em meio aos inúmeros "negócios" dessa vida corrida não conseguiria.

Isso aprendi com o tempo. Não foi de uma hora pra outra. As empresas onde trabalhei cooperaram para que eu pudesse aprender a viver com o ócio, e melhor, viver bem com ele.


Costumo dizer que viver bem com o ócio é uma arte. A arte de não ter o que fazer e poder se sentir bem com isso é algo que leva tempo, mas quando se aprende, os pequenos momentos acabam se transformando em longas horas de boa reflexão.


Sêneca, filósofo helenista tem um texto maravilhoso sobre o ócio. Ele nos ensina o famoso "ócio produtivo" que para ele, é a filosofia.


Penso parecido, mas acho que a filosofia é uma das alternativas possíveis para o ócio ser considerado produtivo.

Acho que o mais importante é sabermos conviver com a falta do que fazer, não ficarmos sempre procurando algo para preencher nosso tempo, aproveitarmos os momentos de ócio para refletirmos sobre a vida, sobre o mundo, sobre nossas relações, sobre nós mesmos. Acho que assim, teremos uma vida melhor.


Por que não abandonarmos os inúmeros "negócios" e tentarmos aproveitar o ócio em prol de uma vida melhor e mais bem vivida ?


Sugiro que aprendamos a viver no ócio, e isso, por incrível que pareça, só aprende praticando.


Sugiro como Sêneca que pratiquemos o ócio, mas não qualquer ócio, e sim o produtivo, aquele que nos faz pensarmos sobre as coisas, refletirmos sobre nossas vidas, nossas ações etc, etc, etc...


Fica aí uma sugestão.


quinta-feira, 8 de abril de 2010

Numa quinta-feira às 06:50





Hoje saí para o trabalho relativamente mais cedo do que costumo sair.

Cheguei ao meu local de trabalho mais cedo que costumo chegar.

Mas havia algo diferente no ambiente.

Fora o maravilhoso vento frio, o clima ameno de uma linda manhã de outono.


O vento batendo forte, fazendo com que os bambus próximos à entrada do meu setor se inclinassem bastante para baixo.

À minha frente a bela serra que circunda o local onde trabalho.

O sol ainda nascendo, dando ao horizonte uma luz não tão forte, nem tão fraca.

Paisagem digna de uma foto, digna de um quadro.

Exemplo da mais pura beleza (alla kant).


Andando em meio a tal paisagem, de repente bate um vento mais forte,

esse vento faz o que até hoje a física moderna vê como impossível.

Ele me leva ao passado.


Volto no tempo, lembro de uma outra época.

Lembrei dos acampamentos que fazia com uma certa igreja que frequentava há algum tempo atrás.

Lembrei do frio tão intenso em meio aos vales que rodeavam um certo acampamento onde íamos.

Lembrei das brincadeiras, das comidas, das conversas...

Linda época,

doce época...

Digna de saudades


Vento forte que trouxe lembranças tão suaves.

Vento gélido que aqueceu o coração às 06:50 de uma quinta-feira ...


Adorei voltar ao passado, adorei a sensação de novamente estar ali...


Adorei o sentimento nostálgico que me invadiu diante de tal vento...