segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Observai as plantas nos jardins...






Onde eu trabalho há uma planta muito interessante. (Descobri que seu nome é "Mimosa Pudica".)

Toda vez que encostamos em uma de suas folhas ela se fecha completamente como forma de defesa. E não precisamos ser muito "invasivos", ao menor toque em sua superfície ela se transforma em um pequeno cone o qual nós não conseguimos abrir por mais que tentemos.

Mas a mesma folha, no final do dia quando estou saindo, está lá novamente aberta, se expondo, absorvendo o sol, a água que a natureza lhe dá. Questão de tempo.

Comecei a pensar em você.

Em como tem andado triste, preocupado, inconsolado, tentando achar refúgio em inúmeros afazeres que apenas te esconde de ti.

Não sei porque ages assim, sendo tão apático, indiferente e solitário. Não sei porque não levanta os olhos e contempla uma possível saída tão perto.

Por que não enxerga a luz que insiste em brilhar ao seu lado tentando te livrar desse mundo que você mesmo criou?

Por que não olha para o outro lado e percebe que para além do seu mundo existe outro, existe vida para além da sua escuridão?

Quem sabe não seja isso que falta? "Se os olhos do seu corpo forem luminosos todo o seu corpo será luminoso", já dizia o carpinteiro certa vez.

Há tempo para todo propósito debaixo do sol já dizia o Eclesiastes.

Talvez esse seja seu tempo de se sentir triste, abatido, solitário, inconsolável, talvez seja seu tempo de não conseguir ver a luz que brilha tão próximo, talvez seja o momento de se fechar.

Talvez seja seu tempo de fazer igual a folha do local em que trabalho.

Talvez seja tempo de se fechar realmente, de se recolher, de evitar que alguém se aproxime tanto de você, ficar sozinho um tempo.

Mas talvez seja o momento de ver a luz que brilha, de ver a saída tão perto, de olhar com outros olhos a situação e agarrar com todas as forças as opções que você tem. Ser como a planta no final do dia, aberta para receber o que lhe é dado de graça.

De uma coisa eu sei: Toda manhã eu passo na frente da planta, todo o dia eu a toco, eu tenho a esperança de que um dia ela não se fechará quando eu a tocar, então, poderei ter momentos onde eu também a tocarei sem reservas, a tocarei sabendo que assim como ela está aberta para o meu toque, eu também estarei aberta para o seu.

Nesse dia ela verá que na realidade eu não quero o seu mal, mas apenas poder ter momentos eternos em sua companhia.


Quem tem mãos para tocar, toque.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Recusa


Eu me recuso parecer que não me importo

Me recuso parecer que a vida das pessoas não faz diferença para mim

Me recuso olhar a todos como meros habitantes do mesmo mundo

Me recuso não erguer os olhos e ver a dor que meu próximo sente

Me recuso não dar uma palavra de apoio a quem precise dela mais que de ouro

Me recuso não oferecer ajuda a quem parece necessitado, mas não de comida e bebida, mas de sorrisos e de auxílio

Me recuso encarar todas as coisas como se elas nada importassem para mim

Me recuso ficar recluso em mim mesmo

Me recuso querer parecer o detentor da atitude mais racional, da atitude mais "politicamente correta"

Me recuso agir de forma leviana, como se o mundo estivesse apenas seguindo seu rumo

Me recuso viver uma vida fria, sem sentido, me abstendo de alegrias, temores, paixões

Me recuso viver na dependência de outro, como se esse outro fosse o motivo para eu fazer ou deixar de fazer algo

Me recuso tentar me mostrar controlador da situação quando na realidade sou vítima dela

Me recuso viver uma vida sem sentido

Me recuso aceitar simples dogmas como verdades sem antes serem discutidos

Me recuso ver certos relacionamentos como proibidos simplesmente porque a sociedade quer assim

Me recuso acreditar que a vida não tem sentido

Me recuso habitar um discurso hipócrita

Me recuso aceitar um discurso que não tenha sido aderido com reflexão

Me recuso viver um cristianismo medíocre, onde a troca reina imperante no meio do povo

Me recuso acreditar em um Deus que não seja primeiramente amor

Me recuso não me preocupar com quem me importo

Me recuso ser apenas mais um no meio da multidão que caminha sem face

Me recuso ser indiferente.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tentativa de resposta a algumas perguntas...







Talvez descobriríamos que as coisas que realmente importam não podem, nem poderiam ser descritas em palavras


Talvez veríamos que não há problema algum na mediocridade, contando que nem sempre há um sentido em tudo o que fazemos.


Talvez entenderíamos o que a fé realmente representa. Um salto no escuro onde não temos garantia nenhuma, exceto nossa mera entrega. Veremos que não importa o que dizemos, mas sim como agimos.


Talvez entenderíamos que nossas palavras não são para nós, mas para os outros. Que a própria árvore não se alimenta de seus próprios frutos, mas dão a outros o alimento que várias vezes é tão escasso.


Talvez entenderíamos que o fruto que geramos é para gerar vida em outros. Se esse fruto se dará em palavras, ou em ações, para quem irá comer do fruto pouco importa. O que o outro quer é se alimentar, é encontrar um outro alguém que talvez passe o mesmo que ele, e mesmo assim consegue extrair alguma beleza para além da situação visível.


Há uma frase da Adélia Prado onde ela cita que "Amor feinho é igual fé. Uma vez encontrado, não teologa mais".


O importante não é o que se fala sobre Deus, mas como se vive Deus. Se a esperança não se concretizar, se o banco estiver vazio, se o mundo não tiver sentido, se o vôo da menina com as borboletas não existir, mesmo assim teríamos que imaginar um Sísifo feliz. (Sísifo, o deus que foi condenado a mover uma pedra até o cume do morro, mas sempre que ele chegava perto do cume do morro, a pedra rolava morro abaixo novamente, e ele tinha que começar tudo de novo. Esse era o seu castigo para toda a eternidade).


Mesmo assim teríamos que viver nossa vida da melhor forma possível, sempre sabendo talvez que a esperança nunca se concretizará, sabendo que talvez nossa busca de sentido seja absurda, sabendo que talvez sejamos como Sartre diria: "Uma paixão inútil".


Talvez esse seja o maior desafio da fé. Se lançar no escuro, sabendo que talvez, não encontraremos nada onde pensávamos que encontraríamos.


A mediocridade então se converte em fé, se converte em esperança de que lançando o pão sobre as águas, ou lançando as palavras sobre o blog, elas serão repartidas com 7 ou até com 8, e depois de muitos dias a acharemos.


E talvez quando elas voltarem, voltará o sentido que foi o gerador delas, e então verás que na realidade o vazio era porque elas se foram e pareciam que não voltariam. Mas elas relembram de onde saíram e retornam trazendo junto consigo a alegria que levaram aos outros.



terça-feira, 17 de novembro de 2009

Boats


Desculpe-me se não consigo ser melhor nessa hora de extrema preocupação.


Desculpe-me se faltam as palavras que antigamente poderiam ser consideradas tão abundantes.


Me calo diante da dor que assola a todos nós nesses momentos que nos atingem de forma tão veemente, que vem sem explicar, que nos atormenta trazendo em si nada além da preocupação e da dor.


Quisera talvez poder estender minha mão e ser o braço forte que conduziria a todos para longe desse vale de sombras.


Quisera talvez poder saltar o abismo de dúvidas em que caímos e juntamente comigo trazer a esperança aos nossos corações abatidos.


Mas infelizmente a vida não é assim,


Há sempre algo nela que nos escapa, por mais que tentemos exercer nosso controle sobre ela, ela simplesmente se recusa a fazer as coisas como achamos que elas deveriam ser.


As vezes a morte nos rodeia, e juntamente com ela, nos vem o passado que as vezes nos atormenta, as vezes nos traz a esperança que nos falta nessas horas. Recorramos talvez o passado, se ele for desse segundo tipo, falemos como Jeremias da Lamentações:


"Quero trazer a memória aquilo que me traz esperança" (Lm 3:21)


Talvez esse seja nosso maior desafio nesse momento. Trazer a memória estas coisas. Deixar florescer a luz diante de nós.


Não digo para não sofrermos. O sofrimento é importante, nos ajuda a amadurecer, nos ajuda a ver a vida com outros olhos.


Calem-se pastores despreparados ! Não me venham com seus discursos ouvido de terceiros e que em nada se revela na prática de vocês.


Não penso que Deus queira ensinar nada pra ninguém nessa situação. Não acredito em um Deus cruel que usa as pessoas para ensinar outras sem levar em conta a primeira. Como sabemos, o homem nunca deve ser tratado como meio para nada, mas sempre como fim em si mesmo.


Não acredito em um Deus que agiria tendo o homem apenas como meio para algo.


Saiba que estou aqui. Preocupado também, mas tentando ser forte para que você possa ver em mim um auxílio, ver em mim um bom porto onde você possa descansar depois de velejar por essas águas que nesses dias estão turbulentas.


Tenhamos a esperança de que a bonança virá, e nos alegraremos ao ver nosso barco chegando ao porto.



domingo, 15 de novembro de 2009

Problemas filosóficos passando por Santo Agostinho







Santo Agostinho relata em suas confissões que, em sua busca por Deus, perguntou ao mar, à terra, às árvores, e tudo o que estava à sua vista se Deus estava ali, mas a resposta dessas coisas foi a sua beleza. E ele conclui que esse Deus que ele tanto procurava podia ser visto na beleza das coisas criadas. Achei a definição de Santo Agostinho muito interessante.

Quantas vezes vemos pessoas procurarem Deus em lugares tão inusitados, fazendo coisas como se esse Deus que elas buscam estivessem tão longe de si, tão longe que elas precisam gritar, fazer barulho, fazer vigilias para tentar encontrar esse Deus, mas Ele está tão próximo que se torna escondido para nós.

Talvez nos falta perceber que o "Deus absconditus", se revela na beleza das coisas que passam desapercebidas, e que assim como Santo Agostinho também nos falava, "Estavas mais dentro de mim do que o mais profundo de mim mesmo e mais acima do que o mais alto cimo do meu espírito" (Confissões III, 6,4).


Deus próximo.
Deus no próximo.
Deus nas coisas criadas.
Deus no outro.


É claro que, para Santo Agostinho, Deus se revelaria na beleza do mundo, mas também seria um ser completamente perfeito e transcendente, ele não se resumiria na imanencia das coisas criadas, mas as transcenderia.


Confesso que cada dia mais tenho me admirado com as pessoas. Tentando aprender a lidar com o jeito único de cada uma delas.

Tenho aprendido a admirar as coisas simples que me rodeiam, sem querer compreender todas elas, mas as vezes simplesmente contemplar a sua beleza.

Talvez a cada dia que passa começo a presenciar mais Deus.


Deus na imanência.


Mas talvez, para além da imanência, por que não falar de uma transcendencia? Mas em que sentido essa transcendencia se revela? Para onde ela aponta se não para o próprio mundo criado de acordo com sua vontade, expressão de um desejo divino de companhia?

Transcendencia na imanencia?


Problemas filosóficos...

Coisas que percebi




Primeiramente comecei a admirar as coisas, comecei a ver que várias delas são belas mas que mesmo com toda a sua beleza passam desapercebidas por nós.

Depois comecei a admirar as pessoas. Pessoas estas que às vezes passam pela nossa vida mas que por estarem sempre presente não nos damos conta mais da importância que elas têm em nossa vida.

Depois comecei a perceber que ter as coisas sem ter certas pessoas não faz sentido, uma vez que sem essas pessoas para estarem conosco, todas as outras coisas parecem opacas.

Depois comecei a compreender que as pessoas são mais importantes que as coisas.

E percebi que quem encontra um amigo encontra um tesouro.

Percebi que, como está escrito na bíblia, onde está o seu tesouro aí está o seu coração. E que talvez valha a pena depositar seu tesouro nas mãos de algumas pessoas.

Entregar seu coração, se expor diante de algumas pessoas, sabendo que elas te entenderão e não te julgarão, mas antes, serão aquelas que te trarão palavras de conforto em meio a tempestade, refrigério em meio à tribulação, consolo em meio à dor.

Aprendi também que as vezes corremos o risco de jogarmos pérolas aos porcos, mas acredito que, se pararmos e pensarmos, perceberemos a quem devemos entregar alguns de nossos tesouros, e com isso, evitaremos o desperdício.

Depois percebi que as vezes abrimos mão de pessoas que nunca deveríamos ter aberto mão. Percebi que talvez deveria ter sido mais atencioso com alguns, mais serenos com outros, mais aberto com outros, menos crítico com outro, falado mais com um, menos com outro; que poderia ter prestado mais atenção aos inúmeros sinais que meu vizinho estava fazendo tentando me dizer algo, e em nome de um outro algo não tão importante, preferi o deixar de lado e seguir minha vida.

Ah como aprendi algumas coisas nesses anos que se passaram. Como aprendi com as pessoas que já passaram por minha vida, pessoas estas que as vezes não têm noção do bem ou mal que me fizeram.

Como tento não repeti a constante frieza que tinha com várias delas. Como tento me expressar ao invés de ficar calado e parecer detentor da razão que não se abala por nada.

Percebi que as vezes parecer vulnerável é bom; mas confesso que ainda não aprendi ser assim completamente, e penso que talvez nunca conseguirei abrir mão do "gelo" que há em mim, mas acredito que uma parte do gelo começou a derreter, pelo menos para algumas pessoas.

E isso tem me feito bem.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Beleza da "Nublidade"









A beleza dessas manhãs têm me feito muito bem.
É como se todos os dias eu pudesse caminhar livremente por caminhos por onde ainda não passei
Caminhos antes fechados para mim, talvez, fechados por mim mesmo.

Como tem sido revigorante caminhar por eles. Tenho descoberto tantas coisas. Tenho entrado em tantos lugares onde nunca achei que poderia entrar.

Experienciar coisas que pensei só poderiam ser lidas nos livros, talvez em algum poema da Clarisse Lispector, ou em algum poema do Withmann

Mas não é assim.

A beleza das manhãs está na simplicidade delas, nada demais. Apenas um desejo de se caminhar, apenas o desejo de deixar que o sol brilhe, mas pouco de cada vez. Talvez seja isso a coisa mais bela da manhã.
O nascer do sol desafiando o céu antes nublado. "Nublidade" essa que vai se dissipando sem se perder. Um espetáculo digno de ser visto por todos.

Ver o despontar de um brilho que ilumina o que antes estava oculto.

Interessante que muitas pessoas não entendem o que acontece quando presenciam a cena. Acham que é apenas mais um dia comum que se levanta diante delas, perderam talvez a sensibilidade para se apreciar o evento. Só conseguem olhar e reclamarem por estar demorando o acontecimento. Não conseguem ver a mágica que ocorre diante de si.

Talvez a mágica só faça sentido para o espectador que está contemplando essa "nublidade" que aos poucos se dissipa, mas que insiste em permanecer. Talvez ela seja proibida a todos aqueles que não conseguiram entrar nesse caminho da descoberta.

Talvez nunca teria sido capaz de ver esse interessante acontecimento se não resolvesse entrar por esse caminho antes desconhecido. Como estou feliz por caminhar por ele, caminhar com ele, ver aquilo que está à sua margem, ver a beleza que reside na opacidade. Me mudando enquanto ando, e mudando o caminho enquanto por ele vou.


Talvez o caminho não mude, mas eu que mudo minha forma de vê-lo, e dessa forma é como se ele mudasse pra mim, mas talvez ele esteja mudando também, mas teria que voltar até ele para ver se mudou ou não. Talvez um dia eu retorne por onde comecei....


Penso que a cada dia que passa eu confio mais no caminho e ele confia em mim também, sei que posso andar com ele até os "vales da sombra da morte" e mesmo assim não temer mal algum porque ele estará comigo, afinal é ele quem me conduzirá. Da mesma forma o caminho se sente confiante em me deixar caminhar por ele sabendo que os pés que o pisam visam também o melhor para ele. O caminho confia em mim também.


Como tem me feito bem caminhar por esses caminhos antes desconhecidos, vendo a nublidade e, ao mesmo tempo, contemplando um pouco a luz do sol.


Novamente beleza da nublidade.


Considerações sobre matemática...

8 ------------------ 9


Entre um 8 e um 9 há um universo infinito de números menores.

Mas para que do 8 se passe ao 9, ou do 9 ao 8, salta-se esse universo infinito que os separam

E só assim podemos fazer a ponte que une um ao outro.

A ponte, essa não dá para explicar como foi feita, mas foi por ela que os dois números se viram unidos dentro do conjunto dos números naturais.

O segredo foi o salto. Esse também, inexplicável.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre o caminho de Emaús






Uma amiga minha colocou em seu blog um texto sobre o suicídio. Achei o texto muito interessante e confesso que, no final, me fez lembrar o texto de Lucas 24 onde os discípulos estão caminhando para Emaús e Jesus aparece a eles.

Isso porque, as vezes o caminho é longo. As vezes precisamos de alguém que nos faça relembrar a esperança perdida, que façam os gestos que nos farão converter, que nos farão ver as boas novas que estão sempre presentes diante de nós, que farão com que nossos olhos se abram, contemplem o que precisa ser contemplado. Faça arder nosso coração pela vida que está diante de nós, que está a nosso alcance enquanto caminhamos, mas que as vezes não percebemos pois a esperança já se foi há muito tempo. Nossos planos, nossos prospectos, se perderam por algum motivo.

O que nos resta é apenas a lembrança da morte, a lembrança dos maus momentos que passamos, lembrança da morte daquela que, talvez seria nossa única esperança para ver o mundo de forma diferente.

As vezes precisamos de alguém no caminho conosco, alguém que nos faça entender que talvez foi apenas uma fase, que há esperança ainda, que ela aflora diante de nós. Que o sol voltará a brilhar. Talvez seja isso que Jesus fez aos discípulos. Talvez seja isso que devemos ser para aqueles que estão no caminho conosco. Anunciadores da esperança.

Por isso me fez lembrar o texto de Emaús.



Acho interessante nesse texto o fato de Jesus não ter se revelado diretamente a seus discípulos, mas antes, estes colocaram pra fora todas as suas dúvidas, seus anseios, suas posições sobre o ocorrido.
Eles expuseram aquilo que os estavam incomodando, aquilo que incomodava a alma deles. O discurso dos discípulos era sem esperança. Era um discurso triste, expondo que talvez toda a confiança depositada em Jesus teria sido em vão, e que nada mais poderia resolver a situação.
Para os discípulos, não era suficiente eles terem ouvido que algumas mulheres teriam ido ao sepulcro e visto o túmulo vazio.
Não é no nível do discurso que as coisas se resolveriam, que a coisa tornaria a ter sentido. Eles precisavam de algo mais. Eles precisavam "ver" algo. Precisavam contemplar novamente a esperança que havia se perdido.

Jesus então passa a expor aos discípulos tudo o que os profetas e Moisés falaram sobre ele. Começou a explicar que, seria necessário o Cristo padecer, cumprir o propósito do qual os profetas e Moisés haviam falado.
Mas mesmo essa exposição não foi convincente aos discípulos. Mesmo assim, eles não conseguiram fazer as associações necessárias. Darem o salto e contemplar o além das palavras.

Eles insistem pra Jesus ficar com eles. "Fica conosco, pois é tarde e o dia já declina" foi o que disseram a Jesus.

Nesse instante a mágica aconteceu. Jesus sentou à mesa tomou o pão, abençoou-o e o partiu. Nesse instante, mediado por um gesto, é que os olhos deles se abriram.

O gesto de Jesus à mesa, falou muito mais do que todas as palavras durante o caminho.

O gesto fez com que eles tivessem os olhos abertos. Contemplassem para além das palavras, das histórias, compreendessem realmente o que estavam acontecendo.

Só então esclarecidos, que eles se voltam um para o outro e dizem: "por um acaso, não ardia o nosso coração quando, pelo caminho, ele nos falava, quando abria as escrituras?"

Tomar o pão e abençoar, foi o gesto que fez com que o dito, adquirisse uma outra dimensão. O gesto falou muito mais que todas as palavras durante o caminho.

Talvez fosse essa a dimensão das parábolas que os discípulos não conseguiam entender.

Que parábolas, são milagres em palavras, e milagres, são parábolas em ação.

Só quando se contempla para além do que é dito, que consegue ver o que realmente importa. No caso do caminho de Emaús, o gesto foi o definidor das coisas.

Mas não podemos menosprezar o caminho por causa disso. No caminho há a revelação da parte dita. Há a exposição daquilo que levaria os discípulos a contemplar o que realmente importava. Mesmo que as palavras não fossem "definidoras", elas eram necessárias para que eles dessem o salto, e vissem o que precisava ser visto.

No caminho vemos o discurso da "desesperança" dos discípulos, seguida do discurso da "esperança" do Cristo, sendo que no final, temos o gesto, que transcende a esfera das palavras, e os fazem dar meia-volta (converter) e irem aos outros contar o que eles viram.

Palavras. Pequenas ferramentas para ajudar os discípulos a contemplarem o que era para ser visto. Nesse caso, poderia ser dito: Quem tem olhos para ver, que vejam.