Um texto de 10 anos atrás encontrado nos escombros do computador.
O
problema de Deus em Leibniz é um problema extenso e não pretendo
aqui esgotar o assunto. O que eu pretendo aqui é fazer uma pequena
reflexão sobre o papel de Deus na metafísica de Leibniz.
Em
seu texto intitulado “Uma
Definição de Deus, ou, de um Ser Independente.”(Definitio Dei Seu
Entis A Se),
de 1676, Leibniz afirma que Deus é um ser de cuja possibilidade (ou,
de cuja essência) segue-se Sua existência. Se um Deus,
definido de tal modo, é possível, segue-se que Ele existe.
O
tema da metafísica de Leibniz é a pergunta de como deve ser o
mundo, se temos a noção de Deus ? Para
Leibniz, Deus é o criador de todas as coisas e é absolutamente
perfeito, e uma vez que Ele é um ser perfeito, a sua criação será
a mais perfeita possível. Leibniz afirma que a coisa é boa e por
isso que Deus faz, e não que Deus faz algo ser bom ou não. A
potência máxima para Leibniz não é criar a razão, mas sim,
criar de acordo com a razão. Isso segundo ele é o que é ser livre.
Leibniz
tem a idéia dos mundos possíveis. Segundo ele, Deus contempla todos
os mundos e cria o melhor dos mundos possíveis . Deus age desta
forma porque Ele não pode ferir o princípio da não contradição.
Criar o melhor dos mundos possíveis é agir de acordo com a razão.
A posição de Leibniz se assemelha com a visão medieval que
afirmava que Deus não pode fazer contradições lógicas. Deus está
também sujeito aos princípios lógicos.
Essa
sujeição de Deus a esse princípio no entanto, não limita o poder
de Deus. Deus tem todo o poder para fazer todas as coisas, Ele não
faz porque se fizesse, implicaria em contradição à sua obra, e uma
vez que Deus é perfeito, ele não pode cair em contradição. Por
exemplo: Deus não pode criar um mundo onde não existisse o
princípio da não contradição, isso porque seria inconsistente ele
contemplar um mundo melhor e criar um mundo pior.
Deus também é um
ser onisciente. Ele já criou todas as coisas com tudo
pré-determinado para elas. As substancias já contem em si tudo que
lhe aconteceu, acontece e acontecerá. Só que a substância não
sabe disso. Somente Deus sabe de todas essas coisas. Essa onisciência
de Deus faz com que Ele tenha a noção completa da substância com
todos os seu acidentes. Havia um posição escolástica que defendia
que Deus sabe as coisas que a substância fará pelos futuros
contingentes. Leibniz no entanto discorda dessa visão e afirma que
Deus não pode prever algo que é livre e indeterminado, ao contrário
ele já cria a substancia com tudo o que vai acontecer a ela.
Segundo
Leibniz, o melhor sempre implica em perfeição, e Deus escolhe
sempre o melhor. Leibniz em sua metafísica, quer explicar o problema
do mal, e Leibniz resolve este problema pela teoria dos mundos
possíveis. O mundo sem o mal, seria contra o princípio de não
contradição. Para ele, o mal veio ao mundo para que Deus pudesse
colocar neste um bem. A queda de Adão para Leibniz comprova que o
melhor mundo possível seria aquele em que Deus se fizesse presente
fisicamente nele, e por isso a queda do homem.
Leibniz
afirma que o pecado é necessário para um bem maior, pois sem ele,
não haveria como implantar a justiça, uma vez que a justiça
precisa do pecado para existir. Deus não poderia criar um mundo
justo, se não existisse o pecado.
Leibniz
não questiona a necessidade de um mundo sem justiça, ou sem pecado.
Para ele isso seria possível, uma vez que não havendo pecado, não
haveria a necessidade da justiça. Isso não implica em contradição,
portanto é possível pensar em um mundo assim.
Deus
sendo onisciente e conhecendo todas as coisas, o homem como emanação
de Deus, também é um ser livre e age livremente. Leibniz enfrenta
um problema que é o de tentar conciliar a graça de Deus com um
certo “determinismo” da parte de Deus. A discussão não é
própria de Leibniz e remonta a autores medievais que discutiram
largamente essas questões.
Segundo
Leibniz, o homem peca porque age precipitadamente, mas esse acidente
já fazia parte de sua composição. Leibniz resolve o problema da
liberdade afirmando que ser livre é agir de acordo com a razão.
Deus não determina que alguém vai pecar, o homem peca livremente. E
peca livremente porque era possível que ele não pecasse. Segundo
Leibniz, o homem pecou porque agiu precipitadamente, mas esse pecado
é necessário para um bem maior.
Deus
em Leibniz assume um papel central, uma vez que dependemos de Deus
para viver e para todas as outra coisas. Ao dizer que o homem é uma
emanação de Deus, Leibniz dá ao homem um status de criatura prima
de Deus.
Há
uma passagem bíblica que diz que os céus proclamam a glória de
Deus e o firmamento as obras de suas mãos. (Salmos 19:1). Leibniz
afirma a mesma coisa ao dizer que olhando para o mundo conseguimos
enxergar o criador. Essa idéia de Leibniz acerca desse
vislumbramento do mundo reflete a perfeição da obra divina em
todos os seus detalhes.
Concluindo:
Leibniz com os seus mundos possíveis resolve um problema até então
insolucionável que é o problema de como deve ser o mundo. O Deus
perfeito de Leibniz cria todas as coisas com uma harmonia
pré-estabelecida e dá aos homens tudo o que é necessário para que
eles vivam bem. Infelizmente agimos precipitadamente, e segundo
Leibniz, é por isso que pecamos, mas a graça de Deus faz com que
esses nossos erros se convertam no melhor possível para nós.