O Facebook - e porque não as redes sociais em geral - é uma coisa bem interessante né? Lá todos dizem o que querem, postam suas fotos, conversam com seus amigos, conhecidos, familiares, etc. Um mundo de opções diante de todos a apenas alguns cliques. O universo do "share", "like" "comments" é realmente fantástico. Lá eu posso curtir apenas o que eu quiser, comentar o que eu quiser, compartilhar o que eu quiser.
Se eu não gostar de algum comentário eu simplesmente apago, se eu não gostar de uma foto que alguém me marcou eu simplesmente desmarco, e tenho todos os facilitadores para que a minha imagem cibernética fique exatamente da forma que eu deseje. A construção deste personagem "facebookico" é realmente uma dádiva do reino da internet. No entanto, há aqui uma face muito perversa dessa dinâmica que pode aparecer, pois se esse mundo das redes sociais apenas mostra esses sujeitos ideais, interessantes, engajados, esportistas, antenados, etc. tudo se mostra como um convite a querer ser como fulano ou ciclano, já que sempre essa vida mostrada aparece como ideal sempre. Por mais que saibamos que provavelmente toda essa propaganda das redes sociais seja falsa, não raras vezes é possível identificar tal "querência" por parte de muitos em ser igual a tal ou tal imagem.
Algo bastante curioso é que por mais que eu queira ser o mais honesto possível no Facebook, o próprio site me diz para não sê-lo. Afinal, com as novas ferramentas da rede social, aquilo que aparece para os outros depende muito do que é curtido, ou comentado, ou seja, coisas que as pessoas não curtem somem rapidamente da sua Timeline, de forma que apenas o que é apreciado "coletivamente" permanece. Daí que como todos já sabem, todo mundo no Facebook é feliz, é de esquerda, é a favor das minorias, etc. Ser contra o que todo mundo é a favor (pelo menos no FB) é pedir para cair no esquecimento, e obviamente que o que as pessoas menos querem - por mais que digam o contrário - é cair no esquecimento.
A meu ver a coisa mais curiosa do FB, Twitter e outras redes sociais é a criação de uma pseudo-proximidade. É realmente algo muito curioso o quanto as redes sociais criam a ilusão de que somos realmente próximos das pessoas por meio das ferramentas que ele nos proporciona. Curtimos, compartilhamos, comentamos coisas dos outros, temos diálogos "profundos" sobre a existência, a política, a vida com pessoas que conhecemos apenas pela internet e nos sentimos realmente próximos a elas. Somos "melhores amigos da internet". Este fato é o que estou chamando de pseudo-proximidade.
É algo extremamente interessante o fato de que em várias vezes encontrei com pessoas com quem mantinha contato apenas pelo FB ou Twitter, reconhecer a pessoa, e não fui capaz de cumprimentar porque por mais que tenhamos conversado por meios online tal pessoa era uma completa estranha para mim.
Essa pseudo-proximidade acaba por ressaltar para mim uma dinâmica muito hipermoderna desse "homem mônada" que se isola cada vez mais dos outros humanos mantendo contato restrito apenas com um grupo cada vez mais seleto (tendência essa já chamada por alguns de "tribalismo") visando apenas um vínculo específico em torno de objetivos extremamente específicos. Aquilo que Lipovetsky chamava de "nova ordem do dia para Narciso", ou seja, não se trataria mais de um isolamento tout court do sujeito, mas trataria mais de vinculá-lo aos pequenos grupos, de forma que em um "engajamento qualquer" esse Narciso se veja ancorado de alguma forma a alguma coisa, por mais fluido que tal engajamento ou tal ancoramento possa ser.
A pseudo-proximidade se mostra então como uma dessas frágeis âncoras para o sujeito hipermoderno- cibernético que, por mais conectado que esteja, cada vez mais se encontra condenado ao ostracismo uma vez que o excesso de contato online acaba mitigando cada vez mais também os contatos offline para várias pessoas. Dessa forma, preso em seu computador se conecta ao mundo todo, mas desconhece provavelmente o nome do seu vizinho. E assim segue Narciso, pseudo-próximo de vários, extremamente antenado em si mesmo, mas sem se conhecer, e longe do outro que poderia tirá-lo do mundo das pseudo-relações.