sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma reflexão simples para uma noite chuvosa




Acredito que a medida que o tempo vai passando as elaborações vão ganhando mais densidade, mas o grande ganho é quando elas ganham em simplicidade. Uma grande virtude a meu ver é quando alguém consegue expor de forma bastante clara um assunto extremamente complexo. A clareza da exposição demonstra aos ouvintes que aquele que fala sabe sobre o que fala.

Ele não precisa de palavras suntuosas, não precisa ostentar títulos. O conhecimento deste sujeito sobre determinado assunto está sedimentado, está arraigado sobre boas bases e por isso ele é capaz de expor tudo como quem conta uma pequena história a uma criança.

Na minha opinião, o excesso de conhecimento sobre algo sempre deveria levar o sujeito à clareza da exposição. Muito me incomoda pessoas cujo excesso de estudo leva à pedância, ao destrato do outro e demais atitudes tão estranhas. Este tipo de pessoa ganhou em conhecimento, mas ainda não ganhou em sabedoria, e talvez isto seja sempre mais triste.

Um exemplo disto que estou falando pode ser visto na terceira carta de João. Lá ele escreve a Gaio, a quem trata pelo nome de "amado". Escreve uma carta simples, sem formulações teológicas complexas. Pouca coisa na carta nos lembra o João que escreveu os evangelhos, preocupado em demonstrar a unicidade de Jesus para com Deus, preocupado em vincular o Cristo à noção de Logos, etc. A carta é simples, tão simples que João formula um grande princípio de sua primeira carta em poucas linhas. Ele diz a Gaio: "Amado, não sigais o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus." (3João 1:11)

Qualquer pessoa familiarizada com os escritos joaninos percebe nesta formulação simples um grande princípio teológico evidenciado deste o João que andou com Cristo até o João da primeira carta escrita há pouco tempo antes, passando por Tiago, que é o princípio de que o amor sempre se evidencia em uma prática concreta no mundo. (Toda a primeira carta  João enfatiza bastante este ponto, principalmente o capítulo 4)  Ou seja, uma "prova" de que alguém realmente caminharia com o Cristo, ou seguia os passos do Cristo seria a sua atitude para com o mundo. Se ele age bem, ele é de Deus, se faz o mal não tem visto a Deus, mas apenas uma "imagem distorcida" para usar as palavras de Paulo.

A complexidade e a simplicidade todas unidas em uma pequena formulação. Fruto da experiência, da dedicação de João que consegue ver no amor a expressão máxima de todo cristianismo. Que João nos sirva de exemplo, e que possamos ser simples como as pombas.

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