quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Já dizia Heráclito...





Finda-se.
Inicia-se.
Beleza do fim.
Beleza do início.
Olhar para trás.
Olhar para a frente.
Memória como condição da esperança.

Mudei de ares, mas não totalmente
Mudei de convívios, mas não totalmente
Mudei pensamentos, mas não totalmente
É difícil mudar-se totalmente

Mas mudei algo
E espero mudar mais
E a vida vai seguindo...

Nada é permanente, exceto a mudança. Já dizia Heráclito

Portanto, Mudemos...

Esse é a minha sugestão para 2010.

Obrigado a todos que acompanharam o blog nesse 2009.

Seguiremos em 2010, sempre mudando.

sábado, 26 de dezembro de 2009




Noite escura, solidão sobre mim. Um momento pra mim mesmo, apenas na companhia de um notebook e um ventilador. Ouvindo Michael Bubblé enquanto as horas se vão. Agora são 21:00. A noite se vai lentamente enquanto nada além da solidão me acompanha.

Quem me dera se por um acaso estivesses aqui. Talvez se estivesses online. Talvez poderíamos conversar, poderíamos trocar algumas palavras, nos apresentar novamente, nos colocarmos novamente frente a frente de forma que nos víssemos e a partir daí teríamos uma noite agradável, mesmo diante de uma solidão física.

Pena que nem sempre as coisas acontecem como planejamos.

Não digo que seja ruim ficar sozinho. Aprecio momentos comigo mesmo, na solidão desse enorme apartamento, em uma cidade que não é a minha.

Um estranho sozinho.

Felizmente não sou tão estranho a mim mesmo. Pelo menos sei conversar comigo mesmo, embora várias vezes me pegue com dificuldades para lidar comigo.

Fico me fazendo perguntas das quais já sei as respostas, tentando puxar um assunto pra falar comigo mesmo, mas eu mesmo evito de me responder.

Acho que aprendi que não preciso preencher o silêncio.

Paradoxal as vezes como as coisas funcionam. Ontem, dia de natal, maravilhoso.

Muitas pessoas, família que amo reunida, várias pessoas que gosto presentes (nunca estão todas as pessoas que gostamos presentes), presentes maravilhosos, comida maravilhosa, enfim, uma típica festa de natal.

Hoje, cá estou sozinho e nenhuma pessoa além de mim mesmo, nenhum riso, nenhum diálogo interessante, apenas comendo "Sensações" e tomando suco valle de goiaba.

Mas há algo que continuou de ontem pra hoje. Estou feliz.

Sozinho aqui, mas feliz.

Paradoxal.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Crescimento ou proliferação?






Crescimento ou Proliferação? Desafio da Igreja Evangélica Brasileira


Quando se faz um diagnóstico da igreja brasileira de hoje o que vem à tona é a forma como essas igrejas têm aumentado tanto em número, quanto em ostentação e como tem se conduzido essa hipertrofia. (no presente texto não será tratado a questão da ostentação, mas apenas o problema do crescimento numérico como alvo principal dentro das igrejas evangélicas.)

A pergunta do título deve incomodar a todos aqueles que se preocupam com a igreja brasileira.

O dicionário Larousse define os termos crescimento e proliferação, cujos significados poderemos perceber uma nítida diferença.

A definição de crescimento é:

“Ato de crescer, aumento da dimensão principal de um ser, animal ou vegetal, sob o efeito da nutrição, até chegar a um estado adulto, quando cessa esse aumento. Aumento de um rebanho pelo nascimento de filhotes. Ganho de peso vivo dos animais. Desenvolvimento, progressão”. E o significado de proliferar é: “multiplicar-se rapidamente, ter prole reproduzir-se, crescer em número.”

Será que a igreja brasileira tem crescido ou proliferado?


O que se vê hoje no Brasil é que as igrejas evangélicas brasileiras têm proliferado e não crescido.

Segundo a definição de crescimento dada acima, Infelizmente o que se vê na igreja evangélica brasileira é que na maioria delas não há o principal da definição que é o efeito da nutrição. Não há a preocupação com a nutrição no processo, e por isso a maioria dos seus membros nunca chega a se tornar adultos. Eles não progridem, não desenvolvem, que são outras características do crescimento. Há sim o aumento de meninos como descritos em Ef. 4:14,15 e I cor. 3:1-5. Meninos levados por todo vento de doutrinas, meninos que não conseguem comer comida sólida, ficando apenas a base de leite.

No entanto, o processo de proliferação é muito mais simples. É simplesmente crescer em número e se reproduzir rapidamente.

A igreja evangélica brasileira, hoje, está em um largo processo de proliferação e num período de um crescimento decadente

Algo interessante sobre o conceito de proliferação é a reprodução. O próximo ser advindo na proliferação será sempre igual ao que lhe deu origem. Portanto, qual o resultado se o ser de origem for de má qualidade? Cada vez se produzirão mais rapidamente, originando seres de má qualidade. Sob esse ponto de vista é melhor para a igreja o meio que esse crescimento proliferativo cesse. O estrago será menor no meio se este processo terminar.

O crescimento é um processo complicado. Ele exige nutrição e essa nutrição não pode ser qualquer coisa mas tem que ser um tipo de alimento específico que fará com que o ser em questão se desenvolva e progrida no desempenho de sua função e o mais importante é que, no final do processo, esse ser possa se tornar adulto.

Paulo passou pela experiência de observar que a igreja não crescia. Ele diz na sua primeira carta aos Coríntios que queria oferecer ao povo uma comida sólida, mas que eles ainda estavam tomando leite. (I cor. 3:1-5). O processo de crescimento passa primeiro pela qualidade e só depois passa pela quantidade. Quando Paulo fala aos coríntios ele está se queixando de que aquela igreja não cresceu. Ela não chegou a se tornar adulta, que é o fim do processo de crescimento.

O tornar-se adulto é ser capaz de tomar decisões, raciocinar para ver qual a melhor diretriz, ter responsabilidade sobre seus atos. Esse é o objetivo final do crescimento. Quando se está apto a tomar tais decisões com conhecimento de causa e com consciência do efeito dessa, daí pode-se dizer que se chegou à idade adulta.

Mas como chegarão a ser adultos sem nutrição? A palavra de Deus que deveria ser dada diariamente para que se cresça é negligenciada aos que têm fome, ou quando é dada, é dada de forma relapsa por meio de líderes que na maioria das vezes não sabem preparar a comida. Líderes despreparados que não manejam bem a palavra da verdade, que carecem de instrução para instruir o povo, líderes que não têm noção da responsabilidade que tem nas mãos, e, finalmente, líderes que guiam os pequeninos diretamente para a boca dos lobos.

O processo de crescimento tem outra característica muito marcante que é o tempo gasto para que o processo se conclua. O crescimento é demorado, exige esforço, e exige empenho. Ninguém espera que uma árvore cresça de um dia para o outro. O processo de crescimento da árvore é lento, exige o cuidado de quem plantou e toda uma série de procedimentos para que ela cresça da melhor forma possível. No entanto, o fruto colhido dessa árvore, ou a sombra que ela fornece quando chega a sua idade adulta não tem preço. Todo esforço é compensado no final do processo.

A proliferação já é um processo rápido e que não exige cuidado algum. O importante é que o ser gere outro igual a si independente de ser de boa qualidade ou não. O quantitativo é o importante e não o qualitativo. Por exemplo, as amebas se comportam dessa maneira. Elas simplesmente se reproduzem. Elas proliferam a cada segundo de forma exponencial, gerando seres idênticos a si mesmas.

Propostas como a idéia do G12 ilustra muito bem esse tipo de visão. Na maioria das igrejas onde esse sistema foi implantado o que se vê é uma enorme preocupação com a quantidade e muito pouca preocupação com a qualidade. O objetivo da célula é crescer e multiplicar, ela tem que proliferar. (Não é nossa intenção aqui criticar o sistema do G12, apenas tomo o exemplo por ilustrar muito bem o tipo de proliferação a qual o texto se refere. Sabemos que existem igrejas que trabalham com o sistema G12 que primam pelo conhecimento e amadurecimento na palavra, prática essa que não é muito comum na maioria das igrejas que adotam esse sistema.)

Independente do estágio que ela estiver, quando der o tempo certo ela terá que gerar outra célula igual a ela. Quer dizer, se a célula está somente preocupada em proliferar, a próxima célula herdará esse objetivo. Uma vez esse objetivo assimilado a nova célula tende a espalhar mais mal do que a célula de origem. Esse é um dos principais processos de proliferação que se vê hoje em dia.

Cada vez mais se abrem igrejas e mais igrejas com o suposto idealismo de se “pregar o evangelho a toda criatura”, mas que por trás disso se encontra nada mais do que um egocentrismo do líder que originou tal igreja.

Na maioria das vezes não se vê a igreja fazendo esforços no sentido de cooperar para que seus membros cresçam, pelo contrário, incentiva-se a proliferação.

A igreja evangélica brasileira passa por um dilema no qual ela tem que decidir se quer proliferar como as amebas ou crescer como as árvores.

Infelizmente até o momento tem se decidido pela primeira opção.


Fabiano Veliq – 13/03/2008 00:30

Não posso deixar de falar que a Michelle me ajudou na revisão do texto...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ontem li Neruda








Penso que amizade seja isso...

Transcrevo o poema,

Espero que apreciem

"Quero saber se você vem comigo

a não andar e não falar

Quero saber se ao fim alcançaremos

a incomunicação; por fim

ir com alguém a ver o ar puro,

a luz listrada do mar de cada dia

ou um objeto terrestre

e não ter nada que trocar

Por fim, não introduzir mercadorias

como faziam os colonizadores

tocando baralhinhos por silêncio.

De acordo, eu te dou o meu

com uma condição: não nos compreender"

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Observai as plantas nos jardins...






Onde eu trabalho há uma planta muito interessante. (Descobri que seu nome é "Mimosa Pudica".)

Toda vez que encostamos em uma de suas folhas ela se fecha completamente como forma de defesa. E não precisamos ser muito "invasivos", ao menor toque em sua superfície ela se transforma em um pequeno cone o qual nós não conseguimos abrir por mais que tentemos.

Mas a mesma folha, no final do dia quando estou saindo, está lá novamente aberta, se expondo, absorvendo o sol, a água que a natureza lhe dá. Questão de tempo.

Comecei a pensar em você.

Em como tem andado triste, preocupado, inconsolado, tentando achar refúgio em inúmeros afazeres que apenas te esconde de ti.

Não sei porque ages assim, sendo tão apático, indiferente e solitário. Não sei porque não levanta os olhos e contempla uma possível saída tão perto.

Por que não enxerga a luz que insiste em brilhar ao seu lado tentando te livrar desse mundo que você mesmo criou?

Por que não olha para o outro lado e percebe que para além do seu mundo existe outro, existe vida para além da sua escuridão?

Quem sabe não seja isso que falta? "Se os olhos do seu corpo forem luminosos todo o seu corpo será luminoso", já dizia o carpinteiro certa vez.

Há tempo para todo propósito debaixo do sol já dizia o Eclesiastes.

Talvez esse seja seu tempo de se sentir triste, abatido, solitário, inconsolável, talvez seja seu tempo de não conseguir ver a luz que brilha tão próximo, talvez seja o momento de se fechar.

Talvez seja seu tempo de fazer igual a folha do local em que trabalho.

Talvez seja tempo de se fechar realmente, de se recolher, de evitar que alguém se aproxime tanto de você, ficar sozinho um tempo.

Mas talvez seja o momento de ver a luz que brilha, de ver a saída tão perto, de olhar com outros olhos a situação e agarrar com todas as forças as opções que você tem. Ser como a planta no final do dia, aberta para receber o que lhe é dado de graça.

De uma coisa eu sei: Toda manhã eu passo na frente da planta, todo o dia eu a toco, eu tenho a esperança de que um dia ela não se fechará quando eu a tocar, então, poderei ter momentos onde eu também a tocarei sem reservas, a tocarei sabendo que assim como ela está aberta para o meu toque, eu também estarei aberta para o seu.

Nesse dia ela verá que na realidade eu não quero o seu mal, mas apenas poder ter momentos eternos em sua companhia.


Quem tem mãos para tocar, toque.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Recusa


Eu me recuso parecer que não me importo

Me recuso parecer que a vida das pessoas não faz diferença para mim

Me recuso olhar a todos como meros habitantes do mesmo mundo

Me recuso não erguer os olhos e ver a dor que meu próximo sente

Me recuso não dar uma palavra de apoio a quem precise dela mais que de ouro

Me recuso não oferecer ajuda a quem parece necessitado, mas não de comida e bebida, mas de sorrisos e de auxílio

Me recuso encarar todas as coisas como se elas nada importassem para mim

Me recuso ficar recluso em mim mesmo

Me recuso querer parecer o detentor da atitude mais racional, da atitude mais "politicamente correta"

Me recuso agir de forma leviana, como se o mundo estivesse apenas seguindo seu rumo

Me recuso viver uma vida fria, sem sentido, me abstendo de alegrias, temores, paixões

Me recuso viver na dependência de outro, como se esse outro fosse o motivo para eu fazer ou deixar de fazer algo

Me recuso tentar me mostrar controlador da situação quando na realidade sou vítima dela

Me recuso viver uma vida sem sentido

Me recuso aceitar simples dogmas como verdades sem antes serem discutidos

Me recuso ver certos relacionamentos como proibidos simplesmente porque a sociedade quer assim

Me recuso acreditar que a vida não tem sentido

Me recuso habitar um discurso hipócrita

Me recuso aceitar um discurso que não tenha sido aderido com reflexão

Me recuso viver um cristianismo medíocre, onde a troca reina imperante no meio do povo

Me recuso acreditar em um Deus que não seja primeiramente amor

Me recuso não me preocupar com quem me importo

Me recuso ser apenas mais um no meio da multidão que caminha sem face

Me recuso ser indiferente.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tentativa de resposta a algumas perguntas...







Talvez descobriríamos que as coisas que realmente importam não podem, nem poderiam ser descritas em palavras


Talvez veríamos que não há problema algum na mediocridade, contando que nem sempre há um sentido em tudo o que fazemos.


Talvez entenderíamos o que a fé realmente representa. Um salto no escuro onde não temos garantia nenhuma, exceto nossa mera entrega. Veremos que não importa o que dizemos, mas sim como agimos.


Talvez entenderíamos que nossas palavras não são para nós, mas para os outros. Que a própria árvore não se alimenta de seus próprios frutos, mas dão a outros o alimento que várias vezes é tão escasso.


Talvez entenderíamos que o fruto que geramos é para gerar vida em outros. Se esse fruto se dará em palavras, ou em ações, para quem irá comer do fruto pouco importa. O que o outro quer é se alimentar, é encontrar um outro alguém que talvez passe o mesmo que ele, e mesmo assim consegue extrair alguma beleza para além da situação visível.


Há uma frase da Adélia Prado onde ela cita que "Amor feinho é igual fé. Uma vez encontrado, não teologa mais".


O importante não é o que se fala sobre Deus, mas como se vive Deus. Se a esperança não se concretizar, se o banco estiver vazio, se o mundo não tiver sentido, se o vôo da menina com as borboletas não existir, mesmo assim teríamos que imaginar um Sísifo feliz. (Sísifo, o deus que foi condenado a mover uma pedra até o cume do morro, mas sempre que ele chegava perto do cume do morro, a pedra rolava morro abaixo novamente, e ele tinha que começar tudo de novo. Esse era o seu castigo para toda a eternidade).


Mesmo assim teríamos que viver nossa vida da melhor forma possível, sempre sabendo talvez que a esperança nunca se concretizará, sabendo que talvez nossa busca de sentido seja absurda, sabendo que talvez sejamos como Sartre diria: "Uma paixão inútil".


Talvez esse seja o maior desafio da fé. Se lançar no escuro, sabendo que talvez, não encontraremos nada onde pensávamos que encontraríamos.


A mediocridade então se converte em fé, se converte em esperança de que lançando o pão sobre as águas, ou lançando as palavras sobre o blog, elas serão repartidas com 7 ou até com 8, e depois de muitos dias a acharemos.


E talvez quando elas voltarem, voltará o sentido que foi o gerador delas, e então verás que na realidade o vazio era porque elas se foram e pareciam que não voltariam. Mas elas relembram de onde saíram e retornam trazendo junto consigo a alegria que levaram aos outros.



terça-feira, 17 de novembro de 2009

Boats


Desculpe-me se não consigo ser melhor nessa hora de extrema preocupação.


Desculpe-me se faltam as palavras que antigamente poderiam ser consideradas tão abundantes.


Me calo diante da dor que assola a todos nós nesses momentos que nos atingem de forma tão veemente, que vem sem explicar, que nos atormenta trazendo em si nada além da preocupação e da dor.


Quisera talvez poder estender minha mão e ser o braço forte que conduziria a todos para longe desse vale de sombras.


Quisera talvez poder saltar o abismo de dúvidas em que caímos e juntamente comigo trazer a esperança aos nossos corações abatidos.


Mas infelizmente a vida não é assim,


Há sempre algo nela que nos escapa, por mais que tentemos exercer nosso controle sobre ela, ela simplesmente se recusa a fazer as coisas como achamos que elas deveriam ser.


As vezes a morte nos rodeia, e juntamente com ela, nos vem o passado que as vezes nos atormenta, as vezes nos traz a esperança que nos falta nessas horas. Recorramos talvez o passado, se ele for desse segundo tipo, falemos como Jeremias da Lamentações:


"Quero trazer a memória aquilo que me traz esperança" (Lm 3:21)


Talvez esse seja nosso maior desafio nesse momento. Trazer a memória estas coisas. Deixar florescer a luz diante de nós.


Não digo para não sofrermos. O sofrimento é importante, nos ajuda a amadurecer, nos ajuda a ver a vida com outros olhos.


Calem-se pastores despreparados ! Não me venham com seus discursos ouvido de terceiros e que em nada se revela na prática de vocês.


Não penso que Deus queira ensinar nada pra ninguém nessa situação. Não acredito em um Deus cruel que usa as pessoas para ensinar outras sem levar em conta a primeira. Como sabemos, o homem nunca deve ser tratado como meio para nada, mas sempre como fim em si mesmo.


Não acredito em um Deus que agiria tendo o homem apenas como meio para algo.


Saiba que estou aqui. Preocupado também, mas tentando ser forte para que você possa ver em mim um auxílio, ver em mim um bom porto onde você possa descansar depois de velejar por essas águas que nesses dias estão turbulentas.


Tenhamos a esperança de que a bonança virá, e nos alegraremos ao ver nosso barco chegando ao porto.



domingo, 15 de novembro de 2009

Problemas filosóficos passando por Santo Agostinho







Santo Agostinho relata em suas confissões que, em sua busca por Deus, perguntou ao mar, à terra, às árvores, e tudo o que estava à sua vista se Deus estava ali, mas a resposta dessas coisas foi a sua beleza. E ele conclui que esse Deus que ele tanto procurava podia ser visto na beleza das coisas criadas. Achei a definição de Santo Agostinho muito interessante.

Quantas vezes vemos pessoas procurarem Deus em lugares tão inusitados, fazendo coisas como se esse Deus que elas buscam estivessem tão longe de si, tão longe que elas precisam gritar, fazer barulho, fazer vigilias para tentar encontrar esse Deus, mas Ele está tão próximo que se torna escondido para nós.

Talvez nos falta perceber que o "Deus absconditus", se revela na beleza das coisas que passam desapercebidas, e que assim como Santo Agostinho também nos falava, "Estavas mais dentro de mim do que o mais profundo de mim mesmo e mais acima do que o mais alto cimo do meu espírito" (Confissões III, 6,4).


Deus próximo.
Deus no próximo.
Deus nas coisas criadas.
Deus no outro.


É claro que, para Santo Agostinho, Deus se revelaria na beleza do mundo, mas também seria um ser completamente perfeito e transcendente, ele não se resumiria na imanencia das coisas criadas, mas as transcenderia.


Confesso que cada dia mais tenho me admirado com as pessoas. Tentando aprender a lidar com o jeito único de cada uma delas.

Tenho aprendido a admirar as coisas simples que me rodeiam, sem querer compreender todas elas, mas as vezes simplesmente contemplar a sua beleza.

Talvez a cada dia que passa começo a presenciar mais Deus.


Deus na imanência.


Mas talvez, para além da imanência, por que não falar de uma transcendencia? Mas em que sentido essa transcendencia se revela? Para onde ela aponta se não para o próprio mundo criado de acordo com sua vontade, expressão de um desejo divino de companhia?

Transcendencia na imanencia?


Problemas filosóficos...

Coisas que percebi




Primeiramente comecei a admirar as coisas, comecei a ver que várias delas são belas mas que mesmo com toda a sua beleza passam desapercebidas por nós.

Depois comecei a admirar as pessoas. Pessoas estas que às vezes passam pela nossa vida mas que por estarem sempre presente não nos damos conta mais da importância que elas têm em nossa vida.

Depois comecei a perceber que ter as coisas sem ter certas pessoas não faz sentido, uma vez que sem essas pessoas para estarem conosco, todas as outras coisas parecem opacas.

Depois comecei a compreender que as pessoas são mais importantes que as coisas.

E percebi que quem encontra um amigo encontra um tesouro.

Percebi que, como está escrito na bíblia, onde está o seu tesouro aí está o seu coração. E que talvez valha a pena depositar seu tesouro nas mãos de algumas pessoas.

Entregar seu coração, se expor diante de algumas pessoas, sabendo que elas te entenderão e não te julgarão, mas antes, serão aquelas que te trarão palavras de conforto em meio a tempestade, refrigério em meio à tribulação, consolo em meio à dor.

Aprendi também que as vezes corremos o risco de jogarmos pérolas aos porcos, mas acredito que, se pararmos e pensarmos, perceberemos a quem devemos entregar alguns de nossos tesouros, e com isso, evitaremos o desperdício.

Depois percebi que as vezes abrimos mão de pessoas que nunca deveríamos ter aberto mão. Percebi que talvez deveria ter sido mais atencioso com alguns, mais serenos com outros, mais aberto com outros, menos crítico com outro, falado mais com um, menos com outro; que poderia ter prestado mais atenção aos inúmeros sinais que meu vizinho estava fazendo tentando me dizer algo, e em nome de um outro algo não tão importante, preferi o deixar de lado e seguir minha vida.

Ah como aprendi algumas coisas nesses anos que se passaram. Como aprendi com as pessoas que já passaram por minha vida, pessoas estas que as vezes não têm noção do bem ou mal que me fizeram.

Como tento não repeti a constante frieza que tinha com várias delas. Como tento me expressar ao invés de ficar calado e parecer detentor da razão que não se abala por nada.

Percebi que as vezes parecer vulnerável é bom; mas confesso que ainda não aprendi ser assim completamente, e penso que talvez nunca conseguirei abrir mão do "gelo" que há em mim, mas acredito que uma parte do gelo começou a derreter, pelo menos para algumas pessoas.

E isso tem me feito bem.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Beleza da "Nublidade"









A beleza dessas manhãs têm me feito muito bem.
É como se todos os dias eu pudesse caminhar livremente por caminhos por onde ainda não passei
Caminhos antes fechados para mim, talvez, fechados por mim mesmo.

Como tem sido revigorante caminhar por eles. Tenho descoberto tantas coisas. Tenho entrado em tantos lugares onde nunca achei que poderia entrar.

Experienciar coisas que pensei só poderiam ser lidas nos livros, talvez em algum poema da Clarisse Lispector, ou em algum poema do Withmann

Mas não é assim.

A beleza das manhãs está na simplicidade delas, nada demais. Apenas um desejo de se caminhar, apenas o desejo de deixar que o sol brilhe, mas pouco de cada vez. Talvez seja isso a coisa mais bela da manhã.
O nascer do sol desafiando o céu antes nublado. "Nublidade" essa que vai se dissipando sem se perder. Um espetáculo digno de ser visto por todos.

Ver o despontar de um brilho que ilumina o que antes estava oculto.

Interessante que muitas pessoas não entendem o que acontece quando presenciam a cena. Acham que é apenas mais um dia comum que se levanta diante delas, perderam talvez a sensibilidade para se apreciar o evento. Só conseguem olhar e reclamarem por estar demorando o acontecimento. Não conseguem ver a mágica que ocorre diante de si.

Talvez a mágica só faça sentido para o espectador que está contemplando essa "nublidade" que aos poucos se dissipa, mas que insiste em permanecer. Talvez ela seja proibida a todos aqueles que não conseguiram entrar nesse caminho da descoberta.

Talvez nunca teria sido capaz de ver esse interessante acontecimento se não resolvesse entrar por esse caminho antes desconhecido. Como estou feliz por caminhar por ele, caminhar com ele, ver aquilo que está à sua margem, ver a beleza que reside na opacidade. Me mudando enquanto ando, e mudando o caminho enquanto por ele vou.


Talvez o caminho não mude, mas eu que mudo minha forma de vê-lo, e dessa forma é como se ele mudasse pra mim, mas talvez ele esteja mudando também, mas teria que voltar até ele para ver se mudou ou não. Talvez um dia eu retorne por onde comecei....


Penso que a cada dia que passa eu confio mais no caminho e ele confia em mim também, sei que posso andar com ele até os "vales da sombra da morte" e mesmo assim não temer mal algum porque ele estará comigo, afinal é ele quem me conduzirá. Da mesma forma o caminho se sente confiante em me deixar caminhar por ele sabendo que os pés que o pisam visam também o melhor para ele. O caminho confia em mim também.


Como tem me feito bem caminhar por esses caminhos antes desconhecidos, vendo a nublidade e, ao mesmo tempo, contemplando um pouco a luz do sol.


Novamente beleza da nublidade.


Considerações sobre matemática...

8 ------------------ 9


Entre um 8 e um 9 há um universo infinito de números menores.

Mas para que do 8 se passe ao 9, ou do 9 ao 8, salta-se esse universo infinito que os separam

E só assim podemos fazer a ponte que une um ao outro.

A ponte, essa não dá para explicar como foi feita, mas foi por ela que os dois números se viram unidos dentro do conjunto dos números naturais.

O segredo foi o salto. Esse também, inexplicável.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre o caminho de Emaús






Uma amiga minha colocou em seu blog um texto sobre o suicídio. Achei o texto muito interessante e confesso que, no final, me fez lembrar o texto de Lucas 24 onde os discípulos estão caminhando para Emaús e Jesus aparece a eles.

Isso porque, as vezes o caminho é longo. As vezes precisamos de alguém que nos faça relembrar a esperança perdida, que façam os gestos que nos farão converter, que nos farão ver as boas novas que estão sempre presentes diante de nós, que farão com que nossos olhos se abram, contemplem o que precisa ser contemplado. Faça arder nosso coração pela vida que está diante de nós, que está a nosso alcance enquanto caminhamos, mas que as vezes não percebemos pois a esperança já se foi há muito tempo. Nossos planos, nossos prospectos, se perderam por algum motivo.

O que nos resta é apenas a lembrança da morte, a lembrança dos maus momentos que passamos, lembrança da morte daquela que, talvez seria nossa única esperança para ver o mundo de forma diferente.

As vezes precisamos de alguém no caminho conosco, alguém que nos faça entender que talvez foi apenas uma fase, que há esperança ainda, que ela aflora diante de nós. Que o sol voltará a brilhar. Talvez seja isso que Jesus fez aos discípulos. Talvez seja isso que devemos ser para aqueles que estão no caminho conosco. Anunciadores da esperança.

Por isso me fez lembrar o texto de Emaús.



Acho interessante nesse texto o fato de Jesus não ter se revelado diretamente a seus discípulos, mas antes, estes colocaram pra fora todas as suas dúvidas, seus anseios, suas posições sobre o ocorrido.
Eles expuseram aquilo que os estavam incomodando, aquilo que incomodava a alma deles. O discurso dos discípulos era sem esperança. Era um discurso triste, expondo que talvez toda a confiança depositada em Jesus teria sido em vão, e que nada mais poderia resolver a situação.
Para os discípulos, não era suficiente eles terem ouvido que algumas mulheres teriam ido ao sepulcro e visto o túmulo vazio.
Não é no nível do discurso que as coisas se resolveriam, que a coisa tornaria a ter sentido. Eles precisavam de algo mais. Eles precisavam "ver" algo. Precisavam contemplar novamente a esperança que havia se perdido.

Jesus então passa a expor aos discípulos tudo o que os profetas e Moisés falaram sobre ele. Começou a explicar que, seria necessário o Cristo padecer, cumprir o propósito do qual os profetas e Moisés haviam falado.
Mas mesmo essa exposição não foi convincente aos discípulos. Mesmo assim, eles não conseguiram fazer as associações necessárias. Darem o salto e contemplar o além das palavras.

Eles insistem pra Jesus ficar com eles. "Fica conosco, pois é tarde e o dia já declina" foi o que disseram a Jesus.

Nesse instante a mágica aconteceu. Jesus sentou à mesa tomou o pão, abençoou-o e o partiu. Nesse instante, mediado por um gesto, é que os olhos deles se abriram.

O gesto de Jesus à mesa, falou muito mais do que todas as palavras durante o caminho.

O gesto fez com que eles tivessem os olhos abertos. Contemplassem para além das palavras, das histórias, compreendessem realmente o que estavam acontecendo.

Só então esclarecidos, que eles se voltam um para o outro e dizem: "por um acaso, não ardia o nosso coração quando, pelo caminho, ele nos falava, quando abria as escrituras?"

Tomar o pão e abençoar, foi o gesto que fez com que o dito, adquirisse uma outra dimensão. O gesto falou muito mais que todas as palavras durante o caminho.

Talvez fosse essa a dimensão das parábolas que os discípulos não conseguiam entender.

Que parábolas, são milagres em palavras, e milagres, são parábolas em ação.

Só quando se contempla para além do que é dito, que consegue ver o que realmente importa. No caso do caminho de Emaús, o gesto foi o definidor das coisas.

Mas não podemos menosprezar o caminho por causa disso. No caminho há a revelação da parte dita. Há a exposição daquilo que levaria os discípulos a contemplar o que realmente importava. Mesmo que as palavras não fossem "definidoras", elas eram necessárias para que eles dessem o salto, e vissem o que precisava ser visto.

No caminho vemos o discurso da "desesperança" dos discípulos, seguida do discurso da "esperança" do Cristo, sendo que no final, temos o gesto, que transcende a esfera das palavras, e os fazem dar meia-volta (converter) e irem aos outros contar o que eles viram.

Palavras. Pequenas ferramentas para ajudar os discípulos a contemplarem o que era para ser visto. Nesse caso, poderia ser dito: Quem tem olhos para ver, que vejam.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vanité des Vanités






What happened with us?
Why do you seem so far from me?
Where are our talks?
Where are the cumplicity we had?
Why the silence reigns upon us like a despotic king?
Where are the preciousity of the company?
Why the hours seem so long
Why the nights are so cold?
So empty?
Why this emptyness botters me?
Why this feeling that the "nothing" is my friend?
I'm so tired, so many things to do, so many compromises,
Wish I could stop. Wish i could feel again the happiness i had when i was with you.
Time is ticking, our time is ticking with him
How can we restore our moments?
Some people say we should pray
Some people say we should look for help
Some people say nothing (the most)
Maybe the most are the worst.
Maybe if at least some people listened to me
If they at least asked me something
Not that i would tell something, but at least i'd know that somebody care, as i know you care.
it's pity that our society forbid the most of the questions...

But

Maybe there is any hope.
Maybe little moments of joy help us to see the life with different eyes
And, as Jesus in some moment said: The eyes are the light of the body. If they are good, the entire body would be luminous.

I could say i'm trying to have different eyes
trying to see the situacion as a learning of something.
Trying to see this world we created as a fase.
Maybe a permanent fase.

I don't want attention from strangers, i don't need pity eyes on me
I just need to know that you are here for me, no matter what, no matter when or where.
Your presence makes me feel good, makes me feel alive, makes me feel fine.
Please don't go away. Don't let me go away.

I don't have all the answers, probably i never will.

Please stay !

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

The wearest sonnet..





Please sleep tight
I don't wanna interrupt you
My wish was just talk to you
Nothing more else tonight

The talk, nothing serious
Just some feelings i had
Just some words

Pehaps these words touch something in you
Pehaps they set you free
Pehaps my soul would be exposed
Pehaps these words will set ME free.

My lyrics are full of wishes
Unfortunaly they must be hidden
Waiting maybe a key, to open the forbidden

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ausências






Pude novamente estar ao seu lado hoje.

Hoje que foi um dia bem mais light que todos os outros tem sido, pelo menos em uma das esferas de todas as coisas que nos acontecem durante um dia.

Pude novamente sentir-te perto, não tão distante, mas apenas ali.
Ah como aprecio tais momentos. Como que essas "presenças" fazem bem.

Melhores que as ausências. Penso que as ausências são importantes.

Como já dizia Válery: O que seria de nós sem o auxílio das coisas que não existem? Não podemos negar o valor das ausências.

Pelo menos em uma esfera da vida a roda girou mais livre, no entanto, em outra esfera, não foi um dos melhores dias. Nada demais, apenas não foi um dia bom. Apenas trocaria alguns episódios por outros.

Mas quem não faria isso alguma vez ou outra?

Quantas vezes queremos mudar a ordem das coisas? Queremos que as coisas sejam diferentes, que a roda gire para o outro lado, ou simplesmente pare de girar para que possamos fazer alguma coisa. Penso que todos já pensamos assim.

Hoje pensei assim. Pensei que talvez a roda pudesse girar de forma diferente, poderia parar talvez.

Enquanto escrevo escuto. Me escuto, escuto uma música. Boa música.

Mente cansada. Muitas coisas para pensar, muitas pra fazer, buscando talvez mais momentos alegres, pequenos pedaços de uma boa eternidade, bons momentos.

Ah tantas situações para nos impedir de termos bons momentos !!!!! Pena que só depois percebemos que seria melhor ter aproveitado a companhia que nos estava sempre tão acessível mas que a deixamos ir por nada.

Os bons momentos nos fazem bem, a ausência deles nos fazem crescer várias vezes.

Penso que cresci um pouco mais nesses dias.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Leituras... Simone Weil...





Aprendi recentemente sobre o conceito de "leitura" em Simone Weil, uma filósofa do século XX com uma filosofia tanto teórica quanto prática de extrema consistência.

Achei interessante como ela aborda tal conceito afirmando que tudo na vida se dá através de "leituras" que fazemos. Nos lemos, lemos o outro, e é nessa leitura que lidamos com as pessoas no dia-a-dia.

Uma virtude de nossa parte seria aprender a "ler" o outro não apenas como lemos a nós mesmos, mas como o outro gostaria de ser lido. Afinal, penso que todos nós queremos ser lidos pelos outros.

Primeiramente penso que já é uma dificuldade enorme "ler" o outro. Afinal de contas, várias vezes o que fazemos é nos ler no outro. O outro em si não importa muita coisa na maioria das vezes, mas apenas na medida em que posso me ler nele. Ficamos sempre como quem se projeta no outro e passa a se amar nele. Nos tornamos narcisos nos contemplando frente a água sem conseguir ver toda a beleza do rio, mas apenas nossa imagem refletida ali. Acabamos morrendo afogados em nossa própria imagem.

Consiste em ato virtuoso, o aprender a ler o outro como ele é. Claro que podemos achar semelhanças entre nós, mas o que dará real beleza na figura do outro é naquilo que ele se difere de nós. Consiste em virtude, ver toda a beleza do rio para além de nossa ínfima imagem refletida no outro. Ver a parte branca do cubo de gelo, a parte não transparente onde reside a especificidade de cada um.

Aceitar as folhas amarelas no meio das vermelhas, percebendo suas diferenças, mas lendo nessas diferenças uma beleza.

Tenho aprendido a ler alguns próximos como eles são.

"Ame o próximo como a ti mesmo, mas não o leia como a ti mesmo."

Beleza da diversidade.

Em segundo lugar penso que devemos "permitir" que os outros no leiam como eles querem nos ler, e não como queremos ser lidos por eles.
Essa é uma parte difícil. Geralmente queremos ser vistos como os melhores, os mais amigos, os mais simpáticos, os mais inteligentes etc... E não permitimos que os outros façam leituras de nós que desminta essa imagem que criamos para nós mesmos.

Qualquer um que discorde da leitura que fazemos de nós mesmos é logo visto como inimigos, e por isso devem ser "eliminados". Aspecto da intolerância reinante hoje em dia.

Talvez seja um aspecto de tolerância permitir uma leitura livre.

Recentemente tive uma experiência desse tipo. Agradeci demais a pessoa que me falou a forma como ela me lia. Vi que sua leitura estava muito mais próxima da realidade do que a leitura que eu estava fazendo de mim mesmo. Foi um momento de crescimento para mim, e para nossa amizade. A partir de então tenho constatado que várias vezes minha leitura sobre mim está errada, precisa ser vista pela "lente" de outra pessoa.

Achei interessante o conceito de "leitura" de Simone Weil. Me fez pensar muitas coisas...

domingo, 11 de outubro de 2009

sobre o uso do Dimer.






Hoje pela manhã fui orientado sobre o uso do dimer.

Quem me orientou falou de forma bem direta: "Aqui, você está lançando muita luz nesse ambiente. Não consigo entender o porque esteja fazendo isso, é melhor usar um dimer, ajustar melhor a luz ao ambiente que você tem. Se quiser, eu te ajudo a fazer isso. Vamos re-formular a quantidade de luz que brilhará nesse ambiente para que ele fique mais agradável."

Achei a idéia maravilhosa. Sempre pensei que quanto maior a quantidade de luz, melhor. Estava errado. Mas graças a Deus fui orientado ao uso do dimer.

Para quem não sabe, o dimer é aquele aparelhinho que se usa no interruptor para regular a intensidade da luz do ambiente.

Excesso de luz muito rápido, faz mal, acaba atrapalhando de ver o que importa, e pode fazer com que a pessoa se sinta mal diante do ambiente.

O dimer serve para regular esse excesso de luz. Nem sempre muita luz é bom. O ambiente fica muito claro, as coisas que são melhores vistas com pouca luz ficam invisíveis sem o auxílio do dimer.

É preciso a quantidade de luz certa para que o que deve ser visto seja visto por quem queira ver.

Erramos ao tentar jogar muita luz sobre ambientes ainda pouco conhecidos, é bom que se conheça o ambiente para que se consiga ajustar o dimer de acordo com o que se quer mostrar.

Mostrar tudo de uma vez só não faz bem pra maioria dos ambientes.

Ah quantas vezes queremos lançar muita luz onde ainda não conhecemos todas as quinas. Daí erramos, damos más impressões e acabamos de vez em quando ofuscando ao invés de revelar.

Uma das virtudes que podemos ter é aprender a usar o dimer. Ajustar a luz ao tempo, ao espaço, ao momento. Tudo isso pode ser feito com ele.

Grande ferramenta na convivência uns com os outros é o dimer.

Acho que aprendi a usá-lo um pouco hoje.

Agradeci bastante a informação sobre o dimer. Aprendi talvez a beleza da penumbra em ambientes mais fechados.

sábado, 10 de outubro de 2009

Sobre um segundo algo.






Tenho algo para te entregar.
Na realidade, duas coisas.

O primeiro algo de valor estimado, medida em reais, mas sem valor em si.
O segundo sem valor estimado. Não medido em reais, mas com enorme valor em si.
Não falarei do primieiro, apenas do segundo.
O segundo trata de sentimentos e impressões.
Se trata daquilo que nunca podemos colocar preço,
se trata de extratos de alma.

Alma essa que quando colocada no papel se torna tão transparente.
Transparente também se torna nossa linguagem que não dá conta de exprimir o que queremos.
Falamos por analogia, sabendo que o que realmente importa, não está sendo dito.
Está no silêncio das entrelinhas.
Talvez seja aí que habita nossa alma. No silêncio das entrelinhas.

Silêncio esse que não se compreende se não há uma certa vivência com o destinatário.

Nos gestos mudos, tentativas de expressão, uma alma habita.

Releio os extratos da alma que escrevi e percebo que as entrelinhas realmente são as coisas mais importantes, mas elas, não escrevi. Apenas as palavras foram escritas. As entrelinhas aparecem querendo dizer alguma coisa. Escapam. Se mostram.

Talvez meus olhos digam o resto. Talvez os seus olhos digam o resto. Mas isso também é silêncio. Silêncio que fala mais alto que se gritasses ao meu ouvido.

Palavras. Pequenos auxílios para dizermos o que não importa, tentativa de expressão do que está além. Pequena ferramenta de aproximação.

Nas entrelinhas habita um mundo. Habita talvez uma alma, habito eu, habita você. Habita o essencial. Este por sua vez, até onde sei, indizível.

Talvez compreenderás ao te entregares o segundo algo. Talvez não. Mas penso que se leres nas entrelinhas, verás minha alma exposta, e a partir daí, as palavras serão as coisas menos importantes, o silêncio talvez reinará entre nós e só então nos compreenderemos como habitantes de um mesmo cenário, fazendo talvez um mesmo papel na peça da vida.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

teo-logia






Sempre quis escrever algo de teologia. Talvez até já tenha escrito algumas coisas, como as primeiras reflexões nesse blog mesmo.

Outro dia conversando com minha mãe, ela me disse que meus textos demonstram um tipo de "tristeza". Achei o comentário interessante, e não sei até onde seja totalmente válido.

Comentei com ela que acho que estou falando as mesmas coisas só que de formas diferentes. Uma teo-logia, mais falando do "Teo" como o entendo, e esquecendo um pouco a "logia", o "logos" tão famoso devido à sua pertença ao campo do puramente racional, descrito sob a regência das leis da lógica e tudo que vem junto no conjunto.

Talvez a parte da "logia" não seja a mais interessante ao se falar em teo-logia.

Acho que prefiro falar do "teo". Teo, do grego, Deus.

Mas esse Deus do qual eu falo, é muito humano. Se revela de várias formas, em vários gestos, não necessariamente carece de uma transcendência para se revelar. Precisa apenas da figura do outro, da figura do próximo para que ele se revele, um Deus mais humano que transcendente.

Entendo Deus mais como "sentido" do que como "ser". Ah duas categorias tão usadas na filosofia. Principalmente a categoria do "ser". Cometo talvez um erro filosófico ao colocar o "sentido" enquanto categoria, mas o que quero enfatizar é que prefiro pensar Deus como "sentido último" do que como "ser".

Alguns teólogos não gostam dessa visão. Não conseguem pensar Deus enquanto sentido, mas apenas como Ser. O ser que funda todos os outros seres para falarmos próximos a São Tomás de Aquino.

Penso que talvez esse Deus pensado como "ser" tenha causado muitos problemas em vários campos religiosos, ao passo que se compreendemos deus enquanto "sentido", o diálogo inter-religioso fica mais agradável e possível de uma maneira que não seria possível apenas com a categoria de "ser".
Por sentido, entendo não apenas qualquer sentido, mas um "sentido último" do ser humano. Deus enquanto sentido, não precisa existir de fato, para que o sentido seja válido. Coisa que na categoria de ser, a existência é quase que um requisito básico.

Talvez meus textos mais recentes falem de um "teo" pouco compreendido. Um "teo" que se manifesta no próximo. A idéia do salmista: "Sois deuses", evidenciado na figura de todo aquele que teria um campo de ação maior que o meu e o usaria para que eu possa viver de forma mais humana. (Isso me lembra o bom samaritano).

Gosto de falar desse "teo". Esse deus tão próximo, "absconditus", mas que se revela assim como a beleza dos dias nublados. Assim como a beleza das pessoas, que, assim como dias nublados, são belas, se compreendidas. Pessoas, essas que sempre que podem, independente da religião a que pertencem, agem como "deuses" em nossas vidas. Revelam um deus próximo, é como se elas dissessem: "Quem vê a mim, vê o pai".

Como a maioria sabe, não falo de Deus em vários textos meus. Os textos de setembro, e os de outubro até agora falam apenas de experiências. Talvez experiência de Deus, mas apenas se for esse deus que se revela no humano. Falo de amizade, falo de mim.

Talvez esteja dizendo uma "heresia". Mas antes que me condenem (novamente) de herege, digo que "heresia" é apenas uma questão de poder. Os fortes são os ortodoxos, os fracos, os hereges.

Conheço alguns que dirão que "enfraqueci" demais a idéia de Deus. Que o coloquei como qualquer um que pode fazer algo de bom para me ajudar. Deus enquanto sentido abre para horizontes talvez fechados para a noção de Deus enquanto ser. Penso que ele enquanto sentido, esteja mais próximo de nós.

Poderia me estender mais falando sobre a noção de "sentido" a que me refiro, mas isso tornaria o texto extremamente cansativo para várias pessoas.

Fica aqui apenas uma sugestão para uma possível leitura sobre Deus.

Algo a se refletir.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

antigo... Mas a idéia continua.








Como é bom receber notícias suas.
Como é bom saber que está bem.
Não sei porque, mas isso me faz feliz.
Saber que está bem me faz bem.

Não tente entender, é gratuito.
Não tem um porquê.
Simplesmente me sinto bem, sabendo que está bem.

Nem eu saberia te explicar isso.
Por favor não entenda minha preocupação como chatice de quem não tem o que fazer.
Por favor não pense que queira nada além de sua amizade e sua cumplicidade.

Desculpe-me se te assusto com meus gestos,
se te incomodo com meu excesso de cuidado para contigo.
Não sei porque faço isso, não sei mesmo.

Não se preocupe em receber isso de forma gratuita.
Entendo que excesso de gratuitade nos constranja as vezes
Se quiseres, retribua de alguma forma.

Entendo seu jeito, entendo suas várias retribuições.
Seu jeito meio sem-jeito de se expressar.

Também já fui assim, hoje sou menos, mas ainda assim

Não precisa agradecer a paciência. Essa eu tenho demais.
Aguardo pacientemente que digas o que queres dizer.

Se não vai dizer nada, saiba que seu silencio é mais revelador que as palavras.
Estou aprendendo a ler seu silêncio.

Ah tantas coisas que queria te dizer se quiseres me ouvir...

O cinza dos dias nublados







Adoro o cinza dos dias nublados,
adoro a chuva que cai molhando os lugares antes áridos
trazendo um ventro frio, porém, não gélido a ponto de esfriar nossas almas.

Chuva que traz em si promessas de vida enquanto rega as plantas, enquanto molha o chão enquanto nos molha, renovando talvez aquilo que deveríamos já ter deixado se renovar.

Doce calmaria de um dia nublado. Doce visão a agua caindo e trazendo a beleza de mais um lindo dia chuvoso.

Não sou fã de dias ensolarados. Reconheço que há certa beleza ali, mas é tudo muito claro, tudo muito a vista. Penso que a beleza do dia nublado está naquilo que não se mostra nele. Está naquilo que ele esconde. Mas esconde, ao mesmo tempo tentando se mostrar. Tentando se dar a conhecer de uma forma rejeitada por muitos.

Várias pessoas reclamam dos dias nublados. Reclamam da calmaria que há neles. Reclamam que eles não se expressam da forma como deveriam. Reclamam que não dá pra fazer nada durante eles.

Ah se essas pessoas conseguissem ver a beleza que há nos dias nublados. Ah se elas conseguissem compreender que a mesma beleza do dia ensolarado se encontra no dia nublado, está ali também, mas apenas escondida. Revelada de outra forma.

Apenas quem tem olhos para ver que vêem.

Mas é preciso paciência com os dias nublados. Como escondem sua beleza, o processo para sua apreciação é lento, mas quando se conhece e se compreende os dias nublados, sua beleza salta aos olhos, é talvez mais visível que a beleza dos dias ensolarados.

Nem tão claro, nem tão escuro, mediania.

Adoro o cinza dos dias nublados

terça-feira, 6 de outubro de 2009






Habitas o silêncio
Habito o silêncio
Companheiros da falta de palavras
mas o silêncio não é por falta de palavras
mas por excesso de palavras que devem ficar reclusas
O silêncio que habito é fruto de coisas que devem permanecer como estão
Não me incomodes enquanto me calo.
Se calo, falo comigo mesmo, se me calo, é porque dentro de mim há um diálogo que não pode parar.
Resolvo assuntos importantes, resolvo questões cruciais das quais depende minha vida ou minha morte.

Mas não veja isso como uma constante.
Nem sempre resolvo problemas enquanto me calo.
As vezes me calo por não ter nada pra dizer
as vezes é por querer que primeiro diga alguma coisa,
que inicie uma conversa.
As vezes me calo por solidariedade, porque sei que o momento é de silêncio
porque sei que é momento do seu silêncio.

Não sei se sabe, mas meu silêncio fala tanto quanto o seu,
meu silêncio habita a mesma terra que o seu
provém da mesma falta de expressividade em palavras que o seu

Esse excesso de palavras escritas são tentativas de expressar o que não pode ser expresso pelas palavras, tentativas vãs que se repetem a exaustão.
Palavras, palavras, palavras. Tentativa de alcançar o inalcançável, tentativa de falar o que é "invisível aos olhos" como diria o pequeno príncipe, tentativa de habitar em outro mundo que talvez me é estranho.

Triste tentativa de expressividade vocabular.
Talvez prefira os gestos, gestos gratuitos porém signficativos.
Pena, as vezes incompreensíveis...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Simples como as pombas...





E chove lá fora,
o tempo esfria,
a brisa começa a soprar gélida enquanto
a água escoa pela janela semi-aberta.
Na minha frente apenas o computador e algumas bagunças sobre a mesa,
morfeu começa a me pegar em seus braços.

Hoje a chuva já passou,
Agora apenas escuridão lá fora,
Escrevo algo que não sei se mandarei ao destinatário
História de momentos eternos
Memórias que residirão em minha mente e que me trarão alegrias ao serem lembradas

Impressões que talvez sejam apenas impressões
mas as vezes refletirão verdades escondidas na alma
na minha alma, talvez na alma do outro
as vezes apenas impressões, mas as vezes verdades escondidas na alma.

Esquecer é um ato de defesa, talvez um dos melhores já inventados pelo homem
No entanto, não quero me esquecer, não quero me defender,
Quero trazer a memória aquilo que me traz alegria
Pra que se defender de algo que nos afeta de forma tão singela?
Pra que esquecer de momentos que serão imortais?
Que defesa nos trará a alegria de lembrarmos de coisas tão marcantes?

Óh Alegria das coisas simples
Atitude filosófica por excelência, se admirar com o simples como se fosse uma descoberta.

Simples como as pombas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Whishes for a Friend !






Como queria fazer algo!
Como gostaria de poder te ajudar nessa hora!
Diante da má notícia, como gostaria de ser aquele que te traria esperança
Aquele que viria com a palavra libertadora
Aquele que te diria que tudo vai dar certo
que seus planos se realizarão.
Como gostaria de poder ser um conforto diante das sombras que te aflige
Ah se tivesse o poder de curar o físico como curamos as almas das pessoas
Se apenas pela palavra a chaga fosse curada, se apenas dizendo a palavra mágica a enfermidade saísse e todas as coisas voltassem a ser como eram.
Não conheço o enfermo, mas sei que ele é importante para ti, sei que se preocupa com ele, sei que representa algo valioso pra ti.
Talvez porque é importante pra você adquira um tipo de importancia para mim.
Não sei como agir. Confesso minha debilidade face a esses momentos mais complicados
Nunca soube lidar com isso, sempre preferi as coisas enquanto elas estão em paz,
enquanto a roda do mundo gira levemente.
Ofereço a ti talvez um consolo, talvez uma palavra, talvez um ouvido, um riso, uma história engraçada, um passeio em algum lugar, uma distração em um dia nublado, um email falando de outra coisa.
Ofereço a ti minha amizade, meu carinho, meu companheirismo, meu sorriso, minha preocupação,talvez um almoço, talvez um lanche, talvez meu silêncio diante dessa dificuldade.
Mesmo diante do seu silêncio as vezes aterrorizante, consigo ver algo, consigo te entender, e as vezes isso me assusta também.
Diante desse silêncio revelador encontrei palavras não ditas, mas enfim expressivas, e é essa expressividade que encontro em ti, que me faz querer me aproximar, e querer que se aproxime de mim.
Queria poder fazer algo...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um cubo de gelo







Queria poder contar a história sobre um cubo de gelo que se contempla diante do espelho.

Fiquei conjecturando, conjecturando, conversei com uma amiga, que me olhou com uma cara do tipo : "Fabiano, o que você está querendo dizer?", mas a história que queria poder contar não me saiu da cabeça.

Como seria se um cubo de gelo se encontrasse diante do espelho e começasse a se olhar?

Ele se olharia e veria o que ali?

Nesse olhar ele veria a si mesmo? para além de si mesmo? pois ele seria transparente;
Penso que talvez haveria um núcleo nele onde a transparência se perderia. Bem no seu centro sempre há uma parte que é mais branca. É como se de lá saísse sua transparência. Talvez essa parte branca seria a única coisa para que ele visse na sua imagem no espelho, algo que fosse propriamente seu.

Se ele fosse completamente transparente, ele não se veria, veria apenas o que o cercava, veria apenas o mundo à sua volta, mas não se contemplaria.

A parte que o faz não-transparente é o que o permite se ver, é o que permite não se misturar com o restante do ambiente; é o que o permite ser ele mesmo diante do espelho que apenas reflete o que aparece à sua frente. É na diferença entre as duas transparências (espelho e cubo de gelo) que reside a imagem do cubo de gelo. É por causa dela que o cubo pode se ver.

O lugar de onde parece emanar a transparência é a única parte no cubo de gelo que o faz ver a si mesmo, suprime a transparência.

Paradoxal.

Enquanto houver a parte branca, ele permanece gelo e pode ser refletido.
Um cubo de gelo se mostra ao espelho. Quando o cubo se derreter, a parte branca sumirá, deixará de ser gelo, não haverá mais reflexo de si, apenas o mundo, apenas um espelho.

Falando sobre o cubo de gelo, acabei falando de mim, talvez, falei de ti, talvez, falei de nós.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre a tolerância


Esse texto é uma parte da palavra que ministrei em um culto de missões sobre a grécia em 2007.



Lucas 9:49,50


O texto de Lucas é bastante rico e de um ensinamento muito grande para nós até o dia de hoje.

O livro de Lucas foi endereçado a Teófilo que significa ( amor a deus); o que sugere interpretações que afirmam que o livro foi escrito para todos aqueles que amam a deus e querem aprender mais Dele e conhecê-lo cada vez mais.


Neste texto específico, João chega a Jesus e lhe diz : “Mestre, vimos um homem expulsando demônios em teu nome , mas nós lho proibimos porque não andava conosco. “ Jesus porém lhe respondeu : “Não o proibais, pois quem não é contra vós, é a favor de vós.”

Pedro, Tiago e João eram os três discípulos mais próximos de Jesus; eram aqueles que onde Jesus ia, lá estavam eles atrás do mestre.


Há um pequeno tempo atrás, Jesus tinha chamado a Pedro, Tiago e João para subirem ao monte com Ele. Eles foram e Jesus foi transfigurado na frente deles.


Eles se sentiram atônitos, ao ponto de Pedro sugerir a construção de uma tenda para que eles pudessem ficar por lá mesmo. Uma vez que a situação deveria ser maravilhosa.


Era uma experiência nunca antes experimentadas por eles, tanto que eles não comentaram nada a ninguém. (primeiramente por uma ordem de Jesus, que segundo algumas traduções afirmam, tinha-lhes pedido para não comentar, como também pelo fato de que uma experiência religiosa autentica, geralmente não pode ser expressas por palavras. Esse é o drama que enfrentou toda a era romântica alemã, do início do século XVIII até a metade do séc. XIX. Temos vários autores filósofos como Schiller, Wittgenstein, que traduzem este drama, assim como poetas como Goethe que marcam bastante esse tipo de movimento alemão.)


Deixando de lado a possibilidade de se falar sobre a experiência religiosa, voltemos ao caso de Pedro, Tiago, João.

Eles ficaram estarrecidos com a experiência; mas tiveram que descer do monte. Quando voltaram, viram Jesus expulsando um demônio de um menino, que nem os outros discípulos conseguiram expulsar.


Deveria estar tudo maravilhosamente bem. Os três estavam provavelmente se sentiam “por cima da carne seca”; tanto que não custou muito, surgiu uma discussão de quem seria o maior no reino dos céus. (Nada me tira da cabeça, que a controversa tenha se iniciado com um dos três) (ressalvo que não estou afirmando que eles que começaram a discussão, nem mesmo que eles estariam realmente se sentindo por cima da carne seca; mesmo porque não temos aparato bíblico para afirmarmos isso.)


De novo Jesus lhes ensina como as coisas funcionam no reino de Deus.

Chega então o fato que quero tratar.

Quando João chega pra Jesus e lhe relata a proibição porque o outro não seguia junto com eles, Jesus lhe adverte para que não façam isso.

Jesus aqui está nos ensinando o princípio da tolerância. Não é só porque as pessoas fazem de forma diferente as coisas que nós fazemos significa que elas não estejam cooperando para que o reino de Deus cresça.


Paulo tem um episódio onde ele afirma. “Mas que importa ? De qualquer maneira, com segundas intenções ou com sinceridade, Cristo está sendo anunciado, e com isso me alegro.” Filipenses 1:18 (tradução CNBB)


Paulo demonstra aqui um exemplo de maturidade em relação a evangelização.

O problema é que temos a tendência de mandarmos todos os diferentes para o inferno, ou então pedir a Deus aquilo que João e Tiago, (os mesmos) pediram pra Jesus um pouco mais pra frente, quando eles estavam passando por Samaria e o povo não recebeu Jesus porque viram que Ele estava decidido em ir para Jerusalém. “Queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua ? Em algumas traduções aparece também entre parênteses (como Elias fez ?) E Jesus novamente ensina a tolerância, e lhes pergunta “ vós não sabeis de que espírito sois ? Pois o filho do homem não veio para destruir a vida dos homens mas para salvá-las.”


Mesmo Tiago e João tendo uma experiência excepcional no monte da transfiguração, isso não fez com que eles se tornassem mais tolerantes com os outros. Pelo contrário, o sentimento deles foi o de completa intolerância para todos aqueles que se recusavam a ver as coisas como eles viam, e a fazer as coisas da forma que eles faziam.


Nietzsche afirma em um de seus livros : “ O pior tipo de educação que se pode dar a um jovem é fazê-lo admirar os que se comportam iguais e menosprezar os que se comportam diferente.


Infelizmente, hoje em dia, o que vemos não é muito diferente.


O que mais se vê no nosso meio são críticas a trabalhos, a instituições, a ONGS, que simplesmente porque “não seguia conosco” são rechaçadas, e “proibidas” de atuarem.

Somos uma geração da intolerância, sobre vários aspectos.


Em outros, somos até tolerantes demais.


Infelizmente não conseguimos fazer ainda uma boa matemática no sentido de não tolerarmos o que não deve ser tolerado, e tolerar quem merece tolerância.


Jesus nos ensinou o caminho da tolerância. Ele não proibiu o homem porque não seguia com eles, nem muito menos mandou descer fogo dos céus sobre os samaritanos.

Jesus afirma : “ Quem não é contra vós, é por vós” – infelizmente o que mais se vê é a criação de um inimigo que simplesmente não existe.


Criticamos o papa, criticamos as ações comunitárias dos espíritas, falamos que o budismo não presta; no entanto não estamos dispostos a tocar nem com um dedo aquilo que eles tocam. Não queremos ações sociais, não queremos evangelizar; mas proibimos a todos porque não seguem conosco.


Pedimos fogo dos céus, porque eles não são israelitas; mas mais uma vez a pergunta de Jesus ressoa forte. “ vós não sabeis de que espírito sois ?”


O que vivemos é uma crise de identidade. Não somos samaritanos, não somos israelitas, não alegramos com a expansão do reino mas também não fazemos nada para que ele aumente.

Somos como os meninos na praça gritando uns aos outros “Tocamos flautas e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes” (Mt. 11:17)


Para se evangelizar nos dias de hoje, teremos que usar da tolerância. Existem várias pessoas que seguem a Cristo de forma pura e com o coração limpo, mas que não seguem conosco. Pertencem a outra religião, pertencem a outros grupos, outras instituições.

Não podemos seguir o exemplo de Tiago e João neste caso. Não podemos chegar lá e proibi-las simplesmente porque eles fazem diferente de nós, nem muito menos pedir fogo dos céus para destruí-los porque não são “evangélicos”.


Os mesmos sentimentos que as vezes nutrimos por eles, eles também nutrem por nós, e eles, várias vezes, com muito mais conhecimento de causa.


Diz-se que certa vez um homem perguntou ao sábio Teófano o recluso se os heterodoxos seriam salvos. Teófano lhe respondeu: Por que você se importa com eles? Eles tem um salvador que deseja a salvação de todo ser-humano. Ele cuidará deles. Você e Eu não devemos ficar preocupados com tal assunto. Estude você e os seus próprios pecados...


O conselho de Teófano é bastante pertinente.


Façamos o que devemos fazer. Sejamos tolerantes. Sejamos maduros.

08/08/2007

Fabiano Veliq