Em conversas pelo Facebook com algumas pessoas que comentaram meu status, surgiu este texto. Fiz um apanhado dos meus posts no assunto em questao e coloquei aqui. Resolvi deixar o texto sem os nomes das pessoas com quem falo para nao expor ninguém, a não ser eu mesmo. O texto pode parecer meio desconexo, mas resolvi deixar dessa forma para manter a fidelidade do exposto.
É exatamente esta a questão. Evidenciar a "hipocrisia evangélica" atual. Curiosamente, muito se mata em nome do "evangelho", haja visto a própria guerra iraquiana, ou até mesmo outras ações "políticas" patrocinadas por evangélicos.
No entanto, em relação à sexualidade, o protestantismo se vê absolutamente taxativo e nesse sentido, evidencia toda a hipocrisia da que falo. "Algumas coisas são claras" ? Mas o que está por trás dessa clareza? É claro que vc deve saber que não temos acesso ao texto de fato, mas sempre o interpretamos de acordo com nossas vivencias, fraquezas, etc. Apenas uma interpretação fundamentalista da Bíblia possibilita uma leitura simplista que não está disposta a dialogar com o seu tempo. Como diria Rubem Alves, o problema do fundamentalismo não é "o que se fala", mas sim "o como se fala", ao falar "do ponto de vista da verdade", o fundamentalista encerra toda possibilidade de diálogo, afinal, se já se está com a verdade do seu lado, pra que o debate? A tarefa será simplesmente a de tentar trazer o outro para o lado da verdade. A mesma tentação do jardim se evidencia novamente.
A questão homossexual é algo que merece um enfoque não-simplista. Afinal, se a bíblia não é um livro normativo neste sentido, haja vista que muito pouco se fala sobre sexo no texto bíblico, pq então esta "sina" com a questão? De onde veio esta sina cristã para com a questão da homossexualidade, se nem entre o judaísmo, nem mesmo nos textos do NT vemos este tipo de coisa? Talvez - e aqui tendo a acreditar que sim - a influencia tenha vindo de fora, e concordo com vários que dizem que esta influencia teria vindo do estoicismo e do gnosticismo que como sabemos, muito entusiasmados com Platão, viam o corpo como algo desprezível em relação a alma. Talvez a influencia nos primeiros séculos do cristianismo tenha dado "o tom" da completa negação sexual, e principalmente na questão homossexual.
As coisas "claras" nas escrituras talvez não seja assim tão claras, igual as que vc mesmo citou como "não pode matar"; no próprio texto bíblico vemos que isto não é tão claro, a própria inquisição "matou" muito em nome de Deus, "Deus" mandou matar muitos "infiéis" para que o povo não se corrompesse em meio a outras tribos. Se a coisa fosse tão simples assim, talvez o texto bíblico teria que ser reescrito. O que quero ressaltar, é que o "espírito" vale mais que a "letra", e talvez a "liberdade" do espírito que sopra onde quer, seja o que mais incomoda a grande maioria que prefere lidar com as questões de forma simples do que lidar com a liberdade.
A proposta não é convencer ninguém de nada. Coloco aqui coisas sobre as quais penso, idéias que giram em minha cabeça. O fato de ter pensado na questão do homossexualismo não quer dizer que quero colocar algo na cabeça de alguém. Em hora nenhuma coloco minhas posições como "certezas". Apenas tento argumentar para embasar aquilo que estou pensando.
Se fosse pra convencer alguém de alguma coisa, o último lugar que iria fazer isso seria pelo facebook. Iria pra algum púlpito por aí, diria um discurso eloquente, comoveria muitos com pura retórica e pronto. Não é uma questão de convencer ninguém de nada. É pensar sobre as coisas. Pode rever todos os posts, e se achar algo que ao menos pareça com tentativa de colocar algo na cabeça das pessoas a força, me mostre. Tenho certeza que não encontrará nada neste sentido. A questão nao se coloca nesse nível que vc colocou. é uma tentativa de (re)pensar as coisas.
Só isso. Pensar dar trabalho, e se a boca fala do que tá cheio o coração, vários posts vão parecer repetidos, várias incursões serão feitas, vários textos serão colocados, lidos, relidos para tentarmos nos aproximar de alguma posição que seja defensável e embasada. Não como algo "vindo de fora", mas como algo que nasceu de dentro, fruto da reflexão, fruto do diálogo. Esta é a intenção.
Pena encontrar poucas pessoas dispostas a pensar honestamente sobre o tema, ou, no meio evangélico, sobre praticamente qualquer tema. Se contenta-se com muito pouco, e por isso acabam a maioria ficando como folhas secas levadas por qualquer vento.
Qualquer exame tosco da realidade evangélica evidencia isso que digo aqui, no entanto, nem essa avaliação a grande parte quer fazer. Resta ficar sozinho, talvez na cia de alguns poucos nesta empreitada.
Existem vários tipos de preconceitos. Agora, o fato de me ater a este específico não evidencia que ele seja "melhor" ou "mais importante" que outros. Sei que há muita discriminação com relação aos mendigos, e todos outros que não tem "parte na terra". A questão das prostitutas acaba caindo na mesma questão que é mais ampla que é a questão do "cristão e a sexualidade", esta grande "ferida narcísica" no cristianismo que até hoje se trata cheio de melindros.
Penso sim que TODOS devem ser amados como são, e como seus "estilos de vida' são. Isso estaria para além das discriminações, e isso em qualquer nível social, profissional, etc.
Todo filósofo que se preze precisa pensar a partir da realidade em que vive.
Como diria Feuerbach, sou fruto do meu tempo, penso as coisas do meu tempo, e se vivo num tempo onde a questão homossexual está sendo debatida, eu enquanto filósofo, tenho que pensar nesta situação. E eu enquanto filósofo e protestante preciso pensar nestas coisas. Claro, preciso pensar tb em outras coisas. Com certeza, as prostitutas (que agora já é uma profissão regulamentada) tb sofrem discrimianções, os mendigos também (embora geralmente o discurso capitalista acaba falando que eles estão assim pq lhes faltou animo, ou então por qualquer empenho na profissão).
Estes outros casos tb precisam de investigação e acho super válido se começassem a pensar nisso também.
A questão homossexual é um dos temas que precisam ser seriamente debatidos no meio cristão, e isto deve ser feito com urgencia. Vários encontros já tem sido realizados para dialogar esta causa, no entanto, na prática, a questão ainda está longe da proposta do amor ao próximo.