sábado, 30 de março de 2013

Feliz Páscoa



A páscoa é talvez a data mais importante para o Cristianismo, afinal ela celebra a ressurreição de Cristo que possibilitou a salvação de todo aquele que crê. A páscoa é uma das festas judaicas assimiladas pelo Cristianismo. Em meio a toda a dinâmica atual do consumo que faz da páscoa apenas uma data comercial no intuito de vender ovos de chocolate acho importante relembrar o real sentido e origem desta festa. 

Como a maioria deve saber, a prática de dar ovos de presente é bastante antiga e antigamente as pessoas se presenteavam com ovos pintados, ovos de ouro, etc, até que com os espanhóis na América maia/asteca desenvolveu-se a prática de fazer ovos de chocolate para presentear uns aos outros. No entanto, a páscoa não tem nada a ver com ovos, mas tem a ver com a história, a escravidão, a libertação.

A páscoa judaica celebra a saída do povo do Egito liderados por Moisés descrito no livro do Êxodo. A páscoa celebra esta memória. 

Enquanto o povo estava preso no Egito, Deus enviou as 10 pragas. Moisés havia falado ao povo de Israel para que aos 10 dias daquele mês o povo tomasse um cordeiro e o reservarssem para que no décimo quarto dia eles o  sacrificassem e o comessem.

Depois de comido o cordeiro, o sangue dele deveria ser aspergido na porta. O cordeiro deveria ser comido com ervas amargas e pães ázimos. Naquela noite aconteceria a última praga que seria a morte de todos os primogênitos, cuja casa não estivesse com o sangue de um cordeiro na porta. O povo de Israel fez conforme a ordenação dada por Moisés, e na noite em que o "anjo da morte" passou sobre o Egito, toda casa que tinha o sangue na porta foi poupada, enquanto a casa dos egípcios que não tinham colocado o sangue na porta teve o primogênito morto. Após este ocorrido o Faraó libertou o povo que andou pelo deserto até à terra prometida. Deus ordenou ao povo que isso fosse sempre lembrado, como "estatuto perpétuo" para lembrar ao povo da libertação que Deus lhes proporcionou naquele dia. O pão ázimo lembra o sofrimento enquanto o cordeiro lembra a salvação. 



A páscoa cristã é entendida como sinal da redenção que Deus deu aos cristãos. Na páscoa, celebramos a ressurreição de Jesus que, com isso, redime o homem do pecado, dando a este a possibilidade de se achegar a Deus de forma direta, sem intermédiarios.
Assim como o cordeiro era imolado na páscoa judaica e comido com ervas amargas (como lembrança ao povo de Israel sobre o tempo que passou no Egito como escravo), o cordeiro de Deus foi morto em meio a sofrimento, para libertar os homens do pecado. Cristo, ao se sacrificar por todos, apagou essa exigência da imolação de um animal para que o pecado fosse perdoado. Se antes, para todo pecado cometido era preciso que um animal fosse sacrificado, Cristo substitui a necessidade deste sacrifício se colocando como cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo por meio de seu sacrifício (Jo 1:29). Sacrifício último, vicário, uma vez que é o próprio Deus que morre para que tenhamos vida. Com o sacrifício de Jesus, temos acesso direto ao pai.
Depois de três dias, Cristo ressuscita dentre os mortos, vencendo a morte e possibilitando a todos a esperança da ressurreição no último dia. A ressurreição é celebrada porque é por meio dela que a salvação é possível. Nas palavras de Paulo, "E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé." (1 Coríntios - 15:14). A ressurreição de Cristo nos marca profundamente. Ela então está no centro da pregação cristã e por isso celebramos a páscoa. A liberdade dada ao povo no Egito é levada às últimas conseqüencias pelo Cristo que nos liberta para vivermos uma vida em abundancia.
Celebremos, pois, esta dada, e lembremo-nos de seu real significado: a ressurreição de Cristo e o amor de Deus pelos homens.
Feliz páscoa!

Não se deprima. Não se deprima...







Minha mãe, sempre que conversamos sobre tempos já idos, me diz que eu gostava muito dos "Menudos" quando era pequeno. Que gostava de dançar as músicas, principalmente aquela "Não se reprima". Para os mais saudosos, ela pode ser vista aqui.

Com certeza, no contexto da época, a música dos Menudos fazia todo sentido, afinal, os anos 80 foram marcantes para toda uma geração ávida por mudanças tanto estéticas,  culturais, etc. Nutrindo-se ainda das "revoluções" dos anos 60 e 70, os anos 80 ainda gritava por liberdade de expressão, liberdade corporal, etc. Isto tudo evidenciado de forma bem interessante pelos meninos porto-riquenhos dos Menudos. Essa busca frenética por uma identidade própria é algo que vemos crescendo e ainda hoje não podemos dizer que este fenômeno tenha acabado.

Gilles Lipovetsky, um filósofo francês, traz boas reflexões sobre como o culto ao individualismo promove atualmente várias mudanças de comportamento, dentre outras coisas.
A grosso modo, a proposta de Lipovetsky nos aponta que, o individualismo contemporâneo contribuiu e muito para o enfraquecimento das estruturas que mediavam a relação homem-mundo, tais como a religião, a moral, etc. Este enfraquecimentos faz com que o acesso do homem à "realidade" agora se dê de uma forma "direta", (A relação direta proposta por Lipovetsky é diferente da proposta de Dewey  pra quem o homem nunca teria um acesso direto à realidade, mas sempre mediada por algum tipo de visão de mundo, etc. Não cabe aqui apontar as diferenças entre ambos, mas cabe ressaltar que Lipovetsky pensa esta "relação direta" como acesso-não-mediado-por-estruturas, típicas de uma cultura individualista e não como acesso sujeito-objeto que seria mais próximo a Dewey.)  e isso aliado ao exacerbado individualismo constituído a partir do final do século XIX e todo o século XX, ajudaria o homem a desenvolver várias das chamadas "doenças psi", ou seja, a bulimia, anorexia, os aumentos dos casos de depressão, distúrbios de personalidade, etc.

Na análise dele, o fato deste homem precisar lidar de forma "direta" com esta realidade que o cerca faz com que ele em algum momento não consiga se manter unido em sua estrutura psíquica, e isto seria um dos principais agravantes do aumento das chamadas "doenças psi". É como se o "excesso de liberdade" almejado tivesse um preço muito caro que é pago pelo indivíduo de forma não pouco dolorosa.

Infelizmente não dá para desenvolver aqui a relação que Lipovetsky desenvolve a respeito da cultura do individualismo, e como isso agravaria o advento destas novas doenças, e até que medida as próprias estruturas são "reconfiguradas" para atender à lógica individualista. Para quem tiver interesse no assunto, recomendo a leitura as obras "A era do Vazio", "Hipermodernos" onde Lipovetsky aponta estas relações de forma mais detalhadas.

Obviamente que não há aqui nenhum tipo de saudosismo por parte de Lipovetsky em relação aos tempos idos. O que ele procura ressaltar é como que se pode estabelecer uma relação interessante entre o individualismo contemporâneo e o agravamento das "doenças psi".

O mundo hoje é um pouco diferente do mundo da década de 80 quando os Menudos fizeram sucesso. A repressão hoje ainda existe é claro, mas ela se dá de forma bem mais "sorrateira" que nos anos 60 ou 70. Pelo menos no Brasil, ninguém vai ser preço se criticar os militares, a Dilma, ou qualquer outro governante brasileiro. Em grande parte, a liberdade de expressão hoje é algo bastante difundido, e as redes sociais provam isto de forma bem nítida. As diversas campanhas no Twitter, Facebook contra Renan Calheiros, Marco Feliciano, liberação da maconha, dentre outras inúmeras, mostram que a repressão mudou seu "modus operandi".

Curiosamente a própria configuração atual que gera as novas "doenças psi" oferece os "remédios" para que o indivíduo se cure. Isto pode ser comprovado se observarmos como que hoje em dia é frenética a procura por "se estar bem". Práticas como acunpuntura, Yoga, Shiatsu, comer bem, praticar exercícios, tudo isto é enfatizado para que o indivíduo consiga "resolver" os problemas e não sucumba à depressão, bulimia, etc.

Dada a atual conjuntura brevemente exposta aqui a partir de algumas análises de Lipovetsky, acredito que para que os Menudos conseguissem fazer sucesso hoje, talvez ao invés de "não se repima, eles deveriam cantar "não se deprima".

segunda-feira, 25 de março de 2013

Galo 103 , e 105 anos




(Novamente o Blogger apagou meu post. Este texto escrevi em 25/03/2011 e agora republico)


Puro amor!
Só entende quem já provou,
Só compreensível aos corações apaixonados.
Inexplicável.

Somos chamados de loucos pois nosso amor cresce apesar das circunstâncias desfavoráveis;
Amor desinteressado,
Tudo suporta, tudo espera, tudo acredita...

Sentimento oceânico quando te vemos entrar em campo, sentimento de identificação
Sentimento que transcende as palavras, nos abre para a dimensão do amor.
Amor desinteressado,
Tudo suporta, tudo espera, tudo acredita...

Galo ! Uma vez até morrer.

Até que a minha morte nos separe!
Afinal, Tu não morrerás jamais!

Galo não é time, Galo é religião !!!

Ave Galo!!!!

Respostas?




Quem não procura por elas? Quem não gostaria de saber exatamente cada resposta a cada pergunta? Desde as mais simples às mais complexas. Se não quiser dominar todas elas, pelo menos saber por qual caminho percorrer para encontrá-las, afinal acredito que se já soubéssemos todas as respostas para tudo o tempo todo a vida seria extremamente sem graça e sem sentido. Mas ao mesmo tempo, se soubéssemos onde pudéssemos encontrar cada resposta a cada pergunta, bastando para isso um pouco de esforço de nossa parte, acredito que muita gente ficaria extremamente feliz com a possibilidade e não cessaria a cada vez que um novo problema surgisse.

Talvez esta idéia tenha sido o grande propulsor da ciência no século XVII, XVIII e XIX onde a promessa de que um método seria capaz de resolver todos os problemas encantavam vários estudiosos desta época. A noção de que se usássemos nossa razão da forma correta descobriríamos todos os segredos do universo, de nós mesmos, etc. Uma supervalorização da racionalidade que várias vezes ainda vemos hoje em dia ser ingenuamente usada em vários tipos de discursos. Um iluminismo que levou o homem à escuridão. Uma promessa que não se cumpriu, enfim o desejo das respostas definitivas não foi suprido.

Outras pessoas costumam falar que Deus tem as respostas para os nossos problemas. Se não para todos, pelo menos para a maioria. Este grupo de pessoas afirma que Deus teria um "propósito" em cada coisa que Ele faz, como se tudo estivesse já arquitetado em sua mente e que mesmo se não entendemos, podemos confiar que tudo está no controle Dele. Esse Deus teria as respostas, e quando quiséssemos saber algo sobre nossa vida, sobre o que nos sucede, basta perguntarmos a Ele que Ele nos responderá.

Curiosamente o Deus cristão se afasta um pouco desse Deus "estigmatizado" acima. Se pegarmos vários relatos bíblicos vemos que Deus quase nunca responde às perguntas da forma como se espera que um Deus responda. Se tomarmos o exemplo de Jó que quando pergunta a Deus o motivo de sua miséria recebe como resposta diversas outras perguntas temos uma prova disso que estou falando. O exemplo de Jesus na cruz também ilustra o ponto aqui. Ao clamar "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste", o que ele obtém é nada além de um silêncio que em nada o responde. O mesmo exemplo de Jó se aplicaria ao Eclesiastes que termina o seu livro sem nenhuma resposta, apenas uma constatação de uma esperança a ser buscada nesta vida. Mas claro que vemos algumas passagens onde Deus responde de forma mais "direta", como por exemplo no caso de Gideão e sua prova com o cobertor de lã, ou Abraão conversando com Deus sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. Curiosamente a maioria destas "respostas diretas" de Deus se encontram no Antigo Testamento, muito provavelmente pela visão que se tinha de Deus naquela época. No Novo Testamento não temos relatos destas "respostas diretas", exceto talvez no caso de Paulo no caminho de Damasco.

Curiosamente o Bhagavad Gita mostra um outro tipo de Deus. Arjuna quando se coloca no meio da batalha e fica em dúvida se deve ou não matar seus parentes pede ajuda a Shiva e lhe pergunta sobre o que deveria fazer, e Shiva lhe responde exatamente o que ele gostaria de saber, lhe informando o caminho para a iluminação e dando diretrizes sobre o que deve ser feito em relação a batalha. A resposta de Shiva compreende basicamente todo o Bhagavad Gita. Obviamente as respostas de Shiva se dão várias vezes de forma bastante enigmáticas, mas ainda assim o livro todo se constitui como um diálogo entre Arjuna e Shiva.

Mas o que quero apontar com isso? O simples fato de que as mais diversas formas de construção para dizermos onde encontrar as mais diversas respostas talvez não passem de meras tentativas, algumas frustradas outras nem tanto, dependendo sempre do quão dispostos estamos na procura delas. A tentativa cientificista herdeira do iluminismo ainda está em voga e hoje muito impulsionada pelas pesquisas das neurociências. As respostas de cunho religioso também estão em voga dado uma nova onda espiritualista que se mostra no século XXI com muita força. Será que através de algum destes caminhos encontraremos as tão sonhadas respostas? O homem, definido enquanto "Ser que pergunta", não teria o seu fim se encontrasse todas as respostas?

Como diria o profeta: "O meu justo viverá pela fé", mas o que é a fé senão uma eterna dúvida? E o que é a dúvida senão o formular de mais perguntas?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma reflexão simples para uma noite chuvosa




Acredito que a medida que o tempo vai passando as elaborações vão ganhando mais densidade, mas o grande ganho é quando elas ganham em simplicidade. Uma grande virtude a meu ver é quando alguém consegue expor de forma bastante clara um assunto extremamente complexo. A clareza da exposição demonstra aos ouvintes que aquele que fala sabe sobre o que fala.

Ele não precisa de palavras suntuosas, não precisa ostentar títulos. O conhecimento deste sujeito sobre determinado assunto está sedimentado, está arraigado sobre boas bases e por isso ele é capaz de expor tudo como quem conta uma pequena história a uma criança.

Na minha opinião, o excesso de conhecimento sobre algo sempre deveria levar o sujeito à clareza da exposição. Muito me incomoda pessoas cujo excesso de estudo leva à pedância, ao destrato do outro e demais atitudes tão estranhas. Este tipo de pessoa ganhou em conhecimento, mas ainda não ganhou em sabedoria, e talvez isto seja sempre mais triste.

Um exemplo disto que estou falando pode ser visto na terceira carta de João. Lá ele escreve a Gaio, a quem trata pelo nome de "amado". Escreve uma carta simples, sem formulações teológicas complexas. Pouca coisa na carta nos lembra o João que escreveu os evangelhos, preocupado em demonstrar a unicidade de Jesus para com Deus, preocupado em vincular o Cristo à noção de Logos, etc. A carta é simples, tão simples que João formula um grande princípio de sua primeira carta em poucas linhas. Ele diz a Gaio: "Amado, não sigais o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus." (3João 1:11)

Qualquer pessoa familiarizada com os escritos joaninos percebe nesta formulação simples um grande princípio teológico evidenciado deste o João que andou com Cristo até o João da primeira carta escrita há pouco tempo antes, passando por Tiago, que é o princípio de que o amor sempre se evidencia em uma prática concreta no mundo. (Toda a primeira carta  João enfatiza bastante este ponto, principalmente o capítulo 4)  Ou seja, uma "prova" de que alguém realmente caminharia com o Cristo, ou seguia os passos do Cristo seria a sua atitude para com o mundo. Se ele age bem, ele é de Deus, se faz o mal não tem visto a Deus, mas apenas uma "imagem distorcida" para usar as palavras de Paulo.

A complexidade e a simplicidade todas unidas em uma pequena formulação. Fruto da experiência, da dedicação de João que consegue ver no amor a expressão máxima de todo cristianismo. Que João nos sirva de exemplo, e que possamos ser simples como as pombas.

terça-feira, 19 de março de 2013

Palavras jogadas (Republicado)



Eu sempre achei que um bom sinal de saber
se vc tem um relacionamento bacana com outra
pessoa é vc conseguir ficar calado perto dela e
isso nao incomodar. alcancar a incomunicacao...
um silencio que nao incomoda é sinal de cumplicidade e isso demora muito para se conseguir.

Em um mundo onde tudo deve ser rapidamente comunicado, o silencio vira quase que um tesouro perdido.

E na maioria das vezes sobre o que falamos?

Falamos trivialidades, coisas corriqueiras, assuntos fúteis, besteiras que qualquer pessoa além de nós mesmos seria capaz de falar.

Na maioria das vezes nossas palavras não trazem vida a ninguém. Um todo fútil. Palavras jogadas ao vento e que nunca recolheremos nem mesmo as veremos produzindo algum fruto.

Desperdiçamos como quem tem de sobra, como quem não precisa dar contas das palavras que se dizem. Palavras contra palavras, nada além disso.

Palavras vaizas, mas que por algum motivo insistimos em dizer. Parece que há um senso comum em achar que o silêncio é sinal de fraqueza, que as pessoas devem sempre falar alguma coisa.

Não sou desta opinião. Valorizo o silêncio. Valorizo as palavras que edificam.

Se a boca fala do que está cheio o coração, como já dizia o cristo, e nosso falar remete apenas a futilidades, podemos dizer que nosso coração está cheio de futilidade. E se ao mesmo tempo, o nosso tesouro está onde está o nosso coração, podemos falar que o nosso tesouro está em futilidades. (Isto deduzido por mero silogismo)

talvez por isso falamos futilidades, gastamos com futilidades e a vida fútil vai seguindo como uma espécie de "dever-ser". Uma dinamica típica do capitalismo, da dinamica de consumo onde até mesmo as palavras se tornam futilidades.

A palavra cria e destrói mundos, mas também pode ser usada como nada além que palavras jogadas ao vento, e infelizmente é o que mais vemos hoje em dia.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sobre o dia internacional da mulher


Escrevi este texto no ano passado, e por algum motivo o Blogger o apagou do meu Blog. Desta forma re-publico. 

É claro que hoje no dia 08/03 as mulheres devam ser parabenizadas pelo seu dia, afinal é uma questao de "direito adquirido". No entanto, é sempre bom lembrar que apenas em uma cultura extremamente machista há esta possibilidade de reservar "umdia"para lembrar e tentar compensar todo o descaso que se há com elas neste tipo de sociedade. A dinamica social acaba por criar meios paleativos de "homenagear" quem é esquecida quase todos os dias pelos mesmos meios que hoje criam tal dinamica social. Enfim, Parabéns pelo dia das Mulheres, mas nao esquecamos que todos os dias devem ser dia das mulheres, dia daigualdade de gënero, dia da igualdade de oportunidades, dia da valorizacao da mulherdia da nao-vulgarizacao da mulherdia de ve-la nao como "objeto sexual" (dadas as inúmeras propagandas que vemos hoje em dia nesse sentido, tais como cervejas, cigarros, roupas, etc), só assim, acredito que poderemos felicitar as mulheres todos os dias e nao apenas um dia no ano.

A dinâmica evidenciada no parágrafo acima se mostra tão perversa a ponto de transformar toda a comemoração em algo meramente comercial, e se o princípio regulador será o comércio, nada melhor que transformar o "objeto homenageado" como mercadoria, que é geralmente o que é feito. Percebe-se dessa forma a completa degradação tanto do valor da comemoração quanto do próprio mecanismo social.
Neste sentido, tudo pode ser transformado em mera mercadoria de consumo. Esta apropriação tanto social quando midiática foi muito bem ilustrada por Marx e vários outros depois dele, é algo que até hoje merece nosso questionamento.

A dinamica relacional também se mostra deturpada nesta relacão criada pelos meios de comunicação. Em uma sociedade em grande medida narcísica, o outro enquanto alguém diferente de mim tende a ser visto como mera projeção minha. A dinamica do Eu-Tu tão bem ilustrada por Feuerbach perde lugar para a relação Eu-Isso tão bem ilustrada por Martin Buber. Neste dia 08 de março todas estas relações aparecem de forma muito escancarada e apenas quem não tem olhos para ver que não veem.

Feuerbach muito bem nos mostrou e nesta linha também seguiu Buber que o Tu sempre se coloca ao Eu como limite. Na presença do Tu eu me vejo como ser finito, como ser incompleto e ao mesmo tempo como um ser-diferente-do-outro. O Tu portanto se mostra como necessário para me ver como indivíduo. Se não houvesse o Tu, todas os outros seriam como que "iguais" a mim e eu mesmo não me diferenciaria de ninguém. Por isso que a relação Eu-Tu se mostra como paradigma da relação do indivíduo com o mundo.

A relação Eu-Isso evidenciada por Martin Bubber evidencia que ao estabelecer a relação com o Isso não há um envolvimento de caráter pessoal. O "Isso" é apenas um objeto para mim e dessa forma toda relação se pauta apenas na necessidade imediata com determinado objeto. Ele é algo a ser apenas "estudado", com o qual eu não me relaciono humanamente, mas apenas como objeto de conhecimento, uma relação onde o caráter humano, o caráter de encontro se perdeu.

Mulher, homenageada hoje, tida como o Tu essencial, da qual todos os outros homens dependem é vista no resto do ano como um "Isso", como mero troféu por parte da mídia, como enfeites nos programas de auditórios. Há algo que se perde nessa dinamica, e é exatamente o caráter personalíssimo do indivíduo, e neste caso específico, da mulher.

Diante dessa degradação, o Tu sendo transformado em um Isso não há como esperar uma relação diferente da comercial em dias de comemoração como pretendem fazer hoje. E esta dinamica voltará a acontecer no dia das mães, dos pais, natal, etc..

Muito poderia ser dito, mostrar como que esta crise da identidade carente de um Tu influencia em nossos relacionamentos líquidos de hoje, para usar a expressão do Zygmunt Baumann, mas por hora fiquemos por aqui...

terça-feira, 5 de março de 2013

Uma reflexão esparsa... Nada conclusiva




Acredito que há dois indícios interessantes de que duas pessoas são realmente amigas.

O primeiro é o fato da pessoa dizer ao outro aquilo que a incomoda a qualquer momento. Não há necessidade de meias palavras, não há rodeios. Se aconteceu algo que desagradou, uma barreira foi excedida, um deslize foi cometido, prontamente os amigos verdadeiros vão dizer.
Eles não precisam enfeitar o ocorrido. Eles apenas dizem, e o outro compreende. Simples assim.
Esta facilidade na comunicação evidencia que o grau de cumplicidade de ambos atingiu um patamar elevadíssimo, afinal a cada dia que passa mais as pessoas se mostram indispostas a qualquer tipo de contrariedade. Várias não suportam nenhum tipo de admoestação, nenhum relato de deslize, enfim, nada que as tire do seu próprio "modus operandi".
Apenas o verdadeiro amigo encontra este canal aberto e diz o que tem pra dizer, e ao invés de ser mal compreendido é entendido, pois o outro que recebe a crítica também é um amigo. Esta facilidade de comunicabilidade, a meu ver, é um indício de que duas pessoas são realmente amigas.

O segundo é o fato de uma conseguir ficar em silêncio do lado da outra sem que isso vire um problema, sem que em sua mente você fique procurando algo para dizer para acabar com a quietude do momento. O silêncio entre ambos não indica neste caso uma falta de assunto, mas um excesso de cumplicidade. Eles estão ali, estão próximos, às vezes tem várias coisas para compartilhar, mas por algum motivo o silêncio passou a reinar entre eles, e isso em nada incomoda os presentes. O silêncio é um excelente teste para a amizade. Quando o fato de ficar em silêncio se torna insuportável ao outro, a meu ver, é sinal de que a amizade ainda não alcançou aquele lugar tão almejado. Falta ainda um patamar, talvez o último patamar. Talvez uma amizade verdadeira seja uma grande iniciação ao silêncio. Mas um silêncio de cúmplices e não um silêncio de incomodados.

Concluindo: A facilidade da comunicabilidade e o silêncio diante do outro são, a meu ver, os dois indícios de que duas pessoas são realmente amigas. Obviamente podem haver outros bons indícios, mas a meu ver estes dois são cabais e a prática deles entre os amigos verdadeiros é muito comum.

PS: Claro que o fato de estar sempre presente, se mostrar disponível, ser aquele em que se pode confiar, dizer o que quiser e ser compreendido, confidenciar coisas, sentir-se amado, acolhido, etc são características centrais de boas amizades, ressaltei as duas porque são geralmente pouco lembradas e a meu ver são boas provas de uma verdadeira amizade.

PS2 : Tenho poucos amigos assim e por isso sou tão grato por eles !

sexta-feira, 1 de março de 2013

Salmo 88 - Esboço comum que pode ser visto em qualquer pregação evangélica






Gosto muito do Salmo 88 por mostrar uma face do salmista muito pouco explorada.


Salmo 88 (http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/88)

Os Salmos sempre são vistos por todos como um livro alegre, festeiro, usado em diversas celebrações tanto nos cultos como durante as inúmeras pregações. Sempre ouvimos eles sendo recitados durante o período de louvor, lido no início do culto para incitar os outros a cantar, celebrar e etc. No entanto, quando olhamos o Salmo 88 parece que mudamos de livro e não mais lemos os tão queridos salmos que nos incitam a celebrar. Muito pelo contrário, vemos um salmista deprimido, abatido, sem forças. Nenhuma de suas orações parecem ser respondidas. Um salmista cansado, sem esperança. A visão que temos é de um homem que não mais acredita que algo bom virá, resta-lhe apenas esperar a morte, no entanto ele ainda clama a Deus por socorro, mas parece não haver resposta, por isso anda aflito, desorientado, sem um norte para onde fixar o olhar. E tragicamente, o salmo termina sem uma resposta. Fica o lamento, um salmista em depressão, sem ter para onde olhar, que pode apenas confiar que em algum momento o Deus em que ele crê virá para o resgatar, mas isso não acontece. 

O salmista evidencia diversos sinais de depressão, e nem por isso ele se torna um pecador, alguém que deva ser "expulso da congregação" dos justos. A depressão não é algo maligno, vindo do diabo ou qualquer outra coisa. A idéia de que o cristão não deve ficar deprimido não faz sentido, e a meu ver serve apenas para colocar um jugo sobre uma alma já muito atribulada.  A depressão é algo humano da qual todos podem ser acometidos em algum momento da vida por motivos diversos. Alguns terão mais facilidades para desenvolvê-la, outros menos, mas não acredito que a depressão seja algo apenas patológico, mas que envolva outros fatores externos. Não falo de nenhuma metafísica, ou mal espiritual, não. Por fatores externos digo algum acontecimento que nos abalou, algo que nos fez perder as esperanças, etc. 

O que acho interessante em ver este salmo encrustado no meio do livro de celebração é que ele nos mostra que os momentos ruins também acontecem durante a vida, e eles fazem parte dela. Mesmo que na hora não tenhamos uma resposta, isso não deve tirar nossas esperanças. O salmista não oferece uma resposta para a sua angústia. Deus não o responde. A depressão que ele sofre continua lá. Este é o único salmo atribuído a Hemã, um dos filhos de Coré. Provavelmente Hemã era um levita responsável pelas atividades do templo, ou seja, provavelmente era um líder de seu tempo que não sabia para onde caminhar, que sofria, que andava deprimido sem ter a quem recorrer uma vez que como ele diz no final "para longe de mim afastaste amigo e companheiro: meus conhecidos são trevas". (v.18)

Então o que fazer? Hemã não nos responde, ele apenas diz que continua a clamar por auxílio enquanto vive. Ele crê ! Mesmo acreditando que o mal que ele sofre venha de Deus, ele ainda crê que este mesmo Deus virará para ele Seus olhos e virá em seu auxílio. Talvez como Jó que crê, Hemã também creia. 

Hoje em dia já há vários tratamentos para a depressão, diversos remédios, terapias, etc. Mas até hoje a atitude positiva de Hemã ainda é um excelente remédio para a luta contra a depressão. Crer que o melhor estar por vir, crer que esta situação não é definitiva, crer que algo ou alguém virá em meu socorro e me ajudará, crer que talvez haja algo que eu possa fazer para não sucumbir às trevas que me rodeiam. Diversos estudos científicos já mostram que atitudes positivas diante de tempos difíceis ajudam na recuperação, e talvez isso fosse algo que Hemã já soubesse há algum tempo atrás. Não que isso o fizesse parar de sofrer, mas com certeza isso o ajudava a continuar seguindo.